ENTREVISTA: Kiko Pissolato, o motorista Maciel em “Amor à Vida”, fala sobre sua trajetória, sonhos e dia-a-dia

Pés no chão, cabeça nos sonhos. Assim a gente pode definir o ator Kiko Pissolato. De passos firmes e honestos ele vem galgando cada vez mais espaço na arte de atuar e papeis de destaque na TV. Kiko é do tipo família, do tipo que não se deslumbra com fama, mas sabe que ela pode acontecer e está preparado para encará-la. Na pele do motorista-cúmplice do personagem Félix de Amor à Vida, Kiko fala sobre sua trajetória, sonhos e dia-a-dia.

Você saiu do interior pra estudar educação física, acabou se apaixonando pelo mundo das artes e se tornou ator. Como se deu essa mudança de rumo? Essa mudança começou quando sai de Cosmópolis em 1998 pra fazer faculdade. Na época eu passei na Unicamp e na USP e preferi São Paulo, justamente para poder viver outra realidade. Cheguei com 17 anos em São Paulo e um mundo novo se abriu para mim. Penso que devemos sempre buscar desafios em nossa vida pra conseguirmos crescer. Não podemos nos dar por satisfeito nunca. Me formei Bacharel em Esporte e depois voltei pra fazer cursinho em Cosmópolis e tentar outra faculdade, pois sabia que meu caminho não era aquele. Foi quando pude meditar sobre minha vida e decidi fazer teatro. Então voltei pra São Paulo para estudar. Fiz escola de teatro e alguns cursos, mas o mais importante foi o estudo individual que fiz, através da pesquisa e da leitura. Li muito, vi filmes, fui ao teatro, a museus e investiguei o ser humano e o mundo. E acho que nunca vou parar de estudar. Foi um chamado. Desde criança eu tinha essa vontade, mas em Cosmópolis não tinha onde colocar isso pra fora. Na minha época não tínhamos teatro na cidade, nem cinema, nem museus… Fiz piano e participei do coral da escola que era onde dava pra colocar meu lado artístico pra fora, além dos filmes que fazia com primos e irmãos. Mas foi só com 22 anos, já formado, que eu decidi largar tudo o que tinha construído até então e arriscar-me nessa nova profissão. Mas o amor à arte é que me interessou e não a fama ou dinheiro. Tenho 10 anos de carreira e passei por muitas dificuldades. Tive de fazer diferentes trabalhos enquanto fazia teatro. Fui professor, palestrante, vendedor, garçom, segurança… Ser artista é vocação e ralação.

 

E como foi até chegar à  Globo e no horário nobre? Tudo isso te assustou de alguma forma? Minha carreira era dividida com meus outros trabalhos de onde tirava meu sustento e procurei fazer o máximo pra correr atrás do prejuízo de ter começado tardiamente. Fiz teatro, novelas e séries na internet, curtas, médias… Testes e mais testes de publicidade e cinema. Dai veio, em 2007, a oportunidade de fazer meu primeiro teste na Globo. Era pra “Cobras e Lagartos”. Lembro-me muito bem de toda a expectativa que isso gerou em mim. Fui pro Rio de ônibus, sem grana, peguei uma van até o Projac e fiz o teste. Confesso que mandei muito bem, mas não era minha hora. Voltei e foquei ainda mais em fazer teatro. Até 2007 eu havia ensaiado muitas peças, porém, entrado em cartaz com apenas uma. Foi quando tive a oportunidade de, no SESI de São Paulo, fazer a peça “Tristão e Isolda”. Fiz mais de 140 apresentações e foi minha formatura no teatro. Estava pronto pra encarar os palcos.

Depois fiz mais duas peças e veio o convite pra ingressar na Oficina de atores da Globo. Então veio a tão sonhada estreia na Globo. Foi em “Cama de Gato”, fazendo uma participação de dois capítulos onde fazia um capanga que jogava o namorado da vilã da escada e dava uma “prensa” nele. Foi legal começar com uma participação pequena pra conhecer o ambiente. Depois fiz “Força Tarefa”, um policial que perseguia o protagonista pelas ruas. E, o bacana foi fazer cenas de ação. Aí veio “Na Forma da Lei” onde fiz um dos personagens centrais do episódio. Um personal trainer que junto com a amante matava o marido dela. Foi um trabalho que me exigiu mais em termos de atuação. Em seguida veio o convite pra entrar em “Insensato Coração” para viver um comparsa do vilão, foi muito legal, pois foi minha primeira vez no horário nobre, dai veio o Jair de “Avenida Brasil” e agora o Maciel de “Amor à Vida”. Não foi de uma hora pra outra. A vida me preparou. Portanto não tem sustos.

Mesmo tendo passado por tantos projetos na Globo, como os citados por você, só agora o grande público e a mídia estão dando o devido destaque. A que você atribui isso? O que mudou? Acho que é porque o papel me colocou em maior destaque que os outros de até então e pude mostrar mais meu trabalho. Também conta o fato da novela estar na boca do povo. E tive a sorte e o privilégio de estar envolvido ao mesmo tempo com Félix e Valdirene, que são sem duvida, dois dos personagens favoritos do público. Isso fez com que o público e a imprensa tivessem olhos pra mim. Sinto isso no número de entrevistas e no carinho e reconhecimento das pessoas nas ruas.

Acredita que seu personagem e o Félix, interpretado pelo Mateus Solano, tem uma relação com certa sinceridade e de cumplicidade. Como você enxerga isso? Acho que a relação deles é sim de sinceridade e cumplicidade. Vejo os dois como parceiros e torço para que eles aprontem cada vez mais. Claro que o Félix é o patrão e o cérebro da dupla, mas o Maciel mostrou ter iniciativa. Claro que o Félix tem outros parceiros, como a Glauce e Leila, mas ele já mostrou que confia no Maciel e este, que o chefe pode nele confiar. Eles tramaram, riram, confidenciaram… Agora se é amizade, só interesse ou algo mais, só o tempo e o Walcyr poderão responder.

Em Amor à Vida, Maciel, o seu personagem é capaz de tudo por dinheiro. E você, que lugar o dinheiro ocupa na sua vida? O lugar da necessidade. Quero ter dinheiro para comprar minha casa, ter uma vida confortável com minha família, poder abrir meu teatro/espaço e ajudar meus próximos. Nada de acumular. Nada de luxos desnecessários. Não vivo para ganhar dinheiro, tento ganhar dinheiro para viver.

Entre você e o ator Felipe Titto, que trabalha na novela como o mordomo tatuado, moram juntos há algum tempo. Vocês já se conheciam antes desse trabalho ou a amizade surgiu por conta dele? Eu e o Felipe nos conhecíamos de testes em São Paulo, mas nos tornamos amigos quando fizemos um filme juntos em novembro passado. Soubemos juntos que tínhamos sido aprovados para a novela. E quando começamos a dividir o flat no Rio, nos aproximamos ainda mais. Ele é um grande parceiro e torço muito por ele. Mas fico no Rio apenas quando gravo ou tenho compromisso. Minha residência é em São Paulo com minha mulher.

Acredita que amizade de homem é mais sincera que de mulher? Existe mesmo o “pacto” de fidelidade masculina entre dois amigos? Entre dois amigos existe o pacto de fidelidade e confiança sim. Porém podem ser dois homens, duas mulheres ou um homem e uma mulher. Basta serem amigos. Se não há fidelidade e confiança não há amizade.

A tal crise dos 7 anos chegou pra você e sua esposa, ou passaram incólumes por ela? Quando vi a Bruna pela primeira vez soube que ela seria minha companheira pra toda a vida. Nos damos super bem, nos completamos e nos admiramos mutuamente. Quem convive conosco sabe que não brigamos nunca. Somos duas pessoas em busca de autoconhecimento e, portanto, quando há alguma discordância, refletimos e chegamos a um acordo. Passamos por momentos de reflexão há alguns anos, mas saímos fortalecidos. Especificamente, a crise dos sete anos não tivemos. Sem crise. É preciso todos os dias olhar para dentro e ver como podemos ser melhores pra nós mesmos. Só estando bem com você mesmo é que é possível verdadeiramente estar bem com o outro. Sem cobranças. E entender o espaço e as necessidades do parceiro é fundamental para o sucesso da relação.

O que fez para conquistar sua mulher e que dicas daria aos homens que buscam um relacionamento sério e estável? Para conquistar a Bruna precisei apenas ser eu mesmo e dar tempo a ela pra me conhecer. Sem afobação nem cantadas prontas. Foi uma conquista diária que durou um ano ou mais. Uma mulher especial não se impressiona facilmente. E para os homens que buscam um relacionamento sério, a dica principal na minha opinião é procurar no lugar certo. Balada é lugar pra conhecer gente que quer diversão e não necessariamente compromisso. Quer se amarrar, esteja de olhos abertos durante o dia. E fundamentalmente trate sua mulher como gostaria de ser tratado. Não faça pra ela o que não quer que ela faça de volta. Simples assim. Chega de machismo e posse.

Você faz o estilo mais reservado, ou encara com naturalidade a exposição por conta da profissão? Sou mais reservado, porém, nada tenho a esconder sobre minha vida. Encaro com naturalidade a exposição sim. Faz parte do pacote. O fato de não ter nenhuma rede social me permite ter mais tranquilidade e privacidade. As pessoas se expõem demais na internet e depois reclamam. Preservo minha intimidade, porém, sabendo que o artista que está na TV é uma pessoa pública.

Tem rolado muito assédio por conta do seu personagem na novela? Como você tem lidado com isso? Te incomoda em algo? Tem, sim, rolado muito assédio. Pessoas me parando e pedindo fotos e autógrafos. Mas não me incomoda em nada. Só recebo carinho. Ainda não sou famoso, estou famoso. Não sofro ainda um efeito “Beatles”, longe disso. Quem assiste a novela e vê meu trabalho quer falar comigo, comentar. É natural. Eu sempre gostei muito de TV e sei como é ter esse carinho pelo artista da novela, que esta na sala da sua casa todos os dias.

E os cuidados com a saúde e o físico? Que hábitos tem para se manter saudável e em forma? Amo me exercitar. Levo uma vida ativa. Adoro carregar peso e andar a pé. Evito elevador ou escada rolante ou carro pra ir até a esquina. Vou à academia quando posso. Corro. Treino luta em casa. Danço sozinho. Gosto de me mexer. Mas respeito meu corpo e descanso quando ele pede. Nada de anabolizante. Só ovo e bife… Me alimento bem, mas sem pirar. Arroz, feijão, salada e carne. Como as frutas que gosto, bebo bastante água. Utilizo comigo o que aprendi na faculdade. Não sou de beber… Só uma cerveja de vez em quando. Mas gosto de um bom hambúrguer e batata frita. Gosto de refrigerante. Amo café. O importante é ter equilíbrio. Tudo o que é demais faz mal. E não adianta só cuidar do corpo e não da mente. Corpo e mente saudáveis. Atitude equilibrada sempre. Pensar, meditar. Estar bem comigo mesmo. Comparar meus resultados apenas com meus próprios padrões. Os padrões da sociedade mudam de tempos em tempos e tentar se enquadrar pode deixá-lo louco e insatisfeito.

Você já deu aula de capoeira e disse não ter medo de trabalho, encara desafios e tempestades numa boa? Me lembro que quando fazia “Insensato Coração”, meu pai, que é Engenheiro Agrônomo e faz jardinagem e paisagismo, pegou um trabalho junto à prefeitura de Cosmópolis para plantar grama em toda a entrada da cidade. Era um canteiro central de mais de 100 m. E lá fui eu vestido com minhas roupas de guerra ajudá-lo. Descarregando caminhão e plantando e comendo marmita. Meu lado peão. Adoro um trabalho braçal. Lembro das pessoas passando e olhando. O que me dá vergonha é ficar parado. É não querer fazer nada. Trabalho é trabalho. Encaro sim qualquer desafio. Lembro de falar pra minha esposa nos momentos difíceis que se não conseguisse me firmar como artista, me tornaria porteiro de condomínio ou vendedor, ou voltaria a dar aulas… Lógico que fazendo teatro também. Sempre pensava em caminhos alternativos, mas graças a Deus posso viver do que amo. Vivo de teatro há algum tempo e agora também da TV. Infelizmente, no Brasil, viver da arte e fazer o que se ama é para poucos.

Como a TV, o cinema e o teatro mexem com você? Em que eles te fazem mais realizado? Falar de veículos em especifico é se ater a pequenas diferenças que no todo da profissão, no que se refere a minha realização pessoal, não tem importância. Trabalhar como ator, ser um artista, fazer arte, é sempre um prazer para mim. Sinto-me honrado e feliz de poder fazer o que amo. De ter como objeto de investigação o ser humano. De não ter rotina. De poder falar às pessoas sobre qualquer tema que quiser ou achar importante. Poder usar metáforas pra me fazer entender. E poder olhar pra cada pessoa em qualquer lugar do mundo e com ela algo novo aprender. É poder olhar qualquer coisa e me inspirar. É me alimentar, diariamente, continuamente e depois através de uma cena, uma peça, um filme, um personagem, uma canção. Poder inspirar, alegrar, sacudir, estremecer, enraivecer, encantar, contagiar, ensinar, ao público.

Que qualidades e que defeitos você espera um elogio e uma paciência (em relação a você)? Uma qualidade minha que merece um elogio é a dedicação. Sou muito disciplinado e perseverante. Sigo sempre em busca do que acredito. Mas é preciso ter paciência com minha teimosia. Quando não quero, não quero e pronto!

Que rumos espera para sua carreira por conta do destaque que o Maciel vem ganhando na novela? Agradeço muito a oportunidade me dada pelo Walcyr e pela direção da novela. E, espero voltar aos palcos assim que acabar a novela e se possível voltar a TV em 2014 mesmo. Quero fazer muitos trabalhos na TV e no teatro e expandir minha carreira no cinema. Também penso em explorar meu lado musical em breve. Enfim, trabalhar sempre, é isso o que me deixa feliz.

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