Nos dias de hoje ganhar representatividade significa muita coisa além de apenas uma realização profissional. O jovem carioca Pedro Henrique, de apenas 15 anos, um adolescente negro, gay e morador da Zona Oeste do Rio, atraiu todos os holofotes quando celebrou seus 15 anos com uma grande festa no Copacabana Palace. O que gerou grande repercussão e fez com que o jovem ganhasse notoriedade. Filho de um empresário baiano e uma psicopedagoga, fiel defensora da educação através do amor, Pedro cresceu num ambiente majoritariamente branco, estuda numa escola internacional e de elite do RJ e sonha em trabalhar com moda. Juntamente com sua irmã Madu, que produziu este ensaio, Pedro conversou com a MENSCH.
Pedro você foi o primeiro menino a fazer uma festa de 15 anos no tradicional Copacabana Palace, e a sua festa teve uma grande repercussão, você esperava tudo isso? Eu não esperava (risos)… Na verdade, fiquei até surpreso quando recebi a proposta de fazer entrevista para a imprensa. No começo, tudo foi um grande choque de realidade, já que antes eu era muito low profile. Mas hoje sou muito grato pela repercussão que teve, porque acredito que abre espaço para que a sociedade tornasse possível ver pessoas como eu neste lugar de representatividade.
Você tem só 15 anos, é jovem, negro e representa adolescentes que muitas vezes não tem a mesma chance que você, a maioria das vezes pelo poder aquisitivo. O que você diria para eles? O que eu posso falar para eles é que por mais que a sociedade não olhe para você e tenha dificuldade de lidar com as diferenças, faça ela te olhar trazendo personalidade e empoderamento, assim como eu fiz. Tornei um momento pessoal (minha festa de 15) em um evento de conhecimento público por um único motivo, mostrar que pessoas como nós (pretos, gays e afeminados) podem sim ocupar espaços de representatividade na sociedade, como no clássico Copacabana Palace, sem termos medo de ser quem somos e para erguermos a cabeça para podermos ocupar cada vez mais espaços visibilidade social. Mas saibam que existem muitas formas de fazer visível nossa autenticidade e existência, então, celebre a sua vida da maneira que lhe for possível. Se orgulhe de quem você é.
Quais seus planos para o futuro? Pretende seguir carreira de modelo? Tenho ultimamente, investido na carreira de Influencer nas redes sociais como o Tik Tok. Futuramente, pretendo expandir para o Instagram, mostrando um pouco da minha vida, explorando o meu gosto nas roupas, que são umas das minhas principais formas de me expressar. Dessa forma catalogando o meu caminho na moda. Sobre a carreira de modelo, é um hobby que adoro fazer, tenho muito que aprender, pode ser que um dia me profissionalize. A única certeza que tenho é que irei trabalhar em alguma área da moda e seguir essa carreira seriamente.
Assim como você, sua irmã Maria Eduarda, é ligada à moda, e foi ela que fez o styling dessas fotos. Como é essa relação de vocês, costumam trocar muita “figurinha”? Temos uma relação de muita troca, aprendemos muito um com o outro. Brinco que ela é a minha personal stylist, vejo muito futuro nela! E sim, trocamos muitas figurinhas (risos). Sempre é um evento escolher nossos looks para sair, desde uma grande festa para uma simples ida à praia… (risos) De certa forma, juntos somos a segurança, a criatividade e a improvisação um do outro.
Vejo que são três irmãos que se interessam pelo mundo da moda, cada um com a sua especialidade. Explique um pouco sobre a importância da família para vocês e como vocês se apoiam na vida pessoal e profissional? A família é um pilar fundamental em nossas vidas, tanto pessoal quanto profissionalmente. Para nós, ser uma família envolvida no mundo da moda significa ter um suporte contínuo e uma rede de apoio sólida. Cada um de nós traz uma especialidade única para a mesa, o que nos permite complementar e enriquecer o trabalho um do outro. João traz a organização e a disciplina, assim como os insights de marketing, Madu acrescenta no styling, na consciência social e política da moda e eu represento o trabalho dos dois, tornando visível o que produzimos juntos. Em resumo, a importância da família em nossas vidas é imensa. O apoio mútuo e a colaboração constante são elementos chave que nos permitem prosperar tanto pessoalmente quanto profissionalmente. Trabalhar juntos como irmãos nos dá uma vantagem única no mundo competitivo da moda, pois estamos unidos por um laço indissolúvel e por um objetivo comum: deixar nossa marca na indústria da moda.
Madu, como está sendo essa experiência de estudar moda em Milão? Vocês possuem algum plano de trabalharem juntos? Há tempo desejava fazer esse curso no Instituto Marangoni em Milão, buscando um aprimoramento profissional e está sendo bem interessante ancorar tecnicamente aquilo que venho fazendo intuitivamente. Moda é um meio muito prático, mas acredito na importância de termos uma base e estudos embasando tudo que fazemos. Tenho aprendido muito sobre esse mundo aqui e espero poder dividir esse conhecimento através do refinamento do meu olhar nas minhas próximas produções. Já trabalhamos juntos! E quando vamos em eventos de moda somos conhecidos pela sintonia e conexão familiar. Com o Pedro já ajudei a produzir alguns projetos relacionados a moda. Também fiz o styling dele na sua collab com a alta joalheria Dassa Danna (inclusive vem projetos novos vindo aí!). Já com o João, trabalho como stylist dentro de um projeto da empresa de alta qualidade Santos Sneakers, sua loja de sneakers (tênis).
O que deseja mostrar da moda nesse photoshoot que realizou junto ao seu irmão? Quero retratar a rica herança cultural da Bahia, enraizada na ancestralidade africana e dos povos originários, com o objetivo de mostrar como essa cultura ajudou a formar o que chamamos de Brasil hoje em dia. Quero fazer visível o valor da minha cultura ancestral e acredito que através da moda poderei trazer mais visibilidade e representatividade. Desejo oportunizar que outros também possam encontrar os seus lugares de existência e resistência. O desafio é misturar a singularidade no coletividade e a coletividade na singularidade, ou seja, poder encontrar nossa singularidade em um coletivo e poder fazer de um coletivo um lugar de singularidades.
Quais foram suas fontes de inspiração para criar looks e seguir tendências? Acredito que o Brasil com sua diversidade de biomas naturais e sua potência artesanal possa trazer grande contribuição para o mundo da moda, dentro de uma visão de sustentabilidade e responsabilidade social. Nesse photoshoot fiz um mergulho na minha ancestralidade africana e tudo que ela representa na formação da minha identidade. Ele foi inspirado na minha raiz familiar inserida na pluralidade brasileira. Destaco a diversidade e a beleza da Bahia, como um tesouro precioso que guardo com orgulho, pois é a minha fonte de força e inspiração. Sendo uma mulher negra em um país que teve uma história escravocrata durante séculos, desejo mostrar como a cultura africana é importante e tem grande influência na identidade brasileira.
Fotos @sabrinavasconcelosphotos
Styling @madumoraes_
Beleza @pehmoraes
Assessoria @firstpress_comunicacao