Desde de que apareceu por conta do sucesso da sua personagem Tina em Malhação, Ana Hikari não parou mais. Vieram filme, série e mais novela. Sendo a primeira atriz asiática a ser protagonista de uma trama, Ana tem mostrado a que veio e trilhado o sucesso com personagens marcantes e diversas. Como atual bad girl, Mila, na novela Família é Tudo (Globo). “Cada dia é uma questão diferente, é uma emoção diferente. Ela é muito complexa e cheia de camadas para trabalhar”, comentou nossa estrela ao longo dessa entrevista.
Ana, sua personagem de estreia na TV, a Tina, te trouxe sorte heim? Rendeu algumas temporadas de As Five, além do sucesso que foi Malhação na época. A que se deve esse sucesso todo dessas amigas? A Tina é um presente enorme! Ela é uma personagem completa, cheia de nuances e questões. Para mim, foi lindo poder dar vida à Tina mais de uma vez. Acredito que o grande sucesso de As Five é o poder de representatividade feminina diversa. Essa série é feita de narrativas distintas do que as pessoas estavam acostumadas a ver no audiovisual: é um grupo de mulheres que são amigas, com questões profundas que não são só homens, com crescimento pessoal, e diversos assuntos importantes, como racismo, machismo, sexualidade, entre outros. A série não tem pudor em falar de todos os temas, mesmos os que seriam considerados mais polêmicos. E falamos isso com honestidade e delicadeza, o que gera, no público, identificação e debate. Acho muito potente quando o público se vê nas nossas personagens e acredito que As Five fez exatamente isso.
Quando é assim fica mais difícil desapegar de uma personagem? Como você faz? Tenho a sorte de ter feito trabalhos com personagens incríveis! Depois que me despedi da Tina, tive oportunidade de gravar outras personagens em outras séries antes de ir para Mila, em Família É Tudo. Sabe aquela frase clichê de “nada como um novo amor para esquecer o outro”. Então, não concordo com ela na vida, mas super funciona comigo sobre as minhas personagens. Só consigo superar um trabalho com outro trabalho e me apaixonando pela nova personagem que estou dando vida naquele momento.
A personagem também te proporcionou ser a primeira atriz asiática como protagonista. Sentiu o peso da responsabilidade? Acha que o mercado audiovisual ainda é carente de artistas asiáticos? Fui a primeira atriz asiática protagonista em uma novela da TV Globo, mas, antes de mim, tivemos Rosa Miyake como protagonista da TV Tupi, em 1967. Mas, depois dela, passaram-se 50 anos sem nenhuma outra protagonista – e isso só mudou em 2017, quando fiz a Tina. A falta de representatividade na televisão é um grande defeito que deve ser questionado. E quando fui a 1ª protagonista de novela na Globo, senti a responsabilidade de levar essa questão adiante. Como pode um país com maior parte da população negra, com tantos indígenas que representam povos originários dessa terra e com a maior população de imigrantes e descendentes do leste asiático não mostrar essa diversidade na tela? Quando me vi nesse lugar de destaque, senti a obrigação de dar voz a essa discussão dois importante e, consequentemente, fui estudar e me aprofundar no assunto, para ter segurança nos meus posicionamentos. Acredito que hoje em dia o mercado tem olhado com mais cuidado para essa questão, mas ainda sinto falta de olhar para os lados nos elencos e ver mais pessoas como eu.
Atualmente você anda aprontando todas com sua vilã Mila em Família é Tudo. Como surgiu o convite e como tem sido participar desse trabalho? Estou morrendo de felicidade com essa personagem! Cada dia é uma questão diferente, é uma emoção diferente. Ela é muito complexa e cheia de camadas para trabalhar. Ela é uma vilã, mas, no fundo, passou por muitas coisas para chegar onde chegou e não consegue sair da relação tóxica com Hans (Raphael Logam). Ela é, ao mesmo tempo, uma algoz e uma vítima de tudo que acontece. As pessoas me param muito na rua para xingar, falar que ela é péssima com o pai. Dou muita risada. Mas eles também têm muita esperança dela melhorar, torcem pela redenção da personagem! É uma delícia ver essa mobilização do público em torno das suas questões, isso mostra que as pessoas estão acompanhando e se envolvendo com a Mila.
Alguma referência para compor a personagem? Alguma inspiração? Muitas referências. A atuação, para mim, é uma arte e todo fazer artístico bebe de outras referências artísticas. Para construir a Mila, busquei muitas referências artísticas. Por exemplo, sua atitude altiva dentro da empresa vem muito da Miranda Priestly (Meryl Streep), de O Diabo Veste Prada, a Maria de Fátima (Glória Pires), com as discussões e humilhações da mãe, em Vale Tudo. E sempre busco imagens e músicas que me ajudam a construir as cenas que tenho ao longo da semana. Inclusive, tenho uma playlist de músicas para cada personagem que faço. A playlist da Mila já tem quase 40 músicas, entre elas, Ouro Marrom, do Jotapê, De Mais Ninguém, da Marisa Monte, The Greatest, da Billie Eilish, Templo, do Chico César, e muitas outras.
Família é tudo? Como é a relação para você? Sou totalmente apegada à minha família. Eles são literalmente tudo para mim. Tudo que faço hoje em dia é para eles, trabalho para ter a possibilidade de ajudá-los financeiramente, dar orgulho para e poder transformar as suas vidas. Por exemplo, recentemente, consegui dar de presente para minha mãe a reforma do apartamento que ela mora há 25 anos e nunca havia conseguido reformar. Tenho muita consciência de que tudo que conquistei até aqui não é só meu, é da minha família.
Se você estivesse escrevendo a novela que destino daria para sua Mila? Como atriz, confesso que adoro uns desafios e amo viver cenas que nunca viveria na minha vida, por isso, torço muito para um plot surpreendente de vingança da Mila contra o Hans [risos], mas não sei se vai acontecer. Recebi os blocos mais recentes e confesso que estou surpresa com os rumos que a trama dela está tomando. Estou torcendo muito para o público curtir!
Soubemos que em breve você já emenda um novo trabalho que é a série “Amor da Minha Vida”, Star+, com Bruna Marquezine. Como anda a expectativa e o que podemos esperar desse novo trabalho? Estou muito ansiosa para assistir com o público o resultado desse trabalho. É uma personagem totalmente diferente da Mila, então, vai ser muito bacana o público me assistir em outro lugar. A série é uma delícia e só tem gente incrível no elenco. Promete muito!
E também vem a série do TNT “Boby by Beth”, com Marisa Orth. Quando começa e quando estreia? Ainda não tenho essa previsão, mas posso dizer que também é outro trabalho totalmente diferente de outros que já fiz. Trabalhar com a Marisa Orth numa série de comédia foi uma aula para mim! Ficava babando durante as gravações, porque ela é uma gênia. Estou na expectativa para ver como vai ser essa personagem de comédia, que também é totalmente diferente da Mila.
E no tempo de sobra, o que procura fazer? Ultimamente, quase não tenho tempo de sobra, porque estou gravando a novela praticamente de segunda a sábado e, nos dias que não gravo na Globo, estou gravando um podcast com minhas melhores amigas! Ele estreou dia 22 de julho e é um podcast diário chamado Clube do Erro. Nele, Agnes Brichta, Nina Tomsic e eu, lemos histórias enviadas pelo público, nas quais as pessoas se perguntam se erraram ou não em alguma situação específica. É um debate entre amigas com pontos de vista muito diferentes. É bem divertido e espero que o público esteja se divertindo ouvindo tanto quanto a gente se diverte gravando. O que mais curto fazer fora do trabalho é andar de bike, ouvindo podcasts, viajar e ler livros! Também estou viciada em algumas séries, porque comecei a ver recentemente Sex and The City, e minha comfort série é The Office.
Qual sua maior vaidade (como mulher e artista)? Sempre tive muita dificuldade de ser uma pessoa vaidosa. Quando era mais nova, minha mãe me comprava muita maquiagem e roupas. Ela queria muito que a sua filha fosse uma barbiezinha, mas nunca fui. Sempre odiei fazer as unhas, não me importava muito com a roupa da moda. Então, faz pouco tempo que descobri como me maquiar, porque sempre me fizeram acreditar que maquiagem para um rosto asiático era muito específica e mais difícil de se fazer. Quando trabalhava com publicidade, cheguei a escutar de maquiadores comentários do tipo “você tem uma beleza muito exótica” ou “não sei maquiar japa” ou “você é muito linda para uma japonesa”. Essas falas ofensivas disfarçadas de elogios, sabe?! E isso minou muito minha autoestima e gerou uma reação de aversão à vaidade. Tenho feito as pazes com isso mais recentemente e tem sido uma descoberta gostosa saber que posso me arrumar, estar na moda e me sentir bonita. Mas é uma descoberta diária, um trabalho mental constante.
Para conquistar Ana basta… Inteligência e bom humor. Amo uma boa conversa, com informação e com risadas. Ah, e amo comer, não à toa namoro um chef [risos].
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