DIÁRIO DE BORDO: Atacama, um deserto repleto de histórias

Texto / Fotos Marta Lemos

Céu sem nuvens de um azul intenso, paisagens espetaculares e lugares que remetem você a outro planeta. Essa é a minha definição do Deserto do Atacama, no Chile. Quem leu meu último Diário de Bordo – Aventurando pelo Peru, Bolívia e Chile – comentei que o Atacama estava na minha listinha, que voltaria um dia, já que por motivos de força maior eu e o Fernando tivemos que antecipar a volta ao Brasil ao chegarmos lá. Só não imaginava que seria tão rápido, apenas um ano depois, para passar alguns dias da nossa Lua de Mel.

Voltei ao Atacama e a emoção foi superior a da primeira vez. O Deserto é considerado o mais alto e mais árido do mundo, pois chove muito pouco na região. São gêiseres, vulcões, lagoas altiplânicas, ruínas incas, termas, neve e paisagens surreais que parece estarmos de fato, em outro mundo. O ponto de apoio para quem quer conhecê-lo é a cidade de San Pedro do Atacama, um pueblo a 2.400 metros de altitude que vive do turismo. Lá você encontra gente do mundo inteiro e também muitos brasileiros, claro. A cidadezinha é rústica, mas é super charmosa, com suas ruas de barro batido, com postes de lampião e casas de sapé. Mas, em contrapartida tem restaurantes aconchegantes com uma culinária de nível internacional.

Para conhecer os lugares a melhor forma é fechar um pacote com uma agência de turismo local. Eles te pegam no hotel todos os dias. Para quem vai tentar subir em vulcão é bom deixá-lo para o último dia, já que seus cumbres estão a mais de cinco mil metros de altitude e precisamos estar bem aclimatados para não termos o mal das alturas, comum em lugares tão altos. Um passeio básico é o do Vale da Luna e da Morte localizados na Cordilheira de Sal. Seus nomes são uma referência à geografia local que lembra o solo lunar e a aridez na qual a vida parece impossível.

O Salar do Atacama é outro passeio interessante, pois há muitos séculos era um enorme lago preso entre as montanhas. A única saída da água era por evaporação, o que permitiu que enormes quantidades de sais minerais ficassem depositadas em seu fundo. O Salar tem mais de 100 quilômetros. No mesmo dia a agência leva você para conhecer as lagunas Miscanti y Miñiques localizadas numa altitude de 4300 metros. As lagoas são de tirar o fôlego e ficam localizadas no Altiplano. Outro lugar bastante interessante são as Pedras Rojas (vermelhas), que te surpreendem com suas cores e tonalidades devido à oxidação de ferro. O cenário fica mais esplendoroso com os vulcões nevados ao fundo e a lagoa congelada. Nesse mesmo dia eles nos levaram, também, para conhecer a Laguna Chaxa e os pueblos de Tocanao e Socaire. Visitar esses pueblos é interessante porque temos a oportunidade de interagir com os nativos.

No terceiro dia fomos conhecer o Gêiser del Tatio. A agência nos pegou no hotel às cinco da manhã e chegamos ao amanhecer depois de duas horas de carro. Os gêisers nos receberam com nada menos que 15 graus negativos. O Gêiser del Tatio é uma das grandes atrações do Atacama. O lugar também é um patrimônio arqueológico com mais de três mil anos de existência e está a 4.320 metros de altitude. Formado por campos geotérmicos criados pelo vulcão Tatio, a água que existe em suas piscinas ferve durante o início do dia fazendo com que sejam liberados fortes jatos de vapor, que alcançam até quatro metros de altura e cobrem o ambiente, fantástico! O diferencial desse dia foi que a nossa excursão nos levou para conhecer o Gêiser Blanco. Lugar incrível que possui um rio natural que passa por uma cratera vulcânica. Pudemos sentir a água quente, a mais ou menos 35 graus, borbulhando e saindo da terra. Foi um dos momentos mais ímpares do Atacama. Estar naquele lugar foi original e inesquecível! Quase nenhuma agência inclui esse roteiro. Esse passeio dura meio dia e termina quando visitamos o Pueblo de Machuca, onde se come o famoso churrasco de llama.

 

 

Nesse mesmo dia, na parte da tarde, conhecemos a Laguna Cejar que tem concentração de 40% de sal, ou seja, superior ao Mar Morto. Não conseguimos afundar. Só existem esses dois lugares no mundo com essa particularidade, dessa forma, tomei coragem e entrei na água que estava a cinco graus. Nossa, muito frio, mas valeu, mesmo ficando branca de sal. Em seguida, eles nos conduziram aos Ojos de Salar, dois poços de água doce para tirarmos o excesso de sal. Depois nos levaram para ver o pôr do sol na Laguna Tebinquinche, uma lagoa linda. O interessante é que podemos caminhar por toda lagoa com água na altura da perna. Ao fundo, se pode ver a Cordilheira dos Andes e os vulcões.
Para o último dia reservamos para subir no vulcão Cerro Toco que tem 5604 metros. Foi incrível, mas também cansativo, pois a temperatura estava abaixo de zero e a altitude deixa o ar muito rarefeito dificultando cada passo. Uma experiência fantástica, mas não é nada fácil caminhar e respirar na altitude. Foi um grande desafio para o corpo e a mente, porém a vista compensou e a sensação de conseguirmos atingir o objetivo foi maravilhosa.

O Deserto do Atacama fica localizado ao norte do Chile e temos duas opções para chegar lá. Indo de Santiago de avião duas horas ou de bus 24 horas. Chegando a Calama pegamos um transfer de uma hora até San Pedro. Outra opção é entrar pela Bolívia, quando atravessamos o deserto boliviano, também belíssimo.