Texto: André Porto e Nadezhda Bezerra / Ilustrações e fotos: Divulgação Benício
O talento de alguns homens de sucesso muitas vezes tem o poder de revolucionar uma estética e as fantasias que habitam a mente das pessoas. E foi com um pincel na mão e um enorme talento que o ilustrador Benício revolucionou o conceito de pin-ups aqui no Brasil trazendo a volúpia e a sedução da mulher brasileira numa estética que surgiu no mundo desde a época da II Guerra Mundial. Benício teve, e tem, o poder de recriar grandes divas do cinema nacional e internacional. Como ele mesmo diz nessa entrevista, ele teve as mulheres que sempre admirou. E não satisfeito por recriar um mundo de sonhos para a ala masculina, Benício ao longo dos anos de carreira ainda alimentou sonhos de crianças, como os cartazes clássicos dos Trapalhões, fez parte da história do cinema nacional com pinturas para filmes clássicos como Dona Flor e Seus Dois Maridos, e ainda recriou produtos e sonhos para peças publicitárias, livros, produtos e mais recentemente, lançou essa semana o primeiro livro de pinturas, o “Sex & Crime”. Para conhecer um pouco mais desse gênio do pincel e tinta, fomos conversar com ele. O resultado não poderia ser outro, um grande presente para os olhos. Leia e fique fã desse grande artista.
Com 16 anos, os moleques da sua idade brincando e você desenhando profissionalmente. Como foi isso? A maturidade chegou mais cedo pra você?
Fui uma criança muito calma. Desde cedo desenhar foi meu principal entretenimento.
Arquitetura, publicidade, cinema, pin-up. Onde você se encontra melhor?
Desenhar pin-ups sempre foi uma grande alegria para mim, talvez a maior.
Alguma emoção diferente por fazer os cartazes dos Trapalhões?
Desenhar os 30 (trinta) cartazes dos filmes dos Trapalhões foi uma grande alegria para mim, com a oportunidade de fazer um trabalho continuo tentando manter uma unidade entre eles.
Você eternizou em seus traços várias divas do passado, como Marilyn Monroe e a brasileiríssima Sônia Braga. Há alguma diva hoje em dia que você gostaria de desenhar?
Sempre consegui desenhar as mulheres que tive vontade. “Desenhar não ofende,” não é?
Sexo e crime sempre rendem uma boa ilustração?
Sexo e crime fazem parte muito marcante do imaginário das pessoas. Por isso sempre chamam muito a atenção quando estão evidenciados nos desenhos.
O que você ainda não ilustrou, mas adoraria fazê-lo?
Sinceramente não tenho frustrações quanto a isto. Acho que já desenhei tudo que quis.
Qual o conselho para quem quer se tornar um ilustrador profissional?
Muita dedicação, persistência e paciência, pois a excelência do trabalho só vem com o tempo.
Qual de suas ilustrações tem mais de você? Aquela que você olha e diz: minha alma está aqui.
Cada ilustração que faço tem muito de mim, Não existe uma especifica para caracterizar o que pede.
Já usou seus traços para conquistar alguém?
Conquistei a mulher da minha vida, com quem vivi 52 anos, através da minha arte.
Você ilustrou um livro do escritor Xico Sá, Chabadabadá. É mais fácil ou mais complicado criar em cima de um roteiro, uma história que já existe?
De maneira geral, meu trabalho sempre foi feito baseado em roteiros, scripts, etc.
Os avanços tecnológicos te trouxeram mais ferramentas ou menos trabalho?
O desenvolvimento da tecnologia só veio facilitar o trabalho, ainda que eu não utilize totalmente os recursos que ela me oferece. Sou ainda adepto do pincel.
Como é o mercado atual de um ilustrador aqui no Brasil? Existe um reconhecimento por parte de empresas, marcas e leitores?
Os clientes ainda estão meio deslumbrados com a rapidez do computador. Custam a aceitar os prazos que os métodos tradicionais podem oferecer. Mas acredito que a qualidade de um bom trabalho supera qualquer “novidade” tecnológica.
Você dirige sua própria carreira nunca precisou de empresários. Alguma dificuldade por conta disto?
Sempre tive a sorte de contar com excelentes companheiros de empreitada. Acho que é resultado do critério que sempre adotei com relação ao cumprimento dos compromissos assumidos com meus clientes.
As antigas pin-ups da época da II Guerra influenciaram você de alguma forma?
Na época da II guerra, com dez ou doze anos, ainda não me deixava influenciar muito pelo sex-appeal das pin-ups da época.
Quais são seus ilustradores atuais preferidos? Por que?
Minha formação profissional vem da influência dos ilustradores americanos (Austin Briggs, Jonh Witcomb, Al Parker, Bob Peak), sem esquecer o “papa Norman Rokwell”. Dos atuais, gosto muito do estilo do Brad Holland.
Esse seu recente livro lançado, “Sex & Crime”, é uma realização pessoal, mas o que ele representa pra você? Virão outros?
Representa a realização de um sonho antigo e a resposta às muitas cobranças do pessoal por um livro meu só de ilustração. Como o editor planejou, deverão ser publicados outros volumes abrangendo outros aspectos da minha ilustração.