Ao longo de 27 anos de profissão Aline Borges surpreendeu o público com personagens marcantes. Mas agora, com a Zuleica de Pantanal, ela foi surpreendida com uma personagem que trazia uma representatividade muito grande e que conquistou o público e a crítica. O impacto foi tanto que parecia que era o primeiro trabalho de Aline na TV. Passado esse turbilhão de emoções, Aline ainda colhe os frutos desse trabalho marcante, mas já prepara novos voos. Nesta entrevista exclusiva para MENSCH ela nos conta como está a vida pós Pantanal e do que vem por aí.
Aline, depois de passado esse turbilhão de emoções que foi a Zuleica em Pantanal… Como está a vida? Tá muito bonita. A colheita depois de anos e anos semeando, plantando, quando chega, chega curando, expandindo a gente por dentro. Eu tô um pouco mais em paz depois de Pantanal. A Zuleica foi um dos maiores presentes que recebi ao longo de 27 anos de profissão. Então, meu coração tá irradiando gratidão. Não é fácil ocupar nosso lugar no mundo. Eu venho de origem humilde, minha família não acreditava na profissão que escolhi. Me imaginarem numa novela das oito, era distante demais para eles. E aqui estou. Foi preciso fé, coragem e resistência! Eu sei de onde eu vim. Nada é por acaso! E sei o quanto meu caminho se fortaleceu depois que me entendi mulher preta! Em conexão com a minha ancestralidade, firmo meus passos para seguir em frente, me ocupando e transformando através da arte. Então eu agradeço.
Como surgiu o convite para interpretar Zuleica e como foi sua preparação? Recebi o telefonema da produtora de elenco Rosane Quintaes, por quem eu guardo muito carinho, ela foi uma das primeiras a me chamar pros testes na TV Globo. Fiz o teste pra Zuleica e passei! Eu quase caí pra trás quando soube que viveria uma personagem que um dia foi vivida pela atriz Rosamaria Murtinho, na primeira versão da novela! Ela é uma referência na dramaturgia. Me senti honrada. Mas me surpreendi com a Zuleica e o retorno do público, a experiência foram mágicos. A preparação foi com a querida Andrea Cavalcanti. Nosso núcleo se encontrou algumas vezes, com leituras e troca, pra se conhecer um pouco mais. Tivemos palestra com Renato Nogueira pra falar sobre amor, fizemos Zoom com parte do elenco da primeira versão, ouvimos histórias, relatos e foi extremamente emocionante!
Os dias no Pantanal foram de alto astral e conexão com a natureza como imaginamos? Como isso tudo te tocou? O Pantanal é um Bioma riquíssimo, propício a conexões com tudo que é divino. Dentro e fora da gente. Então, é pisar naquele solo e todos os grandes problemas perdem peso. A natureza te abraça… Assim, a gente ressignifica a vida. O olhar para a vida, suaviza. O Pantanal convida a refletir, porque traz o silêncio da natureza pra dentro da gente. É música pra alma. Isso é cura! Então, lá, o clima, de fato, era de puro amor, alegria e conexão com a mãe terra.
Muita gente pode não lembrar ou saber, mas você já tem 14 novelas no currículo e, para muitos, é a primeira vez que acompanhou você na TV. Percebe isso? Diria que Zuleica foi um divisor de águas na sua carreira? É verdade. Eu recebo muitas mensagens das pessoas falando “puxa não te conhecia, onde você estava?” (risos) Então, com certeza, Zuleica é mais um divisor. A gente passa por alguns ao longo da vida. Em 2009, fiz uma personagem chamada Lacraia, na série A Lei e o Crime, na Record. Era uma mulher da favela empoderada, marrenta, não levava desaforo pra casa, forte!! As manas pretas se identificavam. Então, até hoje ela é lembrada por algumas pessoas na rua. Ela me rendeu indicação a um prêmio do Jornal Extra, ao lado de Dona Fernandona e Adriana Esteves. Duas gigantes. E foi meu primeiro contrato mais longo, o que me levou para um outro lugar. Treze anos depois, eu sou presenteada com outra grande personagem, numa das novelas de maior sucesso da TV Globo. Se isso não é benção… Como eu agradeço!
Quando a personagem é forte assim e conquista o público e a crítica, fica mais difícil desapegar dela? Acho que quando a personagem é mais intensa, tem tramas que prendem a atenção do público, é mais fácil o apego, porque pra dar intensidade, a gente vive um pouco daquilo tudo. Impossível acabar sem sentir… É um desapego necessário para o fechamento do ciclo. Até porque, a roda gira, ela não pode parar! Para acarinhar meu apego, trouxe de recordação o colar com o espelhinho de Iemanjá. Esse é pra sempre, na caixinha de memórias. E com os 3 filhos também! Eles foram meu farol!!
Sai Zuleica e entra Thaís de Verdades Secretas 2 e, em breve, Joana Toro de Arcanjo Renegado. Como foi participar desses dois trabalhos e o que o grande público pode esperar delas? Ahh, tenho um carinho grande pelos dois trabalhos!!! Thais, a perita criminal, chegou para mim junto de Pantanal, quase que eu não faço, mas por fim deu pra fazer os dois. O que é ótimo porque são bem diferentes. Ou pelo menos era pra ser. (risos) E Joana Toro, tá maravilhosa na 2ª temporada de Arcanjo Renegado. Essa série incrível, da qual eu me orgulho em fazer parte. Joana é pé na porta, sagaz, vive em outro ambiente, também bem diferente de Zuleica. Mas todas as mulheres inteligentes, potentes e inspiradoras!
E soubemos que você começou a gravar a série B.O. (Netflix) que tem um tom mais de humor. É isso? É bom deixar o drama de lado um pouco e encarar algo mais leve né? Ah, ainda não posso falar nada sobre…
E o retorno aos palcos com o espetáculo Contos Negreiros do Brasil já tem alguma previsão? Estamos tentando ajustar datas, conciliar com todos! Graças aos Orixás, tá todo mundo trabalhando muito. Mas já, já a gente vai conseguir. Esse espetáculo é necessário! Ele fala da atual e real situação do negro, negra no Brasil. Com números e estatísticas assustadores, mas também tem muito de cada um de nós, das nossas histórias. Toda pessoa preta, num país racista, guarda alguma história de dor. E quanto mais retinta a pele for, mais dor. É triste a realidade. Então, o espetáculo faz a gente refletir a necessidade e urgência em abraçar a luta antirracista. A arte cavuca para trazer consciência.
Sua estreia na TV foi em Coração de Estudante (2002). De lá pra cá muitas histórias e personagens. O que destacaria ao longo desses 20 anos? Eu destaco uma atriz que JAMAIS desistiu, apesar de tudo…Que semeou seu próprio caminho, sem passar por cima de ninguém. Que teve resiliência e aprendeu a respeitar o tempo. Que reconheceu depois dos 40, sua identidade racial, se entendendo como mulher preta, e trazendo força e potência para o seu caminhar! Nenhum passo atrás! Sou continuidade. Eu não mudaria nada na minha trajetória. E agradeço a minha ancestralidade. Axé!
Com tanto trabalho assim, sobra tempo para relaxar? O que curte nesses momentos? Amo viajar!! Agora estou em Fortaleza, Ceará, com a família! Quero conhecer o Brasil todo com eles.
Você é uma mulher muito vaidosa? Como e até que ponto? Vaidosa até a página 4!
Tenho ciclos e fases… Agora estou voltando a me cuidar, porque com o ritmo intenso de gravação, dá um cansaço até pra ser vaidosa. (risos). Mas eu gosto de manter uma rotina com minha pele e cabelo… Me faz bem.
O que curte ler, ver e ouvir? Tenho lido biografia de mulheres pretas, assistido a séries policiais, e ouvido muita música brasileira, Sérgio Pererê, Matheus Aleluia, Serena Assumpção, estão na minha lista todo dia!
O que quer Aline Borges hoje em dia? Paz de espírito.
Para conquistar Aline basta… Ser verdade e amor.
Fotografo Ângelo Pontes @angelopontess
Stylist Mari Bruxa @maribruxa_
Assistente Styling Franklin Dalua @_dalua__
Maquiador Visagista Diego Nardes @diegonardes
Cabeleireiro Visagista Lucas Tetteo @lucastetteo
Agradecimentos Hotel Mercure Atlântico @mercurecopacabana – Guilherme Gomes @guigomesmendes
Crédito look branco: Look: Angela Brito, Brinco: Isa Bahia, Ear Cuff: Lívia Canuto, Anéis: Lívia Canuto, Sapato: Acervo / Crédito look Marrom: Look: Handred, Brinco: Lívia Canuto, Anéis: Isa Bahia | Lívia Canuto, Sapato: Acervo / Crédito look gravata: Look: Handred, Brinco: Isa Bahia, Ear Cuff: Lívia Canuto, Anéis: Lívia Canuto | Mundo Lilac