CARREIRA: MATHEWS KRAMBECK: O MAGO DO PISM

Por Isabelle Barros

A curiosidade de um cientista e a mentalidade de um empreendedor se uniram na trajetória do professor de química e empresário mineiro Mathews Krambeck, conhecido como Mago do PISM. Antes de explicar detalhadamente qual “magia” ele faz, vamos conhecê-lo um pouco melhor, desde a sua infância em Minas Gerais a sua trajetória bem-sucedida como um profissional da educação, que já impactou milhares de alunos por meio do acesso a um ensino de qualidade. Hoje em dia, Mathews é sócio fundador de cursos preparatórios e suas empresas têm mais de cinco mil alunos.

Ibertioga (MG) é uma cidade de pouco mais de 5 mil habitantes, onde Mathews passou os primeiros anos de sua vida. Filho de uma professora de Literatura da rede pública de ensino que o estimulava a adquirir conhecimento, o profissional cresceu em uma família de classe média baixa. “Às vezes, não ganhava ovo de Páscoa, não ganhava presente de Natal, mas minha mãe sempre me incentivou a estudar, a ler. Eu era o melhor aluno da escola. Com seis anos, eu já sabia os nomes das capitais de todos os países do mundo, já conhecia bastante sobre dinossauros, desmontava e remontava objetos eletrônicos. Eu precisava entender como as coisas funcionavam, como o mundo funcionava – é algo da minha personalidade”.

ALUNO BRILHANTE

A vida escolar brilhante o levou a ser aprovado, sem dificuldade, para o curso de Engenharia Química na Universidade Federal de Viçosa (UFV), a mais de 200 km de sua cidade natal. Foi a partir daí que aconteceu sua primeira mudança de rota – ao ser monitor de Química no primeiro ano de universidade, descobriu a vocação para ser professor e decidiu mudar seu curso para Licenciatura em Química. “A maioria das pessoas não me apoiaram, mas confiei na minha intuição que seria um bom professor. Comecei a ficar muito tempo no laboratório, a publicar artigos em publicações conceituadas e a vislumbrar meu futuro como professor universitário”. Com isso, Mathews emendou a graduação com o mestrado e, em seguida, também fez doutorado, concluído em 2022.

Mesmo assim, para um jovem de família humilde que vivia no alojamento da Universidade Federal de Viçosa e, ainda por cima, havia  trocado de curso, o sustento era difícil. Foi um desejo pessoal dele que o levou ao empreendedorismo – Mathews queria ter barba, e descobriu que usar Minoxidil o ajudaria nisso. Ao ter sucesso na aplicação em si mesmo, ele teve a ideia de vender o medicamento para outras pessoas que tinham o mesmo objetivo. “Durante o mestrado, criei um perfil de rede social, comecei a importar o Minoxidil dos Estados Unidos e a fazer parcerias com barbearias. O negócio durou dois anos. No começo, eu fazia as entregas de bicicleta e, depois, consegui comprar meu primeiro carro. Esse período foi fundamental para a minha formação como empresário. Entendi que precisava enxergar meu negócio de forma global e percebi também as questões psicológicas que envolvem um processo de venda”.

Em 2017, Mathews teve outra experiência transformadora ao ser aprovado como professor substituto do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa (Coluni), a  escola pública com melhor desempenho do país no Enem. “Foi um divisor de águas. Ali eu percebi que fiz a escolha certa ao me tornar professor. Os alunos gostavam muito das minhas aulas e as portas começaram a se abrir profissionalmente para mim. Eu trabalhava com professores sensacionais e, em paralelo, comecei a dar aulas de Química em cursinhos pré-vestibulares. Meu contrato com o Coluni terminou em 2019 e, no ano seguinte, veio a pandemia. Então, tive que me reinventar mais uma vez”.

VIRADA NA CARREIRA

A grande virada na carreira de Mathews ocorreu quando ele começou a dar aulas online para alunos que visavam à aprovação no Programa de Ingresso Seletivo Misto (PISM), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), um vestibular seriado muito popular em Minas Gerais e em partes do estado do Rio de Janeiro. Com a pandemia e o distanciamento social decorrente dela, a área de educação foi seriamente afetada, e Mathews partiu para o digital. Nesse período, o cursinho presencial onde o professor trabalhava estava fechado. “Eu e minha esposa, Thaís Pacheco, estávamos em uma situação financeira delicada e, então,  resolvi criar uma turma online, de química. Eu precisava de dez alunos para ajudar a pagar o aluguel da quitinete onde nós morávamos. Consegui os dez alunos, dei bolsas para mais dois estudantes que não podiam pagar e deu certo”.

O sucesso das primeiras aulas mostrou a Mathews um caminho a seguir. “Nesse período, também lembrei que havia um monitor do Coluni que dava aulas de química orgânica para o PISM 2, ou seja, para alunos do 2º ano. Na pandemia, esse monitor não estava trabalhando. Então, abri uma turma específica para o PISM com 25 alunos. O boca a boca começou a funcionar. Logo aumentamos para 50 estudantes e passamos para 200 alunos em três meses. Os alunos começaram a pedir professores de outras disciplinas e montamos nossa primeira equipe, com o professor Vinícius, de Matemática, Michel, de Biologia, e Kevin, de Física. Todos  ex-colegas meus”.

Foi a partir daí que começou a surgiu a figura do “Mago do PISM”, já que, em uma dessas aulas online, Mathews avisou aos alunos, em um impulso, que conseguiria prever as questões que cairiam no PISM. “Eu estudei profundamente as provas anteriores e coloquei minha experiência como cientista para identificar padrões. Nem eu imaginava o que ia acontecer – consegui prever todas as questões que cairiam, até mesmo os gráficos e imagens que estavam na prova. Na época, teve gente que não acreditou e começou a me atacar nas redes sociais. Tive até meu Instagram hackeado. Os alunos começaram a me chamar de Mago do PISM e o apelido ficou. Com essa fama, o curso cresceu exponencialmente. Atualmente, temos 28 professores e mais de 5 mil alunos”. Com o sucesso das turmas para o PISM, Mathews abriu mais três empresas: um curso preparatório para a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), outro para o Coluni/IFs e mais um específico de redação para o Enem.

SEGREDO DO SUCESSO

Segundo Mathews, o segredo do sucesso com o curso online é escolher professores com paixão pelo ensino. As aulas são ao vivo, para que os participantes possam interagir, e ficam gravadas para consulta posterior. Só em 2024, foram aprovados 330 alunos pelo PISM dos quais, 56 aprovados em medicina. De acordo com o professor e empresário, o mais gratificante de seu trabalho é a gratidão dos alunos. “Uma ex-aluna nossa, que foi aprovada em Medicina no início do ano, disse que a mãe dela estava chorando, sem acreditar, já que não via nenhuma pessoa pobre fazendo esse curso. Esse tipo de retorno me faz acreditar ainda mais no meu propósito de auxiliar pessoas com a mesma origem humilde que eu, a realizarem seus sonhos”.

Além das atividades como empresário, Mathews encontrou um hobby que passou a ter uma grande importância em sua vida – o fisiculturismo. Ele começou o esporte em 2021, incentivado por um amigo e, até 2023, participou de sete campeonatos. “Eu era muito magro quando era criança e sofri bullying por conta disso. Eu entrei na academia ainda na adolescência e isso mudou minha vida, aumentou minha autoestima. Gostei muito da experiência, pois eu sou muito metódico e disciplinado. Então, fazer dieta e quatro horas de academia por dia não são, necessariamente, um problema. O fisiculturismo foi muito importante até mesmo na condução das minhas empresas, pois dá muita força mental e controle emocional. No entanto, acho que esse ciclo já se encerrou. Sou uma pessoa competitiva, que não gosta de ficar na zona de conforto. Então,  troquei o fisiculturismo pelo tênis”.

Embora goste de ir à academia, praticar esportes e fazer terapia, Mathews mantém um foco incessante no trabalho, chegando a trabalhar 14 horas por dia em certos períodos. Essa dedicação – e o reconhecimento dos alunos – chegam ao máximo nos dias do PISM, que, em 2024, serão realizados em 14 e 15 de dezembro em Juiz de Fora (MG). “Esses são os dias mais legais do ano para mim. Eu ainda moro em Viçosa, pois gosto de ficar no meu cantinho, de ter o meu espaço. Mas, quando chego em Juiz de Fora, faço um grande encontro com os alunos em um shopping da cidade, e eles gostam de tirar foto, de falar comigo. É uma bagunça boa e, às vezes, ainda nem acredito que isso está acontecendo”.

Fotos Nilo Lima

Styling Marco Antônio Ferraz

Tratamento de Imagem Rodrigo Lopes