CAPA: CAIMOS NA GRAÇA DE GABRIEL LOUCHARD

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Gabriel Louchard é sem dúvida um cara divertido. Mágico por formação, palhaço da vida real. Louchard vai da TV para o cinema, do cinema para os palcos e streamings. E sempre deixando sua marca, seja fazendo rir ou contando alguma história mais séria como foi seu Galvão Bueno na série Senna (Netflix). De uma forma ou de outra Gabriel é puro talento. Não é à tua que está em cartaz há 13 anos com a “Como é Que Pode?”. “… com a comédia, improviso e muita interação com a plateia, deixa cada espetáculo diferente do outro. E isso mantém o fogo do espetáculo e meu tesão em ainda fazer”, comenta ele sobre o fôlego para se manter em cartaz por tantos anos. Pra nós da MENSCH foi um prazer entrevistá-lo, foi como um papo gostoso com um amigo boa gente.

Gabriel aos 10 anos você fazia mágica e aos 12 anos já era um mágico profissional formado pelo CBI – Círculo Brasileiro de Ilusionismo. Alguma influência ou inspiração? Como surgiu isso pra você? Do nada. Nunca tive um mágico ou algum artista circense na família. Isso surgiu como uma brincadeira de criança. Assisti um mágico numa festinha e assim como todas as crianças, fiquei encantado. Quando cheguei em casa enchi a paciência do meu pai dizendo que queria aprender mágica, e ele, como paizão que era, contratou um mágico para me dar aulas particulares aos 9 anos. Pronto, essa foi minha entrada no mundo das artes e dali nunca mais saí.

E quando surgiu essa sua vocação para o humor? Desde sempre você era aquele cara naturalmente engraçado que os amigos tiravam onda? Então, eu sempre fui uma criança comunicativa, engraçada, gostava de imitar os outros. Quando comecei a fazer mágicas, desde sempre apresentava com muito humor, foi muito natural isso. Na escola sempre fui o garoto mais engraçado da sala. Aos 10 anos logo que comecei a me apresentar como mágico entrei também para o curso de teatro e naturalmente enveredei para a comédia. Aliás, nem sei se essa palavra “enveredar” ainda existe, se a geração alpha vai me compreender, mas sempre quis usar isso em uma entrevista. Então enveredei, fui enveredando pela comédia e cada vez mais entendendo que ali era o meu lugar. Lembro da primeira vez que assisti um espetáculo de comédia no teatro, criança ainda, fui assistir “Os ignorantes” do Pedro Cardoso. Fiquei apaixonado, assisti quatro vezes, decorei o texto, fazia em casa para a família. Aquilo foi de uma clareza muito grande de que eu queria atuar e fazer comédia. Então entendi que a mágica era apenas uma ferramenta para me comunicar com o público e através dela fazer humor.

Tirar onda é algo bem comum de quem faz stand-up. Já passou por muita saia justa do resultado não sair como você imaginava (tanto de positivo ou negativo)? O que acontece é que a minha linha de stand up sempre foi ligada a coisas que passei na vida, as dificuldades que passei quando animava festas de crianças… Então eu sempre sacaneava nos textos a mim mesmo, a minha família. E é claro que nos improvisos, sempre dava uma zoada na plateia, pois meu show é muito interativo. Já aconteceu de tudo. Pedido de casamento no palco, alias, tenho certeza que ela só disse o “sim” porque tinha muita gente olhando. Uma senhora roncando altíssimo na primeira fila, claro que providenciei um travesseiro na mesma hora. E também sempre tem na plateia aquela pessoa que estava indo a um velório, errou de caminho e foi parar dentro do teatro? E não ri de absolutamente nada, parece até campeão do jogo do “quem ri primeiro perde”. Até brinco que é a pessoa azeda, aquela que já sai de casa pensando “hum… vou estragar um show hoje.” E gafe clássica foi a vez que pedi a uma pessoa que estava um pouquinho longe para subir no palco e nada… Pedi novamente e joguei a piadinha “Obrigado pela boa vontade hein”, e aí o canhão de luz foi nele junto com o câmera colocando no telão para todo teatro…. Era um cadeirante… Bom… Acontece, ele mesmo caiu na risada.

Alguma dica ou macete que aprendeu com o tempo para não ter erro? A primeira dica é: Não se preocupe porque você vai errar mesmo, e bastante. Impossível acertar sempre. Agora, para um estilo de apresentação como a minha, com muita interação com a plateia é entender no olhar antes quem está disponível para brincadeira. Se olhou para pessoa e ela continua te olhando, você faz um primeiro comentário e sente a resposta, ali dá pra saber se é para seguir ou não.

Agora, se a pessoa olhou para baixo, desviou o olhar, deu aquela fugida de você, nitidamente não quer participar.

Como era o Gabriel Louchard quando criança? E que conselho daria a esse Louchardzinho? Encapetado, 220 volts total!! Olha essa é difícil, mas sabe eu gosto tanto, mas tanto do que faço. Sempre me divertia muito me apresentando, era uma brincadeira que virou trabalho e sustento. Até hoje dou a sorte de poder ganhar a vida praticamente brincando (calma, exagerei, tem muita ralação, ensaio, viagem o tempo inteiro, morar em aeroporto…). Mas mesmo assim, gosto tanto de estar no palco, estar no set, falar para o grande público, que acho que eu falaria: “Vai logo!! Começa mais cedo!! Aos 5, 6, 7 vaiiii que vai ser divertido”.

Você está em cartaz com a peça “Como é Que Pode?” já faz mais de 6 anos (me corrija se estiver errado). Onde busca inspiração para levar um projeto como esse por tanto tempo sem perder a graça? Na verdade estou a 13 anos em cartaz e no momento fazendo uma turnê por 15 cidades brasileiras. Já apresentei em mais de 70 cidades no Brasil, já me apresentei no exterior, batemos a marca de 1 milhão de espectadores. O espetáculo venceu o importante premio Fita de teatro em 2014. E posso falar que cada show é único. Por que não é datado, é um espetáculo atemporal. O fato de ter ilusionismo com a comédia, improviso e muita interação com a plateia, deixa cada espetáculo diferente do outro. E isso mantém o fogo do espetáculo e meu tesão em ainda fazer.

Pra você piada boa é quando… Parece óbvio, mas é quando faz rir. Mas rir sem constrangimento, sem dedo, sem pensar “pô pegou pesado”. Rir que digo, é o riso genuíno, porque é incontrolável a reação daquilo que você acabou de ouvir.  Quando faz rir porque você escutando se coloca naquela situação. Aí para mim é um tiro!

Na série “Homens?” seu personagem Pedro era um cadeirante que aprontava todas inclusive em casa de swing. Como foi participar desse projeto ao lado de Fábio Porchat, Gabriel Godoy e Raphael Logam, gente tão louca quanto você (no ótimo sentido da palavra, (risos)? Comecei a ler a pergunta achando que ia perguntar se frequento essas casas, ufá! Esse projeto é fantástico, eu amo, queria muito uma terceira temporada, assim como a maioria das pessoas que assistiram. O Porchat é um gênio e ele conseguiu pensar em “Homens?” de uma forma que ficasse uma crítica ao machismo estrutural, super engraçada para os homens e também para as mulheres. Eu já era muito amigo do Fábio e do Godoy, o Logam e Rafa Portugal eu só conhecia menos, mas quando juntou os 5, olha…. de verdade eu nunca me diverti tanto num set quanto em “Homens?”. Ainda veio Miá, Lorena Comparato, Gisele Batista, um time muito afinado e muito divertido. Ainda tenho fé na terceira temporada!

Na sua trajetória você sempre circulou pelo humor. Mas recentemente você fez um papel mais dramático e recebeu muitos elogios, que foi o Galvão Bueno na série Senna. Foi um desafio para você também? O que representou para você? Sem dúvidas foi o meu maior desafio enquanto ator. Acho que sempre tive a sorte de poder fazer papéis bem diferentes, o que todo ator deseja. Na novela Rock story era um malandro, num triangulo amoroso bem divertido com a Ana Beatriz Nogueira e o Evandro Mesquita. No cinema, o Incompatível, era uma comédia romântica com a Nathalia Dill, onde o personagem é um cara todo certinho, quadradão. Em Homens? foi o cadeirante swingueiro. E assim foram outros trabalhos. Agora, interpretar o Galvão foi tipo, outro degrau. Uma das figuras mais conhecidas do Brasil, na série sobre o maior ídolo brasileiro… Só a base de rivotril para aceitar um papel desse… (risos).

Para interpretar um personagem da vida real o cuidado é maior? Chegou a conversar com Galvão? Que conselhos recebeu? Justamente por isso, porque o desafio era muito grande. O Galvão tá aí, assistimos ele todos os dias. A comparação era inevitável. Aí eu pensei: “Bom, se eu imitar vai ficar muito caricato. E eu também não sou um imitador, se fosse para imitar seria o Adnet, que é um gênio. Tá, mas se eu não imitar pode ficar muito distante do Galvão e a público ficar comparando que não se parece com ele…” Então encontrar o tom certo foi muito difícil. Foi um enorme trabalho intenso de seis meses com os diretores, Julia Resende e o Vicente Amorim. Preparei muito também com a Maria Silvia (preparadora de elenco) e principalmente com a Deborah Feijó, Fonoaudióloga que inclusive trabalhou com o Galvão. E aí amigo, foi na rrraça, na emoção e haja coração!! Bati maior papo com o Galvão numa vídeo chamada. Não o conhecia e ele foi ótimo! Super disponível, me contou muito da relação dele com o Senna, da forte amizade e das brincadeiras entre os dois. Foi fundamental essa conversa com ele, que é claro não me deixou passar ileso e no fim do papo falou: – “Faz um pouquinho aí para eu ver como eu sou!” Nesse momento eu congelei e a internet caiu por acaso…

Está mais difícil fazer humor hoje em dia? Acho que está. Porque realmente entendemos que coisas que nos faziam rir antes, já não nos fazem agora, o mundo mudou muito, a forma de comunicação evoluiu. O público está mais exigente, tem muita oferta, TV, teatro, streaming e redes sociais, antes era só TV. Muitos programas que assistíamos antigamente, revendo hoje não tem mais graça…

O que coloca um sorriso no seu rosto? Sem dúvida meu filho e meu vira-lata caramelo, os dois são muito fofos e engraçados. Uma boa roda de samba também coloca um sorriso no meu rosto. E alguns atores/comediantes que amo como Pedro Cardoso, Leandro Hassum, Porchat, Tatá Werneck e até hoje o Roberto Bolanos (chaves)

E onde procura recarregar as baterias quando não está trabalhando? Eu adoro ficar em casa deitado vendo série e comendo qualquer coisa que tenha glúten e glicose. Agora, também vou muito para minha casa de praia aqui no Rio, na região dos lagos. Um lugar que frequento desde que nasci e na pandemia foi um refúgio essencial para manter a sanidade em dia.

Algum novo projeto que pode compartilhar conosco? Simmmm, este ano estou atuando, dirigindo e produzindo a terceira edição do ILUSÕES, um espetáculo de ilusionismo onde convido grandes ilusionistas internacionais para se apresentarem no Brasil. Criei esse projeto em 2019, hoje se tornou um dos maiores espetáculos de ilusionismo já visto no Brasil. Sempre com mágicos premiados mundo afora e com números super originais. Esse ano convido um mentalista da Espanha, um manipulador de Coréia do Sul e dois ilusionistas cômicos, um da França e outro da Suécia. Nossa turnê acontecerá no fim de julho passando por Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Fortaleza e Curitiba.

Fotos Jorge Bispo