ENTREVISTA: Emílio Dantas de alma lavada como protagonista em “Segundo Sol”

Emílio Dantas é um cara do agora. Vive o presente como uma dádiva, com suas alegrias e dissabores. Amante das artes, realiza o sonho de viver do que ama e, talvez por isso, transmita tanta serenidade e uma energia do bem contagiante. Na pele do personagem Beto Falcão, na novela Segundo Sol, na Globo, vive uma “baianidade” tão natural que parece ser filho da terra. Isso talvez seja reflexo da verdade que Emílio coloca em tudo que faz, como quando foi escolhido para viver Cazuza pela própria mãe do artista, Lucinha Araújo, e que acabou adotando o ator no coração. Com vocês, Emílio Dantas, exclusivo para a MENSCH.

De traficante a cantor de Axé em pouquíssimo tempo, sem trazer um para o outro. Conta pra gente como foi essa experiência e como é se despir de um e vestir-se em outro. São dois personagens diferentes, com realidades distintas, mas é sempre muito bom para um ator sair de um trabalho para outro com a mesma qualidade.

Pegando carona no Miguel/Beto Falcão, há mentiras que precisam ser mantidas ou nada vale mais que a verdade “doa a quem doer”? Acho que sempre depende do motivo. Se a causa é nobre, talvez haja perdão.

O que é a Bahia tem? A Bahia tem tudo! Eu já tinha ido algumas vezes pra lá com peças, mas nunca tinha tido tempo para aproveitar, sentir a Bahia…Dessa vez ficamos semanas lá gravando e deu pra curtir mais.

Sotaques em novela são, por vezes, motivo de críticas. Algumas pessoas acham que pode ficar estereotipado ou fora da realidade. Como tem sido a repercussão do seu sotaque baiano? E como foi a preparação? Foi um processo de preparação muito legal. Tenho tentando seguir todas as dicas que recebi de pessoas como o @soteropobretano, o Junior da marca Meninos Rei, a Rafaela figurinista da novela que é baiana, a Iris, nossa professora de prosódia… Em casa, na hora de estudar o texto, falo em “baianês”. Brinco que até meus cachorros já falam “baianês”. E a repercussão tem sido ótima.

Interpretar um cantor traz à tona seu início de carreira como cantor, ainda adolescente? Toda vez que trabalho com música sempre me lembro disso. Isso me faz lembrar minhas raízes, assim como o Beto, que está em busca das raízes dele. E, para esse trabalho, tive que revisitar esse meu passado. Eu tive uma banda aos 15 anos. Era aquele moleque da garagem que tocava com os amigos. Foi onde surgiu a minha paixão pela arte.

Qual a importância de Osvaldo Montenegro em sua vida? Toda! Ele foi o primeiro a acreditar em mim como ator, até mesmo quando eu não sabia. Ele foi o primeiro a me dar o contato com as artes cênicas. Foi Oswaldo que me deu a base para o que sou como ator.

Aos 15 anos seu sonho era ter uma banda e você passou 10 anos de sua vida envolvido com música e teve sua banda (Mulher do Padre / Patuvê). Como a música entrou em sua vida? De onde vem essa paixão e como se tornou hobby? Minha casa sempre teve muita música, por conta da minha mãe que acorda e já liga o rádio. Então, eu sempre acordava com MPB tocando, com uma Rita Lee, um Luís Melodia, um Milton Nascimento… Enfim, com muitas canções. E ela sempre cantou, sempre gostou de cantar. Até hoje ela vai cozinhar, liga o rádio e fica ali cantarolando… Então, acho que vem muito disso, da parte da família da minha mãe, porque minha avó tocava piano, tinha disco gravado, com ela cantando. E minha tia também é musicista e escritora. A música sempre esteve comigo. De hobby virou um passo pro caminho da arte. [Da 1ª entrevista de Emílio na MENSCH]

O que você traz do teatro para a TV? É difícil falar disso porque não sou um cara de teatro. Fiz poucas peças, mas talvez tenha sagacidade com as técnicas de resposta rápida do público, que o teatro tem.

Segundo Sol traz à tona drogas, relações familiares conturbadas, prostituição, vingança, machismo, homossexualismo, ciúmes doentios, mentiras, traição, que grande lição acha que o público tira disso tudo ao acompanhar a novela? Não temos a pretensão de dar uma lição ao público. Nosso comprometimento é de mostrar fatos e situações contemporâneos que levam o telespectador a uma reflexão.

Como você se avalia, como ator e pessoa? Eu sou um cara de muita sorte, de poder fazer o que ama – arte.  

A Bahia é um lugar de muito sincretismo religioso e você já fez uma novela que tratava de reencarnações (Pedro de Além do Tempo). Pelo menos nas novelas o tema te ronda, e na vida pessoal, você tem alguma espiritualidade? Eu acredito que espiritualidade é sempre o amor. Não sou religioso, mas trato todas as religiões com respeito e curiosidade.

Carioca, como se sente em relação a toda a violência que o Rio vem atravessando? Consegue enxergar alguma solução? Eu gosto do Rio, o Rio é que não tem gostado muito que as pessoas saiam…Eu fico triste com tudo isso, mas não mudei nada na minha rotina. Até porque a violência não é só no Rio – é em todo o país. Acho que a partir do momento que todo mundo se juntar, sem se intitular carioca ou de qualquer cidade, a gente possa enxergar uma solução pra isso mudar.

Em tempos de eleição é o tipo de pessoa pública que se abstrai de expor sua própria opinião ou acha que é justamente o contrário, deve opinar para ajudar a formar opiniões? Acho que eu tenho que dar minha opinião, assim como todo mundo. O problema é estabelecer uma forma de se fazer isso, já que vivemos em meio a tantas mentiras, boatos, roubalheira…E a internet virou um campo de batalha, muita gente que xinga pelo xingar.

E contracenar com a namorada, a simplesmente maravilhosa Fabiula Nascimento, é bacana, não é? Vocês trocam figurinhas sobre os personagens? Ô, se é (risos). É uma delícia. A gente estuda junto, ela me dá dicas e eu também me meto no trabalho dela. Mas a gente se diverte. E ela é uma atriz maravilhosa, de quem eu sempre fui muito fã.

Que afinidades os une e que diferenças dá um gostinho especial à relação? A formação de cada um, a forma como cada um enxerga o trabalho, a maneira como cada um interpreta o texto, mas o importante é o respeito de um pelo outro e pelo trabalho do outro.

Que qualidades suas tem orgulho e que defeitos procura combater? Eu sou muito na minha… Amo minha família e meus amigos. Acho que eles talvez possam responder isso melhor que eu. (risos)

Mais a agradecer do que pedir? Sempre. Me sinto um cara realizado com o que tenho.

Mesmo tentando fugir um pouco desse rótulo, você tem se tornado um novo “galã”, como lida com a fama e o assédio? Lido de forma tranquila. Dou carinho a quem me dá carinho e tento acalmar a galera mais alterada. Não me vejo como galã, não penso nisso. Até me acho bonito, mas sou descuidado.

Lá na frente, quando já tiver anos de carreira, como quer ser reconhecido pelo público? Não penso nisso. Procuro viver o agora.

Fotos Sergio Santoian

Make Up Ester Dias

Stylist Marlon Pontual

Tratamento de Imagem Enrique Marinho