Omã é o oposto de seus vizinhos no Golfo Pérsico e por isso entrou há algum tempo na minha lista de países a conhecer. Diferente do vizinho Emirados Árabes, em Omã não existem aqueles prédios modernos que figuram entre os mais altos do mundo. Na capital Muscat, os edifícios são construídos seguindo a arquitetura tradicional Islâmica. Talvez por isso as fotos que vi da cidade no século 19, expostas no interessante museu Bait al Zubair, ainda parecem muito com a Muscat do século 21. O pequeno país da península arábica, assim como os vizinhos, é um gigante do petróleo, mas sua riqueza natural e a maneira como preserva seu patrimônio histórico fazem dele um dos melhores destinos do Oriente Médio.
Começamos a nossa viagem de uma semana à Omã pela capital Muscat. A cidade é difícil de navegar sem um carro. O calor infernal que faz no Golfo Pérsico durante grande parte do ano influencia em muito o estilo de vida na capital. Aqui todos parecem ter carro, o transporte público é quase inexistente, e encher o tanque com gasolina é bem mais barato do que abastecer a geladeira com água. Por isso, o primeiro desafio em Muscat é escolher onde ficar. Meu critério principal na hora de escolher a hospedagem é sempre a localização. Gosto de me hospedar em um local que me permita conhecer boa parte das atrações da cidade a pé. Em Muscat isso não é possível. A cidade se espalha pelo litoral em uma bela faixa de praia, e conhecê-la exige alugar um carro ou utilizar o simpático serviço de taxi da cidade.
Com poucos turistas visitando Omã, é fácil encontrar um taxista disposto a fazer o papel de guia e anfitrião. Escolhemos ficar no hotel Park Radisson, que além de bem avaliado parecia ter bom custo benefício e ficava ao lado de um dos grandes shoppings, que tem bons restaurantes. Vindo do Sudeste Asiático, já prevíamos que o shopping seria uma das nossas primeiras paradas para comprar roupas adequadas para caminharmos pelas ruas. Omã é bem conservadora e a expectativa no interior, independente do calor, é que mulheres andem pelas ruas cobertas dos pés à cabeça e homens caminhem pelo menos de calça comprida. Em Muscat ainda é possível passar batido com uma bermuda, mas no interior, aderir ao costume local é importante para que o visitante desfrute da maravilhosa hospitalidade omanita.
Segundo a tradição, todo visitante deve ser recebido com muito café e tâmaras secas. Nunca fui grande fã de frutas secas, mas as tâmaras de Omã são maravilhosas. Segundo a tradição o convidado deve sacudir a taça quando não quiser mais café, o que normalmente acontece na terceira xícara. Isso pode significar alguns litros de café e dúzias de tâmaras ao ser recebido em uma vila.
Começamos nossa experiência em Muscat por Muttrah, um dos povoados mais antigos da costa e onde está localizado o principal “Souq” – mercado da cidade. O Souq de Muttrah é uma boa iniciação cultural em Omã. Visitamos no final da tarde e logo acompanhamos a chamada da reza pelos auto-falantes das muitas mesquitas que existem no bairro. O souq tem mercadorias de vários países árabes, mas o maior sucesso entre os turistas são as famosas facas omanitas. Também vale conferir os tradicionais incensos que em Omã são presença marcante em todas as casas. No centro antigo fica o palácio do Sultão Qaboos, que está no poder desde de 1970. Não é permitido entrar no palácio, mas o visual do belo prédio cercado de antigos fortes portugueses já vale a visita. O centro antigo da capital é dominado por prédios públicos e o calor espanta todos da rua. Caminhamos pelas ruas sozinhos, pulando de museu em museu para nos refrescarmos no ar condicionado.
Além do patrimônio histórico, Muscat tem ótimas praias e muitos dos melhores hotéis da cidade estão longe do centro, mas à beira mar. O nome do sultão, além de batizar a principal estrada que corta a cidade está na mesquita moderna mais espetacular que tive o privilégio de conhecer em minhas empreitadas pelo oriente médio. Inaugurada em Maio de 2001, a imponente mesquita está aberta à visitação fora dos horários de reza. O prédio imenso, todo construído em mármore, guarda o segundo maior tapete persa do mundo e tem capacidade para receber até 20 mil fiéis. O lustre do salão principal é uma obra de arte. Vale a pena colocar uma calça e uma camisa de manga comprida, e atravessar o jardim da mesquita embaixo do sol escaldante para visitar o templo.
NIZWA
Depois de quatro dias explorando a capital, alugamos um carro e seguimos rumo ao deserto e o oásis de Nizwa. Onde hoje há uma estrada impecável, existiu no passado uma rota de caravanas que atravessavam o deserto, parando de oásis em oásis, rumo ao que hoje conhecemos como Arábia Saudita. Para desbravar a região, nos hospedamos em uma antiga vila no oásis de Misfah. A vila havia sido quase totalmente abandonada pela população local, que deixou as antigas casas de pedra por casas mais modernas no lado oposto do oásis. Uma das famílias decidiu converter a sua casa antiga em uma pequena pensão para receber turistas com a tradicional hospitalidade omanita. Chegamos em Misfah no final da tarde e fomos recebidos por Sultan, o sobrinho do proprietário, na entrada da vila. Ali deixamos o carro estacionado e seguimos a pé pela vila até a pousada Misfah Old House, a única do vilarejo.
Como manda a tradição, fomos recebidos com café e tâmaras. Da varanda da casa, a paisagem seca do deserto era quebrada pelo verde do oásis, repleto de palmeiras e canais de irrigação. A vila vive das frutas plantadas no oásis, principalmente tâmaras. O quarto onde nos hospedamos era simples, mas muito aconchegante. Nos sentimos privilegiados pela oportunidade de nos hospedar em um local tão especial e cheio de história. À noite, a família serve o jantar para todos os hospedes sob o céu apinhado de estrelas. Durante o dia, os hóspedes saem cedo para desbravar os belos wadis (canyons) da região. Além das belezas naturais, as principais cidades tem fortificações medievas construídas para controlar o fluxo das caravanas. Entre os fortes visitamos a espetacular fortaleza de Bahla, que acaba de ser restaurada e declarada patrimônio mundial pela Unesco. O número de visitantes é tão pequeno que pela manhã algumas salas do forte ainda estão lotadas de morcegos.