MUSA: Maria Gal, uma baiana arretada e cheia de talento

A atriz Maria Gal traz eu sua trajetória muita determinação e força de vontade para ser uma vitoriosa. Desde criança imitava personagens clássicos da TV enquanto sonhava em ser atriz. Baiana arretada, correu atrás de realizar seus sonhos. Largou Salvador e mudou-se para São Paulo. Hoje em dia vive na ponte-aérea entre São Paulo e Rio de Janeiro, onde mora atualmente, por conta do trabalho. Montou sua própria produtora e segue com projetos que tragam mais negros para participarem de forma mais significativa no audiovisual, “são mais de 54% por cento da população desde 2016, segundo o IBGE, e que esta realidade não é refletida na TV nem no audiovisual como um todo”, comentou Maria durante a entrevista. Recentemente estreou sua nova personagem, Gleyce, na novela “As Aventuras de Poliana”, no SBT, que retrata bem o perfil da mulher brasileira batalhadora. Enquanto isso a bela Gal segue trilhando seu caminho de sucesso e fazendo a diferença por onde passa.

Soubemos que desde muito jovem você já sonhava em ser atriz e imitava atrizes de novela. Como e quando percebeu que queria isso para a vida? Quando comecei a fazer aulas de teatro na infância. Eu fazia ballet e teve um momento em que na escola também tínhamos aulas de teatro e comecei a gostar mais dessas aulas. Depois após na adolescência já formada na primeira faculdade que fiz comecei a fazer teatro de novo no Bando de Teatro Olodum. Era um curso profissionalizante. Fiz aulas com Márcio Meirelles, Chica Carelli, que já nessa época já eram referências. Montamos Sonho de Uma Noite de Verão e apresentamos em Salvador e em São Paulo. Depois fui morar em São Paulo, estudei arte dramática na USP, fundei grupo de teatro, e fiz vários espetáculos.

Depois de alguns trabalhos no teatro, cinema e TV, você chegou com uma nova personagem, a Gleyce Soares, em “As Aventuras de Poliana”, do SBT. O que podemos esperar da Gleyce? Estreamos dia 16 de maio e estamos com uma ótima audiência. Chegamos a picos de 18 pontos na estreia. Gleyce é minha maior personagem na TV e estou muito feliz. Ela é uma mãe de família, batalhadora, que busca empoderar a família. É a típica mulher brasileira que tem que dar conta do trabalho, dos afazeres domésticos e dos filhos, já que o marido é um pouco ausente. A Gleyce chegou com tudo! Já mostrou desde o início que é uma mulher sensível, com senso de humor, mas que também não tem papas na língua, pois ela fala o que pensa. Estou adorando ver que o bordão da Gleyce já está pegando: “Ô paizinho do céu!” (risos)

Recentemente tivemos um grande destaque de atriz negra na TV, no caso Erika Januza em “O Outro Lado do Paraíso” e em “Segundo Sol” o núcleo de negros é bem forte. Você acha que o mercado de trabalho está mudando ou ainda é muito lento? Acredito que ainda é muito pouco, se analisarmos que negros são mais de 54% por cento da população desde 2016, segundo o IBGE, e que esta realidade não é refletida na TV nem no audiovisual como um todo. No cinema por exemplo atrizes negras estão no elenco principal em apenas 4,4% dos filmes produzidos no Brasil. O mesmo ocorre em todos os setores da economia que tenha visibilidade ou cargos de poder. Por exemplo quantas atrizes negras vemos em capas de revistas? Poucas e as mesmas. Nada contra elas muito pelo contrário, mas o mercado editorial precisa abrir mais esse espaço. Assim como o mercado de audiovisual eles tem a mentalidade de que se colocar uma mulher negra na capa que não seja tão conhecida a revista não vai vender, mesmo a população brasileira sendo mais de 54%.

Quantos CEO’S negros em grandes empresas o Brasil tem? Hoje nenhum. Esse racismo estrutural é de uma discrepância absurda. Sobre o racismo no audiovisual brasileiro vale ressaltar que há também o colorismo. Ou seja quanto mais negra, pele retinta, nariz largo, cabelo mais crespo e lábios grossos menos espaço as atrizes negras tem. Quanto mais preta maior a exclusão. Para perceber melhor é só fazer um teste. Quantas atrizes de pele mais escura, lábios grossos, nariz largo você já viu na TV ou no cinema? Eu entendo que precisamos normalizar o audiovisual brasileiro. Para que entendam o que quero dizer compartilho uma frase de Shonda Rhimes que gosto muito. “Eu odeio demais a palavra diversidade. Sugere algo especial, raro, diverso. Como se fosso algo incomum escrever histórias para mulheres ou pessoas de cor na TV. Eu tenho uma palavra diferente. NORMALIZAR. Eu estou normalizando a TV. Porque mulheres, pessoas de cor e LGBT somam mais de 50% da população. Isso significa que eles não são qualquer coisa”.

Você certa vez falou que um diretor não deu um papel para você por achar que o tom da pele não era fácil de vender. Isso em se tratando de Brasil onde mais da metade da população é negra chega a ser algo sem noção. Como isso te tocou? Como mudar esse pensamento? No primeiro momento fiquei com muita raiva. Mas depois isso serviu e está servindo de alavanca para que eu possa mudar isso através da minha produtora. Hoje tenho uma produtora chamada MARIA PRODUTORA, que tem como missão desenvolver e produzir histórias com protagonismo negro, feminino e que sejam amplamente comerciais. Nossa meta é quebrar paradigmas no audiovisual brasileiro. Atualmente estamos com 3 projetos. Uma série de TV chamada “Os Souza”, um filme documentário e um de ficção baseado em fatos.

E segundo estatísticas a mulher negra ainda sofre mais no mercado de trabalho do que o homem negro. O que leva a isso? E como se pode combater esse fato? Vou começar a responder essa pergunta compartilhando uma frase de Ângela Daves. “Quando uma mulher negra se movimenta toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela porque tudo é desestabilizado a partir da base da pirâmide social onde encontram-se as mulheres negras”. Isso porque muda-se a base do capitalismo. Infelizmente ainda somos um país que dá muito espaço para o racismo e o machismo, em todas as estruturas de poder. E justamente por isso a pirâmide financeira e social está organizada de cima para baixo: homem branco, mulher branca, homem negro, mulher negra. Para se combater isso as empresas e o setor público precisam dar mais espaço para mulheres negras, seja por cotas ou por estratégias de contratação que contemple mais mulheres negras.

Por incrível que pareça hoje em dia em que todos tem mais acesso à informação parece que a intolerância e o preconceito (seja de raça, cor, opção sexual…) é ainda maior. Estamos regredindo? Não acredito que seja maior. O racismo sempre esteve entranhado na nossa sociedade. Porém hoje graças a tecnologia estamos mais informados. Acredito que a sociedade está mais aberta para falar e se conscientizar mais sobre essas questões. As pessoas e as empresas estão começando a se dar conta inclusive que estão perdendo dinheiro quando a maioria da população não se sente representada. Acredito que este momento é extremamente importante para que possamos contribuir para uma mudança radical na nossa sociedade. Até porque direta ou indiretamente todos nós somos atingidos. Pretos, brancos, mulheres e homens, independente de prestígio ou classe social.

Falando em sua produtora…  Em breve você estará nas telonas em “Carolina”, cinebiografia de Carolina Maria de Jesus. Personagem forte em filme marcante. Como foi a experiência? Muitos desafios? Nosso plano é filmar em 2019. Agora estamos na fase dos tratamentos do roteiro e da captação de recursos. Eu como uma mulher negra (base da pirâmide), dialogar na maioria das vezes com homens brancos, contar a história, sensibilizá-los e trazê-los para o filme tem sido muito enriquecedor, porque tenho encontrado pessoas muito especiais que estão contribuindo muito para o nosso filme, pois sabem da importância de realização desse projeto. E o fato de ser idealizado por mim, mulher e atriz negra, com autonomia para utilizar o meu lugar de fala sobre essa história é de uma importância crucial. O maravilhoso é que o que começou apenas com uma ideia hoje já tem parceiros importantes, inclusive grandes nomes e empresas do mercado de audiovisual. O curioso é que empresas que sabem do projeto tem entrado em contato conosco para nos patrocinar por entenderem a importância do nosso filme. Para a empresa que tiver interesse em nos apoiar estamos aprovados nas leis do audiovisual e no Proac ICMS. Para entrar em contato mande um e-mail para [email protected]

Você saiu de Salvador e foi parar em São Paulo, e hoje em dia se estabeleceu no Rio de Janeiro. Como foi a adaptação nessas grandes cidades? O que levou da terrinha com você? Quando morava em Salvador mudei de escola várias vezes porque sempre queria ir para uma escola melhor. Essa adaptação para mim foi de certa forma confortável. Claro que nos primeiros anos em São Paulo foi bem difícil porque não conhecia ninguém. Para me manter trabalhei como garçonete e fiz alguns bicos. O engraçado é que não podia falar para minha mãe porque senão ela ia fazer de tudo para voltar para Salvador, mas a verdade é que passei muitos perrengues, inclusive para comer e pagar aluguel. De Salvador trouxe o Axé a força de realização.

Quando está com tempo livre o que faz sua cabeça? Amo caminhar na praia, comer, estar com amigos, assistir filmes e séries, ler e dançar. Hoje em dia como fico muito em São Paulo por conta das gravações, quando estou no Rio vou à praia fazer exercícios (risos). Aproveitando gostaria de agradecer ao Nobile Suítes de Congonhas que tem me apoiado nas hospedagens em São Paulo.

Você parece ser uma mulher bem vaidosa. Verdade? Como isso transparecesse? Sou. Gosto de me vestir bem. Adoro moda. Inclusive tenho pesquisado algumas marcas de roupa para parceria. Gosto de maquiagem e laces. Aliás amo laces! (risos) Para a pele tenho usado argila verde por conta da minha tendência a espinhas.

O que um homem precisa ter ou ser para chamar sua atenção? Precisa ser parceiro, honesto, vaidoso, amigo, inteligente, ter fé, auto estima e ser companheiro. Uma amiga disse que é quase impossível! (risos) Eu acredito que não.

Na hora que pinta o interesse da paquera é de correr atrás ou fica na espera? Prefiro esperar. Sou um pouco tímida para correr atrás. Prefiro correr na frente! (risos)

O que essa baiana arretada tem que tanto encanta? Acredito que meu senso de humor, fidelidade e senso de propósito!

Fotos Luis Crispino @lcrispin0

Produção e estilo Ju Hirschmann @juhirschmann

Beleza Alina Peixoto @alinabrasil

Maria Gal veste: Hobby e lingerie Intimissi @intimissimibrasiloficial, tailleur Ricardo Almeida @ricardoalmeidaoficial, brincos Kenuz @kenuzboutique, colar Camila Klein @camilakleinoficial