PERFIL: GABRIEL WICKBOLD: OUSADIA A CADA SEGUNDO

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SEM MEDO DE EMPREENDER E DE SE ASSOCIAR A MARCAS, O FOTÓGRAFO E GALERISTA COMEMORA 40 ANOS DE IDADE E 20 DE CARREIRA EM 2024 COM EXPOSIÇÃO E LANÇAMENTO DE BIOGRAFIA

Por Isabelle Barros / Fotos Paolla Rahmeier

Gabriel Wickbold é um artista cuja história prima pelo equilíbrio entre o respeito pela própria trajetória e as infinitas possibilidades que o futuro lhe reserva. Prestes a completar 40 anos de idade e 20 anos de carreira na fotografia, o fotógrafo e galerista tem muito o que comemorar. Atualmente, Gabriel é um dos principais nomes da fotografia brasileira, com participação em várias mostras e feiras no país e no exterior. Para chegar a esse patamar, o profissional adota uma postura ousada, aliando sua criatividade a uma visão empresarial e empreendedora aplicada à arte. “Esse é um ano especial, de consolidação do meu trabalho. Também vou lançar minha biografia, que vai contar toda a minha jornada e meu aprendizado ao desbravar vários lugares com minha profissão. Pretendo lançar em setembro, mês do meu aniversário”.

Embora Gabriel tenha começado cedo na fotografia, essa não foi à primeira linguagem artística que ele abraçou. Seu interesse pela poesia despontou aos 12 anos e se desdobrou para a música. Teve banda na adolescência, montou gravadora, mas foi a partir da prática fotográfica que ele construiu seu ofício. “A fotografia foi uma coisa muito natural para mim. Nem sei explicar como passei a exercitar o enquadramento, o olhar fotográfico. Era algo que já estava comigo”, avalia.

Essa aptidão natural para a imagem originou oito séries: Brasileiros (2006), Sexual Colors (2009), NaÏve (2012), Sans Tache (2014), I_AM_ONLINE (2016), Antes Nua do que Sua (2016), I am light (2018) e SÓ-M-ÓS (2020). Fotografias dessas séries foram expostas em feiras conceituadas como a Miami Art Basel e a Photo London, em festivais como o Xposure, nos Emirados Árabes, que reúne os maiores fotógrafos do mundo e em museus como o Erarta, na Rússia e o Museu de Arte Brasileira (MAB) da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). A internacionalização de seu trabalho também passou pela abertura de uma galeria pop-up em Londres durante seis meses.

De acordo com Gabriel, Brasileiros formou o alicerce de seu trabalho, ao trazer questões que seriam colocadas, de formas variadas, ao longo de sua obra. A série de fotos é resultado de uma missão exploratória de 45 dias da nascente à foz do Rio São Francisco, na qual o artista fotografou a população ribeirinha que encontrou durante a viagem. “Esse trabalho me tirou de um vácuo criativo e foi crucial para mim. Eu também estava trabalhando com música na época e descobri uma outra potência, uma outra voz, um outro lugar de encantamento. É incrível como o brasileiro te recebe. Você se senta na casa da pessoa, toma um café, em um segundo ela abre o coração e você faz um retrato. Percebi que a fotografia poderia ser uma chave para me conectar com as pessoas e transformar questões simples, diárias em mensagens muito potentes e transformadoras. Foi uma oportunidade gigante de entender a existência humana”.

A experiência deu origem, por exemplo, ao uso das cores do Brasil em Sexual Colors, a relação entre o homem e a natureza em NaÏve, à passagem do tempo em Sans Tache, aos males da conectividade excessiva em I_AM_ONLINEe na própria concepção da série I am light. “Nessa última série, lembrei das pessoas que conheci no Rio São Francisco, que encaravam a realidade deles e eram muito felizes. Elas tinham muita luz, muito brilho, mesmo passando por todos os tipos de adversidade”.

A vontade de Gabriel de criar conexões humanas significativas e de disseminar seu trabalho também fez com que ele expandisse sua carreira na fotografia e transformasse seu estúdio em uma galeria, fundada em 2015. Atualmente, o portfólio conta com 15 artistas, incluindo nomes como o britânico David Yarrow, o americano Robert Farber e o holandês Marcel Van Luit. “Primeiro penso nos artistas que realmente me inspiram. Seleciono fotógrafos de países diferentes, com experiências diferentes, e ter trabalhado na curadoria e montagem dessas exposições me deu uma visão muito interessante. Acabei sendo um artista muito disruptivo no cenário nacional, por ter minha própria galeria e representar a mim mesmo e a outros fotógrafos – usar essa plataforma para apresentar outros artistas e participar de feiras. Isso me fez conseguir equilibrar os dois lados – o do artista e o do galerista. Hoje, entendo essas funções de forma bem distinta e sei as dores e delícias de cada uma das partes”.

GABRIEL EMPREENDEDOR

A veia empreendedora de Gabriel é familiar, já que o artista é um dos herdeiros da empresa Wickbold, que fabrica pães e similares há mais de 80 anos. Ao unir esse histórico corporativo da família paterna ao estímulo artístico dado pela mãe, artista plástica, o fotógrafo estruturou sua carreira como um negócio, que hoje conta com 16 funcionários. “As pessoas acham que o mercado da arte é uma grande panelinha, mas isso é uma bobagem. É preciso criar os próprios espaços e entender que não vai existir um salvador, alguém que vai ensinar o caminho das pedras. Todo dia é uma batalha, uma luta. É precisar colocar um projeto de pé, é ser um realizador e atrair parceiros, marcas, galgar oportunidades de exposições. É entender quais são os melhores caminhos a escolher e como coordenar uma equipe”.

Ao contrário de outros artistas, Gabriel não hesita em realizar trabalhos exclusivos para empresas, potencializando a circulação do próprio trabalho e conectando essas marcas a valores intangíveis, como criatividade e individualidade. Com esse princípio, ele firmou parcerias com nomes como BMW, Panerai, Cartier, Rosewood São Paulo, Instituto Alok e Chilli Beans. “Além de exposições, atuei em projetos variados, como palestras ou jantares. Essas associações com marcas nunca foram um problema para mim. Enxergo minha capacidade de entrar nesse público AA de uma forma muito clara e sempre me abri para esse lugar de ter marcas parceiras que impulsionavam meu trabalho e me ajudavam a contar histórias de uma forma global”.

Na área de eventos, outro projeto especial para Gabriel foi a ação realizada para o festival de música The Town, sediado em São Paulo, dos mesmos organizadores do Rock in Rio. “Roberto Medina me convidou a traduzir a sensação que ele teve no primeiro Rock in Rio, que foi o primeiro festival a iluminar diretamente o público.  Decidimos chamar o projeto de Ilumina. Conversei com cada um dos artistas que ia subir ao palco, como Ney Matogrosso, Criolo, Maria Rita, Emicida, Orochi, Jão, Luísa Sonza, e perguntava sobre a conexão deles com o divino e com esse amor que transborda de forma infinita. A partir dessa colaboração, fiz uma série para compor essa exposição do The Town em São Paulo. É um projeto que toca minha alma, que fala sobre a evolução espiritual, a conexão com o divino, questões que são muito importantes para mim”. Para Wickbold, a inquietude da criação e a iniciativa de promover seu próprio trabalho de forma profissional não é uma ação contrária, como ocorre com uma ideia de artista que se aproxima do senso comum. Todas essas atitudes estariam conectadas a um propósito maior, mais intuitivo e que considera o universo como um todo interligado. “A fotografia me fez entender que eu estava fazendo algo importante, maior do que minha própria individualidade. A gente imagina que está controlando tudo, mas, na verdade, tudo está se desenrolando sozinho no tempo-espaço e esse lugar a maturidade também foi trazendo para mim. Sempre que coloquei minha mão nas coisas, acredito que tenho essa intenção de presença e de amor. Acho que é isso que faz o trabalho prosperar, seguir me encantando e traduzindo os sentimentos que são mais verdadeiros e puros no agora. Mesmo com todas essas conquistas, ainda me sinto um iniciante. Tenho o mesmo frio na barriga, a mesma vibração e o mesmo entusiasmo quando vou abrir uma nova exposição”.