Texto / Fotos Fernando Russo
Palco recente de um dos piores conflitos da atualidade a região dos Balcãs se abre novamente aos turistas em um roteiro que combina paisagens maravilhosas e experiências inesquecíveis.
Comecei minha cruzada pelos Balcãs inesperadamente por Dubrovnik no sul da Croácia. Por conta de problemas com o visto Sérvio tive que entrar pela Croácia e resolver minha situação na embaixada em Podegorica, capital de Montenegro, antes de entrar na Sérvia. Os transtornos da viagem foram rapidamente compensados pela beleza da cidade. Dubrovnik é seguramente uma das cidades mais bonitas que eu já estive. Toda fortificada e localizada na beira do mar esmeralda croata a cidade guarda uma aula de história em suas vielas medievais. Dar a volta na antiga muralha é um dos grandes atrativos da cidade e é difícil fazer o percurso sem tirar uma centena de fotos. No final da tarde a melhor pedida é subir de teleférico para a parte mais alta da cidade onde fica as ruínas de uma antiga fortaleza hoje símbolo da resistência da cidade no bombardeio de 1991. Além das marcas da guerra o forte tem hoje uma exposição interessante sobre os dias de guerra. O tom da apresentação expondo a versão croata dos fatos mostra como as feridas da guerra recente continuam abertas. Aproveite a vista maravilhosa do local e o por do sol no mar com a cidade antiga de fundo.
De Dubrovnik segui em carro rumo ao sul a Montenegro. Para quem vêm da Croácia as paisagens mais incríveis da costa de Montenegro estão próximas a fronteira. O litoral abre como um fiorde ao sul do país revelando praias maravilhosas e cidades históricas pitorescas. A primeira delas é Perast que além de um vilarejo medieval bem preservado tem duas pequenas ilhas com antigos mosteiros. A vista do alto da torre da igreja é maravilhosa e o passeio fica completo com um almoço de frutos do mar a beira mar. Seguindo pela estrada a próxima cidade que vale uma visita com pernoite é Kotor. Aqui encontrei uns amigos e com a ajuda de uma agencia de viagens na praça principal alugamos um apartamento dentro da cidade antiga. Kotor tem como atrativo além da vila medieval cercada por muros uma fortaleza militar que sobe 2 km morro acima dando a cidade uma linha extra de muralha. A subida até a fortaleza é dura e tem que ser feita no final da tarde com o sol mais baixo. O esforço é compensado com o visual maravilhoso da cidade e do Fiorde. À noite Kotor ferve no verão com vários pequenos bares em suas ruelas e becos.
No dia seguinte seguimos viagem pela costa de Montenegro até Budva que seria nossa base para explorar a costa desse belo país. Budva tem um bonito centro histórico também com sua cidade murada, mas predomina no cenário a cidade moderna e a praia de Becici com bons resorts para quem quer curtir uns dias de praia no mar Adriático. O balneário é bastante turístico com grande parte dos turistas vindo da Sérvia para passar o verão. Por conta disso a cidade tem uma vida noturna interessante, mas já foi bem descaracterizada pelo turismo de massa.
Após alguns dias de praia curtindo o belo litoral Montenegrino subimos a serra rumo à fronteira com a Sérvia. O trajeto até Belgrado não é longo em distancia (cerca de 500 km), mas as pequenas estradas que atravessam as montanhas tornam a viagem lenta e demorada. O visual no caminho é espetacular principalmente cruzando as altas montanhas que dividem os dois países. Se prepare para encarar uma fila de até 4 horas para passar pela imigração Sérvia. Doze horas depois que deixamos Budva chegávamos ao povoado de Guca no interior da Sérvia onde ficaríamos alguns dias para o tradicional festival de trompetas que acontece todos os anos em Agosto. Por uma semana bandas de
trompetas de todo o país e até internacionais vem a esse pequeno vilarejo competir no festival.
A festa reúne milhares de pessoas que transformam Guca em uma versão Sérvia do Festival de Woodstock com pessoas acampando em todo o espaço disponível nos pastos ao redor da cidade. Através da agencia oficial do evento (guca.com) nos hospedamos em uma casa de uma família local que logo nos recebeu com uma tradicional dose de Raki e o café forte no estilo turco. As ruas estavam lotadas de barracas que vendiam o tradicional porco e carneiro no rolete, bandeiras e camisetas nacionalistas Servias e todo o tipo de souvenir da festa. Por todos os lados bandas desfilavam tocando para qualquer grupo que abanasse alguma nota de Dinar Sérvio. A folia se concentra na arena onde as bandas que estão competindo se apresentam, na rua principal da cidade vários bares e restaurantes ficam lotados. Outro ponto de concentração é a praça da vitória que tem uma estátua de um trompetista. Como manda a tradição todos escalam a estátua para tirar uma foto de preferência abanando a bandeira Sérvia. Para curtir bem o festival apreenda duas palavras essenciais em Sérvio: Pivo (cerveja em Sérvio) vai ser usada ao longo de toda a tarde e a noite, e Voda (água em Sérvio) será essencial para a sua sobrevivência na manhã seguinte.
Depois da minha primeira noite fui desesperado por uma água logo que acordei e os sinais que fiz me renderam uma “Pivô” quente logo de manhã. Outra dica fundamental é que vegetarianos devem passar longe de Guca. As refeições variam de porco e carneiro à kebabs e linguiças. O único vegetal que passou pelos nossos pratos quando alguém pediu uma salada foi um pouco de repolho. Eu presenciei o desespero de um casal holandês que com muito custo conseguiu em uma das barracas que o churrasqueiro prepara-se um peito de frango grelhado que antes de ir para dentro do pão foi batizado com o molhinho do leitão assado. Curta a música e a alegria das ruas com os simpáticos locais. São poucos os estrangeiros que chegam a Guca então é comum que os locais ofereçam Raki ou Pivo aos turistas em gesto de confraternização.
Terminado o fim de semana de festa seguimos para
Belgrado. A hoje alegre capital da Sérvia é testemunha da história de muitas guerras envolvendo o país. Da fortaleza medieval que marca seu centro históricos aos prédios em ruínas bombardeados pela Otan em 98 a cidade pode ser facilmente conhecida a pé. Além dos atrativos diurnos Belgrado guarda o melhor para a noite. Com o tamanho de Campinas Belgrado surpreende com uma vida noturna de dar inveja a qualquer metrópole. No verão grande parte dos restaurantes, bares e casas noturnas se concentram na beira do Rio Danúbio em balsas flutuantes.
Comece com um jantar na cidade histórica de Zenum que fica a 18 km de Belgrado e foi no passado o limite do império Austro-Hungaro enquanto Belgrado estava sob o domínio Otomano. A cidade histórica bem preservada tem ótimos restaurantes à beira do rio. Depois da meia noite siga para as balsas em frente ao antigo Hotel Iugoslavia que fica nas proximidades. Invista em uma visita ao Blay Watch que mistura música pop internacional com shows de cantores Sérvios que empolgam os locais. Por conta da vida noturna vale ficar na cidade pelo menos quatro dias. Procure pelo Hotel Mr President, um excelente hotel butique com ótimo custo benefício. Além dos quartos confortáveis o hotel oferece internet, jantar e ligações internacionais grátis.
Terminamos nossa aventura nos Balcãs em Belgrado com a certeza que voltaríamos para conhecer a Bósnia, Macêdonia e o restante da Croácia. Seguramente a região tem assunto para meses de viagem e muitas matérias.
Texto e fotos: Fernando Russo
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