MUSA: NA BATIDA DE LARY

Seguindo a batida de suas músicas recheadas de funk, trap, R&B pop, Lary chega com tudo em seu primeiro álbum. Sucesso em todas as plataformas, Larissa, ou melhor, Lary começou a cantar graças a karaokê que sua mãe comprou. Foi a partir daí que a bela começou a cantar e não parou mais. Quer dizer, parou um pouco para cursar Engenharia de Produção, mas aí é outra história que ela nos conta logo abaixo. Vamos lá matar a curiosidade e conhecer um pouco de Lary e do que a gata planeja pra logo mais. Aumenta o som e com vocês, Lary!!

Lary, de início nos conta logo como está a expectativa para o primeiro álbum? O que vem por aí? A expectativa é enorme!! Acho que pra todo artista, o primeiro álbum é algo muito emblemático e marcante, e sempre foi um desejo meu. É um projeto que traz várias músicas em uma unidade, então está sendo planejado com muito cuidado, trazendo conceito, identidade e posicionamento. É o trabalho mais importante da minha carreira até hoje e pra chegar até aqui trabalhei bastante no meu autoconhecimento e também amadurecimento musical.

Junto com Trem Bala e Mina Bandida, os dois primeiros singles já lançados, o álbum traz muito R&B Pop, com influência do Hip Hop, Rap, Trap e Funk. É um trabalho que fala muito sobre mim, sobre minhas vivencias e descobertas durante toda a minha trajetória pessoal e profissional. Vocês vão conhecer a Lary sob diferentes perspectivas: a apaixonada, a desapegada, a Lary que está cansada de fazer as coisas só pra agradar os outros, a Lary sexy, a que sente saudade… Eu sou tudo isso, e meu álbum também.

E como a música surgiu na sua vida? Como te tocou e você falou “é isso que quero pra mim!”? A música ganhou um papel importante na minha vida no dia que minha mãe comprou um Karaokê. Eu era bem pequena. A partir daí, me descobri nessa arte e comecei a cantar diariamente, assim como em bares e restaurantes que íamos. Mas a música era apenas um hobby, e decidi cursar Engenharia de Produção, na UFF (Universidade Federal Fluminense), pois sempre curti a área de exatas. No meio disso, alguns amigos músicos me chamavam para dar canja nos seus shows e foi numa dessas participações que senti que ali era o meu lugar. As pessoas estavam me aplaudindo e pedindo bis! Como assim? (risos). Foi quando decidi levar a música não mais como um hobby, mas como minha profissão mesmo. 

Recentemente você ficou em destaque numa seleção de mulheres no pop nacional. O que representou para você? Procuro transmitir mensagens positivas, empoderar mulheres e levar alegria em todos os meus projetos. Ser reconhecida nesse espaço é muito importante pra mim, não apenas como artista, mas principalmente como mulher. Coloco toda minha energia e dedicação em cada lançamento, num mercado onde o machismo predomina, é uma grande vitória pessoal e profissional.

E como começou este sonho? Onde surgiu a música e quais dificuldades você enfrentou para chegar até aqui? Quando decidi trabalhar com música, era tudo muito novo pra mim, não sabia nem por onde começar. Pesquisei produtores, escritórios, estúdios, mandava e-mails pra várias pessoas do mercado, em busca de um norte. Foi quando fui chamada para produzir meu primeiro EP no Midas Music, gravadora do Rick Bonadio, em 2015. Decidi que meu nome artístico seria Laryssa Goulart e seguimos numa linha bem romântica. Com o passar do tempo, fui amadurecendo e percebendo que queria algo diferente. Em 2016, comecei a buscar escritórios aqui no Rio de Janeiro mais focados no Pop e entrei para a K2L, empresa da Kamilla Fialho, onde fiquei por alguns meses. Dali, decidi montar minha própria equipe, com a qual sigo até hoje trabalhando na construção da minha história na música.

Ser uma artista independente que busca seu lugar no mainstream é desafiador e demanda muito trabalho. E sendo mulher, a luta por espaço e, principalmente, por respeito, torna-se ainda maior. Ouvimos coisas que não gostaríamos de ouvir, temos que provar o tempo inteiro nossa capacidade pois somos diminuídas, somos comparadas a todo momento, além de sermos assediadas, objetificadas e doutrinadas a estarmos sempre dentro de um padrão estético e comportamental. Haja saúde mental pra lidar com tudo isso, viu?! (risos).

Formada em Engenharia de Produção para o showbusiness. Duas áreas bem distintas. Como aconteceu essa mudança e como cada uma te completa? A mudança foi interna, uma virada de chave que me fez enxergar que o que me faria realmente feliz seria a música. Daí optei por me formar, pois já estava no fim da faculdade, para então mergulhar com tudo na minha carreira artística.

Se me perguntar se me arrependo de não ter começado antes, eu digo que não. A faculdade me ensinou muito, tanto nos aspectos pessoais quanto profissionais. Adquiri maturidade, tive mais certeza do que queria, além dos conhecimentos de gestão que uso até hoje na minha carreira. Afinal, sou meu próprio produto, né? Que precisa de planejamento, investimento, logística, marketing, tudo o que aprendi nas salas de aula!

Falando em vaidade, você recentemente mudou o visual e parece ser bem vaidosa. Como lida com o espelho e do que não abre mão? Me acho vaidosa sim, bastante. Amo elogios, amo me sentir linda, arrumada, cheirosa. Quem não ama? (risos). Recentemente mudei meu visual para o início dessa nova fase na minha carreira e, acreditem, foi primeira vez que mudei a cor do cabelo. Nunca tinha ficado loira antes e amei! Já quero mais! Dizem que é um caminho sem volta, né? Essa mudança representou pra mim o nascimento de uma nova Lary, mais segura, sem medo de arriscar, mais certa do que quer.

Sobre a minha relação com o espelho, quase sempre lido bem com isso. Às vezes confesso que não. É muito louca a forma como a gente é ensinada a não se amar, a sempre procurar defeitos e imperfeições no nosso corpo. E digo isso sendo uma mulher totalmente dentro do padrão, o que é mais louco ainda. Somos diariamente impactadas nas redes sociais com corpos “perfeitos”, com procedimentos estéticos, com filtros que mudam totalmente o nosso rosto… E isso interfere demais na nossa autoestima. Somos livres pra fazermos o que quisermos com o nosso corpo, eu mesma já fiz cirurgia e não acho errado. Mas a gente precisa entender se queremos mudar por nós ou para os outros, simplesmente para se encaixar num padrão.

Essa pauta felizmente tem sido mais discutida e disseminada, mas ainda precisamos muito falar sobre a auto aceitação. Não acho que a gente precisa se amar o tempo inteiro, se achar maravilhosa o tempo inteiro. Temos dias ruins também, tá tudo certo. Mas o nosso corpo não pode nos impedir de sermos felizes e estarmos bem com a gente, sabe? 

Hoje em dia um artista, ainda mais da área da música, precisa se destacar nas plataformas digitais. Como lida com isso e como trabalha essa parte digital? Tanto as redes sociais quanto as plataformas de streaming, são ferramentas importantes demais para os artistas, sobretudo nessa época que estamos vivendo sem poder fazer shows, sem contato físico com o público. O digital hoje permite que pessoas do mundo inteiro possam consumir meu trabalho. É pelo digital que me comunico com o público, recebo críticas, além de ser muito democrático: as pessoas ouvem e assistem o que quiserem, quando quiserem. Adicionam suas músicas nas playlists delas, compartilham com os amigos. Eu hoje consigo lidar bem com isso e me divido para estar presente em todas as redes e plataformas. No instagram mostro mais meus trabalhos autorais e meu dia a dia, no Tiktok mostro mais o lado compositora nas brincadeiras que faço, no Twitter compartilho meus pensamentos, no Youtube estou sempre de olho em todos os comentários, sempre interagindo, nas lojas crio playlists de diferentes moods pra galera seguir e saber o que gosto de ouvir, além de estar sempre atualizando fotos, informações… Depois que a gente entende como cada rede se comporta, é só se jogar!

O quanto da Lary cantora e da Lary pessoa física vai para as redes sociais? Cem por cento da Lary cantora vai para as redes sociais. A internet é meu cartão de visita e procuro explorar ali todos os meus lados como artista. Já a Laryssa… eu diria que 40%. Eu sou discreta com meus relacionamentos, com minha família… até porque eles não escolheram ser pessoas públicas e respeito muito isso. De vez em quando mostro algo com meus pais, minha irmã, meus amigos… Mas quando estou com eles procuro viver mais o offline, é a minha válvula de escape!

Seu single “Mina Bandida”, em parceria com Clau e LK do 3030, tem sido um sucesso. Como surgiu essa parceria? E como surgiu a ideia da letra? O processo de criação de Mina Bandida foi um pouco diferente das minhas outras músicas. Surgiu num songcamp (encontro de compositores para fazer músicas), sem um objetivo específico. Estávamos eu, Bárbara Dias, o LK e o Chelles, do 3030, e o Dj Paulo Beck, quando decidimos fazer uma música mais pop e sensual. Assim que terminamos de escrever, gravei uma voz guia e esse som não saiu mais da minha cabeça, só sosseguei quando resolvi lançar no meu trabalho! Pra ter uma noção, a voz guia que gravei na hora ficou com uma intenção tão legal que, mesmo sem nenhum equipamento de isolamento acústico, não quis regravar depois.  

Na seleção de repertório para o álbum, senti que precisava chamar mais uma mulher pra Mina Bandida, e a primeira pessoa que me veio na cabeça foi a Clau. Falávamos sobre gravar algo juntas e esse som caiu como uma luva, combinando com o papo e a sonoridade das duas. De primeira ela topou e reescreveu alguns versos, que ficaram incríveis! Pra deixar o som com ainda mais atitude, misturando o r&b pop com o rap, resolvi convidar o LK 3030 pra fechar com o seu verso. Foi ele quem produziu Mina Bandida e sua participação trouxe uma atmosfera muito diferente e envolvente pro som!

Quais influências musicais te tocam? Algum ídolo que te marcou? Como comecei minha trajetória na música cantando com a minha mãe no karaokê, acabei herdando dela seus gostos musicais. Eu passei a ouvir muito Marisa Monte, Elis Regina, Gal Costa, Ana Carolina, Adriana Calcanhoto e, principalmente, Ivete Sangalo… e essas foram minhas primeiras influencias musicais.

A Ivete se transformou na minha maior inspiração na música, tanto pela voz, quanto pela presença, a forma como trata os fãs, a seriedade com a qual leva o trabalho… Tudo isso me fez virar uma grande fã e admiradora do seu trabalho. No carnaval de 2017 tive a oportunidade de participar do seu show na marques de Sapucaí e acho que foi um dos meus maiores sonhos já realizados na música.

O que te inspira? Onde recarrega as baterias? O que me inspira a fazer músicas é viver, ter histórias. É me apaixonar, é sofrer por amor, me frustrar, realizar sonhos, viajar, passar por algo inesperado, ouvir histórias de pessoas… Tudo isso me inspira e me dá bagagem pra transformar fatos em arte.

O que recarrega minhas baterias é estar perto de quem eu amo. Colo de mãe, jantar com meu pai, ajudar minha irmã com o dever de matemática. Coisas simples sabe? Que me desconectam desse mundo louco do showbusiness e me levam pra um lugar seguro. E aí me sinto pronta de novo para mergulhar de cabeça no meu sonho, com energia total!

E o que toca na sua setlist preferida? Se tem alguém eclético ora música, esse alguém sou eu. Eu ouço de tudo! No meu dia a dia não pode faltar R&B e Rap acústico. Mas numa festa (inclusive, saudade! risos), não pode faltar um funk, um axé, um hip hop anos 2000! AMO!

Saindo um pouco da música. Conte um pouco sobre seu dia a dia, e o que gosta de fazer quando não está trabalhando? Eu adoro ter rotina. Isso me deixa focada em tudo o que tenho pra fazer. Quando não estou trabalhando, gosto de ir pra praia, de me exercitar, de encontrar os amigos e fazer um som, tomando um vinho, falando da vida… bom demais, né?

Ano de pandemia e isolamento social. Como lidou/lida com isso? Seguiu produzindo? Foi e ainda tem sido uma época muito difícil e conturbada pra todo mundo, né? Tem dias que eu acordo super produtiva, dias que não consigo fazer absolutamente nada… uma montanha-russa de sentimentos. No meio disso tudo, encontrei na composição uma verdadeira fuga. Comecei a escrever diariamente, como nunca tinha feito antes. Arrisco dizer que escrevi mais de 100 músicas nessa pandemia, e foi daí que surgiu o repertório do meu álbum. Além disso, consegui gravar a voz de um EP inteiro em casa, que foi produzido à distância, e gravei clipes dentro de casa também, com uma equipe super reduzida, de 4 pessoas… fiz de tudo para o meu trabalho não parar apesar de todas as adversidades.

Por muitas vezes me questionei sobre tudo. “Será que devo mesmo lançar músicas no meio de tanta coisa ruim acontecendo? será que de alguma forma estou desrespeitando o luto de tantas famílias que perderam pessoas queridas desse maldito vírus?”. Mas ao mesmo tempo, vejo a arte como instrumento de cura. Uma forma das pessoas fugirem um pouco de todo essa caos que estamos vivendo. E é isso que me motiva e me fortalece para continuar!

Para conquistar Lary, basta… Ihhh… basta muita coisa! (risos). Quanto mais consciente fico a respeito de maturidade, relações afetivas, e feminismo, mais exigente eu me torno a cada dia. Mas não acho isso ruim não! Pelo contrário, parei de aceitar “qualquer coisa” por medo da solidão. Há uns anos eu diria que a pessoa, pra me conquistar, precisa ser fiel, transparente, parceira, respeitosa, com responsabilidade afetiva… mas isso é o básico! A gente foi ensinada a idolatrar a pessoa que faz o básico simplesmente por estarmos acostumadas a receber menos do que a gente merece.

Hoje em dia, além do básico, pra me conquistar a pessoa ser engraçada, gostar de música, admirar o meu trabalho e me apoiar muito, ser carinhosa, cheirosa, gentil não só comigo como com todas as pessoas, respeitar meu espaço, beijo bom, abraço bom, sexo bom.. olha, a lista é grande. Se quiser me conquistar é melhor saber onde está pisando! Risos!

Deixe uma mensagem aos leitores da Mensch… Primeiro de tudo, queria agradecer a toda equipe da Mensch pelo espaço, pelos detalhes das perguntas, pelo cuidado com o meu trabalho. Respondi com gosto essa entrevista pois senti daqui, mesmo de longe, a delicadeza e o carinho! Obrigada de verdade! Aos leitores, convido vocês a conhecerem um pouco mais da minha arte! Me sigam lá nas redes sociais, nas plataformas de streaming! Quero saber a opinião de vocês, faço de tudo pra responder todo mundo, sempre! Estou ansiosa demais pelo meu álbum que está a caminho e feliz e grata por tudo o que vem acontecendo! Fiquem bem, se cuidem por ai! Em breve a gente se encontra com muita música e calor humano!!!

Fotos Hugo Barbieri