TELEVISÃO: “Afinal, o que querem as mulheres?”

Chegou ao final uma série bem peculiar, que retrata bem o que esse universo de dúvidas e questões que permeiam as mentes femininas e criam conflitos e desentendimentos nas mentes masculinas. A série “Afinal, o que querem as mulheres?” levantou a questão que não tem resposta única e real. Questionou os desejos e sonhos femininos para que nós homens pudéssemos entendê-las melhor e quem sabe amá-las melhor. Mas como entender quem muitas vezes não se entende?! Eis a questão.

E foi diante disso que o personagem André, caiu em campo atrás de respostas e só encontrou dúvidas. Mirou nos homens e também questionou “afinal, o que querem os homens?”, ouviu respostas como assistir o jogo em paz, poder broxar sem medo, tem uma mulher que lhe faça esquecer a última… Mas nenhuma resposta plena. Ao fim, concluiu que todos nós, homens ou mulheres, queremos antes de tudo nos entendermos com nós mesmos, saber o que nós queremos. Já que somos frutos de tudo que vivemos e de quem conhecemos, e que muitas vezes nos perdemos entre ações e desejos que não esperávamos de nós. Afinal nós queremos nos entender, para só depois querer algo do outro.

E foi com essas conclusões que o magistral (sem exagero da palavra) Luis Fernando Carvalho encerrou esse belo trabalho. Confira aqui depoimentos dele em relação à temas sobre a série e questões sobre a relação homem e mulher, retirados do site da série no portal da Globo.

Clichês [?]
Há uma infinidade de repetições em todos nós, homens e mulheres, que nos curvamos muitas vezes em prol de um bem comum, um mundo melhor, princípios e moral elevada, enfim, tudo isso que me parece um material rico para dramaturgia. Por outro lado, a repetição destes comportamentos é cada vez mais tragicômica e ridícula. Se tivesse que resumir este seriado em uma frase, diria: a tragédia de um homem ridículo! ‘Afinal, o que querem as mulheres?’ conta a travessia patética de um homem em relação aos seus objetos de desejo, ao amor, aos afetos e a uma espécie de visão do feminino que parece o devorar sempre.

Patético [?]
Não sei ser engraçado, muito menos pretendo. Não peço isso aos atores, também não escrevemos o texto pensando em fazer graça, o resultado seria uma catástrofe. Já a melancolia me orienta, talvez tenha nos orientado no texto também e certamente já me salvou muitas vezes. Acho graça nos filmes de Chaplin, que ao mesmo tempo me levam às lágrimas, daí você tira o quanto estou dando os primeiros passos. É que ainda encontro certa dificuldade para crer que os acontecimentos e a narrativa de ‘Afinal’ devam se concentrar em um único gênero. Fico me perguntando se um bom texto, moderno ou clássico, já não traz em si várias camadas.

Comédia [?]
Não chamaria de comédia, mas este deslocamento está vinculado à minha curiosidade por novos temas e linguagens, uma certa versatilidade narrativa. Sinto que cada conteúdo requer uma linguagem. E como não sou capaz de escrever um sitcom, aí vai minha pequena tentativa. Procuramos nos aproximar da linguagem das redes sociais, das mídias modernas, do diálogo curto, do diálogo fazendo o papel dos comentários da rede, com mais acidez, mais risco, uma linguagem mais direta, sem tantas reiterações da dramaturgia televisiva. E apesar da aparente leveza, há um conjunto de linguagens por trás desse trabalho que me interessa e que, na verdade, torna o todo algo bem indefinido em termos de gênero.

Cia de ópera [?]
Primeiro veio a ideia de trabalharmos pequenas narrativas, mas para isso precisava de um elenco grande. Junte-se a isso uma necessidade de continuar a trabalhar os atores como coautores do processo criativo, elaborando as cenas com boa dose de improvisação. No caso específico de ‘Afinal, o que querem as mulheres?’, parti de um pressuposto: esse grupo de mulheres, que se revezam em várias cenas e em diferentes personagens, representam o desdobramento do feminino principal, Lívia, o amor primordial de André. Lancei o mesmo conceito para os personagens masculinos, que então representam o desdobramento do masculino, ou seja, do próprio André.
Riso final [?]

Talvez minha incapacidade confessa de traduzir o feminino [que é mesmo tão múltiplo] tenha me emprestado a coragem de criar este ‘Afinal?’, que não se trata de retirar uma resposta pronta da cartola, nem de definir um gênero: isto é uma comédia! isto é um melodrama! Mas de rir do patético que há em nós – este, sim, me parece um gênero novo! – e de seguir gargalhando dos meus eternos clichês cheios de formulas e certezas, e tudo isso em companhia dos meus novos amigos de texto – Cuenca, Ciça e Michel –, tão cheios de sonhos esfarrapados quanto eu.

Então, o riso final seria este: fruto da constatação do grande vazio que se tornou qualquer modelo oficial – amoroso ou não. Esta constatação deu a André a possibilidade de não se cristalizar, reinventando seus dias com força capaz de seguir amando a Vida e o Amor. André vencerá a si mesmo e, pegando na mão de Simone de Beauvoir, poderia até nos dizer: “Querer-se livre é também querer livres os outros”.

E por fim veja o vídeo com uma parte do início da série.