Praticamente 25 anos depois o Auto da Compadecida 2 traz de volta a dupla mais querida do cinema brasileiro: João Grilo e Chicó, interpretados pelos atores Matheus Nachtergaele e Selton Mello. Nós assistimos em primeira mão na cabine de imprensa e o que podemos dizer é que o filme segue o mesmo nível do primeiro. A continuação cumpre com o que promete e diverte, emociona e surpreende mais uma vez. A amizade de João Grilo e Chicó é o fio condutor da história e Guel Arraes destaca a sintonia dos atores Matheus Nachtergaele e Selton Mello na vida real. “Só existe brilho em uma dupla quando eles são generosos um com o outro. A amizade dos personagens é o grande tema, é o valor maior desse filme”, afirma Guel Arraes, que também assina o roteiro ao lado de João Falcão, com colaboração de Adriana Falcão e de Jorge Furtado.
Durante a coletiva de imprensa que aconteceu em Recife na tarde desta quarta-feira (11), pode-se perceber que esse fio condutor que existe entre os personagens existe na vida real. Segundo Selton comentou com a MENSCH, foi curioso pois ele e Matheus não se conheciam quando na época do primeiro filme Guel os convidou para interpretar a famosa dupla. Para Matheus o reencontro com Selton tanto tempo depois foi como surpreendentemente dentro da mesma energia e empolgação que os dois personagens sempre tiveram. Bastou vestir as roupas dos personagens e João Grilo e Chicó estão presentes.
O filme dirigido por Flávia Lacerda e Guel Arraes, se passa vinte anos depois da primeira história e mostra a pacata rotina de Chicó (Selton Mello) na mítica cidade de Taperoá, no sertão nordestino. Agora, ele vive da venda de santinhos esculpidos em madeira e conta a história da ressurreição de João Grilo. Seu grande amigo não dá notícias há duas décadas e Chicó acha que ele morreu novamente. Mas eis que João Grilo reaparece vivinho da silva e cheio de planos mirabolantes, que vão virar a cidade de cabeça para baixo.
Rosinha, interpretada por Virginia Cavendish, surge como uma mulher moderna e independente. Já Chicó torna-se o narrador da história. Neste contexto, novos temas foram incorporados na trama, como a “adoração” a celebridades. Em uma sociedade em que todos almejam alguns minutos de fama, João Grilo não fica de fora dessa. “Ele era o cara mais anônimo do Brasil, e agora vira uma celebridade em Taperoá, o que é uma subversão enorme”, aponta Guel.
NOVOS PERSONAGENS E ATORES
Na continuação do clássico, novos atores chegam ao elenco. Taís Araujo é a Compadecida, personagem interpretada por Fernanda Montenegro no primeiro filme. Humberto Martins é Coronel Ernani, um fazendeiro influente, que almeja o cargo de prefeito. Eduardo Sterblitch chega como Arlindo, poderoso dono da única rádio da cidade de Taperoá. Conhecido pela esperteza nos negócios, ele tentará se aproveitar da ingenuidade da dupla para conquistar ainda mais poder. Enrique Diaz retorna como Joaquim Brejeiro que, após a morte de Severino (cangaceiro interpretado por Marco Nanini no primeiro filme), encontra trabalho nas terras do Coronel.
Fabíula Nascimento interpreta Clarabela, filha do Coronel Ernani. Ela retorna da capital para passar uma temporada em Taperoá. Apaixonada por artes plásticas e por atuação, Clarabela se interessa pelo jeito simples e ingênuo de Chicó. Outra figura chega da cidade grande para agitar Taperoá: o carioca Antônio do Amor, interpretado por Luis Miranda. Ele recorre à criatividade e ao improviso para conseguir alguns bicos e serviços informais, sempre com muita malandragem.
A ideia de realizar o filme surgiu em 2019. Guel Arraes tinha como objetivo apresentar personagens com ambições e dilemas com que o público pudesse se identificar hoje. “Nossa missão foi construir uma narrativa coerente com os dias atuais, assim como o livro do primeiro Auto foi para o Brasil dos anos de 1955, quando foi publicado”, afirma.
Autor da peça “O Auto da Compadecida”, o dramaturgo e filósofo Ariano Suassuna (1927-2014) era fã do primeiro filme. Após a autorização entusiasmada da família do autor para realizar a continuação, os roteiristas foram capazes de construir uma nova história inserindo a mesma comicidade crítica utilizada por Ariano no original. Com bom humor, o roteiro expõe as marcas de um Brasil que ainda não superou questões sociais profundas, ao mesmo tempo em que apresenta para os heróis nordestinos soluções baseadas na astúcia e na fé.
A trilha sonora original de João Falcão e Ricco Viana é um dos pontos de destaque da nova produção. A Compadecida, interpretada por Taís Araujo, ganhou a canção “Fiadeira”, na voz da icônica Maria Bethânia. No total, serão 19 canções interpretadas por artistas como Juliana Linhares, Marcelo Mimoso, Ana Barroso, Fatel e outros.
NOVAS OUSADIAS VISUAIS
Todo filmado em estúdio, a trama de “O Auto da Compadecida 2” se passa em uma Taperoá mítica e a tecnologia chega para dar suporte à escolha artística na criação de um nordeste fantástico. O LED oferece a possibilidade de reconstrução de um Brasil mítico dos anos de 1950. Com cenários de uma paisagem preservada, a atmosfera de fábula prevalece, conferindo ainda mais fidelidade ao universo de Ariano Suassuna. Segundo Guel, a ideia era de trazer de certa forma o teatro para as salas de cinema.
“Esta é uma Taperoá estilizada para contar uma história descolada do realismo. É como uma cidade do imaginário de Ariano Suassuna”, afirma Flávia. Guel acrescenta: “A gente quis criar uma cidade que não existe mais. O uso do LED vem com uma pesquisa detalhada para reconstruir essa cidade nordestina do Ariano”.
“O Auto da Compadecida 2” tem produção da Conspiração e da H2O Produções. A coprodução é da Claro, com patrocínios master do Instituto Cultural Vale e da Brahma, e patrocínios da Santa Helena, do Itaú Unibanco, TikTok, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura e Emiliano, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Lei do ISS. A distribuição é da H2O Films.
Fotos Bruno Maia