Por HILAINE YCCOUB
Uma das empresas que teve mais destaque no campo do conhecimento nos últimos anos foi o TED (Tecnologia, Entretenimento, Design). Fundada nos anos 80, a empresa sem fins lucrativos dissemina ideias através da Internet. Uma das palestras mais famosas promovidas pelo TED trata da importância da desconstrução dos estereótipos.
Durante quase 20 minutos, a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie falou da experiência de pertencimento a um grupo estereotipado, o que ela denomina “o perigo da história única”. O que chama atenção é o relato objetivo sobre como estamos sempre envolvidos em formas preconceituosas de ver e classificar o que está a nossa volta, principalmente o mundo que não conhecemos. Tendemos a olhar negativamente as experiências e construir para nós mesmos armadilhas.
A escritora se deu conta disso ao chegar nos Estados Unidos e ter contato com sua colega de quarto americana que, diante do “exotismo” de Chimamanda, começou a tentar aproximação de forma equivocada. Primeiramente indagou sobre como ela havia aprendido a falar tão bem o inglês (sendo que esta é a língua oficial da Nigéria). Depois, perguntou se ela sabia usar o fogão (porque tomou como princípio que ela nunca havia tido contato com um) e, por último, perguntou qual era sua música “tribal” favorita e se decepcionou assim que Chimamanda entregou a fita da Mariah Carey.
A nigeriana chega à conclusão de que sua colega de quarto sentiu pena dela antes mesmo de enxergá-la. Ela tinha uma única história sobre a África, uma visão estereotipada que assume a impossibilidade de africanos serem parecidos com ela – americana – ou de possuírem as mesmas referências de gosto, de consumo etc.
Em um exercício de relativização, ela nos ensina que precisamos de mais critérios para entender situações que nos são desconhecidos. Afirma, por fim, que o problema de lidar com os estereótipos não é que eles não existam, é que eles são incompletos. A realidade, observada de perto, é sempre mais complexa do que qualquer rótulo.
A crise está a nossa volta, é fato. Estamos vivendo dificuldades de grandes proporções, os números estão aí para comprovar essa realidade, mas podemos aumentar essa medida de acordo com a lente que usamos. Quando lidamos com visões únicas, tomamos como certezas crenças repletas de distorções. Nossa mensagem para o começo de 2020 é que a gente possa enxergar para além dos números e índices, e se de fato temos uma grande fortaleza como seres humanos é a capacidade de nos reinventar, adaptar, garantir conservação. Meu desejo para essa nova década que se inicia é que possamos ter uma visão mais ampla e menos determinista, que as histórias sejam plurais e não únicas.