CAPA: ROGER, GRAFITE E JÚNIOR, OS CRAQUES EM CLIMA DE COPA DO MUNDO

Disciplina, determinação e claro, muito futebol no pé. Isso tudo faz parte desses três ex-jogadores e atuais comentaristas da Globo. Estamos falando dessa seleção de craques, o Maestro Junior, Roger Flores e Grafite. A MENSCH convidou os três para um bate-papo às vésperas da Copa do Mundo do Catar, e claro, saber as apostas e experiências em campo. Momentos marcantes, lições de vida e projeções para o futuro. Um papo de craque que é tão bom no microfone como de bola no pé.

Em breve veremos o Brasil entrar em campo para mais uma Copa do Mundo. Qual a expectativa de vocês?

JUNIOR: A minha expectativa é que teremos uma das melhores Copas dos últimos anos. O fato de ser no meio da temporada europeia vai trazer uma qualidade técnica e física para todas as Seleções! E o fato de não termos uma Seleção favorita e sim 5 ou 6 vai trazer muita emoção até a final.

ROGER: Eu acho que a seleção brasileira vai fazer uma boa Copa do Mundo. Eu acho que ela está bem preparada, tem um bom treinador, que cumpriu o ciclo inteiro. Está na seleção há 6 anos. Tem a experiência da última Copa do Mundo também, com acertos e erros. Escolheu quem deveria ter sido escolhido, uma ou outra escolha que pode causar alguma divergência entre os torcedores, mas 98% das escolhas seriam essas mesmo. Acho que temos talento, tem um jogador genial, temos jogadores jovens que podem decidir, temos protagonistas nos grandes times do mundo, diferentemente do que aconteceu na última Copa. Acho que temos todos os ingredientes para fazer uma boa Copa, agora, ganhar ou perder é do jogo, porque temos outras seleções de altíssimo nível.

GRAFITE: A expectativa é a melhor possível, o Brasil está muito bem preparado, segue num ciclo de continuação do trabalho do treinador Tite. Desde o começo da Era Neymar, é a primeira vez que ele chega numa Copa sem ter o peso de ser a única esperança do Brasil. Ele sabe que tem jogadores ao lado dele, que podem ajudá-lo ao trazer o hexa para o Brasil, mas também sabe que o título passa por um grande desempenho individual dele. É a seleção que, nos últimos anos, chega mais preparada para ser campeã. Está preparada, mas se vai ser, aí é outra história. 

Avaliando friamente a seleção de jogadores para esta Copa, o que diriam sobre os selecionados? Apostariam em alguns nomes específicos?

JUNIOR: Continuo achando que os garotos e que poderão fazer a diferença, pois praticamente são protagonistas em suas equipes. Vejo que será uma Copa do jogo coletivo!

ROGER: Foi uma convocação que já era esperada, dentro do que ele convocou durante o ciclo, apontar, sem dúvida nenhuma, o Neymar é o nosso grande gênio, mas a gente tem o Vinicius Jr, tem o Rafinha, temos na defesa, o Marquinho, que vive grande fase, Casemiro, que é o nosso pilar do meio de campo, e o temos o Alisson, que é um ótimo goleiro.

GRAFITE: Passa muito pelo Neymar, mas não depende exclusivamente dele, mas tem jogadores ao lado dele que podem ser mais decisivos do que outros foram em outras Copas, como Vinicius Jr, Rafinha, Antony, Richarlison, Pedro, que pode ganhar a titularidade durante a Copa. A gente tem histórico de jogadores que não começam jogando e terminam como titulares. Então, é um grupo bem homogêneo, muito forte. Ainda têm o Casemiro e Fred, jogadores de qualidade que ajudam na marcação, e laterais fortes, consistentes. Mas, individualmente, Neymar é o carro-chefe. Não tem como fugir.

Vocês já participaram de situações como estas e como fica a cobrança pessoal por um bom desempenho? Como administrar as expectativas criadas por parte do público, do técnico e de vocês mesmos?

JUNIOR: A Seleção Brasileira será sempre favorita em qualquer situação e quem veste a camisa tem que estar preparado para as cobranças. Quando se chega a Copa em ótimas condições naturalmente a confiança aumenta.

ROGER: Sem dúvida nenhuma, a pressão é muito grande, mas atletas desse nível, que são convocados para uma Copa do Mundo, vivem essa pressão diariamente nos seus clubes. Eles jogam em clubes gigantes e essa pressão não vem só de dentro, vem de fora. E eu acho que uma boa estratégia é se blindar ao máximo em relação a isso, não ficar lendo comentários de redes sociais, não ficar vendo noticiário esportivo sobre o que aconteceu ou deixou de acontecer, as previsões que todos os analistas fazem, principalmente, no Brasil que tem muitos e muitos “técnicos”… entender e ter autocrítica e a cada fim de jogo, saber o que é que fez de bom e de errado, o que pode melhorar e, obviamente conversar com a comissão técnica e saber a avaliação daquele que comanda.

GRAFITE: Tem que ter uma boa cabeça, uma boa concentração, vai ser em torno de 40 dias de preparação e foco total. Só pensar nisso. Você não carrega só os sonhos seus. Os jogadores têm seus sonhos individuais e coletivos, é uma marca histórica ser campeão do mundo pela seleção, e 26 jogadores vão ter essa incumbência, esse trabalho. Mas você não está representando só os seus familiares ou amigos seus, você está representando mais de 210 milhões de pessoas. É preciso manter o equilíbrio e ter discernimento que, em Copa do Mundo, tudo pode acontecer.

Para vocês qual o maior desafio de um jogador para encarar uma Copa do Mundo?

JUNIOR: Fora a parte técnica e física, a parte mental é muito importante em função da pressão da imprensa e, sobretudo dos torcedores que não admitem outro resultado que não seja o título.

ROGER: Eu acho que o maior desafio é se manter em alto nível, ter uma consistência de carreira muito alta, principalmente, um jogador de seleção brasileira, onde a concorrência é muito grande, qualquer vacilo, qualquer escorregão, qualquer meia temporada que você não vá bem, qualquer lesão, você corre o risco de perder sua vaga, porque tem outro, praticamente, no mesmo nível buscando também estar na seleção, buscando jogar uma Copa do Mundo. Uma carreira de atleta de futebol de 15 anos, de altíssimo nível, é muito, muito difícil, ainda mais pela concorrência. 

GRAFITE: O desafio é se concentrar apenas naquilo, procurar deixar o extracampo de lado.

Aquela clássica pergunta de Copa… Qual marcou sua vida e por quê?

JUNIOR: Sem dúvida a Copa de 1982 deixou não só para mim, mas para todos que gostam de futebol um legado que mesmo não vencendo até hoje continua sendo depois de 40 anos motivo de encantamento das pessoas.

ROGER: Sem dúvida, a Copa do Mundo que me marcou é a Copa de 1986. Minha primeira Copa assistindo, entendendo, gostando, amando futebol. Eu tinha 8 anos e me apaixonei por aquela seleção brasileira, como ela jogava, o drama da desclassificação contra a França, o pênalti perdido pelo Zico, depois o pênalti que nos tira, que o francês bate na trave, pega nas costas do nosso goleiro e entra. Isso tudo marcou demais a minha memória. É a primeira Copa que eu torci, me envolvi, era criança, tinha a questão do lúdico.

GRAFITE: A de 1986, como torcedor, eu tinha 7 anos na época. Eu me lembro indo na missa de domingo com a minha mãe e de sair escondido para comprar na banca de jornal o chiclete, que vinha com figurinhas da Copa. É interessante ter a primeira frustração na disputa por pênaltis. Mas, como jogador, a de 2010, não tem como escapar disso, eu tive o prazer e a responsabilidade de estar entre os jogadores selecionados para jogar aquela Copa. É o grande momento Copa pra mim.

E que momento marcaria a trajetória de vocês em campo?

JUNIOR: Em Copa do Mundo o momento marcante é e será sempre o título.

ROGER: Eu gosto sempre dos primeiros, quando é muito jovem, quando você é escolhido e você consegue. Eu volto a 1999, quando o Fluminense passava por muitas dificuldades, e eu era um jovem de 20 anos, e tinha o desafio de carregar aquele time e trazer e levar de volta à primeira divisão do campeonato brasileiro. Esse ano pra mim foi especial com aquele título, com aqueles dois gols na final. E, obviamente, as convocações para a seleção brasileira, disputar uma olimpíada. Esses são os momentos mais marcantes pra mim.

GRAFITE: Na Copa de 2010,  foi ter entrado com 6 minutos do jogo contra Portugal.

Dos campos para a TV, como foi o início como comentarista de TV? Quais os desafios nessa função?

JUNIOR: Quando estava na Itália já comecei a fazer comentários em alguns jogos da Copa UEFA, e tive um programa na TV em Pescara que me deu uma base boa pra entender como funcionam as coisas em televisão. Desafio maior por mais que você seja identificado com um clube, criar um discurso imparcial durante os  comentários em jogos e programas.

ROGER: Eu jogava no Catar, e a seleção brasileira foi fazer um jogo lá, contra a Inglaterra, se eu não me engano. Eu já conhecia o Galvão Bueno, já tinha participado do Bem Amigos, e ele foi pra lá sozinho, sem comentaristas, que participariam via estúdio, do Brasil. E ele tinha marcado fazer comigo uma matéria para o quadro dele ‘Na Estrada’, do ‘Esporte Espetacular’, daí, depois ele me convidou. E a gente fez, foi legal. Tinha um diretor que me elogiou, pensa nisso. Daí fiquei mais um ano no Catar, joguei mais três anos no Cruzeiro, e aquilo foi amadurecendo na minha cabeça. E eu cheguei a fazer Jornalismo, fiz um ano, mas com as viagens, concentração, não consegui terminar. E aí, avisei ao pessoal da Globo que eu tinha interesse, e ai fiz alguns jogos como experiência. E fui contratado em janeiro de 2013, mas trabalho comentarista desde meados de 2012. 

GRAFITE: Foi muito por acaso. Eu tava jogando ainda, final de 2016, o Thiago Medeiros, apresentador do Globo Esporte sempre comentava comigo que eu podia virar comentarista quando parasse de jogar porque eu falava bem, me expressava bem, tinha bom vocabulário. E quando eu parei no final de 2017, eu recebi o convite para comentar no começo de 2018, alguns jogos do Campeonato Pernambucano e da Copa do Brasil, pela Globo Recife. Ao longo desses quatro anos, eu evolui e aprendi bastante também, até com o preparo que a Globo me proporcionou de estudar e fazer aula de fono, fazer os programas piloto. O grande desafio é ter discernimento é saber criticar, mas numa crítica construtiva porque você está lidando com a carreira do jogador e também os familiares que estão assistindo. Quando você faz uma critica com maldade, essas pessoas sentem também.

O que o futebol fez por vocês que marcou para sempre?

JUNIOR: O futebol me ensinou desde os 13 anos a viver em coletividade, ser disciplinado e principalmente não desistir nunca dos objetivos.

ROGER: O futebol fez quase tudo na nossa vida. Eu falo nossa, porque a gente carrega muitas pessoas por trás, a gente vem de família humilde, de uma vida com bastante dificuldade, quando a gente passa pelo funil da vida, gera-se uma grande expectativa de vida. Mas mais do que isso, o futebol me educou. Desde os seis anos de idade, jogando futebol, treinando todo dia, tendo que ser obediente, tendo disciplina. O futebol me moldou como homem. Você sai de criança, adolescente, jovem, adulto, tendo que tomar decisões importantes e o futebol te traz isso. Esse é o legado mais importante de ser uma pessoa do bem, que respeita as pessoas, os concorrentes, mas sempre com o máximo respeito pelos adversários que estão disputando com você.

GRAFITE: O futebol me deu oportunidade de conhecer minha esposa, de formar uma família, de conhecer outras culturas, outros países, de realizar sonhos, de jogar no clube do meu coração, o São Paulo, de defender a seleção brasileira, de atuar no futebol europeu, de ter uma carreira sólida, consistente, de sucesso, me deu oportunidade de ser jogador profissional. Mas é claro que muita coisa eu trago da criança que eu tive dos meus pais, tive uma boa estrutura familiar. Mas o futebol me deu condições de ser o que eu sou hoje.

Qual a maior vaidade como atleta que um jogador pode ter?

JUNIOR: Aprendi com meus treinadores que a vaidade poderia atrapalhar minha carreira, e que humildade e sabedoria seriam importantes na caminhada.

ROGER: Acho que todo mundo deveria ter vaidade, dentro de um pequeno limite. Quando você ultrapassa esse limite, fica bem ruim. Conviver com uma pessoa muito vaidosa não é uma coisa muito boa. E a vaidade te consome, te atrapalha, te deixa cego e faz com que você não enxergue o que está em volta de você e isso é muito perigoso na vida de qualquer pessoa, principalmente, na carreira de um atleta, que é muito visado. A maior vaidade que um jogador pode ter é se achar melhor do que os outros, como pessoa, como ser humano. E todos são iguais. Você pode ter o maior talento do mundo, você pode ser, dentro do campo, a grande estrela, mas a partir do momento que acaba o jogo, você é igual a qualquer outro. Você não pode achar que, na vida, é melhor do que alguém. E ter comportamentos desse tipo.

GRAFITE: Num esporte de alto desempenho, onde a concorrência é muito grande, onde o funil é muito estreito quando você chega num âmbito profissional. Quando você tem sucesso, quando começa a ganhar dinheiro, a vaidade é muito ruim, mesmo eu que tive uma base, por um momento, me deslumbrei. Achei que eu era o cara. Quando você é melhor em alguns aspectos, você se sente superior. Isso vai do jogador saber dosar e ter pessoas leais ao lado, que não vão passar a mão na sua cabeça e que vão te falar a verdade, que te apoiam, mas que vão saber fazer uma critica construtiva.

O que diriam de dica ou conselho a futuros jogadores?

JUNIOR: Os jogadores hoje são obrigados a amadurecer muito mais cedo, pois as carreiras começam mais cedo. A formação familiar é pra mim de uma importância muito grande em qualquer circunstância, ter um staff sempre atento às coisas extracampo para que se preocupem somente com as quatro linhas!

ROGER: Muito treinamento, muita disciplina, abdicar de muitas coisas boas da fases de jovem, seguir os mandamentos dos pais, porque eles vão sempre querer o bem deles, e estudar também.

GRAFITE: Estudem. A gente sabe que é muito difícil conciliar o estudo com o treinamento, principalmente, entre os jovens das divisões de base. Mas é muito importante para os futuros jogadores não saírem da escola, manterem seu tempo de brincar, de serem crianças.

Planos, o que planejam para um futuro próximo?

JUNIOR: Dentro do trabalho sempre buscar melhorar em todos os sentidos o

Conteúdo que passo aos telespectadores.

ROGER: Meus planos de futuro deixaram de existir depois que meu filho nasceu. Vou ser guiado pelos planos dele. Onde ele estiver eu vou querer estar junto, vou querer ajudar ele a realizar os sonhos deles.

GRAFITE: O futuro a Deus pertence. Estou muito feliz de participar da cobertura dessa Copa do Mundo, e quero fazer o melhor trabalho possível nesses próximos 30 dias. Tenho projetos para o futuro, trabalhos não só dentro da TV, num engajamento contra a discriminação. 

Aos olhos de vocês, quais as reais chances do Brasil trazer essa Taça?

JUNIOR: Vejo que diferente da Copa da Rússia, treinador e jogadores que participaram estão mais experiente, além principalmente minha confiança vai para os jovens que poderão ser os grandes protagonistas da Seleção Brasileira.

ROGER: As chances são grandes. A seleção está entre as melhores, sem dúvida nenhuma. Temos ai 7, 8 seleções de altíssimo nível. Não me surpreenderia nada se a seleção saísse campeã, mas também, não me surpreenderia se sair nas quartas-de-final, por causa do nível das outras seleções. Está muito aberta essa Copa do Mundo.

GRAFITE: Agora, dos últimos anos, é a seleção que chega mais preparada. O Tite levou os melhores jogadores, que tinha a sua disposição no momento.

Fotos Márcio Farias

Assistente de fotografia Bruno Castro

Direção Sara Paixão e Louback