As escolhas de Luis Lobianco definiram o grande artista que ele é hoje em dia. Tanto que migrar do teatro para a TV, assim como ir da TV para o teatro, é algo natural. Negar papéis e fugir de estereótipos fez Lobianco conquistar seu espaço por direito. Prova disso é sua atual jornada dupla, com o Vitinho na novela Vai na Fé (Globo) e o Fernando no espetáculo O Método, no qual o levou a concorrer ao Prêmio Shell de Melhor Ator. Com alto astral, e se divertindo muito com tudo isso, Lobianco mostra que a maturidade (tanto artística como pessoal) chegou cheia de novas possibilidades.
Depois do sucesso de Clovinho (em Segundo Sol) você está de volta com Vitinho em Vai na Fé. Como é voltar ao ritmo das novelas cinco anos depois da sua primeira? Eu adoro. Criar um universo de ficção e morar nele durante um ano é tudo que um personagem quer. Sem contar que a resposta imediata do público na rua alimenta essa criação. Eu gosto de teledramaturgia e ser um artista popular. A novela está no DNA do brasileiro.
Como surgiu o convite para interpretar o Vitinho e como tem sido interpretar esse personagem tão divertido? A Patrícia Rache produtora de elenco da novela entrou em contato comigo em nome da Rosane Svartman e o Paulo Silvestrini, autora e diretor. Ela me apresentou a sinopse da trama, do personagem e contou com quais colegas eu iria trabalhar, foi irrecusável!
Em geral você parece que se diverte muito com seus personagens. É isso? É algo primordial para você? É isso! Eu trabalho pra ser feliz. Claro que processos de criação podem ser cansativos e erramos muito até chegar num resultado que gostamos. Mas o saldo deve ser de alegria e satisfação. Já sofri muito nessa vida, hoje só quero e mereço ser feliz.
Você já fez de tudo um pouco, de seriado a novela, de filme a peça, de Porta dos Fundos a Dança dos Famosos. Onde se sentiu mais desafiado até agora? O que te desafia mais? O personagem Fernando que interpreto atualmente no espetáculo O Método. É um homem medíocre, com valores deturpados, mas ainda assim é preciso criar humanidade e contrastes na composição. Quando o personagem é um homem ultrajante o trabalho do ator deve continuar sendo atraente ou o público simplesmente se desinteressa. Essa medida é um grande desafio. O que me mais me instiga sempre é fugir dos estereótipos, o lugar comum e a superficialidade. É um compromisso e sempre me cobro muito em criar complexidade para o que poderia ser óbvio.
Você começou no teatro no início dos anos 2000 e quase uma década depois fez sua estreia na TV. Como foi essa “transição” para você? Na TV sentiu que tentaram te encaixar em padrões já pré-estabelecidos? Fui para a faculdade de artes cênicas em 2000, mas antes já fazia teatro amador desde 1994. Só tive oportunidades no audiovisual em 2012 com o Porta dos Fundos. E os padrões irreais sempre existiram. Nunca aceitei papeis que reforçavam caricaturas preconceituosas. Em algum momento o mercado entendeu que eu sou um artista disposto a inverter expectativas e rótulos, passaram a me chamar para trabalhos mais consistentes. Mas isso só porque não abri mão da minha subjetividade, batalhei e disse muitos “nãos” pra que isso acontecesse.
Quando sentiu que conquistou seu espaço e mostrou a que veio? Esse é um sentimento a ser conquistado, e passei a ter essa percepção ano passado quando completei 40. Eu era extremamente inseguro, achava que ninguém sabia quem sou e que de uma hora pra outra deixariam de me chamar para trabalhar. A virada de idade me fez ser mais empático comigo mesmo. Reconhecer minhas conquistas e enxergar a consistência do meu currículo. Não gosto da ideia de que “cheguei lá”, ainda quero muito, o artista que pára de desejar fica datado. Mas hoje respeito e celebro meu espaço.
Em Porta dos Fundos você teve a oportunidade de criar vários personagens. O que nasceu primeiro com você, o humor ou a facilidade de criar personagens? Certamente observar as pessoas e transformar em personagens. Isso em si já era o cômico, humor é consequência. Até hoje é o que busco, investigar como uma pessoa age e pensa dentro de uma história. A piada nunca foi meu foco.
Recentemente você foi indicado para o Prêmio Shell. Como está sua expectativa e como recebeu essa indicação? Sim, fui indicado como melhor ator com o personagem Fernando da peça O Método. Eu vibrei muito com o reconhecimento, me emocionei. Esse cara me deu muito trabalho, errei demais, estudei pra caramba e o resultado me orgulha. Estou confiante!
Ser indicado para um prêmio é um sinal de que você realmente se saiu muito bem naquele determinado trabalho? Qual é o termômetro para você de que está bem em um trabalho? Meu termômetro é quando vejo gente de fora da bolha teatral ou da minha própria bolha na plateia. Definitivamente nunca quis fazer teatro só para a classe. Mas não tenho nenhuma questão com reconhecimento! Não vim de uma família de elite intelectual ou social onde ter oportunidades e aclamação estão sempre no radar. Aplausos, teatro cheio e prêmios significam muito pra mim. Valorizo demais!
Quais suas referências do humor no passado e na atualidade? Dercy Gonçalves, Rogéria, Fernanda Young, são os primeiros nomes que me vêm agora. Atualmente estou encantado com a Clara Moneke que faz a novela “Vai na Fé” comigo. Um talento que vai longe!
Dentro do humor existe algo proibido ou não favorável de se falar? Sim, muita coisa não é pra ser dita em lugar nenhum simplesmente porque não tem graça. Apontar o corpo e características físicas de uma pessoa não tem graça. Preconceito é ridículo. O humor da extrema-direita é de péssimo gosto. Outro dia minha colega Grace Gianoukas postou uma frase de Goethe que eu adorei “o caráter de uma pessoa se mede pelas coisas que ela acha graça”.
Qual sua maior vaidade como ator e como homem? Como ator gosto de receber convites para bons personagens e estar em projetos com pessoas que admiro. Isso me dá a sensação de que estou fazendo boas escolhas. Como homem tenho muitas, sou bem vaidoso. Amo trabalhar cheiroso e arrumado, adoro moda e invisto em ter uma casa bonita. Um hábito que criei foi me dar presentes, sempre que fecho um novo projeto presenteio minha casa com uma peça de arte.
Para conquistar Lobianco basta… Ser coerente entre o que prega publicamente e o que pratica em particular. Honestidade é muito sexy.
Fotos Pedro Dimitrow
Make e cabelo Marcos Padilha
Assessoria Jukreis