ARTE: A arte das cores entre os bisturis e os pinceis de André Valença

Médico por excelência, André Valença descobriu as artes pelo simples instinto de admirar o que é belo. Não sabia ele que cedo ou tarde isso tomaria conta da sua vida ao ponto de se dividir entra os dois universos, o da medicina e o das artes plásticas. O que começou do acaso virou algo maior e hoje André é reconhecido e admirado no mercado das artes e a cada nova pintura uma nova descoberta do olhar sensível e poético desse grande artista.

Como a arte surgiu em sua vida e como ela te toca hoje? Inicialmente, frequentando leilões de arte em Curitiba, onde morei até 1995. Quando voltei ao Recife iniciei um curso de desenho e pintura com George Barbosa. A partir daí, não parei mais. Depois disso, conheci Mané Tatu (filho de Zé Claudio), Roberto Ploeg (que fez minha apresentação na minha primeira individual) Marcelo Peregrino, Maurício Arraes, Antonio Mendes, o próprio Zé Claudio, Guita Charifker e outros importantes pintores da cena local que muito ajudaram na minha formação. Hoje, a arte é parte fundamental de minha vida.

Hoje em dia você é um médico que pinta ou um artista que é médico? (risos) Como cada talento ocupa sua vida e tempo? Quando me fazem esta pergunta digo que sou médico que é artista, não necessariamente nesta ordem (risos). Sou médico cirurgião há trinta anos e como se diz “antiguidade é posto”. Na verdade, ocupo a maior parte do meu tempo com a medicina, pois além de operar sou professor da Universidade Federal de Pernambuco. Mas, a arte ocupa um espaço importante e crescente nas minhas atividades e nunca representou um  hobby. Desde cedo, mantive uma firme linha divisória entre a arte e a medicina para que eu pudesse ser respeitado em ambas.

E como foi seu processo de desenvolvimento como artista? Como você foi se especializando? Como falei no início de nossa conversa, o contato com a cena pictórica local foi decisiva nas minhas escolhas. Contudo, como nas ciências, o aprendizado é lento, exige obstinação, coragem para (se) expor e humildade para aceitar as críticas. O investimento sistemático na compra de livros de arte, visitas a museus e viagens ajudam a criar meu próprio banco de imagens. O fascínio pela exuberância da cor pura de Van Gogh, Matisse, Derain, Camoin, Kees Van Dongen e outros pós-impressionista e fauvistas serviram e ainda servem como linha mestra de minha inspiração.

A natureza e as pessoas são sua grande inspiração? A natureza, as pessoas e a cidade. A interação entre esses “atores” permite combinações infinitas. Picasso costumava dizer que para fazer uma obra de arte era preciso 90% de transpiração e 10% de inspiração. Ao contrário do que muita gente pensa, o quadro não nasce pronto. O artista precisa trabalhar muito, estar em paz e procurar um bom motivo tema para que surja a “inspiração”

Como é seu processo de criação e por que o acrílico sobre tela? O meu processo de criação é assim, de certa forma, braçal. Iniciei a pintar com pastel a óleo, depois tinta a óleo e agora com tinta acrílica. A tinta a óleo tem mais plasticidade, porém demora a secar (às vezes meses), tem odor marcante e certos pigmento tóxicos. A acrílica é mais prática, sofre reação física e tem secagem rápida, daí sua maior utilização.

Que artistas você admira e serviu de inspiração? Tenho que confessar a minha paixão pelo gênio de Vincent Van Gogh e a ruptura que ele e seus sucessores produziram na, dita, arte moderna. Além dos pintores pernambucanos já citados, lembraria ainda outros mestres como Reynaldo, Brennand, Mario Nunes, Cicero Dias, Samico, Luciano Pinheiro, Pragana…

 

Qual o conceito de arte para você? Qual a função dela? Pergunta difícil. A arte, como as ciências inexatas, não contempla um conceito perfeito. O que dizer da arte rupestre, da egípcia, grega, renascentista? Tentar enquadrá-las em definições seria uma grande injustiça com influência da contemporaneidade. Ou seja, faríamos sempre análises com o nosso próprio conceito de estilo-espaço-tempo. E a boa arte é atemporal. Função da arte? Despertar.


E uma última pergunta para encerrar… O que falta conquistar em matéria de artes? Sinto-me feliz por ter alcançado o respeito de meus pares. Com quase duas décadas de trabalho, começo a amadurecer e, claro espero conquistar o reconhecimento do público nacional.