CAPA: RAFAEL CARDOSO DE VOLTA À CENA EM “OS EMERGENTES”

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Por Márcia Dornelles

De volta às telas em Os Emergentes — comédia nacional que acaba de ser rodada neste mês de abril, dirigida por Hsu Chien e produzida pela In Setti Cultural, da atriz e produtora Jeniffer Setti — Rafael Cardoso vive um novo ciclo em sua trajetória pessoal e artística. Após anos de protagonismo na TV e no cinema, o ator se reinventou fora dos holofotes: superou crises, mergulhou em processos de autoconhecimento e hoje se apresenta como um homem múltiplo — agroflorestor, empreendedor, terapeuta da vida e, claro, artista. Em entrevista exclusiva à Revista MENSCH, Rafael fala sobre os altos e baixos de sua jornada, os aprendizados da dor, o reencontro com a arte e os bastidores do seu novo papel no cinema. Confiram!

Rafael, você iniciou sua carreira em 2007 no seriado “Pé na Porta” e, desde então, participou de diversas produções na televisão e no cinema. Como você avalia sua trajetória artística até agora? Acredito que não tenho do que reclamar. Só agradeço por cada momento vivido e por cada escolha. Agora, estou em um novo momento, depois de ter passado por uma fase conturbada e de profundo autoconhecimento — muitas vezes através da dor — e sigo com novos horizontes, graças a Deus. São mais de 20 anos nesta estrada, então, se eu não agradecer por estar trabalhando e bem até hoje, não seria justo.

Em 2009, você protagonizou o filme “Do Começo ao Fim”, interpretando Thomás em uma narrativa bastante ousada. Como foi para você dar vida a esse personagem e qual foi o impacto desse trabalho em sua carreira? Sim, esse filme foi um divisor de águas. Eu estava bem no início da minha jornada como artista, então ainda carregava certos preconceitos — por vir de uma família conservadora do Rio Grande do Sul. Apesar de tentar me convencer de que não havia preconceitos dentro de mim, seria mentira dizer isso. O filme, e o entendimento mais profundo das relações humanas, me libertaram de diversos padrões enraizados. A arte, muitas vezes, é terapêutica. Não é terapia, mas é terapêutica! E o Aluizio Abranches se tornou um grande amigo. Quem sabe não vem algum projeto novo por aí?

Na novela “A Vida da Gente” (2011), você contracenou com Marjorie Estiano e Fernanda Vasconcellos. Como foi essa experiência e qual a importância dessa novela para você? As duas são fenomenais. Foram parceiras incríveis de trabalho. Trocamos muito naquela época. Foi meu primeiro protagonista, a convite do Jaime Monjardim, que confiou em mim. Eu já admirava o trabalho dele, então fiquei lisonjeado. O Jaime é um dos melhores que temos — e, além disso, é uma pessoa fora de série. Sou muito grato a ele por ter aberto esse caminho. Também sou grato ao Rogério Gomes e ao Pedro Vasconcellos, que apostaram em mim em “Beleza Pura”, minha primeira novela.

Em “O Tempo e o Vento” (2013), você participou de uma adaptação de uma obra clássica da literatura brasileira. Como foi o processo de preparação e quais os desafios que enfrentou nesse trabalho? “O Tempo e o Vento” foi mais uma obra dirigida pelo Jaime, que confiou novamente em mim. Foi um prazer fazer parte desse filme — o livro já fazia parte da minha jornada literária. O processo de preparação foi intenso, embora curto. Foi uma participação modesta, mas muito gratificante.

Você viveu personagens marcantes em novelas como “Império” (2014) e “Além do Tempo” (2015). Como você se prepara para personagens tão distintos em sequência? Acredito que não exista fórmula. Para mim, tudo começa com o entendimento psicológico e histórico do personagem: quem ele é, o que viveu, como é sua família, e por aí vai. Com o tempo, cada um desenvolve sua própria maneira de criar. Acredito de verdade que não existe certo ou errado — são formas diferentes de compreender e trabalhar.

Em “O Outro Lado do Paraíso” (2017), seu personagem, Renato, foi um dos grandes vilões da trama. Como foi interpretar um antagonista tão complexo e qual foi a repercussão desse papel? Esse personagem foi incrível de fazer, com muitas camadas. Como eu tinha um contato direto com o Walcyr Carrasco, tudo ficava mais fácil. Recebíamos feedbacks frequentes e conversávamos sobre os rumos da trama com antecedência. Foi um bom desafio — e o público ficou impactado. Foi o único personagem que me fez ser xingado no supermercado! As senhorinhas estavam indignadas pelo que eu tinha feito com a Clara! Foi divertido.

Nos últimos tempos, você enfrentou desafios pessoais, mas também buscou se reestruturar por meio de tratamentos e de um processo de autoconhecimento. Como essa fase impactou sua visão de vida e carreira? O que vivi nos últimos anos foi um rito de passagem. Fui até o fundo do poço — e não digo isso com vitimismo, mas com a clareza de quem enfrentou a própria sombra no espelho. Quando você perde tudo o que acreditava ser sólido — fama, status, rotina, família, até o respeito público — você descobre quem realmente é.Essa fase me transformou num ser humano mais inteiro, mais alinhado com o propósito. Não se trata apenas de voltar às telas, mas de entrar nelas com um nível de verdade que antes eu não tinha.

E como está sua motivação neste novo momento profissional com o filme “Os Emergentes”? Em Os Emergentes, não sou apenas o ator — sou alguém que carrega, nas entrelinhas, a experiência de quem caiu e levantou. Hoje, não me vejo apenas como ator. Sou agroflorestor, empreendedor, apaixonado por nutrição, lançador de infoprodutos que ajudam vidas. A grande reinvenção da minha imagem vem exatamente desse lugar: o de um homem que não teme mais recomeçar quantas vezes for necessário. Os Emergentes é simbólico porque fala justamente desse Brasil que ressurge, que não aceita o rótulo de coadjuvante, que quer ocupar seu lugar no centro da narrativa. A arte só é potente quando a vida pulsa dentro dela — e hoje, eu estou mais vivo do que nunca.

Conte um pouco sobre seu personagem em “Os Emergentes” e o novo desafio de atuar em sua primeira comédia no cinema. Sair da “gaveta do galã” é maravilhoso! Poder explorar outras áreas e possibilidades é libertador. Estar ao lado de professores como Nelson Freitas, que é meu amigo de longa data, assim como o Paulinho Serra, também amigo querido, foi incrível. O restante do elenco, que conheci durante as filmagens, também me impressionou. A admiração surgiu na hora. Mônica e Jey estão de parabéns — realizaram esse projeto de forma honrosa. Estou muito feliz e grato por fazer parte de verdade.

Voltar às páginas da MENSCH depois de tudo o que você viveu tem um significado especial? Sem dúvida. Voltar à MENSCH não é apenas uma volta — é um lembrete. A vida tem um jeito estranho de te derrubar pra ver o que realmente fica de pé. Eu fui do topo ao fundo e entendi que sucesso de verdade não tem a ver com grana, fama ou status. Tem a ver com o impacto que você gera quando ninguém está olhando. Hoje, meu foco é usar tudo que aprendi — das artes à agrofloresta, da saúde à reconstrução pessoal — para inspirar quem também está no corre, quem está tentando sair do automático e construir algo que realmente valha a pena.

Deixo aqui um convite pros leitores da MENSCH: parem um segundo e se perguntem — o que eu estou deixando no mundo que não morre quando eu for embora? Porque, no fim das contas, é isso que fica. A vida começa a mudar quando a gente para de viver só pra si e começa a viver pro que realmente importa.

Fotos Daniel Chiacos @chiacos

Stylist e Produção executiva Márcia Dornelles

André de Moraes @moraesde

Lup Filardi @lupi.filardi

Úrsula Barreto @ursulabarreto

Rafael veste – @orangealfaiataria