CAPA: Pierre Baitelli – O Antônio de “A Lei do Amor” encara novos desafios com muito talento e versatilidade

 

Quem conhece o ator Pierre Baitelli através do Antônio de “A Lei do Amor” não imagina o quanto é desafiador e instigante para ele estar num papel tão oposto dele. Mas é justamente isso que Pierre, de 33 anos, procura a cada novo trabalho. Loiro, olhos azuis e um ar aristocrático fazem com que Pierre procure sempre personagens diferentes, opostos do anterior e que provoquem nele um desejo de superação e conquista. Para isso, muito talento, disciplina e estudo constante. Seja no teatro ou na TV Pierre imprime a cada trabalho a alma de um grande ator. Ator que vem trilhando com sucesso a profissão que o move desde os 17 anos e tem muito a mostrar ainda.

Pierre, você já declarou que ao contrário do seu personagem Antonio (em “A Lei do Amor”) você é tímido e reservado. Como a profissão de ator te ajudou (ou ajuda) a vencer essa timidez? Na verdade, mesmo depois de muitos anos nesta profissão, nunca deixei de ser tímido e reservado. Quando estou atuando, não tenho problemas em me expor porque não sou eu quem está ali, mas o personagem. Essa condição me deixa mais confortável porque consigo separar o Pierre pessoa do Pierre ator. Acho que essa é a grande razão de eu ter me encontrado nessa profissão. Ela nos permite ser outras pessoas!

 

Quando percebeu que era isso que você queria profissionalmente? Como foi o início? Comecei a fazer teatro aos 8 anos e a trabalhar profissionalmente com 17. De lá pra cá nunca quis fazer outra coisa, apesar de todas as dificuldades inevitáveis que envolvem a profissão.

Na TV seus trabalhos nunca passaram despercebidos do público e trazem uma marca registrada sua. Qual a razão disso? Você tem essa percepção? Sinceramente, não sei dizer. Talvez, em parte, pelo fato de amar muito o que faço, pela dedicação e reverência que tenho pelo ofício. Estudei muito antes de começar a trabalhar e continuo estudando. Acho que um ator não pode parar de estudar nunca. Bebi de algumas fontes durante minha formação, desde o teatro físico de Eugênio Barba até o teatro popular narrativo. O ator, durante a vida passa por um processo acumulativo de experiências e adquire ferramentas e sensibilidade à medida que amadurece. Acredito que isso, de certa forma, nos traz presença, credibilidade e vitalidade ao representar.

Loiro, olhos azuis e com essa cara de aristocrata inglês. Já percebeu que alguns papéis cabem super bem em você, como em Capitu e Cinquentinha? Existe algum universo ou perfil você se sinta mais confortável? Ao mesmo tempo tem medo de ficar preso a certos personagens? Gosto muito dos trabalhos de época, mas não acho que exista algum perfil ou universo onde eu me sinta mais confortável. Todos tem os seus desafios, mas confesso que já tive um pouco de receio de ficar preso a personagens que só transmitissem esse tipo “aristocrático” na TV. Já no teatro e no audiovisual, tenho tido oportunidades infinitas de mostrar que posso transitar por outros tipos como na série “Magnífica 70”, onde interpreto o Dário, uma figura marginal, obscura, maltratada pelas drogas e pelo crime. Quero sempre poder fazer outros papéis que sejam opostos a quaisquer tipos de estereótipos ligados à minha imagem.

 

 

O Antônio, de “A Lei do Amor”, é divertido e extrovertido. Acha que ao final desse trabalho você levará algo dele com você? Como é sua relação com os personagens? Coloca sempre algo seu e sempre leva algo deles? Sim, acho que sairei ainda mais leve e bem humorado. Coloco bastante de mim nos personagens, por isso, talvez, o Antonio tenha sido o personagem que tive mais dificuldades em colocar algo meu. Na realidade, acho que foi ele quem me trouxe mais coisas.

O personagem é um dos mais leves e divertidos da novela. Como tem sido fazê-lo? Foi fácil achar o tom? Fácil nunca é. Fui achando o tom junto com o avanço da trama. Em uma obra aberta existe isso… Você vai descobrindo aos poucos a personagem. Além do direcionamento dos autores e diretores, a parceria e o jogo cênico com a Titina Medeiros também me ajudaram muito a entender melhor o Antonio, seu humor, seus tempos, a forma como fala, como se move e como se comporta.

Você chegou a ficar no ar, ao mesmo tempo em “A Lei do Amor” e “Magnífica 70”, série da HBO. Como foi se ver na TV com dois personagens tão diferentes?  Foi muito legal. Os personagens estão inseridos em épocas e universos muito distintos. O Dario, de “Magnífica 70”, é uma figura misteriosa e soturna. Já o Antonio é mais leve e contemporâneo. Me ver, ao mesmo tempo, na pele de personagens tão diferentes, parece ter sido um estímulo a mais para me sentir mais confiante em relação a mim mesmo e à minha profissão.

 

Como foi interpretar uma transexual no teatro? Sua visão mudou sobre o tema? A Hedwig foi uma experiência ímpar na minha vida. Tanto pela loucura que era interpretá-la, como pela surpreende resposta do público e da crítica. Ela é uma figura excêntrica que teve seu corpo e alma mutilados por uma sucessão de acontecimentos infelizes na sua vida. Contar uma tragédia, que também tinha uma grande dose de humor e sarcasmo, através de canções de rock originais ao musical e com uma banda ao vivo no palco, era algo muito contundente e catártico pra mim como ator e pessoa. Poderia escrever páginas sobre isso! Acredito que minhas impressões sobre o tema tenham se ampliado muito em inúmeros sentidos, mas destaco o fato de ter entendido um pouco o quanto deve ser difícil estar à margem. Percebi que ser “diferente” do que a grande maioria da sociedade considera como normal, “infelizmente”, dói muito. Sem contar que é uma responsabilidade falar sobre as diferenças.

O que mais te desafia como ator? Há limites para você? Em tempos onde ser ator, principalmente de televisão, também significa ser uma figura pública e estar exposto ao ponto de sua vida pessoal virar assunto, acredito ser esse meu maior desafio. Sobre limites, como intérprete, adoro chegar próximo a eles e tentar ultrapassá-los. Quanto mais difícil parece o papel, maior o desafio.

E a exposição da TV, te atrapalha ou incomoda em algo? Dá para tirar algum proveito? Não, não me atrapalha nem um pouco. O proveito que tiro disso é a resposta do público. Saber que seu trabalho agrada é muito motivador!

 

 

Você parece ser um cara reservado inclusive nas redes sociais. Como lida com isso? Ainda estou aprendendo a lidar melhor com elas, mas costumo divulgar coisas mais relacionadas ao meu trabalho ou aos bastidores dele. Lido de forma natural! Acompanho as redes sociais, curto e respondo sempre que possível.

É um cara vaidoso? Sou e desconfiaria de um ator que respondesse o contrário disso. Lidamos com a imagem, temos o nosso corpo, rosto e voz como instrumento de trabalho. Somos constantemente julgados e cobrados por estarmos simplesmente ali, expostos. Apesar disso, acho que uma das coisas mais importantes que o teatro me ensinou, e que acredito ser o “pulo do gato” para lidar bem com isso, é justamente dar menos importância à imagem. No teatro entendemos que o trabalho de ator deve ir além dela. A imagem deve estar à serviço do trabalho e não o contrário.

O que te diverte e te relaxa quando está de folga? Adoro dormir, ir ao teatro, assistir filmes, ler, viajar para o mato, estar com amigos, com a família e também ficar sozinho.

O que curte ler, ver e ouvir? De tudo um pouco. Livros, gosto de romances, biografias, dramas e comédias. Música, gosto de MPB, pop para animar, jazz e clássico para relaxar.

O que as mulheres ainda não sabem sobre os homens e precisam saber urgente? Prefiro responder o que as pessoas, de um modo geral, não sabem e que precisam saber urgentemente: a respeitar! O respeito é a base de tudo e não vemos quase ninguém exercendo, de forma genuína, o seu respeito pelo outro, seja na vida pessoal, social ou profissional.

 

Fotos e beleza Vinicius Mochizuki
Styling Carla Garan