CAPA: CHARLES FRICKS SE DESAFIA EM “TERRA E PAIXÃO”

Do teatro para as telas de TV do país inteiro, Charles Fricks é um ator premiado na arte cênica e agora desponta na telinha. Nascido em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, ele passou a infância no interior, sonhando com os palcos depois de ter contato com o teatro na época da escola. A paixão pela dramaturgia o levou a procurar novas oportunidades, seguindo para o Rio de Janeiro entrou para a Cia. Atores de Laura, onde fez sucesso com a montagem “O Filho Eterno”, monólogo passou por mais de 50 cidades, com mais de 300 apresentações, e lhe rendeu 5 indicações e 2 prêmios, como Melhor Ator, pela APTR, e Melhor Ator, pelo Prêmio Shell de Teatro. Atualmente Charles se deleita com o sucesso de um personagem que caiu nas graças do público em Terra e Paixão, interpretando Ademir La Selva. Para Charles, é uma grande responsabilidade entrar na casa das pessoas todos os dias. Foi no teatro que ele construiu uma carreira de sucesso ao longo de 30 anos de atuação e, agora, está no ar de segunda a sábado, em horário nobre. “É uma satisfação enorme. Quero fazer o meu melhor”, conta.

Charles, você é um ator que está sempre presente em produções para a TV. Mas parece que agora com seu personagem Ademir La Selva, em Terra e Paixão, parece que o impacto é diferente. É o poder da novela das nove. Sente isso também? Como tem sido essa visibilidade toda que o horário tem te trazido? Eu já havia feito pequenas participações em outras novelas das 21h. E em 2017 entrei para fazer uma dessas participações em outra novela do Walcyr Carrasco – O Outro Lado Do Paraíso – e o Walcyr foi escrevendo mais pro meu personagem (Abel) e acabei ficando até o fim da novela. Naquela época já sentia a força de estar em uma obra do Walcyr em horário nobre. Mas agora, com o Ademir, o alcance e repercussão do meu trabalho está sendo ainda maior. Entrevistas, pessoas parando na rua para dar os parabéns pela novela. E sempre muito carinhosos. Acho que o Ademir é um personagem muito bem quisto pelo público. Fico muito feliz. É uma sensação de gratidão por me confiarem um personagem tão bonito quanto o Ademir e pela oportunidade de estar rodeado de uma equipe tão talentosa e querida.

Para se ter ideia até “sugar daddy” você foi chamado nas redes sociais. Essa te surpreendeu heim? Quando fui acompanhar os comentários nas redes sociais só via referências à “camisa aberta”, “peito de fora”, “sugar daddy”. Ri muito com tudo isso. Me considero um cara normal. Faço atividade física quase que por obrigação, mas gosto de caminhar e ir à academia. Confesso que não entendi o frenesi, mas agradeço os elogios.

Qual a responsabilidade e o prazer de interpretar o irmão de Tony Ramos em horário nobre? Felizmente, durante as gravações das cenas com Tony, me esqueço que estou contracenando com um dos maiores atores do país. Poderia me atrapalhar. Tony tem o talento de iluminar o set com muito humor. O tempo todo. Fico torcendo para chegarem as cenas de embate entre os irmãos Antônio e Ademir. Ajudou muito o fato de já termos trabalhado juntos anteriormente: em Chico Xavier – o filme (de Daniel Filho), embora não tivéssemos nos encontrado no set, e, sobretudo, no filme QUASE MEMÓRIA (de Ruy Guerra) quando passamos 20 dias filmando juntos no interior do Rio de Janeiro. Fizemos o mesmo personagem em idades diferentes. Tony é um grande parceiro de cena. Comunicativo, ágil, inteligente, leve. Ele contagia a todos. É um grande exemplo de profissional. Se pudesse, passaria horas conversando com ele no camarim. É um grande prazer.

Na TV, cinema e teatro você já fez de tudo um pouco. O que te instiga mais ao topar fazer um trabalho? Depois de uma certa idade, achar a história certa pra contar ficou muito importante pra mim. O que quero falar?! Não importa o “tamanho” do personagem ou o veículo – teatro, TV ou cinema. Sobretudo no teatro onde temos mais as rédeas quando produzimos um espetáculo. Assim foi com meu monólogo O Filho Eterno (produção Cia Atores de Laura). Estava procurando há meses um texto que tivesse relevância pra mim. Quando meu amigo, ator e produtor Pablo Sanábio me indicou o livro do Cristovão Tezza, fiquei fascinado e quis muito contar aquela história de um pai que aprende a amar um filho. No cinema, participar de um projeto como Nise (direção Roberto Berliner) sobre uma das mais importantes médicas brasileiras. Ou no Quase Memória, a adaptação dessa obra prima da literatura brasileira, dirigido por um dos maiores nomes do cinema mundial – Ruy Guerra. Para citar alguns exemplos.

E o que não faria por cachê algum? O que não valeria à pena? Existe? Já disse alguns “nãos” a trabalhos por não acreditar. Ou por ideologias que não acreditava ou mensagens que considerava erradas ou por falta de desejo de fazer determinado trabalho ou, simplesmente, por intuição. Com a idade passei a respeitar mais minha intuição também.

Você tem uma aparente facilidade para interpretar tipos totalmente diferentes. Como é sua preparação? Algum “ritual” ou “receita”? Fico feliz em ler isso. Gosto de me ver diferente a cada trabalho. Gosto de me ver na tela ou no palco fazendo coisas, movimentos, olhares, gestos diferentes do que costumo fazer. Não há receita. Cada ator busca seu personagem de modo muito particular. Não existe certo ou errado nessa pesquisa. Pra mim, a inspiração para construir um personagem vem de qualquer lugar: músicas, fotos, filmes, figurino, cenário, livros, frases, exercício físico, perfume, silêncio… Um personagem é um universo amplo. Infinito.

Em uma cena na novela Terra e Paixão, em que Ademir se emociona ao informar para as meninas do bar que Cândida estava morrendo, enquanto eu estava na frente de todo o elenco, em frente ao pequeno palco do bar, o diretor Emer Lavinni disse no meu ouvido: “pense no Grande Circo Místico quando estiver dizendo esse texto para elas”. Fez todo o sentido pra mim e a emoção veio forte. A cena ficou linda.

Na TV você começou em Chiquinha Gonzaga com o personagem Caio em 1999. Mas no teatro sua estreia foi bem mais cedo. Diria que o teatro foi sua base? O que aprendeu lá que levou para sua vida de ator? Teatro foi e é a minha base de trabalho. Faço teatro há mais de 30 anos. Desde quando morava  em Cachoeiro de Itapemirim-ES, na escola, nos grupos de teatro amador. Já no Rio de Janeiro (desde 1991), passei pelos cursos livres no Planetário da Gávea, Casa da Gávea, Tablado, Laura Alvim. Em 1993, entrei para a Cia Atores de Laura e estou até hoje. A minha participação na minissérie Chiquinha Gonzaga foi um convite do diretor Luiz Armando Queiroz para que a Cia Atores de Laura apresentasse um espetáculo dentro da minissérie. Minha primeira participação na TV foi também com meu grupo de teatro. Até hoje foram 11 espetáculos dentro da Cia Atores de Laura e 7 fora da Cia.

Nossa primeira matéria de capa foi em 2012. Na época você tinha recebido o Prêmio Shell de Melhor Ator pela a atuação nos palcos de O Filho Eterno. De lá para cá já se vão mais de 10 anos. Qual o impacto desse prêmio na sua carreira? Prêmios importantes como Shell e APTR são uma chancela de qualidade para o trabalho dos artistas. Além da alegria de ser agraciado, ter o reconhecimento da crítica e de seus colegas, um prêmio pode ajudar muito na hora de divulgar o seu espetáculo. Conseguir mais espaço na imprensa, abrir a curiosidade do público. Desde o ano da premiação, viajei com O Filho Eterno por mais de 42 cidades, passei por quase todas as capitais do país (só faltou Macapá), representei o Brasil em Portugal no “Ano Brasil-Portugal”.

Sua estreia como ator foi nos anos 1980. Diria que a década de 80 foi uma das décadas de maior efervescência cultural? Como isso te influenciou? Não sei dizer isso. Nos anos 80 eu ainda estava em Cachoeiro, ainda adolescente. Formando minha identidade, mas já sonhando em ser ator. Nos Anos 80, assistia muitos filmes em VHS. Ia na locadora, alugava 5 filmes e passava sábados e domingos assistindo. Revezando com vídeo games.

Qual sua maior vaidade como ator? E como controlar a vaidade do ator? Lidamos com o ego o tempo todo. O diretor Daniel Herz (da companhia Atores de Laura) costumava dizer que “o ator não É bom. Ele ESTÁ bom”. Ou seja, se não estudarmos o trabalho que vamos fazer, se não buscarmos referências, se acreditarmos apenas nos elogios que nos fazem, corremos o sério risco de não fazermos bem o trabalho. Nós repetimos. Ficamos preguiçosos. Lembro sempre disso.

E falando em vaidade, você já declarou que a sua é bem básica. Do que não abre mão? Acho que abro mão de tudo… (risos). Estou tentando usar o protetor solar constantemente. Não apenas no rosto, mas também nos braços, pernas e pescoço. Estou tentando… De exercícios gosto de caminhar quase todos os dias e exercício em academia umas quatro vezes por semana.

Na hora de relaxar o que faz sua cabeça? O que curte ler, ver e ouvir? Amo ir ao cinema e ao teatro. Nesses meses de gravação, não tenho conseguido ir com frequência. Quando chego em casa estudo o texto da semana e depois só quero saber de deitar no sofá, ouvir música, assistir um filme ou série. Na literatura, prefiro romances e história. Nunca os de “autoajuda”.

Fotos @gutocosta

Stylist @maisonrevolta

Figurino @toolstoy

Assessoria @mniemeyer_

 charles é @charlesfricks