ARTE: Criando arte e fazendo cultura na Amparo 60

Ousadia é a palavra que mais define a transferência da conceituada galeria de arte Amparo 60, que passou praticamente toda a sua existência numa discreta casa no início do bairro de Boa Viagem – Recife, para o edifício Califórnia. Dona de um dos mais venerados castings do País, a galeria sempre recebeu clientes fiéis e intelectuais tanto para visitas quanto para as exposições. Já com os dois pés em um novo tempo, o espaço se abre para o público em geral, que certamente vai frequentar aquele novo pólo, subir para as sobrelojas e fazer uma visita contemplativa. Tudo a ver com o momento do prédio.

 

Essa simbiose é tão grande que, apesar de tudo ter acontecido muito rápido e de maneira espontânea, a galerista Lúcia Costa, cujo nome se confunde com seu próprio espaço, é filha de ninguém menos que Janete Costa, esposa do arquiteto Acácio Gil Borsoi. “Não pensava em sair daquela casa, mas soube por acaso que havia esse espaço aqui nesse prédio de tanto significado, onde Borsoi teve a ideia de harmonia, residência, comércio e lazer. Convidada, vim visitar e instantaneamente o lugar me escolheu, fui fisgada. Entendi que trazer arte para cá seria como retomar um projeto original, o espaço clamava por isso. O bairro, a cidade e as pessoas também mereciam isso e essa humanização pode ser o ponto de transformação para um futuro restauro”, pondera.

Para marcar o início do ciclo, a Amparo 60 abriu com uma exposição reunindo obras de todo o casting, ao todo 35 artistas expressando-se nos mais diferentes suportes e todos dialogando sobre a relação com a cidade e as questões urbanas. O acervo foi montado sob o olhar do curador Douglas de Freitas, que encontrou os pontos de interseção entre os trabalhos tendo como fio condutor a ideia de celebração, saudação, ligada ao termo “evoé” que intitulou a mostra. “A escolha das obras para a exposição busca trazer um pouco a atmosfera do Recife, um modo de ver e viver a cidade entre suas belezas e contradições”, completa.