COMPORTAMENTO: TATTOO – AS MARCAS NO CORPO

Marcar o corpo é algo muito antigo e praticado por vários povos por razões diferentes, a arte pré-histórica apresenta indícios de corpos cobertos com desenhos. Acredita-se que as tatuagens têm origem em marcas de cicatrizes oriundas de ferimentos de batalha. Tais cicatrizes eram como troféus de luta, sobrevivência e vitalidade. A partir dessa ideia começaram a surgir as marcações voluntárias e com desenhos representativos.

Um dos registros mais antigos encontrados pelo homem moderno data de 1991, ano em que encontraram um cadáver da Era do Cobre coberto com várias marcas de listras horizontais nas costas, tornozelos, punhos, joelhos e pés. Provas arqueológicas provam que a tatuagem já era praticada no Antigo Egito entre 4000 e 2000 aC na Polinésia, Filipinas, Indonésia e Nova Zelândia, em rituais religiosos.

A verdade é que adornar o corpo com tinta permanente já passou por várias fases, tendo sido considerada desde ato demoníaco a arte, já tendo sido perseguida pela igreja, sendo banida por decreto papal no século 8 e na Nova York do século 20. Os romanos acreditavam na pureza humana. Dessa forma, tatuar o corpo, como faziam algumas civilizações, era uma espécie de blasfêmia. Por isso a prática era restrita a criminosos e condenados. Tempos depois esses mesmos romanos, influenciados pelos bretões e sua bravura começaram a ver a tatuagem com outros olhos e a utilizá-las. Nas cruzadas dos séculos 11 e 12 as tatuagens eram uma forma de identificação dos soldados de Jerusalém, a cruz tatuada no corpo garantia ao soldado morto um enterro cristão.

No oriente a tatuagem é praticada desde o século 5 antes de Cristo tanto com fins estéticos como para marcar bandidos, chegando a ser banida em 1870 e voltando tempos depois. Na atualidade a tatuagem costuma ser vista mais como um adorno do que qualquer outra coisa, é verdade que algumas religiões proíbem a prática para manter a pureza do corpo, mas a marginalização está longe de ser como já foi um dia. Desde jovens (a partir dos 18 anos) a gente da boa idade, pais e profissionais de diversas áreas fazem tatuagem e por motivações distintas.

Enio Porto, empresário de tecnologia fez sua primeira tatuagem aos 18 anos e, na época, como forma de transgressão. “Acredito que, como ainda existia preconceito, fui motivado pelo impulso de “transgredir” o que era tido como certo ou errado. Recordo, inclusive, que ao chegar no tatuador, não tinha nem ideia do que iria tatuar nem mesmo o local. Olhei um álbum de fotos, me identifiquei com uma, solicitei uma pequena mudança e marquei para tatuar à tarde. Fui lá no horário marcado e saí com minha “transgressão” nas costas (risos)”

Alfredo Galamba, empresário na área de economia criativa, acredita que ainda há marginalização em relação a tatuagem no Nordeste, mas bem menos que antes. Ele completa dizendo que na Europa inclusive, a profissão de tatuador é bastante respeitada e procurada. Tanto Enio quanto Alfredo concordam que depois da primeira tatuagem sempre se tem vontade de fazer mais uma, aliás, cada um deles, já vai pra mais de 3 e pensam em fazer mais.

Rafael Cavalcanti, tatuador que há oito anos atua no Rio de Janeiro, nos conta que apesar das mulheres serem maioria no seu Studio, os desenhos tendem a ser mais simples, como estrelas e corações, já os homens, optam por desenhos mais elaborados e maiores. Mesmo tendo tomado a decisão de se tatuar, a maioria dos clientes têm medo da dor e do que as outras pessoas irão pensar; o que mostra que o preconceito, mesmo que parco, ainda existe.

As motivações são inúmeras e os desenhos escolhidos muitas vezes não tem nenhum significado especial, são escolhidos simplesmente pela estética ou pelo que está na moda, uma ou outra mulher busca o tatuador com um desenho e local escolhidos estrategicamente para serem uma “arma” de sedução.

A tatuagem é feita por meio de injeção de tinta na pele. Para isso, usa-se uma máquina elétrica de tatuagem muito parecida com a broca de dentista. A máquina movimenta uma agulha sólida para cima e para baixo para perfurar a pele entre 50 e 3.000 vezes por minuto. A agulha penetra cerca de um milímetro na pele e ali deposita uma gota de tinta insolúvel a cada perfuração. Apesar de vermos a tatuagem na epiderme (camada mais externa da pele), ela está na verdade na derme (segunda camada da pele) onde as células são mais estáveis e mantém a tinta no lugar por toda a vida.

– Procedimento: por ser “pra vida toda” é importante que se escolha com cuidado o desenho que será tatuado e também o local onde será feito. Muita gente se arrepende depois, principalmente quando tatuam nome de alguém por quem estão apaixonados no momento.

Outros motivos de arrependimentos são por tatuagens mal feitas ou que imitavam algum artista e que depois perdeu o sentido para o tatuado. O “remendo” pode ser feito e resolver o problema, mas é sempre melhor estar muito seguro do que será tatuado.

A escolha do profissional deve ser feita de forma bem criteriosa levando em conta a experiência e a higiene. Todo o material deve ser descartado e aberto na frente do cliente, nada deve ser reutilizado para garantir a segurança e a saúde do tatuado. Os riscos de infecção são grandes, por isso os cuidados com a esterilização do ambiente, da pele e dos instrumentos não descartáveis devem ser rigorosamente respeitados.

Proprietário do Art Family, estúdio de tatuagem referência em Recife, Marquinhos recebeu a MENSCH em seu estúdio pra contar um pouco da sua arte.
O COMEÇO DE TUDO – Marquinhos já desenhava desde criança e por volta dos 16 anos resolveu passar umas férias com o irmão Jameson, já tatuador profissional em São Paulo. As férias eram na verdade uma “desculpa” pra tentar a vida na cidade grande sem que os pais reclamassem. Já na terra da garoa começou a trabalhar no estúdio do irmão, primeiro como desenhista, passando a fazer pequenas tatuagens uns 3 meses depois. Ele foi tomando gosto pela coisa, se profissionalizando, até que quase um ano depois o irmão o orientou para que ganhasse rumo e estilo próprio. Ele não só foi como é referência em tatuagem em Recife comandando um estúdio em Boa Viagem enquanto o irmão comanda outro na Boa Vista.

NEGÓCIO PRÓPRIO – De volta a Recife para montar um estúdio de tatuagem Marquinhos teve no preconceito a sua primeira grande dificuldade. Ao buscar pontos para alugar, recebia um “não” quando o proprietário sabia que o seu empreendimento era um espaço de tatuagem, na época símbolo de rebeldia e outras tantas coisas não bem vistas vinculadas a marginalidade. Mas persistente, Marquinhos seguiu firme no seu propósito e montou seu primeiro estúdio.

A PRIMEIRA TATUAGEM NO PRÓPRIO CORPO – Como gostava muito da banda Blitz, a primeira tatuagem que Marquinhos fez foi uma águia, que ele mesmo desenhou, se inspirando na tatuagem que o cantor e líder da banda, Evandro Mesquita, tinha. O tatuador, adivinhem, foi o próprio irmão e somente quando ele completou 18 anos e depois de avisar aos pais que faria.

A PRIMEIRA TATUAGEM NO CORPO ALHEIO

Como era iniciante na arte da tatoo, Marquinhos teve suas primeiras experiências em “cobaias” no estúdio do irmão. A galera encarava na boa já que não precisaria pagar e assim não faltou em quem Marquinhos “treinar”.
E foi justo tatuando um Merlin que Marquinhos deu o pontapé profissional. A tattoo ficou bacana tamanho o cuidado que ele teve pra não tremer e encharcar de tinta. O tatuado adorou e o irmão não elogiou muito pra ele buscar a perfeição cada vez mais.

ESTILO PRÓPRIO

Por gosto, o que ele mais curte desenhar e tatuar é a temática oriental. O desenho em si, o traço oriental, as linhas na pele, encantam Marquinhos. Mas a marca registrada dele mesmo é a vontade de fazer o melhor, de se destacar na profissão, ser referência, e isso ele é. Tanto que o pai militar acabou por ter orgulho dos filhos tatuadores.

HIGIENE E CUIDADO

Uma das coisas que Marquinhos mais celebra no que tange a tatuagem, além da quebra do preconceito, é a vigilância sanitária pegar pesado no controle dos estúdios, provocando uma busca por excelência também nos cuidados com higiene e a segurança do cliente.

 

>> > Entre 2160 aC e 1994 aC – Múmias de mulheres egípcias, como a Amunet, possuem traços e inscrições na região do abdome.

>>> Há mais de 2.400 anos – Múmias encontradas nas montanhas de Altais, na Sibéria, apresentam ombros tatuados com animais, reais e imaginários.

>>> Entre 509 aC e 27 aC – Os imperadores romanos determinam que, para não serem confundidos com súditos mais bem afortunados, prisioneiros e escravos sejam tatuados.

>>> 787 – Sob a alegação de ser coisa do demônio, o papa Adriano I proíbe as pessoas de se tatuarem.

>>> Entre os séculos 15 e 17 -Durante a invasão da Bósnia e Herzegovina pelos turcos otomanos, os católicos tatuavam cruzes como forma de evitar ter de rezar para Alá.

>>> 1600 – Com o fim das guerras feudais no Japão, os serviços dos samurais tornaram-se desnecessários. Surge, então, a Yakuza, a máfia japonesa.

>>> 1769 – Em expedição à Polinésia, o navegador inglês James Cook nota a tradição local de marcar o corpo com tinta. Na língua local, chamam isso de “tatao”.

>>> Entre 1831 a 1836 – A bordo do HMS Beagle, Charles Darwin registra que a maioria dos povos do planeta conheciam ou utilizavam algum tipo de tatuagem.

>>> 1891 – O americano Samuel O’Reilly patenteia a máquina de tatuar. Trata-se de uma adaptação de uma invenção de Thomas Edison.

>>> 1928 – Em Chicago, um caminhão com peles tatuadas é roubado. A coleção pertencia a Masaichi Fukushi, médico japonês que estudava como a tatuagem ajudava a preservar a pele.

>>> 1942 – Durante a Segunda Guerra, os nazistas tatuavam um número no corpo dos judeus para identificá-los como prisioneiros nos campos de concentração.

>>> 1959 – Chega ao Brasil o dinamarquês Knud Gegersen, o primeiro tatuador profissional a atuar por aqui.

>>> 1961 – Depois de um surto de hepatite B, a Secretaria da Saúde de Nova York proíbe a realização de novas tatuagens na cidade.

>>> 1999 – A empresa de brinquedos Mattel lança a Barbie Butterfly Art, boneca que vinha com uma tatuagem lavável.

>>> Dezembro de 2009 – Ao passar 52 horas tatuando o corpo de Nick Thunberg, o americano Jeremy Brown bateu o recorde mundial de sessão mais longa, que era de 43h50, estabelecido em 2006.