Pernambucana de nascença, paulista pela mudança de vida onde aos cinco anos chegou em São Paulo e de lá não saiu mais. Lucy Ramos começou sua vida profissional aos 16 anos como modelo, fazendo comerciais e desfilando. Depois veio o curso de teatro, Oficina de Atores e sua estreia na TV em 2004. Mas foi em 2006, com a escrava Adelaide, em Sinhá Moça, que Lucy atraiu os olhares do grande público e de lá até hoje ela não parou mais. Atualmente no papel da advogada Vanda em “O Tempo não Para”, Lucy tem descoberto novos desafios como atriz e segue cada vez melhor. “Eu me sinto como o vinho, melhorando com o tempo”, comentou nossa estrela. Nós não temos dúvida, ainda mais observando as fotos desse ensaio exclusivo para a MENSCH.
Lucy, o tempo não para e você também pelo jeito. Desde sua estreia na TV em 2004 até hoje você não parou. Como vê sua trajetória até aqui? Eu tenho muita gratidão por todas as oportunidades que chegaram e que são conquistadas. Trabalhar no que se escolheu é um privilégio. Amo a minha profissão, ser atriz não é uma carreira na qual as coisas caem do céu, é uma carreira que exige dedicação e conquista diária. Assim como nas outras profissões. É um passo de cada vez, cada personagem que dou vida é como se fosse o primeiro. Eu me sinto como o vinho, melhorando com o tempo.
Como isso começou? Quando se tocou que era como atriz que você se realizaria profissionalmente? Eu iniciei como modelo e foi assim que descobri a atriz que existia em mim. Modelando, fui pro lado dos comerciais. Percebi que tinha desenvoltura com as câmeras. E para aperfeiçoar e aprender a atuar com propriedade e segurança fui estudar e me formei atriz. Daí as oportunidade começaram a aparecer.
Além de ser sua profissão escolhida, o que a dramaturgia, ser atriz, te acrescenta? O que isso representa para você? A carreira de atriz me dá a chance de viver outras profissões e vidas. Me possibilita mergulhar em outros universos, ver a vida de uma forma mais ampla. E falar com muitas pessoas ao mesmo tempo.
Qual a função do ator além de entreter? Enxergar algo além? Não podemos buscar a realização para nós mesmos e esquecer do progresso e prosperidade para os outros. Nossas ambições precisam ser amplas o suficiente para incluir as aspirações e necessidades dos outros, pelo bem deles e pelo nosso próprio.
Com sua personagem Maria Cesária em “Cordel Encantado” (2011) você ganhou prêmio. O que representou para você e o que você acha que fez resultar nisso? Dar vida a Maria Cesária já tinha sido um presente. E ser premiada foi uma alegria tremenda. Agora o que levou a esse prêmio foi o conjunto da obra. A novela foi um sucesso, o texto era primoroso, o elenco em grande sintonia, a direção da Amora Mautner era impecável e eu sentia borboletas no estômago ao ler as cenas da Cesária. Sem todo esse conjunto não seria possível.
Hoje em dia você está se dedicando a Vanda de “O Tempo não para”, que é uma advogada de sucesso. Como você avalia a personagem? Enxerga algo seu nela? Sou muito autocrítica, muito exigente com o meu trabalho. Essa é uma semelhança com a Vanda Lord, minha personagem… (risos)! É uma felicidade imensa dar vida a Vanda, advogada e diretora jurídica da Samvita. Essa mulher forte, inteligente, exigente, misteriosa… sem estereótipos clássicos sobre o negro. Ela é workaholic, muito exigente com ela e com o próximo. Nada chegou de graça pra ela, teve que lutar e trabalhar muito para chegar nesse patamar. E tem o respeito e admiração do próximo pelo seu profissionalismo.
Você acha que ainda faltam bons papéis para negros na TV? Como vê isso hoje em dia? Outro dia assisti o documentário “A Negação do Brasil” do diretor Joel Zito Araújo, disponível no YouTube. Esse doc é uma viagem sobre a telenovela no Brasil, mostrando o trabalho dos atores negros desde o início: todos os obstáculos que encontraram, todo preconceito, medo, dificuldades, rejeição… Olhando o cenário hoje, é inegável que tivemos um crescimento, mas ainda precisamos avançar muito. A população brasileira é de grande maioria negra e o número de representatividade não corresponde a isso. Precisamos conscientizar e evoluir nesse aspecto.
Como se apega e desapega das personagens? Alguma técnica específica? Para desapegar acho uma tarefa até fácil. A melhor técnica para se despir do personagem, é mudar o visual assim que acontece o último dia de trabalho e fazer uma viagem, longa de preferência. Agora, para conhecer o personagem e entender seus pensamentos, gestos, corpo, estilo… são tantas coisas que demanda muito tempo e estudo.
A novela questiona valores e fala muito de racismo de forma indireta. Infelizmente e por incrível que pareça o racismo ainda existe. Já sofreu algo? Como lida ou combate isso? Em muitos momentos em cena ou estudando, me bate aquela sensação de êxtase por estar nesse lugar que tem uma voz dentro da trama da novela. Inspirando e dizendo um gigante SIM! Nós podemos e devemos atuar em personagens diversos. Sei que exercer o meu ofício é estar em um estado de vigilância, não estou ali só por mim. Não posso apenas entrar em cena e ser uma atriz competente, preciso entrar em cena e causar um impacto atendendo todas as expectativas. Ser atriz negra exige o saber de que podemos ser referência pra muitas outras mulheres, crianças e homens. Estou onde estou, porque grandes atores negros abriram espaço para que isso pudesse acontecer, como: Zezé Motta, Ruth de Souza, Milton Gonçalves… É necessário deixar o solo fértil para as futuras gerações.
Os valores da sociedade estão sempre em discursão em “O Tempo Não Para”, o que é mais válido ressaltar nessa discursão toda? Qual a importância disso numa novela das 19h? Fico muito feliz em fazer parte dessa belíssima obra. Temos a comédia e temos a crítica social. Ao mesmo tempo que você ri, você pensa sobre certos temas. Essa atmosfera parte do belo texto, da ótima direção e claro um elenco super em sintonia e disposto a trocar e levar um trabalho de qualidade pra o telespectador.
Como lida com redes sociais? Qual o seu limite entre o público e o privado? Acho muito gostoso essa troca direta com o público, é muito bom saber de imediato algo que agradou ou não. Esse é um universo muito novo onde a cada dia vou descobrindo como lidar. Achando como me encaixo nele. É um lugar que se souber usar pode te trazer muitos frutos. Porém tem que saber usar.
É uma mulher vaidosa? Como e onde? Sou e não sou. Quando se trata da imagem Lucy Ramos, sou bem cuidadosa e vaidosa. Sou o meu instrumento de trabalho e preciso apresentá-lo bem. Porém, quando estou no meu momento pessoal sou super tranquila, aí é vaidade zero.
O que faz uma pessoa ser atraente aos seus olhos? O que a torna interessante? Gosto de pessoas que gostam de gente. Que trate o ser humano com respeito e amor. Onde os seus valores estão baseados no bom caráter. São essas coisas que me atraem.
Nas horas de folga o que faz sua cabeça? Ir pro meio do mato e me reconectar com a natureza. Estar ao lado de pessoas que amo. Colocar o papo em dia. Vivendo o momento presente. Gosto também de fazer maratonas de séries e filmes.
Para conquista Lucy basta… Ser autêntico.
E3 Fotografia – Gabriel e Ariana
Stylist Sarah Schulz
Make e Cabelo André Veloso