Pernambucano da Paraíba, Ariano Suassuna é um dos grandes escritores e dramaturgos brasileiros tendo várias de suas obras levadas para o teatro, TV e cinema. Homenageado pelo Galo da Madrugada esse ano, Ariano e suas histórias são cheias da riqueza do sertão, misturando realidade e fantasia de um jeito único com personagens inesquecíveis como os eternos João Grilo e Chicó do Auto da Compadecida.
DA PARAÍBA A PERNAMBUCO
Era 16 de junho de 1927, em João Pessoa. Nascia naquele dia Ariano Suassuna, um dos grandes escritores, poeta e dramaturgo brasileiro. Filho de político, mudou-se para o sertão quando o pai deixou o governo. Ariano era então apresentado ao mundo que seria contado em suas histórias. Por questões políticas o pai foi assassinado durante a Revolução de 1930 e a família se mudou para Taperoá. Foi lá que Ariano começou os seus estudos e conheceu o teatro de mamulengos e os desafios de viola.
Todo esse universo da improvisação, da falta de luxo, mas com abundância de criatividade e improvisação foi servindo de inspiração e moldando as características literárias e dramatúrgicas de Ariano. Em 1942 Recife recebe Ariano. O escritor fez faculdade de Direito e foi lá que conheceu Hermilo Borba Filho com quem fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947 escreveu sua primeira peça Uma Mulher Vestida de Sol e a partir daí não tinha mais volta, Ariano era o homem das letras, das histórias que percorreriam o mundo.
Chegou a formar-se em Direito e a atuar na área, contudo a veia de escritor falou mais alto e depois de viver um tempo entre as duas carreiras, a advocacia foi deixada. Por conta de problemas de saúde chegou a voltar a Taperóa, onde inclusive escreveu e montou a peça Torturas de um Coração em 1951. De volta ao Recife no ano seguinte deu prosseguimento a carreira literária. Junto com Hermilo Borba Filho fundou o Teatro Popular do Nordeste e montou várias peças. Chegou a lecionar a disciplina de Estética na UFPE e em 1970 deu início ao Movimento Armorial.
O MOVIMENTO ARMORIAL
O Movimento Armorial nasce com o objetivo de valorizar a cultura popular nordestina com a pretensão da realização de uma arte erudita a partir de raízes populares. Junto com um grupo de artistas e escritores e o apoio do Departamento de Extensão Cultural da Pró-Reitoria para Assuntos Comunitários da Universidade Federal de Pernambuco, Ariano Suassuna inspirou e dirigiu o movimento que foi oficialmente lançado em 18 de outubro de 1970.
Segundo o movimento a cultura brasileira de raiz, a genuína seria resultado dos processos imigratórios sofridos pelo nosso país desde sua colonização, misturando a cultura indígena já existente, dos portugueses e demais povos que aqui chegaram e se instalaram. Dessa forma a Arte Armorial assume uma formação técnica europeia (erudita) com base na tradição nacional. A grande marca desta corrente é a sintetização de elementos e figura culturais nordestinas com as obras clássicas da literatura universal, o que é um traço marcante na obra de Ariano. O Movimento é também uma resposta ao considerado domínio massivo da cultura dos Estados Unidos.
O Movimento Armorial engloba diversas expressões artísticas, como música, poesia, teatro, dança, pintura, xilogravura, escultura, cinema, tapeçaria, arquitetura e tantas outras existentes. Quanto ao nome do movimento ser Armorial, a explicação de Suassuna é que ele idealizou um sertão quase que medieval comparando os cangaceiros aos cavaleiros e os reis com os donos de fazenda. E como armorial é o nome que se dá ao livro de brasões e bandeiras de família, muito comum aos tempos medievais, Ariano achou que poderia transformar o substantivo em adjetivo para caracterizar a proposta cultural. Fazem parte do Movimento Armorial além do próprio Ariano Suassuna, Francisco Brennand, Raimundo Carrero, Gilvan Samico, entre outros, além de grupos como o Balé Armorial do Nordeste, a Orquestra Armorial de Câmara, a Orquestra Romançal e o Quinteto Armorial.
O POLÊMICO ARIANO
Além de talentoso, Ariano Suassuna também é polêmico. Defende duas ideias e tem respostas rápidas e diretas para quem fizer perguntas. As pelejas, como se diz no nordeste, são algumas e com alguns, mas a cultura americana é sem dúvida seu maior desafeto.
O movimento Mangue Beat, por exemplo, liderado pelo cantor e compositor (já falecido) Chico Science sofreu duras críticas de Ariano, justamente porque havia influência de sonoridades americanas como o punk, hip hop e funk. O que eles tinham em comum era a valorização da cultura local tanto que apesar das “desavenças de ideias” Ariano reconheceu que os jovens passaram a conhecer e valorizar mais o Maracatu a partir do Mangue Beat.
O chamado forró estilizado também recebeu críticas de Ariano, principalmente pelo palavreado utilizado e pela vulgarização da mulher. Para ele as letras da músicas estimulam a violência e as relações banais. As críticas foram duras, alguns apoiaram outros não, mas assim é Ariano, ele não se poupa de opinar, mesmo que entre em discordância. A paixão pelo clube é declarada aos quatro ventos.
ÂNIMO E ESPERANÇA
Muito além de críticas e polêmicas, Ariano é um homem que acredita que as coisas e as pessoas podem mudar, tanto que suas histórias acontecem em um sertão de encantamento, com humor e doses de leveza não somente as coisas duras da seca e da pobreza. Em uma das tantas entrevistas que já deu Ariano disse “Ah, sou um encantado com a vida! Vou lhe dizer uma coisa, se antes de nascer tivessem me consultado, mesmo que tivesse a consciência que tenho hoje de como a vida pode ser dura, ainda preferiria viver cem vezes porque tenho essa paixão pela vida.”
Isso vem muito da educação de Ariano. Mesmo o pai tendo sido assassinado, a mãe, não cultivou nos filhos nenhum sentimento de vingança (tão comum no sertão) pelo contrário. Ariano já a descreveu como sendo uma mulher corajosa, mas também terna e meiga.
HOMENAGENS
Entre tantas homenagens, Ariano foi o tema do Galo da Madrugada este ano e esteve presente no Camarote oficial do bloco. Feliz com a homenagem e de ver a estética Armorial presente nos carros alegóricos e nas fantasias Ariano posou para fotos, conversou com alguns foliões e se mostrou bem recuperado do infarto que sofreu no ano passado, um susto que segundo ele, lhe mostrou ausência do medo da morte.