ENTREVISTA: Uma conversa franca com Luciano Bivar sobre política, esporte e intuição

Luciano Bivar, é um empresário com várias experiências que extrapolam a rotina de negócios. Além de presidente do Conselho de Administração da Companhia Excelsior de Seguros, Bivar já foi seis vezes presidente do Sport Clube do Recife, presidente nacional do Partido Social Liberal (PSL) e é apaixonado por tênis e barcos. Conversamos sobre essas múltiplas funções e ouvimos dele respostas para perguntas que envolvem futebol, política, crise e seu mais novo livro. Um livro que por sinal cai bem para o momento em que vivemos entre a razão e a emoção para evitar erros e cometer mais acertos.

Vamos começar pela novidade, seu mais novo livro. Você já publicou livros sobre política, Cuba e a situação do Sport Club… Como é esse novo livro? É uma tese nova que nós tratamos, o livro é uma visão jamais abordada sobre o cérebro humano, e as reações de nossas mentes no dia de cada um. Ele nasce de uma busca incessante de todos nós pelo “porque” de nossas emoções, de nosso estado de espírito. Trata da maneira pela qual possamos administrar nossa cabeça, para que tudo seja mais colorido. E tudo isso decorre de uma terceira mente, que identificamos como a Mente Intuitiva. O livro tem uma linguagem simples a acessível, seu original foi comprado pela MBooks e estará sendo vendido em todas as grandes redes de livraria do País.

A que se daria isso? A pessoa tem que está aberta… A pessoa tem que estar aberta a isso ou alguns tem mais facilidade? Todos têm o dom da intuição. Só que uns ouvem, outros não. E no livro, não só pesquiso como relato pequenas histórias de minha vida, às quais não dei a devida importância a minha intuição. Às vezes fui seduzido, às vezes não, por outros valores e me perdi pelas opções erradas que percorri. Mas o alerta da “luz amarela” havia piscado, eu é que não soube dar o verdadeiro valor. Esses acontecimentos são lições que armazenamos em nosso córtex frontal, e servem como memória numa terceira mente, para rebuscarmos em comportamentos futuros. Tenho certeza que o leitor vai gostar muito. Com diz Oliver Sacks: “não penso em mim como homem de letras, o que tento é dizer e apontar coisas do que realmente acontece no labirinto de nossas mentes”.

Como você ver o futebol hoje? O Sport está até indo bem, mas como você o vê? Você não pode falar do futebol pernambucano sem falar no macro, o futebol brasileiro como um todo. Depois do advento da Lei Pelé, decaiu vertiginosamente. Há muito esbravejava e escrevia que o populismo de uma mídia desavisada, onde entendia que vivíamos um processo escravocrata, e tirou dos clubes, seu principal ativo, que era os passes dos jogadores. Depois disso, o que aconteceu: os clubes de futebol ficaram falidos e os intermediários de jogadores se tornaram milionários. Apenas a minoria, foi beneficiada e a grande maioria de atletas perdeu seus vínculos com os clubes e acabaram no esquecimento. O Brasil hoje tem 60% menos atletas registrados nas Federações do que antes da lei Pelé, consequentemente menos investidores, e um universo bem menor para catalogar talentos. O Sport, acredito que foi um dos poucos clubes que, após a lei Pelé, conseguiu equilibrar-se financeiramente, diferentemente dos maiores clubes do futebol brasileiro que devem fortunas impagáveis ao fisco e à Justiça do Trabalho. Isso, naturalmente, deveu-se a um processo de austeridade em várias gestões, de gastar aquilo que recebia, um orçamento rigorosamente observado. Hoje, já não sei se essa política continua vigendo.

E hoje você não vê possibilidade disso ser revisto? Ou você vê com cerimônia, vai continuar assim ou vamos usar um pouco da intuição por que esse negócio não está dando certo? Como disse há pouco, em outras palavras, o populismo sobre a lei do passe é tamanha, que poucos têm coragem de criticar essa famigerada lei. Fala-se de tudo, menos alterar a lei do passe e, esse é o verdadeiro motivo da derrocada do futebol brasileiro. Minha intuição já dizia isso, muito bem retratada em artigo que escrevi no Jornal do Comércio e em outros veículos de divulgação em 27 de setembro de 2000, cujo título se não me falha a memória era Rèquiem para o futebol.

Hoje se tem passes altíssimos, você tem um valor padrão Neymar… Isso daí também para quem quer começar no esporte, acha que isso aí é a solução, que vai ficar milionário se for um bom jogador. Eles terminam esquecendo de fazer a base. Onde você pode ser mediano e ganhar bem sem necessariamente ter que ir pra fora. Você não acha? Exato. Com a Lei Pelé, você beneficiou os super-craques e esqueceu a base. Não só os grandes clubes, como toda periferia. Ninguém investe na garotada. Quando um atleta chega ao Clube, já tem dois ou três procuradores, detentores de seus direitos federativos, usam os clubes como barrigas de aluguel.

Estamos passando por uma crise política, economia e de identidade. Não sei se quando você foi candidato, um dia vislumbrou que poderíamos chegar a isso. Você imaginava que um dia chegaríamos a esse cenário? Olha, num primeiro ano do governo da Dilma eu cheguei num programa em cadeia nacional, e disse que ela era uma mulher com honestidade de propósito. Eu me enganei. Quer dizer, todos os brasileiros foram enganados. Eu acho que na cúpula, hoje no Brasil, não tem mais honestidade de propósito. Quando você vê o caso do BNDS, o Brasil emprestar um dinheiro para receber 25 anos depois, segundo a revista Época, para trocar em medicamentos. Com tantas coisa que você tem que fazer. Por que eu nunca vi uma coisa tão orquestrada para a evasão de divisas do Brasil, e você não sabe como esse pessoal se beneficiou. Eu estou falando pelo que leio. Não faço parte da equipe do Procurador Geral, mas pelo que a gente lê, o que sai nas revistas… pela credibilidade que as revistas passam, a gente só pode se guiar por aí.

Dentro desse cenário de crise política, o que a gente deve esperar nos próximos 2 ou 3 próximos anos? Olha, primeiro a origem disso aí a gente não sabe, a gente sabe que existe. Agora até onde vai perdurar isso, eu não sei. Felizmente a gente tem um poder muito grande, que é o poder da imprensa. Que é independente. O Brasil é um país, graças a Deus, que tem uma infraestrutura de produção. Diferentemente da Grécia, de outros países que não têm condição nenhuma. Basta que agente começasse a administrar, gerenciar, o país de maneira correta. Eu não sei se dentro dessas investigações todas, ela (a Presidente) vai ter sustentação, credibilidade para administrar o país.

Durante sua campanha você defendeu muito o “imposto único”. Você ainda é defensor? Ainda sou defensor. Hoje com o avanço da tecnologia, o negócio é você simplificar, você fazer cobranças eletrônicas. A gente tem um verdadeiro manicômio tributário. Então, se a gente simplifica pro país, em termos de arrecadação, esse imposto simplificaria demais. E você teria uma economia muito grande da máquina arrecadadora, que na época, segundo estudo levantado por nós, consumia o equivalente a 3% do PIB brasileiro. Então, você imagina que valor não é para ter uma máquina arrecadadora. Então tudo isso seria eliminado.

A Excelsior é uma das empresas investidoras no Porto do Recife. Como você vê a revitalização dessa área? Que incentivos receberam? Ou poderia ser melhor tratada essa questão? Eu que tenho que ser melhor tratado, mas isso mesmo não acontece na realidade, os problemas que a gente tem com os órgãos ambientais, os órgãos sociais da Prefeitura. Não recebemos nenhuma benesse, nenhum incentivo fiscal. Muito pelo contrário, eles cobram taxas exorbitantes pra a gente investir com recursos próprios numa coisa para a cidade. Essas coisas é que, eu volto a dizer, são desestimulantes. Quando investimos uma vez, eu e outro empresário, lá no Porto Madeiro, em Buenos Aires, nós recebemos incentivos da Prefeitura de Buenos Aires. Aqui muito pelo contrário. Só temos dificuldades. E exigindo taxas de mitigação, como se a gente tivesses criando impactos ambientais, aí no Porto do Recife. Para você ver como nós estamos.

Além dos investimentos que você tem em Recife, você tem em Miami. É um fluxo natural que você está vendo nesse momento? A grande opção que a gente tem como ocidental, quando você tem seus recursos, que foram tributados que você ganha honestamente, você investe onde dá retorno. Embora que,  como pernambucano, todos os nossos negócios têm sido aqui. Nós da Excelsior, somos a única seguradora do Brasil que tem matriz no NE. E não é fácil isso. Miami foi uma opção pessoal, não da Empresa e tem sido de alguns brasileiros, mas hoje não temos quase nada. Também foram desestimuladas até pela necessidade da gente repatriar nosso capital.

Como anda a paixão por barcos? Não digo nem que seja paixão, está mais para meu prosac (risos) só, que qualquer outra coisa, mas não posso dizer, que não fazem parte de minhas alegrias.

Que recado você deixaria para esse momento delicado da economia, para usar mais essa intuição, essa terceira força? No livro eu até falo que você tem intuição, óbvio, mas você tem que trabalhar no sentido certo. Não acredito intuição sem alma, como não acredito em progresso sem trabalho. Acho que o Governo perdeu a alma e se não recobrá-la a curto prazo, não tem plano econômico que dê jeito. Reformas urgem, para diminuir o custo Brasil, para deixarmos de ser um país pseudo assistencialista, e nos tornarmos uma Nação moderna e produtiva.