ESTRELA: JOANA DE VERONA CONQUISTA O PÚBLICO COM SUA FILIPA DE “MANIA DE VOCÊ”

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Joana de Verona é dona de um currículo expressivo. A trajetória profissional com dezenas de trabalhos entre Brasil e Portugal é o reflexo da história de vida da atriz e diretora. Joana cresceu e se tornou artista vivendo entre os dois países. Natural do Maranhão, ela foi ainda pequena para Portugal. Aos oito anos, retornou para morar na Bahia e viveu vários anos de sua adolescência no Rio de Janeiro. Durante a juventude e vida adulta, a ponte área entre os dois países se solidificou. No ar, atualmente, como a Filipa de Mania de Você, Joana construiu uma carreira sólida na Europa e no Brasil. São filmes, novelas, séries, peças de teatro e outras performances – lá e aqui. Além de atuar, também dirigiu documentário, videoarte, videoclipe, criou espetáculos e instalações na área da performance com uma forte componente de movimento. A paixão pela dança e teatro surgiu na infância, aos 8 anos,  quando começou a estudar essas duas áreas. Aos 14, já dava seus primeiros passos na sétima arte. Aos 16, na TV. Aos 21, após concluir a faculdade de Teatro, foi viver em Paris e se formou como diretora de cinema. E nunca mais parou! Sempre vivendo e trabalhando entre os dois países. Em entrevista à MENSCH, a artista luso-brasileira conta mais sobre o trabalho na trama das 9 da TV Globo, seu segundo folhetim na emissora, e sobre a carreira trilhada entre os dois continentes.

Joana, você nasceu no Maranhão, mas construiu sua carreira entre Brasil e Portugal, não é? Sim, verdade. Tenho vindo a trabalhar já há vários anos entre os dois países. O fato de ter duas nacionalidades acaba possibilitando esse trânsito. Sendo uma pessoa oriunda das duas culturas, fico feliz de poder viver e trabalhar em ambos os países.

E como foi essa sua mudança de país? O que te levou a Portugal? A mudança foi porque os meus pais se mudaram para Portugal, eu fui com eles pois era criança. Depois eu voltamos para o Brasil quando eu tinha 8 anos, morei na Bahia. Depois, dos 10 aos 14, morei de novo aqui no Rio de Janeiro. De uns 15 anos para cá, eu faço essa ponte área sozinha – tanto por questões profissionais quanto pessoais. Tenho família brasileira, são cariocas, embora eu tenha nascido em São Luís do Maranhão, região do país que eu amo e da qual me orgulho muito, pois é uma imensidão de cultura e diversidade.

Muito do público brasileiro não sabe, mas você já atuou em cerca de 35 filmes, em dezenas de peças de teatro/ performances, diversas séries e novelas. Como é para você ser mais reconhecida fora do que em seu país de origem? Comecei estudando teatro e dança com oito anos, no sul de Portugal e, na adolescência, continuei estudando no Rio de Janeiro, na escola de Teatro Laura Alvim, no curso de interpretação de Andreia Avancini com a participação em Presença de Anita e em peças de teatro. Mas, foi em Portugal que, muito jovem, comecei trabalhando profissionalmente em cinema com 14 anos, em teatro e televisão com 16.  Então, para mim, é normal que esse reconhecimento seja maior lá porque, eu lá me profissionalizei mesmo muito nova – adolescente. Os filmes, séries e novelas aqui no Brasil, foram depois, a partir dos meus 22 anos em diante.

Atualmente, em horário nobre com a novela Mania de Você, você sente a diferença de visibilidade no Brasil? Como tem sido para você? Eu sinto o público em Portugal muito carinhoso também, seja cinema, TV ou Teatro. Têm uma receptividade muito boa. O público lá também acompanha, acarinha… Mas o que eu sinto, talvez de diferente, é entre a repercussão de Éramos Seis (novela das 18h da Globo) para Mania de Você. Apesar de a Adelaide ter mexido bastante com o público, de virem falar muito comigo na rua, uma novela das 21h tem um alcance maior, porque tem mais pessoas assistindo TV nesse horário. Então, dessa vez, existe uma maior interação do público comigo, e comentam muito as ações da personagem.

Como você enxerga as produções brasileiras, e as portuguesas? Sente muita diferença? Sim, é diferente. O cinema português tem características que estão relacionadas com a cultura do país, com as questões sociais dos portugueses. Isso se reflete no rumo que os roteiros seguem. O cinema brasileiro aborda outras questões relativas ao povo brasileiro. Sinto que o cinema brasileiro é muito diverso, porque o Brasil é um país muito grande, com muitos estados. Um filme do Acre, é bem diferente de um filme do Pará, assim como o de Minas é diferente do de São Paulo ou Pernambuco. Existe uma enorme pluralidade de narrativas e estéticas. Como é um país com muitas culturas distintas dentro do mesmo território, isso traz diversidade e riqueza para os filmes feitos aqui.

Em Portugal, obviamente, também existem diferenças sociais e culturais em diferentes regiões do país que influenciam as narrativas e linguagens do cinema Português, mas uma vez mais, surge a questão da dimensão dos territórios. Sendo um país continental, no Brasil, essas distinções são mais acentuadas, e as histórias contadas no cinema e noutras artes refletem essa diversidade, esses variadíssimos universos. Uma das minhas coisas preferidas na vida além de trabalhar, é viajar, e olha que bênção poder conhecer o mundo através do trabalho. O cinema sempre me proporcionou conhecer lugares diferentes através das filmagens e dos festivais por onde os filmes circulam. Por exemplo, no Brasil, já tive a sorte de filmar em no Amazonas, Maranhão, Pernambuco, São Paulo e inúmeros vezes no Rio, e existem tantos outros estados ainda por desbravar. Relativamente à TV, a indústria lá é menor do que aqui. Então, as equipes são menores, o que é curioso, pois confesso que gosto de equipes pequenas, do lado artesanal do oficio. Aqui, é uma escala bem maior, que tem a ver com a proporção do mercado e seu número de habitantes. São escalas bem diferentes, estamos falando de um país de 212 milhões de habitantes e outro de 11 milhões.

O público brasileiro é de fato mais empolgado, digamos assim, do que o português? Como você vibra em relação a esses diferentes públicos? Sim, o público brasileiro é mais empolgado no que diz respeito a novelas. É um público que vibra mais com a teledramaturgia. O público português reage também, acompanha e acarinha, mas o brasileiro tem essa cultura da novela muito presente, e se manifesta muito.

Que desafios encontrou quando começou a atuar em Portugal e que desafios encontrou em atuar no Brasil? Eu não sei se eu destacaria os desafios por ser em diferentes lugares, outros países em que já trabalhei, por exemplo, a França, a Alemanha ou a Itália. Claro  que todos eles são mercados diferentes, mas eu acho que os desafios são similares. Creio que a maior exigência é, sim, lidar com a inconstância da própria profissão, pois existem momentos na vida em que é necessário ter sabedoria e calma para gerir dois, três trabalhos ao mesmo tempo, e aí é necessário organizar a vida para ensaiar uma peça de teatro, rodar um filme e ainda participar de uma série – no mesmo mês –  e tem outros momentos, em que é preciso esperar respostas de testes, aguardar o início de trabalhos já programados que acabam sendo adiados. Acho que esse balanço é o grande desafio nessa área. Mas, sobre os desafios do começo do meu percurso profissional… talvez, pelo fato de ter começado muito nova, eu tenha tido o desafio de provar competência, comprometimento e maturidade com o trabalho apesar de ser uma criança, uma adolescente… Tive que me esforçar muito e me dedicar. É certo que isso faz parte da minha personalidade, da forma como eu encaro este ofício, mas era também porque não queria que o fato de ter começado muito cedo retirasse a seriedade do meu trabalho. Talvez, o desafio tenha sido esse de ali. Muito jovem, querer provar que eu merecia estar ali, porque eu tinha feito uma escolha de vida e me entregava com todo o amor a essa escolha. Não era porque eu era criança que eu podia errar, sabe? Eu sempre quis ser muito profissional desde pequena.

Em Mania de Você sua personagem é uma fisioterapeuta que de tão apaixonada, chega a cometer alguns deslizes de caráter.  Como defenderia a Filipa? Os meios justificam os fins? Filipa teve ações eticamente reprováveis e duvidosas, por conta desse amor não correspondido, na mesma proporção. Ela perdeu claramente o limite e a sensatez. Embora ela se sinta magoada e enganada. Embora ela tenha sido muito maltratada e abandonada, ela estava numa situação fragilizada, com uma gravidez de risco, sob forte pressão emocional. Sozinha num país que não conhecia, ela encontrou um mundo de mentiras. O Rudá a enganou e abandonou. Para todos os efeitos, ela sentiu que teve todas as motivações, e a mágoa, a rejeição, e o sofrimento se transformaram em revolta e raiva. Mas eu concordo que ela extrapolou. Eu, Joana, não concordo que os meios justificam os fins. Acho que é preciso entender o contexto, caso a caso.  Ela está voltando agora na história com surpresas. Ela é uma personagem com uma personalidade bastante forte. Muito intensa e honesta com os seus desejos. É uma personagem muito emocional. E na força de ação, ela é forte e frágil em simultâneo. Ela é intempestiva e imprevisível, acima de tudo.

E como foi fazer par mais uma vez com Nicolas Prattes? Tem sido bom. Em Éramos Seis, as personagens eram ótimas também. Tem sido uma troca muito boa com o Nicolas.

Você que vive nessa ponte aérea entre Brasil e Portugal, o que destacaria de paixões nos dois países? Várias coisas me apaixonam ambos os países. É difícil responder essa pergunta. Como eu sou muito fruto dessas duas culturas e dessas duas vivências, acabam sendo duas formas de estar no mundo. Estamos falando de influências latino-americanas e europeias. São registros diferentes. Apesar da língua ser a mesma, são culturas bem distintas. Tem muitas coisas que me apaixonam na cultura portuguesa. É um país lindíssimo, dos melhores climas e culinária da Europa. Existe uma calma, uma melancolia, é certo, e também tem bastante segurança e qualidade de vida em Portugal, o que é muito importante. Mas existe toda uma efervescência própria da cultura brasileira, da musicalidade, de uma certa leveza, de um espírito e postura perante a vida. A conexão com a espiritualidade e com a natureza são muito intrínsecas na América Latina e no Brasil. Isso é muito importante para mim, me influencia muito. Desde muito criança, é uma paixão e faz parte de quem eu sou. Se eu fico muito tempo em Portugal ou na Europa, eu fico com saudades e aí eu volto. Ambos os países me apaixonam de formas diferentes. Eu sou fruto de ambos e preciso de ambos. E dentro de mim, as duas realidades e vibrações me completam.

Você é muito vaidosa? Como lida com isso como mulher e atriz? Eu não me considero assim muito vaidosa, embora isso seja relativo, claro. Não é pelo fato de eu ser mulher ou atriz que faz de mim mais ou menos vaidosa. Eu gosto de me sentir bem sim, de me sentir confortável. De me sentir bonita. Porém,  sou bastante prática, não sou uma pessoa que precisa estar maquiada todos os dias, que precisa estar sempre muito arrumada. Eu substituo o salto alto pela praticidade e conforto de um tênis, por exemplo. Gosto de me sentir bem na minha pele, ainda que sejam muitas peles, que vão variando, é sempre necessário conforto.

Quando quer relaxar e recarregar as baterias o que procura? Eu procuro a natureza, sempre. Esse contato com o mato, com a cachoeira, com o mar… é o que mais é positivo para a minha saúde física, emocional e espiritual. E, obviamente, procuro as várias artes que me preenchem, como as artes plásticas, a música, as artes visuais. A dança é fundamental para mim, nadar também e os afetos, as relações de carinho, de acolhimento, de amor. Afetos, arte e natureza limpam a alma e me salvam, sempre.

Quais os planos para daqui pra frente? Continuar conciliando o trabalho e a vida entre Brasil – Portugal. Seguir caminhando em projetos lindos e desafiadores, com pessoas dedicadas, com profissionais exigentes… Tendo esta sorte e privilégio de fazer o que eu tanto amo nesses meus dois países. Desejo também continuar criando os meus projetos, dirigindo mais filmes e criando mais trabalhos nas artes performativas. É importante continuar concretizando os meus projetos autorais como diretora/criadora.

Fotos Vinícius Mochizuki / Beleza Walter Lobato