ENTREVISTA: Rodrigo Lopes um mestre na arte de fotografar

Por André Porto

Conversar com o fotógrafo Rodrigo Lopes sobre fotografia é covardia, o cara não é só mais um apaixonado por fotografia, o cara é completamente viciado! Mas isso é tão bom, que resulta em belíssimos registros de beleza como ele mesmo cita aqui nessa entrevista. Pra Rodrigo a busca é pelo belo. E ele consegue com maestria. Maestria essa que serviu para os 15 anos que atuou como professor, E foi através da fotografia que Rodrigo Lopes descobriu pessoas, a música e a importância do nu. Se perguntar o que ele mais gosta de fazer fora fotografar vai ser difícil pra ele “Fotografar… ah, não vale! Gosto de estudar, estar com minha família – minhas filhas lindas e minha mulher.” Enfim, um homem realizado com seu ofício, aliás, realizado com seu desejo e sua paixão Parabéns ao Rodrigo e boa leitura aos leitores.

Você foi Professor por 15 anos. Aprendia tanto quanto ensinava? Pensa em voltar ou isso ficou pra trás? Acho que ficou pra trás. Foram 15 anos maravilhosos onde eu acho que aprendi tanto quanto ensinei. Hoje os compromissos do dia a dia não comportam a dedicação necessária pra dar aulas com competência. Dar aula tem que ser com o coração. Você só consegue estimular o outro com a sua paixão!

Aconteceu de você olhar para algum de seus alunos e ver que ali tinha um grande Fotógrafo e a coisa acontecer de fato? Várias vezes. Entre ex-assistentes e ex-alunos cito três: Pino Gomes (hoje morando e trabalhando entre Nova Iorque e Suíça), Marcelo Correa e Tarso Ghelli. Três grandes profissionais de olhares e paixões muito especiais.

O que faz Felipe Taborda? Um grande parceiro? Felipe Taborda é um Designer carioca e foi das pessoas que primeiro acreditou em mim. O conheci fazendo um retrato seu para Revista Capricho. E logo adiante iniciamos uma longa parceria profissional. Basta dizer que um dos primeiros trabalhos que ele me deu foi fotografar o Tim Maia! Depois da quinta tentativa, consegui ir até a casa dele e fiz a foto pra capa do disco “Romântico”. Dali em diante foram mais de 50 cartazes, capas de CD, capas de livros, cartazes para cinema e dos mais diversos projetos culturais – o supra-sumo da fotografia de conceito – sempre vendo meu trabalho em destaque, valorizado. Fizemos juntos um dos grandes trabalhos no cenário da Arte Contemporânea brasileira: o livro sobre Artur Bispo do Rosário onde tive a oportunidade de fotografar – e conhecer – metade do acervo de mais de 800 obras do Bispo. A seu convite participei do Projeto “A imagem do som”, onde 80 artistas visuais interpretavam 80 músicas de um determinado compositor. O projeto durou oito anos e homenageou grandes nomes da MPB, do Pop Rock e do Samba.

Participar desse projeto te aproximou mais da música ou a música foi que te aproximou da fotografia? É engraçado você perguntar isso. Sempre tive uma relação muito forte com a música e também escrevia quando mais jovem. No momento que comecei a fotografar estranhamente parei de escrever e fui gradativamente encontrando outro espaço pra música, quase me afastando dela. Uma linguagem se sobrepondo a outra. O Projeto me ensinou a interpretar visualmente letra e música e me trouxe de volta ao contato com a música.

Qual a realização em ser Fotógrafo? O que mais te fascina neste universo? Sou um Ser essencialmente visual. Não saberia viver de outra forma.  A expressão através da imagem é como o ar: preciso dela pra viver! Tem dias que acordo mal humorado, de mal com a vida e basta começar a fotografar (especialmente se for algo onde haja espaço criativo) pra que meu humor se transforme e eu volte ao melhor dos meus sorrisos. Sabe chocolate pra mulher em TPM? Pois é: é o efeito de fotografar pra mim!

 

O que você busca realizar em uma foto? Beleza. Meu objetivo é conseguir o belo.  É meu objetivo também captar algo além, especialmente fotografando pessoas. Acredito que as pessoas tem frestas como as de uma porta entreaberta, onde se pode ver o melhor delas. Meu estilo de fotografar é deixar meus personagens fluírem. Não gosto de engessar quem está do outro lado. Algumas vezes faço como o personagem Thomas do Blow–up (filme do Antonioni) que provoca suas modelos pra conseguir tirar delas mais emoção.  Não sou “Geração Blow-up”, mas gostaria de ter sido!
No que difere produzir uma foto para um editorial de moda, publicidade ou, por exemplo, uma foto para uma exposição? São três situações bem distintas. Em Publicidade tudo vem pré-determinado e dificilmente você tem espaço pra criar. É um layout a ser seguido. Em Moda o espaço é bem maior. Em geral há um aprofundamento no conceito da coleção e o fotógrafo participa de forma mais efetiva na preparação do shooting. Escolha de locação, modelos e profissionais envolvidos, como maquiador/cabeleireiro, produtor de arte e de figurino.

E por fim, fotografar pra uma exposição é algo completamente seu! Por mais que exista um tema ou que seja uma exposição coletiva, é você quem deve estar ali.  Tenho trabalhos pessoais que são uma válvula de escape ao trabalho do dia a dia, que em geral vem amarrado e com direção e destino pré-definidos. São séries que vão do engraçado (sanduíches noturnos) aos temas delicados como a nudez e o fetiche. Tenho paixão por Polaróides, processo que acabou há uns três anos atrás com o fim da fabricação dos filmes e que está retornando aos poucos com o Impossible Project – grupo de ex-funcionários da Polaroid que se propuseram a fabricar novamente os filmes.

Você participou de uma exposição onde uma série de nus sugeriam formas de ossos. De onde surgiu essa idéia? Isso causou alguma polêmica? Ossos remetem a nossa vulnerabilidade, a morte. O nu remete ao oposto: criação, vida. A idéia era suscitar essa contradição. Aquele momento da minha vida era de morte e renascimento. E ainda, a busca pelo Belo. São imagens de beleza formal.

Quem é seu grande ídolo na fotografia? Estaria mais pra um Henri Cartier Breson ou um Herb Ritts? Poderia citar vários nomes aqui, mas nesse momento o nome que mais me inspira é Nick Night. Mais próximo do Herb Ritts do que do Bresson. Ainda assim, num certo sentido, tenho algo de Bresson dentro de mim. Como falei há pouco, procuro as frestas entreabertas nos meus personagens. E isso é totalmente Bressoniano. Ao mesmo tempo gosto de fantasiar, como o Nick Night, e inventar outros universos.

 

Você tem um acervo de 9000 fotos de pés femininos. Isso é um fetiche por pés femininos ou por fotos de pés femininos? É claro que é um fetiche por pés femininos! Fotografar foi a melhor forma de curtir esse fetiche! No inicio me detinha em pés que eu achava bonitos. Com o tempo, o trabalho foi tomando um caráter mais catalográfico, um estudo da tipologia dos pés femininos. Li de Freud a Valerie Steele e tudo que diz respeito a pés femininos me interessa. Descobri autores na grande literatura, cineastas, gente de todos os tipos, fissurados por pés femininos, homens e mulheres. Meu sonho é editar esse trabalho em forma de livro e exposição e poder agradecer a todas as queridas que emprestaram gentilmente seus pezinhos.

O que mais, no corpo feminino, atrai o seu olhar fotográfico? Tirando os pés? Os olhos, a boca e cabelos ruivos. Na verdade acho que a parte superior do corpo feminino é capaz de contar uma história! Já estive frente a frente com mulheres lindíssimas e absolutamente insossas! E outras nem tão belas assim, mas com um “twist” que as tornava absolutamente irresistíveis. E em geral esse “twist” estava na expressão dos olhos e da boca!

Os índios acreditavam que a fotografia roubava a alma da pessoa fotografada. De certa forma dá para aprender sobre a alma humana através da fotografia? Já aconteceu de algum trabalho te levar à reflexão sobre como são as pessoas? Com um pouco de sensibilidade pode-se perceber um milhão de coisas fotografando uma pessoa. Mas é preciso estar ligado, estabelecer uma conexão com seu personagem. O dia a dia nem sempre te permite isso. Há pessoas que se entregam mais. Outras tem mais dificuldade em se colocar nas mãos do fotógrafo. Fotografar alguém exige uma disponibilidade mutua e num certo sentido acho que isso pode significar não roubar, mas talvez integrar almas.

Ao fotografar famosos, o que é mais comum encontrar: o tipo vaidoso; o que se acha a estrela ou o inseguro? E como lidar com tudo isso? Ser famoso inclui as coisas boas como o reconhecimento do seu trabalho por um grande público, ser admirado e querido, mas também ser cobrado por tudo isso.  Diria que há todos os tipos de famosos porque acima de qualquer coisa são pessoas como eu e você, com alegrias e tristezas, momentos bons e ruins também. Muitos inseguros, muitos seguros de si, alguns vaidosos e algumas estrelas.

O quanto você é adepto de programas como o Photoshop e quando você não admite? Qual o limite para retoques numa foto? Existe? Nasci na fotografia de filme onde o resultado era obtido no momento em que se fotografava, sem muito espaço pra consertos pós. Talvez por isso, uso o Photoshop como uma ferramenta para dar acabamento ao material que produzo. Poucos sabem, mas no universo da fotografia profissional habitualmente usamos o formato RAW como padrão. Este formato exige ajustes em um programa de edição antes de ser considerada imagem final.  Acredito que o retoque serve para representar na imagem estática nossa percepção da imagem em movimento. Explico: na imagem em movimento a percepção que se tem de detalhes é extremamente menor que a percepção dos mesmos numa imagem estática.  É justo então aproximar um do outro especialmente em se tratando de figuras publicas.

Como você está se relacionando com as novas mídias? Blog, Twiter, Facebook, de que forma isso atinge seu trabalho? Tento estar sempre acompanhando tudo, mas obviamente não consigo! Tenho Facebook, Twiter, Flickr, Blog, mas se eu me detivesse em atualizar tudo o tempo todo, não faria outra coisa! Meu site está completamente desatualizado porque sinto que estar presente nestas mídias é mais imediato e mais eficaz!

Curto muito o Facebook que me propiciou reencontros impensáveis antes da era digital e onde descobri meu atual vicio fotográfico: o Instagram! Ele tem a espontaneidade de uma Polaroid e as mais diversas possibilidades de interferência na foto, como num laboratório fotográfico ou bem mais que isso. E agora comecei a imprimir meus Instagrams e montar um painel. Muito empolgado! Sigam-me @rodrigolopes

Qual seu próximo trabalho e qual gostaria que fosse o próximo? Como e com quem seria? Projetos para o futuro? Meu próximo trabalho provavelmente é a nova campanha da Mercatto, com a Mariana Rios, uma Mineirinha de Araxá, cidade do meu pai, uma graça de pessoa! E o pessoal da marca, uma equipe deliciosa de trabalhar! Com quem eu gostaria de trabalhar? Ih, a lista é longa! Se eu mencionar nomes vou deixar de fora pessoas muito amadas. Mas pra não deixar sem resposta aqui vai: uma editorial pra revista francesa Jalouse, com Carol Trentini ruiva em São Petesburgo! (humpfh!).

Agora falando sério: estou estudando Direção de Fotografia para Cinema. E está sendo uma descoberta! Há uma convergência entre a fotografia e a imagem em movimento – cinema e vídeo – e acredito que este seja um caminho inexorável para boa parte de nós fotógrafos.  Meu sonho no momento é realizar um curta metragem baseado em “Marie das Sombras” um conto fantástico que minha filha escreveu!