CINEMA: Match – Um curta-metragem que expõe as relações em tempo de redes sociais

Um curta que deu muito o que falar em 2016 em alguns festivais foi Match, de Diana Chao, que tem como protagonista o ator Domingos Antonio (nossa capa em 2013), e fala das relações em época de redes sociais. A MENSCH conversou com eles para entrar no clima de Match e entender um pouco mais das relações em tempo de redes sociais.

Quando e como surgiu a ideia para o curta Match? Domingos Antonio – Passei boa parte do ano passado em Los Angeles e durante a minha estadia pude vivenciar, in loco, a experiência de se morar numa cidade impulsionada por uma indústria, por definição, extremamente egocêntrica. É perceptível que os losangelenos possuem algumas bolhas particulares. Suas casas e mais proeminentemente seus carros, imprescindíveis numa cidade gigantesca como Los Angeles. Essas bolhas são uma infeliz realidade de qualquer grande metrópole, porém por lá a solidão que essas bolhas suscitam é curiosamente maquiada pelo céu sempre azul e por sorrisos perfeitos (e vazios).

Por onde quer que se ande o resultado palpável disso é uma enorme dificuldade de se construir conexões humanas autenticas e significativas o que em mim criou uma frustração angustiante à medida que precisei recorrer a aplicativos de relacionamento como o Tinder com muito mais frequência a fim de conhecer novas pessoas e paquerar, entretanto em uma cidade em que a desconexão humana é uma norma a distância entre pessoas fica ainda mais acentuada quando existe uma tela de celular entre elas. Foi dessas frustrações e percepções de quão desconectado eu estava com minha própria humanidade e com as pessoas ao meu redor que surgiu Match.

As relações mais frias e digitais são uma rica fonte de inspiração para histórias hoje em dia? Domingos Antonio – Sinto que vivemos na era do sou visto logo existo e uma premissa como essa é certamente extremamente rica para um mergulho na alma humana. Nossos egocentrismo e narcisismo são imutáveis, fazem parte de nós desde sempre, porém eles se adaptam às novas ferramentas e adquirem novas formas. Séries como Mr. Robot e a espetacular Black Mirror são cirúrgicas ao capturar o inconsciente coletivo da nossa geração e por isso são, até certo ponto, apavorantes. Nós, contadores de histórias, erguemos o espelho no qual a humanidade é refletida e o que vemos no espelho nesse momento é essa fria distancia que nos separa.


Diana Chao – As relações digitais acabaram se tornando parte do storytelling contemporâneo. As pessoas dependem muito de aplicativos como Whatsapp e Facebook Messenger nas suas vidas corriqueiras assim como para conhecer pessoas através aplicativos de relacionamento como Tinder e OkCupid também mas todos esses aplicativos não deixam de ser apenas meios de comunicação e não a história em si. As histórias que vemos hoje em dia são apenas um reflexo da forma como as pessoas usam e interagem com a tecnologia porém no núcleo de qualquer temática sempre estará a condição humana.

O curta está rodando o mundo e recentemente participou do Los Angeles Brazilian Film Festival e do Port Shorts International Film Festival em Port Douglas (Australia). Como é para vocês ver essa trajetória do trabalho? Domingos Antonio – Estamos todos encantados com a maneira que o filme vem sendo recebido nos festivais em que participou até agora. Match foi completamente finalizado há pouco mais de quatro meses atrás e enviado para a consideração de, relativamente, poucos festivais até agora porém já conseguimos fazer parte da seleção oficial de dois excelentes festivais. Esses são bons indicadores de que a carreira internacional e nacional do curta em 2017 pode ser promissora.

Diana Chao – É muito bom estarmos fazendo parte desses bons festivais e é muito bom ver que o filme está girando o mundo todo.

Qual a maior dificuldade de se produzir um curta? E como o público recebe isso? Diana Chao – A maior dificuldade é fazer o filme dentro de um tempo e orçamento limitados mas o público não precisa saber dessas dificuldades para poder apreciar a obra. O filme apenas precisa ser forte o suficiente para valer a pena ser assistido. Todas essas dificuldades é algo que nós cineastas mantemos somente para nós mesmos ou preferencialmente algo que o público venha a descobrir somente depois da exibição. Quando o público assiste e aprecia o filme de certa forma ele aprecia também as dificuldades em sua feitura. Não existe isso de cinema fácil.  Cinema sempre envolverá dificuldades. Filmes bons ou ruins custam tempo, dinheiro e muito esforço. No final das contas o produto na tela é que deve ser aquilo a passar pelo critério do público.

 

No final de Match ficou um gostinho de quero mais. Podemos esperar uma sequência? Ou outros seguindo essa linha das relações na era digital? Domingos Antonio – A intenção era de fato suscitar essa curiosidade em quem assiste o curta. A maioria dos feedbacks que estamos recebendo das pessoas que já assistiram Match sempre aponta na direção de que a história pós curta dos personagens precisa continuar. Eu, particularmente, tenho inúmeras ideias para desenvolver essa temática de Match num roteiro de longa-metragem. Amigos roteiristas e cineastas tanto aqui no Brasil como nos Estados Unidos que já assistiram o curta vem sempre jogando novas ideias para o roteiro de um eventual longa, entretanto, no momento, eu ainda prefiro esperar para saber como será a recepção em outros festivais. De qualquer forma essa é uma temática a qual conheço bastante que me fascina e me deixa com medo o que é perfeito para a criação de uma nova história.

Assista o trailer: