CAPA: Jayme Matarazzo, talento, determinação e sabedoria para construir sua própria história

 

O ator Jayme Matarazzo soube ao longo de sua trajetória se sobressair ao sobrenome e criar uma história própria trazendo com ele as melhores referências que sua família pode dar. Talento, sabedoria e dedicação foram a herança que Jayme transformou e sucesso. Sucesso esse que se reflete a cada trabalho e no carinho do público com ele. Reservado em vários sentidos, e mesmo com a tutela de seu pai como seu referencial ele Jayme é cauteloso na escolha de seus trabalhos e procura sempre imprimir sua marca própria. Conheça um pouco mais desse cara que tem uma bela história familiar e um início na carreira para poucos felizardos. Afinal, talento não lhe falta.

Jayme, em algum momento da sua carreira os sobrenomes Matarazzo e Monjardim tiveram algum pessoa? A cobrança era maior por conta deles? A cobrança existe em cima de todos. Não adianta você ser filho de quem for que se você não tiver algum talento a ser explorado, você não vai durar muito na profissão. O público está cada vez mais esperto. A variedade de opções hoje em dia faz com que o público seja mais seletivo e se você não for bom amigo, não adiante ser filho de quem for, você terá um prazo de validade. Agora se você agarrar uma oportunidade com muita força de vontade, você pode fazer de um peso o seu troféu. E é por aí que eu tento lidar com o meu caminho. Obstáculos, cobrança, todo mundo tem é por diversos motivos. O que você faz com isso é o que vai valer e eu acho que eu soube lidar bem com tudo isso. Gastei tempo comigo e aprendendo ao invés de ouvir críticas ou pressões. E deu certo. Foi um tempo bem gasto e na coisa certa. Eu olhei apenas para a oportunidade que a vida estava me dando de fazer arte e não para a cobrança toda que aquilo podia me trazer. Apenas enfrentei sem medo. E com muito esforço.

Seu primeiro contato com a TV foi como assistente de direção na minissérie e uma participação em Maysa (não por coincidência sua avó). Foi ali que você percebeu que ser ator era o seu desejo? Acho que foi tudo acontecendo de forma estranhamente natural. Acho que descobrir o prazer de atuar só depois de alguns trabalhos. O primeiro momento foi muito bonito mas foi também muito sofrido. A responsabilidade de se levar uma novela dessas da emissora é enorme, é puxado demais e não foi fácil aprender praticamente ao vivo. Eu tive que correr muito atrás de aprender no máximo possível em pouco tempo para dar conta. Mas foi maravilhoso e não mudaria absolutamente nada. As dificuldades me fizerem correr ainda mais atrás do estudo.

 

 

Trabalhar na minissérie que contava a história da sua avó e família te tocou de que forma? Como foi a experiência? Foi incrivelmente mágica a experiência. Descobri muito sobre quem eu sou, da onde eu vim, o porquê de tantas coisas. A minha história. Apesar de ser meu primeiro trabalho na profissão, o maior troféu que levo desse desafio foi a imersão na própria história da minha família que eu ainda desconhecia ou conhecia pouco. Tenho muito orgulho da onde vim, dos meus país, avós e de ter tido uma pessoa tão especial como foi Maysa na minha árvore de família. Uma mulher a ser lembrada de forma muito especial. Foi uma mulher realmente à frente do seu tempo e uma enorme fonte de inspiração na minha vida.

De lá para cá você não parou mais. Já consolidado como ator o que você pretende com seu trabalho? Que desafios pessoais ainda quer superar? Quero estar sempre trabalhando com arte. Quero novos personagens, quero novas imersões em mundos diferentes a cada trabalho, quero aprender com tanto gente boa que meu caminho tem cruzado. Enfim. Quero que continue tudo como está até agora. A vida de ator tem me trazido muitas e muitas coisas boas. É mágico esse nosso trabalho. E nosso maior troféu é o de se comunicar com as pessoas. Esse é o grande lance pra mim.

Como teu pai influenciou na sua carreira? Costuma pegar alguns toques com ele? Como é a relação pai/diretor X filho/ator? É uma relação amorosa em primeiro lugar. Nos amamos muito e principalmente nos respeitamos muito. Temos um lado artístico em comum que nos faz encharcar a vida com uma liberdade bonita. Ele tem uma grande história de vida, é um grande pai, um grande diretor e um grande amigo. Está comigo sempre e de uma forma generosa. No trabalho é um cara muito profissional é dedicado. É portanto um cara que me inspira em todos os lados da vida. Como diretor é sem dúvida um dos melhores com quem já trabalhei. E não é mesmo por ser meu pai. É por que é bom de verdade e já mostrou isso diversas vezes. Sempre que trabalhamos juntos, a parceria e a seriedade sempre se fizeram presentes de forma natural. A gente se entende sem precisar falar muito.

Dentre os trabalhos que você fez na TV qual você destacaria como maior desafio? Eu gosto muito de “Sete Vidas”. Essa novela foi primorosa, com uma história realmente linda e sensível e com textos maravilhosos e profundos. Foi muito mágico esse trabalho e também muito exaustivo. A imersão nessa história foi muito grande por parte de todos, o que fez o trabalho ter uma magia diferente e muito especial. Esse trabalho me marcou bastante e me fez crescer demais. Aprendi muito ali.

 

Geralmente muito discreto, como lida com a exposição que a TV proporciona? Como preserva sua vida pessoal da pública? Esse tem sido um grande desafio. Por mais que você tente manter uma vida discreta, e a medida que vamos aumentando os nossos trabalhos e exposição, a vida tende a dar uma mudada e é necessário demais saber lidar bem com isso. Passar imperceptível torna-se cada vez mais uma benção e um alívio mas se torna cada vez mais raro também. Ao mesmo tempo isso é tão bom quando pensamos que nos comunicamos com aquelas tantas e tantas pessoas e através da nossa arte as tocamos de algum jeito. E isso se tornou maior e mais bonito que o meu incomodo com o reconhecimento quando saio de casa. Acho muito legal ser abordado e trocar ideias com as pessoas. Sou comunicativo e gosto de ouvir opiniões delas e não opiniões que se escondem através do anonimato da internet. Esses feed backs são os melhores. Mesmo assim, acho que não temos muitas dificuldades em preservar um pouco nossa vida pessoal. A gente mostra aquilo que a gente escolhe e quem quer ser visto será visto, quem quer se preservar é só fazer. Não tem erro. Tem o ônus e bônus disso mas eu acredito que é possível sim ter uma vida equilibrada e discreta. Basta querer.

Lá no início você chegou a ter uma banda. Como anda sua veia musical? Ou a vida de ator tomou conta de tudo? A vida de ator interrompeu uma carreira brilhante no mundo da música. Brincadeira. Eu amo a música. Ela faz parte da minha vida desde muito pequeno. Sempre fui um menino musical, que andava de lá pra cá com uns discos maiores que meu braço, depois aquele menino que gravava fita de cassete e CD adoidado, pra todo mundo e eu morro de vontade de um dia produzir um registro musical e experimental. Como forma de desabafo artístico mesmo. Não para trabalhar profissionalmente como músico. Mas para a alegria da minha alma inquieta mesmo. Quem sabe um dia.

A TV te deixou mais vaidoso? Nunca fui um cara muito vaidoso com a estética mas sim com os princípios e caráter. Nesse ponto tenho vaidade sim. Defendo minhas ideias sem medo. Eu acho até que a TV me deixou menos vaidoso. Eu já tenho que estar bem, bonito, saudável quase o dia inteiro. Já tenho que usar de artifícios como maquiagem por causa da profissão e etc. acho que hoje eu amo a cara lavada mesmo. O quanto menos montado melhor. Amo minha mulher quando ela acorda. Acho linda. Não tem maquiagem que ela faça que deixe ela mais bonita, pra mim, do que a sua cara lavada e de sono.

Qual seu estilo na hora de se vestir? Eu sinto uma enorme necessidade de estar me sentindo confortável em primeiro lugar. Roupas leves, frescas e depois disso é que vou pensar num estilo e numa situação. Eu me sinto bem tranquilo com aquilo que visto pois nunca traio, com a roupa, a minha personalidade. Acho que esse é o maior segredo.

 

Depois de morar um tempo fora do país você já pensou em repetir a experiência? Tenho muita vontade de passar uma temporada morando em outro país. Eu sou apaixonado por conhecer novas culturas, novos lugares, mas a vida de ator é, geralmente, muito corrida, muito intensa e com pouco tempo de sobra. Quem sabe daqui um tempo. No momento eu quero mais é colecionar bons trabalhos, bons personagens e aproveitar esse embalo tão legal que ando tendo na profissão. Foram anos de muito aprendizado e correria mas que não troco por nada. A gente tenta compensar essa falta de tempo aproveitando muito bem as nossas férias e viagens. A Luíza é uma gênia montando roteiros e destinos e a gente tem batido um bolão nas nossas últimas viagens. Isso nos motivou até a estar produzindo um site em que a gente conta um pouco dessas experiências de viagem e ao mesmo tempo já responde de uma vez por todas e para todo mundo que pedi dicas de lugares que visitamos. Poder ajudar as pessoas a fazer uma viagem bacana é algo que nos motiva a dividir nosso conhecimento nessas nossas experiências por aí no mundo.

Quando não está trabalhando o que faz sua cabeça na hora de relaxar e curtir bons momentos? A companhia da minha mulher é fundamental para alcançar esse relaxamento e estar com ela só me traz bons momentos. Atualmente a gente tem ficado mais em casa, mais caseiros. Ano passado, devido ao casamento e a novela, foi um ano bem puxado e corrido. Porém maravilhoso, único e cheio de amor. Esse ano estamos sendo vencidos pelas séries. Acho que a gente não lida muito bem com elas. A gente devora temporadas em poucos dias.

 

Como se vê daqui a 10 anos? Tomara que amando como estou agora, trabalhando como estou agora, sonhando como ando sonhando e com a mesmo vontade de aprender de 10 anos atrás.

Quando encerrar essa temporada de Malhação já tem planos? Esse é um ano cheio de desafios. Vem coisa boa por aí. Brincadeira. Mas vem um desafio diferente de tudo que já fiz até aqui. É importante estar sempre com vontade de se reinventar e tenho esse desejo no momento. Experimentar novos registros será muito bom. Mas esse ano promete. Desde já obrigado pela atenção.