CARREIRA: LUIZ FERREIRA, O CARA POR TRÁS DO SUCESSO DO FUSKA BAR

Luiz Fernando dos Santos Ferreira acorda às 8h, trabalha de casa até o final da manhã e, na parte da tarde, de bikeelétrica, se desloca até o Polo Gastronômico de Botafogo. É lá que ele administra um dos bares mais conhecidos do Rio: o Fuska, localizado na esquina das ruas Visconde de Caravelas e Capitão Salomão, em um quadrilátero que se firmou como um dos points da zona sul. 

O bar tem uma programação cultural agitada, com apresentações musicais que acontecem de sexta-feira a domingo. As atrações são formadas por rodas de samba, que se alternam com grupos de forró e jazz, e reúne cerca de 200 pessoas na calçada em frente ao autêntico boteco carioca de apenas 20m². Pequeno por dentro, mas espaçoso por fora. 

A calçada é espaçosa e está sempre cheia. Luiz enumera que compra 80 caixas de cerveja por semana e que vende cerca de 100 porções de bolinho de bacalhau por mês. “Para o tamanho que o bar tem, é algo surreal!”. Um dos momentos mais marcantes na história do Fuska aconteceu em 2018, quando ocorreu a apresentação do grupo Samba Que Elas Querem, que teve mais de mil pessoas na rua e a venda de inacreditáveis 60 caixas de cerveja em uma noite. 

SENTA QUE LÁ QUE VEM HISTÓRIA

O pai de Luiz, Jaime, abriu o bar em 1991. Português, Jaime herdou o tino comercial familiar, em uma típica história de passagem de negócios entre gerações. Em 2015, o pai de Luiz estava sofrendo com problemas relacionados ao alcoolismo e era preciso que alguém tomasse as rédeas do Fuska, que, até então, se chamava bar Encontro dos Amigos. Ele tinha apenas 25 anos quando largou o curso de Publicidade nas Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha) e passou a se dedicar exclusivamente à reformulação do empreendimento da família.

“Meu pai era muito cabeça dura. Na época, ele não trabalhava nem com maquininha de cartão. Dois anos depois, já consegui fazer mudanças, mas tudo acabou ficando muito por minha conta. Aprendi tudo na marra”, lembra Luiz, que cuida da administração, do marketing e da programação cultural do bar. Tudo sozinho, com o apoio da mãe, Maria Teresa. 

Foi nessa época que o Fuska começou a movimentar a região, um tanto deserta, como recorda Luiz. “Isso possibilitou a abertura de outros bares. A movimentação cultural foi fundamental para isso acontecer”. Ao assumir o bar, ele começou a apoiar peças de teatro, oferecendo cerveja e petiscos às equipes técnicas de espetáculos, que, por sua vez, traziam seus convidados e enchiam a calçada. 

O primeiro espetáculo teatral apoiado por Luiz foi “The Pride”, que estreou na Caixa Cultural, no centro do Rio, em 2016. Dois dos atores da peça, Júlia Tavares e Michel Blois, eram frequentadores assíduos do estabelecimento. Júlia se diverte dizendo que, na época, Luiz ainda nem havia criado a logomarca do bar, necessária para ser inserida nos materiais gráficos do espetáculo. 

Como bom apreciador de cultura, Luiz foi assistir a uma das apresentações da peça e teve seu nome citado nos agradecimentos finais. “Digo com tranquilidade que o Luiz foi não só um empresário extremamente inteligente naquele momento, mas também um grande fomentador de cultura. Viu que era possível unir o apoio às artes com o lucro para o bar, que só cresceu posteriormente”, afirma Júlia.

O Fuska ainda chegou a receber dois espetáculos em sua calçada: “Caos”, com Rita Fischer, e “Aceita?”, de Uma Certa Companhia, ambas em 2018. “Chegamos a apoiar dez peças de teatro por mês e isso era muito vantajoso porque recebíamos cada vez mais pessoas”, ressalta Luiz.

CERVEJA GELADA E UM BOM ATENDIMENTO

Ser empreendedor tem suas dificuldades, mas Luiz conta que sente enorme prazer em pensar uma programação cultural que reflita a cidade do Rio de Janeiro. Porém, em primeiro lugar, não pode faltar cerveja gelada e um bom atendimento. “Empreender, no meu caso, é servir e levar alegria às pessoas”, reforça. Hoje, Luiz guia oito colaboradores no período noturno e três pela manhã. Um deles é Elmiton de Oliveira, que trabalha há 24 anos no Fuska. 

“Quando o pai dele ficou doente, só eu estava trabalhando no bar. O Luiz nunca tinha trabalhado neste setor e eu dei força para que o pai o deixasse ficar. O bar ficou mais atrativo para o público, especialmente para o pessoal mais jovem. O Fuska é minha segunda casa e acho que o Luiz teve visão para colocar atrações e trazer um público diferenciado”, destaca Elmiton. 

Durante a pandemia da Covid-19, Luiz sofreu um baque, pois havia inaugurado um segundo bar, o Sarrafo, também em Botafogo. “Tive que escolher em manter um dos dois abertos”, relembra. Empréstimos e auxílios do Governo Federal para os funcionários ajudaram o Fuska a não cerrar as portas definitivamente, visto que o bar ficou fechado por quase seis meses.

“Fomos tentando nos reinventar, com o delivery, por exemplo, que não era um hábito nosso. Até mesmo ao reabrir, continuávamos no prejuízo, pois as pessoas ainda não estavam saindo de casa”, recorda.

Apesar das lembranças ruins do passado, para o futuro Luiz segue pensando em novas criações. “É importante não perder o lado criativo, por mais que a rotina administrativa do bar me engula. Pensamos em novas atrações musicais, lançamentos de livro, criação de um podcast. Alguns projetos estão em mente para seguir movimentando o bar”, garante Luiz, afirmando que só abriria outro estabelecimento se tivesse um sócio trabalhando junto.

O CARDÁPIO, POR FAVOR

Bolinhos de bacalhau, que são receita de Jaime, e defeijoada, pasteis de costela, sanduíches de pernil à noite. Feijoada, bobó de camarão e arroz de bacalhau durante o dia. Esses são alguns dos pratos que o bar oferece. Quem cuida das delícias é Maria Teresa, a mãe, alagoana que chegou ao Rio de Janeiro aos 17 anos, sozinha, e que conviveu com o pai de Luiz por 39 anos. Ela conta que começou a trabalhar com Jaime em 1998, quando Luiz tinha apenas oito anos.

“Essa região era muito deserta e, hoje, tem vários bares. O Fuska é o pai de todos eles. Os moradores mesmo falam que é uma tranquilidade para eles o bar estar aberto”, reforça Maria Teresa.

“Não me sinto concorrente de quem está ao meu lado. Os polos gastronômicos são fortes justamente por terem vários bares próximos. Botafogo cresceu absurdamente, foram criados polos, como o que hoje existe na região da rua Arnaldo Quintela. E isso é ótimo para a economia, para o bairro”, completa Luiz. 

A mãe conta que Luiz cresceu na vizinhança, junto dos filhos de outros donos de estabelecimentos. “Eles o chamam de reizinho do Humaitá, é muito querido. Trabalhei muito para fazer com que ele estudasse no Colégio Cruzeiro, na Cruz Vermelha, onde eu moro até hoje”, emociona-se Maria Teresa. 

A SAIDEIRA E A CONTA

Além da faculdade de publicidade inacabada, que o ajudou a deixar a marca do Fuska bem consolidada, Luiz chegou a fazer curso de fotografia no Senac, trabalhando posteriormente na produção de materiais para casamentos e books. A fotografia segue sendo sua paixão. Porém, ele conta que prefere fotos mais artísticas e paisagísticas. E isso é algo que ele pretende retomar no futuro, junto à desacelerada no ritmo de trabalho. 

“Minha qualidade de vida se tornou fundamental. Antigamente, não ia a aniversários dos amigos, não fazia nada além de resolver questões do bar. Agora, vou ao Fuska na parte da tarde e fico lá até por volta das 11 da noite. Não consigo tirar férias, mas, quando dá, viajo, tiro dez dias no máximo. Porém, sempre estou trabalhando, resolvendo coisas por telefone”, comenta, completando que fez sua última viagem para Fernando de Noronha, no carnaval de 2024, por ser um momento de menor movimentação no bar.

“A vida me obrigou a ser um pouco mais velho, porque tive que ter responsabilidade super jovem. Amadureci muito rápido. É legal ganhar dinheiro, fazer sucesso, mas fazer suas coisas é muito importante”, finaliza.

Fotos Vinícius Mochizuki

Direção de estúdio Rodrigo Rodrigues

Edição de moda Alê Duprat

Produção de moda Kadú Nunnes

Assessoria de imprensa Equipe D Comunicação

Colaboração de jornalismo Breno Motta