ENTREVISTA: CAROLINA CHALITA EM CENA

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A consagrada atriz Carolina Chalita, com 20 anos de carreira em projetos na TV, cinema e teatro, celebra esse momento especial com o monólogo “Eu matei Sherazade, confissões de uma árabe em fúria”, que estreia nesta terça-feira (08). A MENSCH bateu um papo com Carol sobre sua jornada, feminismo, direitos humanos, e claro, sobre sua peça.

Você vai estrear presencialmente, dia 8 de outubro, no Teatro Poeira/RJ, o espetáculo “Eu matei Sherazade, confissões de uma árabe em fúria”, de autoria da libanesa Joumana Haddad. Conte-nos um pouco sobre esse trabalho em que você comemora 20 anos de carreira. Esse projeto se iniciou durante a pandemia, através da Lei Aldir Blanc, realizamos uma pesquisa de linguagem híbrida entre o teatro e o audiovisual. Ensaiamos presencialmente durante três meses numa sala no Humaitá e a transformamos no nosso cenário e set de filmagem. Após trabalhar com muitas Cias de teatro espetáculos que tinha mais de oito atores, senti a necessidade de criar um solo e ampliar a escuta sobre o que gostaria de falar como artista, sem a interferência de um grupo. E quando conheci o texto da autora libanesa Joumana Haddad fui abduzida pela forma inovadora que ela tratava o feminino e ainda por tocar na minha ancestralidade Libanesa. Acredito que um trabalho solo é um encontro muito profundo com a sua história de vida e um mergulho no seu próprio inconsciente, através desse cruzamento de experiências se gera um material surpreendente para a pesquisa artística de um espetáculo. 

O espetáculo teve sua estreia durante a pandemia numa plataforma digital. Como foi e o que mudou no espetáculo de lá pra cá? Muitas coisas rs. Retiramos todo o texto que eu havia escrito sobre a experiência do isolamento durante a Covid-19 e encontro com meus bisavós libaneses, para inserirmos trechos das “1001 noites” e o mito de Sherazade no início do espetáculo. E a presença do músico Beto Lemos junto comigo também mudou o jogo de escuta cênica, se tornou um jazz entre o texto e a música tocada pelo Beto. Fazemos um diálogo constante durante a maior parte do espetáculo, uma delícia e privilégio ter um músico com a tarimba do Beto e uma diretora como a Miwa Yanagizawa.  

Joumana Haddad é uma das ativistas dos direitos humanos no mundo. Como vocês se conheceram? Através da atriz Clarice Niskier que me apresentou o texto.

No Oriente Médio os direitos das mulheres são muito restritos. Como mulher, artista e brasileira, nosso país ainda está distante de ser uma nação com direitos iguais entre homens e mulheres? Nós somos o quarto país que mais mata mulheres no mundo e estupra meninas de 0 a 13 anos dentro de suas próprias casas. Preciso dizer mais alguma coisa? 

Você se considera uma feminista? Eu me considero uma defensora dos direitos das mulheres exercerem a sua liberdade em todos os segmentos da sua vida. De criarem novos imaginários, histórias, quebrar padrões sociais opressores, que só existem para gerar medo e insegurança. Esse etarismo feminino é a mensagem mais idiota que o patriarcado faz questão de espalhar. Você sabe por quê? Porque quando a mulher passa dos 40 anos ela está no auge da sua independência física, emocional, financeira e é de uma beleza uma mulher segura de si que os homens não as entendem e se sentem inseguros. Eles precisam sentir que controlam seus afetos e não conseguem acompanhar as mulheres que estão navegando em mares opostos, de descobertas, novos formatos de relacionamentos, muitas não querem mais casar e se bastam. Isso sim leva um homem à loucura, eles não dão conta da nossa liberdade. Acredito que o masculino precisa urgentemente passar por uma revolução de sentidos senão vão sofrer muito ainda.

Na sua opinião, para quem comete feminicídio, as leis deveriam ser mais duras? Na minha opinião, prisão perpétua. Um homem que mata uma mulher porque a quer controlar e possuir não pode viver em sociedade. 

Vivemos num mundo sexista. Como você enxerga o futuro? Acredito que as novas gerações de homens já recebem muita informação para desconstruir essa cultura nociva e assassina do patriarcado. Tenho um filho de 18 anos e converso muito com ele. A visão e o respeito pelas meninas e mulheres já mudou bastante.  Um exemplo: Homens mais novos andam com camisinha no bolso, já os pós 40 anos não suportam a ideia de usar camisinha. Isso diz muito, não acha?

Como você se define, Chalita? Eu não consigo me definir, mudo muito, o tempo todo, mas preservo alguns valores inegociáveis: Eu que dito como quero ser tratada por qualquer pessoa, amo a minha família, amo a simplicidade da vida, prezo muito pela relação humana presencial, e detesto pessoas que tratam humanos como produtos. 

O espetáculo terá turnê em outras cidades? Sim. Pelo Brasil e outros países.

Quais são seus planos? Por hora, encher a plateia do Teatro Poeira.

Fotos Vinícius Mochizuki