ESTRELA: LORENA COMPARATO – COM FORÇA TOTAL DOS SERIADOS NO STREAMING ÀS TELAS DE CINEMA

Inquietas e incansável, Lorena Comparato é uma mulher bem atual e atualizada. Atriz, roteirista e produtora de muitos dos seus projetos, ela tem dominado o streaming por conta de sua participação em várias séries, só para ter ideia do que vem por aí, Lorena será vista na nova temporada de “Samantha!” (Netflix), “Impuros” (FOX) e “Homens?” (Amazon). E em breve nas telonas com três filmes. “Eu me divirto muito trabalhando, até fazendo as séries e cenas mais sérias, porque eu amo muito meu trabalho”, conclui Lorena em conversa com a MENSCH. Por sinal diversão parece que foi o ponto alto desse ensaio feito na Praia de Adraga, em Portugal, sua cidade natal. Vamos lá que tem muito papo com essa mulher brilhante e com ótimas doses de humor e sensualidade.

Você é uma atriz que tem feito muitos trabalhos importantes fora da TV aberta. Como avalia sua carreira? Quando olho para trás, para o presente e penso na minha carreira, fico bem feliz. Não parei de trabalhar desde que entrei no mercado e isso não é algo muito comum. A variedade de programas que já fiz condizem com a minha tamanha sede pela arte. Gosto da versatilidade que todos esses personagens me trouxeram, mas ainda tenho grandes sonhos e ambições a serem realizadas. Gostaria muito de voltar pra as novelas, fazer mais filmes e possivelmente teatro musical. Mas aprendendo com a minha carreira, também sei que tudo tem seu tempo e sua hora certa de acontecer. Sobre escolhas, acho elas importantíssimas. Saber o que você quer, o preço de um “sim” ou de um “não”. Já as oportunidades são incontroláveis e tive grandes oportunidades nessa vida. Porém acredito que a gente cria as nossas próprias oportunidades também.

Tem vontade de fazer mais novelas? Muita! A única novela que fiz inteira foi “Rock Story” e foi maravilhoso. Amo TV, desde pequena dizia pra minha mãe que queria “entrar ali dentro”, apontando pra televisão. Gosto da ideia da frequência da novela. De estar na casa das pessoas todos os dias e de não conseguir ser devorada em um dia, como fazemos com as séries hoje em dia. Eu faço: sou consumidora assídua de séries. A TV aberta tem muita visibilidade e eu faço arte pelo povo e para ele. É bom demais saber que tem milhares de pessoas te vendo e se entretendo com o seu trabalho. As novelas ainda têm um alcance que as séries não tem e essa parte me encanta muito. A ideia de fazer uma personagem só durante quase um ano também é super desafiadora e instigante.

Você costuma fazer trabalhos ligados ao humor, como em “Pé na cova”, “Samantha”, “Homens?”… é uma escolha sua? Fazer humor é mais fácil? Eu amo a comédia. Principalmente o humor ácido e inteligente. Não vejo os programas que já fiz como escolhas, mas mais como oportunidades que me foram dadas. Mas sim, na nossa carreira fazemos escolhas e eu tendo a escolher personagens que eu acredito em programas que eu admiro, acredito ou apoio.  Em “Malhação”, “Rock Story” e “Impuros”, por exemplo, eu fiz personagens mais dramáticos. E em “Pé na cova”, “Samantha!” e “Homens?” personagens mais cômicos. Acho dificilíssimo fazer comédia, mas drama também. Acho que todos os gêneros tem suas peculiaridades, facilidades e dificuldades. Mas existe um lugar na comédia do tempo, do ritmo e da forma que eu acho mais difícil de fazer com qualidade, do que os outros gêneros. Cenas de muito choro e desespero requerem bastante concentração também. Eu me divirto muito trabalhando, até fazendo as séries e cenas mais sérias, porque eu amo muito meu trabalho.

Como avalia a situação da arte no Brasil? Uma tristeza. Olho para o Brasil e vejo um potencial imenso como pais, produtor artístico e polo cultural. É engraçado como existem dois movimentos muito dicotômicos acontecendo no pais nos últimos anos. Ao mesmo tempo que as leis de incentivo ganharam força e o mercado se abriu muito para o conteúdo brasileiro, principalmente para os canais internacionais, existe uma ignorância exorbitante sobre a importância da arte e sobre o poder que ela tem. Acho deprimente que em 2019 ainda estamos falando de censura. Que um dos países com mais corrupção no mundo, culpa a arte pelos gastos excessivos do governo e que as pessoas acreditam cegamente em quem mais as engana. Nessas duas ondas opostas, fico feliz de estar surfando na que defende a arte, a inclusão e a empatia. Vejo muitos teatros fechando, excelentes espetáculos sem subsidio, museus vazios e tento resistir com os meus projetos, mas está difícil. Queria dizer que tenho muita esperança que unidos, a gente consiga fazer a diferença de alguma forma.

Você nasceu em Portugal. Tem planos para uma carreira internacional? Gostaria muito de atuar fora do país. Não só eu nasci em Portugal, como me formei em uma escola britânica no Brasil. Fui alfabetizada em inglês, antes do português. Gostaria muito de fazer uma novela em Portugal e de atuar em filmes e séries em inglês. Com a globalização isso está cada vez mais fácil, entrar em contato com o mercado internacional por aqui, mas também sei a dificuldade que é se estabelecer com uma carreira internacional. Admiro muito a Alice Braga e o Rodrigo Santoro. Tenho planos de passar um tempo fora, além do tempo que já fui para fazer intercâmbio, mas precisaria dar uma pausa nos trabalhos daqui e isso é sempre difícil pra mim.

Você participa da Cia de 4 atrizes em que vocês escrevem, produzem, atuam…como é trabalhar em grupo e com outras mulheres? Tem planos para mais projetos como roteirista, produtora? É simplesmente maravilhoso. Estamos juntas desde 2011 e nos unimos porque estávamos cansadas dos meninos sempre se juntarem e chamarem uma menina para participar das peças. Era sempre UMA. Parecia que sempre tinha uma cota e obvio que isso incentiva a competitividade feminina. Nós decidimos nos juntar e chamar quem a gente quisesse pra trabalhar com a gente. 8 anos depois nos reconhecemos como um coletivo artístico de mulheres que produz conteúdo para diversas mídias.

Temos muitos projetos juntas, nesse momentos estamos apresentando três séries no R2C, o maior evento de criatividade e inovação da América Latina no mercado audiovisual. Sinto que nós temos uma conexão profissional muito baseada no nosso pessoal, pois somos muito amigas. A gente se apoia, se nutre, se crítica e evoluímos muito juntas. Em um grupo de quatro, temos muita disparidade de jeitos, e isso é lindo. Tentamos pegar o melhor de cada uma e usar para nos fortalecermos mais ainda. Ano passado lançamos PRATO FRIO, o primeiro podcast de ficção do Spotify no Brasil com o Hysteria, canal feminino da Conspiração. Estamos recebendo algumas encomendas de projetos, temos vários em desenvolvimento e estamos sempre a procura de parceiros para realizá-los. Quero começar a investir ainda mais nessa parte da escrita e da direção esse ano, com certeza.

Você e as meninas da Cia de 4 Atrizes fizeram o primeiro podcast nacional para o Spotify. Como foi trabalhar com essa nova mídia e como foi o retorno do público? O PRATO FRIO foi um projeto super legal. Ele foi desenvolvido para o Hysteria com parceria do Spotify. Foi muito interessante o desenvolvimento porque foi muito autoral e no feeling. Como nós da Cia de 4 Mulheres escrevemos, produzimos e realizamos, a gente foi fazendo muito no instinto e seguindo as características que nós gostamos nos podcasts que somos fãs. É uma mídia muito nova ainda, com muito a se explorar. Nosso processo foi bem interessante. A gente ia escrevendo os textos semanais, fazíamos preparação com a fonoaudióloga Leila Mendes, que é minha mãe e preparadora sempre, e depois íamos pro estúdio executar. Muitas vezes a gente fazia os textos que cada uma escrevia ou a gente embaralhava. O legal foi que como as pessoas não nos veem no podcast, podemos pirar nos perfis, sotaques e estilos. Como é uma mídia muito nova também não tem muita regra, padrão ou certo ou errado. O retorno do público foi maravilhoso! As pessoas vinham falar com a gente dizendo que ficaram viciadas, que escutavam em tudo que é lugar: carro, academia, busão, etc. E o bom é que tem novos fãs toda hora, porque tá disponível no Spotify e no Hysteria de graça.

Cada vez mais vemos mulheres de todas as idades se empoderando, mais feministas… O que você acha desse novo momento no mundo? Se considera feminista? Acho esse movimento do feminismo maravilhoso! Sou feminista com o maior orgulho. As pessoas realmente tem uma concepção de que feminismo é o polo oposto do machismo e não é. Se você ler em qualquer dicionário o que é o feminismo: é apenas a luta pela igualdade dos gêneros, não é algo que enaltece a mulher a colocando muito acima do homem. É um pensamento que enaltece a mulher em uma sociedade que ela foi extremamente desvalorizada e massacrada. O feminismo é apenas o equilíbrio. Muitos amigos meus homens que apoiam totalmente o feminismo pelos seus atos e ideais, falam mal dele. Em alguns minutos de conversa, eles entendem que apoiam super o feminismo só tem medo do termo. Em um mundo patriarcal eu acho muito propício justamente o termo que luta pela igualdade, ser mal visto.

Eu poderia enumerar diversas conquistas das feministas que hoje todas as mulheres usufruem como: não ser obrigada a casar, votar, usar calças, usar contraceptivos, até mesmo ter uma voz na hora da relação afetiva e sexual, sentir prazer e poder falar disso etc. São tantos direitos considerados básicos adquiridos pelas feministas que eu realmente não entendo como alguém pode ser contra o feminismo. Eu acredito que as leis existem, mas elas se moldam, se adaptam. Que bom! Se não, estaríamos vivendo em sociedades escravocratas até hoje. Fico feliz que cada vez mais estamos vendo mulheres de todas as idades empoderadas! Inclusive crianças, meninas, senhoras, mulheres de diversas raças, especialmente as negras, que sofrem bem mais que outras no Brasil. Mesmo com uma onda bizarra de repressão, que tem me deixado cada vez mais triste, fico feliz de ver movimentos como o feminista e o negro ganhando força.

Você costuma trocar ideias com seu pai, que é roteirista, e com sua irmã que também é atriz? E poderemos ver a família trabalhando junta em algum momento? Trocamos ideia sempre. Realmente é uma dádiva ter a família perto e pessoas de confiança no mesmo mercado que você. Estamos sempre nos falando, trocando, se prestigiando e acho que uma família de artistas tem que fazer isso mesmo. Nosso maior movimento agora é trabalhar todo mundo junto sim. Meu sonho é fazer um projeto escrito pelo pai e irmã mais velha Fabi (que também trabalha com cultura), atuando com a minha irmã Bianca e sendo preparada pela mãe. Imagina isso? Seria uma delícia trabalhar com eles. Com a minha mãe trabalho sempre, preparo todas as minhas personagens. Com as minhas irmãs tenho vários projetos, agora queremos realizá-los.

Seu ensaio para a MENSCH foi feito numa praia em Portugal. Você se acha sexy? Meu ensaio pra MENSCH foi feito pela fotógrafa Carolina Goetz na Praia da Adraga, em Portugal, 22 anos depois de ter ido embora do pais. Nasci lá e vivi até os 6 anos de idade. Quando cheguei no Brasil, fui direto pra Escola Britânica no Rio de Janeiro e conheci a Carol. Pois é, nos conhecemos há mais de duas décadas atrás e nos formamos juntas a uma. (risos) A Carol sempre me disse que eu sempre fui muito sedutora. Já tinha feito um ensaio com ela no meu quarto, que foi um sucesso, mas foi por pura pressão dela. Ela tinha razão. (risos) Com as fotos eu me senti cada vez mais sexy. Sinceramente o feminismo, o empoderamento e o amadurecimento tem me feito me amar cada vez mais: me achar mais bonita, mais legal e mais sexy também, porque não? Quando a Carol insistiu pra gente fazer fotos em Portugal eu me animei demais. As fotos dela me fazem me sentir bonita demais e gosto de fotografas e artistas que incentivam isso: a beleza natural, sem muita coisa, só eu do jeito que eu sou. Acho que quanto mais a gente se aceita, melhor fica o caminho.

No momento em que vemos muitas mulheres aceitando cada vez mais seus corpos, suas diferenças, você está satisfeita com o seu? Muito! Eu amo meu corpo, sou feliz com meu metabolismo e aprendi ao longo dos anos como ele funciona. Mas ele muda sempre. Porém eu sou uma mulher normal, vivendo numa sociedade com padrões inatingíveis de beleza, ou seja, tem sempre alguma coisa que me deixa minimamente insatisfeita, mas no geral estou bem feliz, porém sei que eu sou bem padrão. A gente tem que aceitar nossos corpos do jeito que eles são. Eu gostaria de ter menos estrias porque tenho tendência, mudar a minha orelha, me exercitar mais… Mas o que eu mais prezo é a saúde e não gosto da ideia de ficar pirando sobre essas coisas. Tenho um formato de corpo que eu gosto e aprendi a amar do jeito que é. Me incomodava muito ser baixinha, hoje em dia não me incomoda mais. E tudo que eu posso fazer pra me manter satisfeita, eu faço: cremes, exercícios, cuidados saudáveis e nada muito drástico. Aceitar que cada corpo é um corpo, cada corpo deseja coisas diferentes e tem formatos diferentes é o que mais me fez estar satisfeita comigo.

Está solteira? O que um homem tem que ter para te conquistar? Estou solteira sim. Sou bastante romântica, mas a ideia de que uma pessoa tem que fazer alguma coisa para me conquistar, eu acho falha. Quando eu for conquistada, será por uma pessoa que vai fazê-lo do jeito dela, do jeito que ela é e, se for pra ser, eu vou gostar. Eu gosto de gentileza, bom humor, animação e curiosidade com a vida. Gosto de pessoas alto astral, que topam tudo e estão disponíveis para explorar o mundo, como eu. Curto pessoas que gostam de trabalhar e correm atrás de seus sonhos. Isso é bastante importante pra mim.

Se acha vaidosa? Como cuida do corpo e da mente? Me acho vaidosa sim. Sou a Maria dos cremes. (risos) Gosto de me cuidar, passo cremes no corpo todo de manhã e de noite, lavo o rosto e gosto de produtos eficazes, mas mais naturais, se possível. Gosto muito de andar de bicicleta e costumo tentar resolver meus afazeres de bike perto de casa ou a pé. Gosto de fazer ballet e yoga, mas quando estou trabalhando muito, não consigo praticar muito. Para a mente faço uma terapia holística chamada Frequência de Brilho com a Bianca Hermanny há uns 3 anos. Desde o início desse ano tenho conciliado com a análise e tentado meditar todo dia. Acho MUITO importante fazer análise, terapia e se conhecer profundamente. Resolvemos muitas coisas entendendo como a gente funciona e acredito muito que quando a gente se conhece a gente finalmente pode mudar coisas que a gente não gosta e romper padrões que não sabemos porque repetimos. Recomendo para todo mundo e acho que temos que pensar que é um investimento. Com a terapia com bons profissionais, acredito que podemos nos tornar melhores seres humanos.

E quais seus próximos projetos? Tenho alguns projetos de longas pra esse ano e possivelmente outras temporadas de “SAMANTHA!”, “IMPUROS” e “HOMENS?”. Acabamos de filmar a segunda temporada de “IMPUROS” da FOX, “HOMENS?” passa toda segunda no Comedy Central e está disponível no Amazon Prime e “SAMANTHA!” estreia agora em abril na NETFLIX. Fico muito feliz com tudo que está rolando. Esse ano o público vai poder me ver em 3 filmes em breve: BOCA DE OURO, CANTA PRA SUBIR e MEU ÁLBUM DE AMORES. Cada personagem mais diferente que o outro. Em BOCA DE OURO, de Nelson Rodrigues, com direção de Daniel Filho, eu faço a Celeste, uma jovem retratada de várias maneiras diferentes no mesmo filme. A história é sobre um grande bicheiro Boca de Ouro, mas no fundo a verdade é o tema principal. Que presente que foi esse filme. Atuar ao lado de Marcos Palmeira, Malu Mader e Thiago Rodrigues para contar uma das histórias mais clássicas do teatro e cinema brasileiro, não tem preço. Estou animada para ver a reação do público. Sou muito fã de Nelson Rodrigues.

CANTA PRA SUBIR da Caroline Fioratti (com Cacau Prostacio, Malu Valle, Samya Pascotto, etc.) é uma comédia romântica que fala sobre religião. Dois jovens querem casar, mas ela é judia e ele é da umbanda, como unir essas famílias com rituais tão diferentes? Foi bem divertido fazer e eu faço a Cleide, uma menina mais humilde casada com um cara mais velho, pai do noivo. Em MEU ÁLBUM DE AMORES, de Rafael Gomes, eu faço a Catarina, um dos amores de Júlio (Gabriel Leone) e o filme fala sobre o amor nas relações afetivas: amorosas, familiares e de amizades. Em meio a tudo isso, tenho o coletivo de criação de conteúdo, CIA de 4 Mulheres, com quem espero realizar alguns projetos esse ano. Estou bem feliz com os possíveis projetos e com as estreias. Quando dá um brecha, eu sempre faço cursos. Se der uma brecha mais longa, gostaria de tentar fazer um curso fora do pais ainda esse ano.