CARREIRA: SAULO MENEGHETTI E SUA ARTE

Natural de Chapecó, Santa Catarina, Saulo Meneghetti, de 37 anos, nunca teve dúvidas que as artes seriam a sua forma de realização profissional. Obstinado e sem medos de encarar novos desafios, Saulo sempre respirou e transpirou arte de várias formas. Das artes plásticas ao trabalho como ator, Saulo supera seus limites e surpreende quem o ver e assiste aos seus trabalhos. “A arte pra mim vai muito mais além do que apenas uma forma de expressão, é minha forma de pulsar, é também uma forma de me conectar com minha fé”, declarou Saulo ao longo dessa entrevista para MENSCH.

Saulo, o fato de não ter nenhum artista na sua família dificultou você a enveredar pela arte? Sem dúvidas, embora eu desde muito novo já demonstrava interesse em seguir pela arte, eu vinha de um universo totalmente distante disso, nenhum artista na família, morava em uma cidade do interior de Santa Catarina que nem teatro tinha. Nunca tive dúvidas quanto a buscar a arte, mas o processo foi bem mais difícil. Quando decidi mudar para SP para me aperfeiçoar como artista eu não conhecia ninguém, não conhecia a cidade, não tinha contatos de trabalho nem amizades, foi um período de muita luta e crescimento, tenho consciência de que esse processo foi muito importante para mim, como artista, mas também como ser humano.

Quem nasceu primeiro, o artista plástico ou o ator Saulo Meneghetti? Ambos se encontraram no mesmo período, desde os dois anos de idade eu já dizia que seria ator, brincava de reproduzir cenas de novelas e filmes, não me interessava em assistir programação infantil, mas não perdia o programa Vídeo Show, amava ver os bastidores das gravações e me imaginava ali. No mesmo período me interessei por desenhos e pinturas e arquitetos e artistas plásticos amigos dos meus pais, que frequentavam nossa casa, perceberam, segundo eles, que eu tinha talento fora do comum para a minha idade, então passaram incentivar levando material de pintura, nunca mais parei.

Em 2021 você se tornou artista exclusivo da marca portuguesa Raiz em Lisboa, sediada em Portugal. Como surgiu essa parceria e o que representa para você? O projeto encerrou antes do previsto, por questões éticas, não entrarei em detalhes. No entanto, estou com novos projetos e convites para expor meu trabalho de artes plásticas no exterior, com profissionais que admiro e também projetos com arquitetos aqui no Brasil.

E como surgiu a ideia de criar o primeiro apartamento conceito do mundo com obras de arte exclusivas para o espaço? Qual a ideia desse projeto para o futuro? Eu já idealizava em minha cabeça esse projeto desde a minha adolescência, pensava um dia colocarei em prática. Não tinha pretensão que fosse nesse momento, aconteceu. Eu estava escalado para uma novela e veio a pandemia, as gravações foram canceladas e a novela engavetada por tempo indeterminado, minha amiga Jacqueline, que virou minha sócia, estava com viagem pra Europa marcada, iria morar lá um tempo, também cancelou com a pandemia. Um dia estávamos conversando e falei sobre esse projeto e ela disse, e porque não? Aproveitamos esse período de pandemia para colocar em prática. O espaço chama Casa di Corallo, é o primeiro apartamento conceito do mundo, onde nele tudo está à venda, desde a xícara do cafezinho que o cliente toma até os lustres, por exemplo.

O projeto consiste em um apartamento inteiro decorado, com peças de antiquários, mobiliário assinado, peças de garimpos, obras de arte, objetos de corações, e nos armários roupas de estilistas nacionais que estejam voltados à moda consciente. Os clientes são recebidos com horário marcado, como visitas, para desfrutarem da experiência sensorial que é o espaço. Também disponibilizamos de agendamento para reuniões e, por exemplo, por algum motivo a pessoa não pode receber suas visitas em sua casa, pode agendar para recebê-las na Corallo, a experiência inclui culinária e bebidas do agrado do anfitrião do momento. Desejamos manter esse projeto exclusivo e quem sabe disponibiliza-lo para outros estados também. Nos últimos dois anos a Casa di Corallo participou da Casa Cor SP e Casa Cor Paraná.

O que é arte para você? Como ela te toca? A arte pra mim vai muito mais além do que apenas uma forma de expressão, é minha forma de pulsar, é também uma forma de me conectar com minha fé.

Indo para os palcos, você já participou de teatro musical pela Escola de Atores Wolf Maya. Como foi a experiência? Gostaria de repetir? Além de teatro sou formado em teatro musical, embora só tenha conseguido subir aos palcos com musicais no início da carreira, é uma vertente da arte que me atrai muito, no entanto nesse momento da minha vida não me vejo participando de espetáculos musicais, pois requer muito tempo para os ensaios que são mais intensos, cada espetáculo musical que participei levou em torno de sete meses de ensaios. Já com a TV, as novelas, eu consigo conciliar outros projetos, como séries, filmes, publicidade e até teatro.

Como ator o que mais marcou sua trajetória até aqui? Qual o maior desafio? Me vejo muito realizado profissionalmente, tenho sorte como artista de ter podido interpretar personagens muito diferentes um dos outros, nunca fiquei rotulado a um estereótipo. Todos eles foram marcantes para mim porque fizeram parte da minha trajetória e evolução como artista e pessoa, cada um deles trouxe suas dificuldades, o Chris Armani de Carrossel tinha uma veia cômica e o desafio foi não ser caricato por ser um personagem gay, o Charles de Alencastro em Escrava Mãe era um galã revolucionário, o desafio era não ficar preso nisso de galã, era fazer com que as suas lutas fossem maiores que qualquer outro apelo que o personagem trouxesse, o Oziel de O Rico e Lázaro era o alívio cômico da trama, o desafio era a graça ser espontânea, Hananias de Lia era vilao, abusador, tinha uma questão importante social a ser abordada com cuidado, Lúcio do Guardião era um serial Killer, ao mesmo tempo ele tinha um conflito com o lado bom dele, um baita desafio dosar essa bipolaridade. A beleza de atuar é isso, os desafios de representar outras vidas.

Sua participação no filme Cromossomo 21 lhe rendeu prêmios em alguns festivais de cinema pelo mundo. Esperava por isso ou foi pego de surpresa? O projeto era lindo e fiquei lisonjeado com o convite, mas em nenhum momento imaginei o sucesso que seria esse filme, nem os prêmios que traria. Na época foi bem corrido para mim, eu estava gravando uma novela e nas folgas viajava para Porto Alegre para gravar as cenas do filme, não consegui comparecer em alguns países para as premiações, mas saber das indicações, das vitórias e principalmente da importância desse tema ser abordado me trouxe uma satisfação imensa.

Seu último trabalho na teledramaturgia foi em Lia – Heróis da Fé, minissérie na qual interpretou o vilão Hananias. Já tinha feito um vilão? Foi divertido? O que ficou de marcante desse trabalho? Esse foi meu terceiro vilão, sem dúvidas Hananias foi diferente dos demais personagens que interpretei, eu conseguia de alguma forma ver alguma característica deles em mim, mas nele eu não reconhecia nada, ele sentia prazer em ser ruim, em demonstrar o poder sobre os outros, foi um desafio interessante e o ator sempre se diverte e se realiza interpretando vilões, a gente explora outros lados, transita por eles, pode ir até o politicamente incorreto e voltar. O que marcou bastante foi o ambiente de trabalho, foi muito leve, estávamos muito unidos todo o elenco, tudo fluía de forma tranquila, todos os atores ou eram também músicos ou cantores, os camarins e bastidores eram repletos de música, nos reuníamos o tempo todo para cantar.

Você é um cara muito ligado em moda? Qual seu estilo? Sempre tive uma ligação forte com a moda, antes mesmo de trabalhar como modelo, lembro que na adolescência eu ficava incomodado com a mesmice das lojas e então criava minha roupas e mandar fazer, garimpava também roupas no closet do meu avô, tingia meus tênis para ter de cores diferentes, sempre achei importante me expressar com a forma que eu me visto. Essa ligação com a moda continua, no entanto hoje em dia me vejo e consumo a moda de forma consciente, me preocupo com o fato da indústria da moda ser a segunda mais poluente do mundo. Hoje em dia eu dou preferência a marcas e estilistas com essa mesma preocupação ambiental e também a peças de brechós, acho chique você dar uma nova oportunidade para a moda, ressignificar a roupa. Não me prendo a um único estilo, vou transitando pela moda conforme meu momento.

Como lida com a vaidade? No geral, lido com a vaidade e com minha imagem de uma forma bastante saudável, não sou adepto aos exageros estéticos, bem pelo contrário, tenho curtido a forma com que estou envelhecendo, como ator eu gosto e acho importante ter marcas de expressão. Acho que estou melhor hoje do que quando era mais jovem, hoje tenho uma consciência maior em relação ao meu corpo e gosto disso, minha vaidade se volta mais para estar bem apresentável, uma roupa confortável que eu sinta que me valorize, me arrumar de forma que valorize meus pontos positivos, estar cheiroso, não abro mão de um bom perfume e filtro solar. Não sou adepto a cremes e demais cosméticos.

Hora de relaxar, o que mais curte fazer? Eu sou muito caseiro e reservado, amo curtir cada canto da minha casa, receber minha família, ficar na companhia dos meus cachorros e plantas. Tenho uma grande quantidade de plantas que para mim é uma terapia cuidar. Tenho um ateliê em casa onde aproveito para pintar e criar novos projetos, uma biblioteca onde gosto de estudar meus textos e cenas e escrever. Gosto bastante desse sossego e paz que encontro longe dos holofotes.

Fotos Danilo Borges

Styling Leandro Bernardes Rabelo

Assist. Styling André Bazan

Beleza Leloota

Cabelo Catia Marques

Créditos de moda: LOOK 1: jaqueta @levis, chapéu @cassiacipriano_chapelaria, camisa @docthos, anéis geométricos @jilojoias, acessórios acervo pessoal; LOOK 2: colete @fabrizioallur, camiseta @aversao, calça @dodalfaiataria, colar @victorhugomattos, jaqueta @burberry, aneis acervo pessoal; LOOK 3: lenço @chanel, anéis @jilojoias, bota @cnsonline, calça @renner, jaqueta @levis, casaco @oskley, moicano de penas acervo pessoal.