Por Ivan Reis
Igor Dadona é um dos nomes mais promissores da moda masculina hoje. Trilhando uma carreira meteórica, o jovem designer se destaca pelas criações em alfaiataria para um público apegado ao corte, tecido, caimento e tantos outros detalhes que fazem da roupa formal um legado de elegância que se renova a cada temporada.
Na coleção apresentada na última edição da São Paulo Fashion Week, Igor Dadona resgata o passado da carreira com criações no design feminino, mas não sem entregar originalidade, técnica e muita criatividade para o seu público habitual.
Em entrevista exclusiva à MENSCH, ele fala o que pensa sobre o universo da alfaiataria – o carro-chefe de seu trabalho -, revela como é estar à frente de uma marca autoral há mais de uma década e as mudanças no consumo de moda masculina. “O homem está mais atento à qualidade, a ter uma peça feita com bons tecidos e com um bom corte”, afirmou o estilista. Confira!
Você iniciou a carreira com o jornalista e editor Lula Rodrigues no universo masculino. De lá para cá, o que mudou nesse mercado? Qual a lição você levou para a vida? Iniciei a minha carreira com o Lula Rodrigues, tendo a sorte de ter acesso à biblioteca dele e, desde lá, eu me apaixonei por moda masculina. Eu já via um pouco naquela época, mas o que mudou de lá para cá foi essa procura e o consumo dos homens. Eles estão consumindo mais, procurando por roupas que sejam diferentes e que tragam um olhar e uma informação de moda. Acredito que o homem, ainda em sua maioria, é mais clássico, mas está mais aberto a experimentar coisas novas. Isso tem mudado um pouco e espero que vá mudar mais daqui para frente. A lição que eu levo de ter trabalhado com o Lula Rodrigues é que as coisas vão mudando. É legal a gente sempre ir se atualizando e também ir propondo coisas que sejam um pouco à frente do nosso tempo para tentar ir mudando essas ideias que, às vezes, são tão engessadas.
Quais são as suas principais inspirações para conceber uma coleção? As minhas principais inspirações são, geralmente, coisas bem subjetivas que acontecem na minha vida mesmo e, de uns tempos para cá, decidi olhar mais para aquilo que me faz bem do que para as minhas frustrações e dores. Era o que eu fazia antigamente. Então, eu me inspiro muito no universo da arquitetura, como o estilo brutalista que eu adoro, além do mood emque eu estou, naquilo que eu acho belo e tentar transpor para as peças. Estou em uma vibe de olhar para o que me faz bem, para as minhas dores ou traumas.
O traje formal masculino é conhecido por ser tradicional há anos. Para você, o que não pode faltar em uma peça de alfaiataria? Para mim, o que não pode faltar em uma peça de alfaiataria é um bom tecido porque ele faz toda a diferença no caimento e na costura. Não pode faltar um bom acabamento, principalmente aqueles feitos à mão, pois acredito que seja o que traduz muito bem uma peça de alfaiataria e o corte. Acredito que esses são três pilares ideais. Para o restante – modelagem e outros detalhes -, eu sou muito a favor de revisitar os clássicos. É importante você saber fazer uma base clássica e adicionar a sua identidade para mexer e transformar.
Em se tratando de tapetes vermelhos, quem pode ser considerado uma referência de estilo hoje? Confesso que não sou muito ligado nesse mundo, pois não me atrai essa questão do tapete vermelho. Uma pessoa que tem me chamado a atenção, nem sempre acertando, mas sempre tentando levar algo diferente para o tapete vermelho é o ator [americano] Timothée Chalamet. Sobre marcas, eu gosto da Loewe e das “loucurinhas” do JW [Jonathan Wenderson, estilista irlandês]. Existem outros designers de que gosto, mas não é muito o meu estilo.
Na sua última coleção apresentada na São Paulo Fashion Week, você retornou ao universo feminino. Para você, como a alfaiataria consegue transitar entre os gêneros? Eu não vejo uma distância entre a alfaiataria masculina e feminina – como uma separação. O feminino é uma questão clássica que já vem há muito tempo. Então, para mim, não tenho dificuldade de transitar entre os gêneros. Vai mais na história da modelagem e de algumas coisas específicas entre um e outro. Acho fácil transitar, pois eu me sinto bem à vontade. Na minha marca, eu tenho essa leveza de ter muitos homens consumindo o que eu faço como “feminino” e vice-versa. Então, consigo transitar levemente.
Em se tratando de mercado masculino, o consumidor mudou a forma de se relacionar com a moda. Para você, o que o homem contemporâneo busca para se vestir? O homem está mais atento à qualidade, a ter uma peça feita com bons tecidos e com um bom corte. Eu acredito que ele procura, sim, se diferenciar, ter uma roupa que vai deixá-lo mais estiloso – como os homens gostam de falar -, com informação de moda e que tenha algo que os diferencie no grupo. Eles estão mais abertos e procuram uma roupa que traduza a identidade deles e os façam um pouquinho diferente dos outros e, de repente, chamar atenção por isso.
Quais são os desafios de estar à frente de uma marca masculina no mercado de moda hoje? Acredito que os desafios de estar à frente de uma marca não só masculina, como de qualquer marca de moda, hoje, principalmente no Brasil, é o acesso super limitado que temos a matérias-primas e à mão de obra. É tudo muito difícil, ainda mais se você é um estilista autoral que não tem um superinvestimento, uma família rica ou alguma coisa do tipo [risos]. Por mais que exista um discurso no Brasil de “vamos apoiar a moda autoral”, as portas são super fechadas no que se refere à indústria. Às vezes, você quer fazer uma bolsa, mas não pode porque o mínimo é duas mil ou fazer um par de meias e não pode porque o mínimo são setecentos pares. Isso não funciona para uma marca pequena. Então, esse é o maior desafio: ter pessoas que entendam e colaborem, de fato, com a marca autoral.
O que podemos esperar da marca Igor Dadona para o próximo desfile? Vou lançar uma coleção que vai ser a minha primeira edição prêt-a-porter e mais comercial. Ela vai ser lançada, na verdade, em outubro, pois eu adiei. O próximo desfile será somente no começo do ano que vem na São Paulo Fashion Week.