ENTREVISTA: Daniel Blanco encerra a temporada de Malhação como uma das grandes apostas da TV atualmente

Aos 19 anos e a maturidade de alguém com pelo menos 20 anos a mais. Valores firmes e princípios bem construídos por uma grande família unida. Arte por toda a parte e vontade de fazer bem feito, direito e com amor. Daniel Blanco, que acaba de encerrar a temporada de Malhação como uma das grandes revelações da TV atualmente. E promete muito mais pela frente. Enquanto isso conheça um pouco mais desse jovem ator.

Conta pra gente a história da sua família e essa coisa de você terem nomes de astro como Lua, Estrela… Eu poderia dizer que a criação de modo geral que eu e meus cinco irmãos tivemos dos nossos pais foi bastante diferenciada das famílias que fomos conhecendo com o passar dos anos. Não só pelos nomes diferentes que recebemos, sem saber que iríamos crescer numa paixão crescente pela criação que há no universo. A mesma fonte de inspiração dos meus pais. As perguntas que mais me fizeram até hoje foram: “Quais são os nomes dos seus irmãos?” (faziam essa sempre esperando uma lista de nomes diferentes o suficiente pra causar o motivo que fazem a pergunta: um espanto, no bom sentido); “Porque seus pais deram esses nomes tão incomuns?” Esses “incomuns” sempre tinha algum substituto, como “doidos”, “astronômicos” ou até “meio hippies”. Sempre querem saber também se nós seis somos dos mesmos pais. Sim, meus pais deram a vida e mais um pouco juntos pra conseguir nos sustentar tanto financeiramente quanto a construção de meia dúzia de futuros cidadãos apaixonados pela arte. Maria Claudia Blanco e Billy Blanco jr. são as duas pessoas mais admiráveis e guerreiras da minha vida por causa disso. Tendo que correr atrás também da carreira musical que eles seguiam, deram conta da maior responsabilidade da vida que é criar um ser humano e induzi-lo a amar o próximo com compaixão e respeito. E fizeram isso seis vezes.

Muita gente nos pergunta se brigamos muito ou se somos bons amigos. Até eu me impressiono com o quanto que seis irmãos podem sim ser muito unidos com uma relação de absoluta verdade e companheirismo. Ao mesmo tempo que somos irmãos, somos os nossos pais e  nossos melhores amigos. Meus pais eram muito contra o jeito que o sistema oferecia “felicidade” e realização pras crianças. Com isso, logo saímos do padrão do que uma família “capitalista” poderia ser. Eu, por exemplo, nunca tive videogame. Todos meus colegas da escola tinham e eu nunca fiz questão de pedir um pros meus pais. Fala sério, com um pai que propõe construir uma casa na árvore do terreno de casa, quem precisa de videogame? A gente sempre assistiu pouca TV e só fui ter acesso a um computador com onze pra doze anos. A gente passou mais tempo tendo relações sociais do que virtuais. Mais tempo brincando com meus irmãos, inventando vários personagens e menos tempo alienado pelos fúteis passatempos. O que eu mais agradeço nessa vida é ter sido ensinado quais são os verdadeiros valores que devemos observar e absorver com carinho e entrega. Minha família é mais que minha base, é de onde vem a minha vontade de viver. Se eu tiver que viver sem eles um dia, vou ter a consciência que me encaminharam pra trilha certa.

E a vontade de ser jogador de futebol? Passou? Parece clichê pra um menino brasileiro querer ser jogador de futebol, mas até os 14 anos era o meu único foco profissional. Se a vontade de ser jogador for implantada no coração de um menino sonhador, a vontade sempre vai existir. Bem lá no fundo sempre vou ter vontade de ajudar um time a ganhar e comemorar um gol bem feito. Tenho meus verdadeiros sonhos hoje em dia que eu certamente tive durante a vida toda, só não queria aceitar realmente o fato de não me tornar o capitão do Flamengo um dia. Lembro perfeitamente da angústia que sentia quando imaginava como seria se eu não conseguisse me tornar um jogador profissional. Era um terror só de pensar. Mas é aí que vem o arco-íris dessa chuva. Quando fui dispensado da fase de experiência na categoria de base infantil do Flamengo, a sede de começar a me dedicar pelo meu lado artístico veio com tanta força que a tristeza de não ter conseguido me federar no Flamengo não foi suficiente pra me sentir fracassado. Nós sempre vamos nos deparar com fracassos. Cabe a nós escolhermos se vamos mergulhar nesse fracasso ou não. Eu até poderia ter tentado em outro clube, seguindo forte na luta, mas surpreendentemente mergulhei no teatro, mergulhei no violão, nas composições e de repente não me via mais num conflito comigo mesmo. Me senti confortável e altamente instigado a seguir focado em frente, formando objetivos e sonhos que aos poucos eu vou descobrindo que sou capaz de atingir. Coisas que eu via distante de mim. A distância que temos dos nossos sonhos não depende do sonho pra ser definido algum grau de dificuldade de conquista, depende da gente. Se você vai optar pela concentração do foco que quer ou pelo desejo puro e solto, sem fonte de energia e inspiração pra seguir tentando.

Você também canta, pensa em levar esse talento adiante e se profissionalizar? Sim. Tenho planos breves de começar a fazer shows solo. Com músicas minhas e diversos covers nacionais e internacionais, estou juntando um repertório de músicas que na minha opinião me definem de alguma forma. Espero que as fãs gostem. Meu objetivo como músico é provar que nós intérpretes, compositores e instrumentistas podemos nos desapegar dos gêneros e dos rótulos musicais. Quero mostrar que música gostosa de tocar, cantar e ouvir não carece de mais nada. Música não tem gênero. Quero que as pessoas ouçam meus arranjos e pensem “Uau, nunca pensei que poderia me sentir assim ouvindo essa música”.

 

Você já ficou de fora de um filme porque era de menor e o personagem era um viciado em drogas. Ficou frustrado? De primeira fiquei frustrado sim. Por outro lado, sempre fui bem instruído nesse sentido. Todos que me apoiaram quando decidi que ia seguir a carreira de ator me deixaram claro pra eu não me entregar internamente a algum trabalho que ainda não tivesse certeza que iria fazer. A alegria deve vir apenas na hora do contrato assinado. Meu pai e meus agentes sempre me diziam que se não rolou um trabalho, é porque realmente não era o plano da natureza e não tem nada que eu possa fazer a respeito. Foi bom aprender isso na prática tão jovem. Na época eu tinha 16 anos.

Um ator é pessoa pública e por isso seguido por fãs, mídia e por vezes é pressionado a opinar sobre algo que muitas vezes não quer. Já viveu alguma situação dessas? Como pensa em agir em um caso assim? Liberdade de expressão pra mim também significa liberdade pra escolher entre expressar ou não. Quando me deparo com perguntas em entrevistas que não são necessárias, eu simplesmente não respondo. Peço pra passar. Antes de formar a decisão de não querer responder à tal pergunta, sempre procuro pensar em opinar de uma forma mais eufêmica, menos detalhada. Se não tiver jeito, não posso fazer nada além de passar a pergunta. Meus princípios são muito afiados. Entretanto, às vezes respondo coisas que eu não imaginava que falaria. Eu costumo falar de um jeito muito natural nas entrevistas, como se eu estivesse conversando normalmente com uma pessoa que simplesmente se interessa pelo que eu faço e pelo que gosto, então se falei algo na entrevista é porque não tive objeção nenhuma em fazer o tal comentário.

Com esse destaque em Malhação, o assédio feminino…como está? Comecei a reparar que a arte em geral é motivo de interesse. O óbvio é pensar que as meninas vão ter mais interesse por um homem a partir do momento que ele tem um close na televisão, que não é um falso preconceito. Mas a verdade é que o ator é obrigado a se interessar pelo maior número possível de assuntos distintos. Isso o leva a ter opinião sobre muita coisa que pode aparecer numa conversa com alguma mulher. Quanto mais assunto tivermos, mais tempo dá pra nascer a atração. E isso é cumulativo, né? Se a conversa fluir e a atração já existe, a tendência da atração é de crescer cada vez mais. Eu, por exemplo, sou muito sincero com todo mundo que eu converso. Tenho facilidade de contar uma coisa um pouco mais íntima pra uma pessoa que eu conheci há pouco tempo. Quando é com uma mulher, isso facilita a nossa aproximação. Os atores normalmente, com tanta abrangência de interesses e paixões, tendem a ter uma mente aberta, de modo geral. Com isso, as mulheres se deparam frequentemente com atores que as entendem, seja lá a tamanha loucura do problema dela. Acho que quando reparo que a mulher é interesseira de alguma forma, eu sempre penso que ela poderia ter a chance de me conhecer de verdade, pro verdadeiro desejo aflorar. A paixão física que se junta com a paixão pela identidade da pessoa é o melhor tipo.

Malhação vai ficar na saudade? Não sei nem como começar a falar sobre Malhação. Meu pulso chegou a acelerar agora! Hoje, minha rotina é toda em torno das coisas que me prendem a atenção por inteiro. E durante um ano, de junho a junho, tive uma rotina longa e poderia ser cansativa se eu me entregasse à preguiça e à velhice precoce. Sou jovem, tenho 19 anos de acúmulo de energia. Essa carga  está a beira de transbordar, então preciso usar essa energia pro que sei que vai valer a pena pra minha vida. Dediquei toda minha energia pra esse trabalho e isso não significa que tenho menos. Acumulei muita energia durante essa temporada. Criamos uma família imensa com variedades incríveis de irmãos e irmãs. Não tem como fugir da saudade. Mas além de tudo, sou feliz com esse Daniel que sou hoje graças a tudo que me aconteceu recentemente. Aprendi a me construir mais que nunca.


Seu personagem é introspectivo, e você, como se define? Nesse quesito eu nunca tive costume de opinar por mim mesmo, eu naturalmente me defino pelo que as pessoas me dizem. Essa semana mesmo eu ouvi de um bom amigo que falo na medida certa. Eu tinha acabado de comentar com ele que eu sempre tenho medo de ser ou muito tagarela em algumas situações ou muito calado em outras. Foi bom saber que ando bem equilibrado sobre essa linha. Costumo tratar todo ser humano como eu gostaria de ser tratado. Afinal, somos todos diferentes mas ninguém é melhor que ninguém. Me enturmo fácil nos grupos de desconhecidos.

Pra manter a saúde e o corpo em dia, quais seus hábitos? Ter uma alimentação regrada acompanhada por todos os exercícios físicos que são essenciais para um corpo saudável não serve só para ter uma barriga definida cheia de gomos serve também pra todos terem uma chance de ter uma barriga definida ainda com sessenta anos de idade! Se você reparar no índice de mortalidade na Ásia oriental, vai se deparar com os casos das pessoas mais velhas do planeta com cento e dezesseis anos, cento e vinte anos… sabe qual é o segredo? Não é só o remédio e a tecnologia. É a alimentação extremamente limpa que eles costumam ter. Lembrem-se do ditado famoso: Você é o que come. É muita verdade.

O que curte fazer quando não está gravando? Já deu pra ver na pergunta anterior que eu sou apaixonado por esportes e pelo gasto de energia. Quando eu tenho tempo eu vou à academia, ou opto por ficar em casa tirando músicas ou compondo. Tem também a minha vontade constante de estar com alguém da minha família. Sempre sinto muita falta do meu irmão Pedro e dou graças à Deus por ter a oportunidade de morar bem pertinho dele. Costumo pegar a bicicleta e ir correndo visitá-lo. Quanto mais o tempo passa e mais dever temos a fazer, mais importante é a cada dia ficar perto da família. Voltar à base. Ouvir o que as pessoas que mais te amam no mundo têm a te dizer sobre você e sobre a vida. Recomendo a todos que não têm esse costume.

Quais seus próximos passos? Já tem algum novo projeto em vista Além de qualquer trabalho, o meu próximo passo é construir uma base pra minha rotina. Voltar a estudar teatro, começar a fazer aulas de canto e estudar tudo que eu tiver tempo de estudar. Tenho vontade de voltar a fazer sapateado (estou parado desde meus dez anos de idade) e tenho também uma meta muito importante que é começar a fazer shows. Tenho propostas pra fazer peças de teatro (o que mais tenho saudade e sede de fazer).

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