ENTREVISTA: Marcos Caruso & Erom Cordeiro, talento e sintonia em nome do jogo e da arte

 

Erom Cordeiro, um jovem amante, Marcos Caruso, o marido traído. E o que poderia manter estes dois personagens afastados é justamente o que os mantém juntos. E juntos, esses dois grandes atores encenam a peça Em Nome do Jogo, texto original do escritor, ator e roteirista inglês Anthony Shaffer. Em meio a um suspense de grande inteligência e sagacidade, Erom e Caruso dão um show de interpretação, cada um a seu modo e os dois em um modo de pura empatia e química em cena. Caruso, no auge dos seus 40 anos de profissão recentemente encantou o telespectador brasileiro interpretando o Leleco da novela Avenida Brasil, Erom foi o peão Tobias em Amor Eterno Amor, mostrando toda a sua versatilidade tendo sido um padre em conflito em um papel anterior. Batemos um papo com essa dupla mais que dinâmica e o resultado você confere abaixo.

ENTREVISTA MARCOS CARUSO

A peça Em Nome do Jogo trata de um jogo de inteligência, perspicácia, estratégia… O que te encanta e surpreende neste texto, originalmente escrito por Anthony Shaffer? Por que é jogo estimulante e inteligente entre os dois personagens, usando abertamente do romance policial. Essencialmente interessante para a platéia raciocinar junto com os dois personagens. É uma peça que não faz chorar, rir ou refletir. É uma peça para pensar. Estamos precisando desse tipo de teatro, que faz pensar.

A peça é composta de três personagens, mas somente dois atores. A empatia é fundamental pra dar certo ou o profissionalismo de cada um basta? É uma química mesmo! É um jogo constante, eu abro a avenida para ele evoluir, e em seguida ele abre a avenida para eu evoluir. Ninguém se sobrepõe ao outro, são dois protagonistas ao mesmo tempo. Cada um tem seu momento.

Sua personalidade estaria mais para o Andrew Wyke, Milo Tindolini ou para o detetive Doppler? Ah talvez para o… Bem, eu empresto muito de mim e pego um pouco de cada um. Nós temos um pouco de tudo. Farejamos, investigamos o ser humano… Somos tanto como o Milo, simplório… ao mesmo tempo um pouco Andrew. A única coisa que não possuo é o posicionamento e o desejo de vingança. Você esquece a pessoa e não a vingança. Essa de psicopata está longe de mim.

Vingança é um prato que se serve frio ou um prato que não se serve? Acho que é um prato que não se deve servir. Por que até você servir, você está elaborando e isso faz muito mal a você.

Quais as vantagens dos 30 em relação aos 60? A vantagem dos 30 é você achar que sabe tudo, que pode tudo, que você vai viver muito, que os outros não vão te atrapalhar… Com o tempo você percebe que não é bem assim (risos).

Que elogios faria a Erom Cordeiro? É um ator diamante bruto que vem sendo lapidado lentamente através de trabalhos impecáveis. Erom apesar da pouca (mas nem tanto) idade tem um currículo invejável. Ele já passou por grandes escritores e trabalhos marcantes. É um grande diamante!

Você é um ator que conseguiu mais destaque e projeção com o grande público depois de uma longa jornada. Podemos dizer que você é um jovem ator maduro. A que você justifica isso? Eu acho que é assim… tenho 40 anos de profissão, mais de 30 de televisão e nos últimos 10 anos tenho pego papéis de muito destaque. É aquilo, você trabalha no fundo do teu quintal que cedo ou tarde vão te descobrir. Tenho uma relação muito forte com minha profissão. Evidentemente a TV te dá uma projeção. Dou graças a Deus que a TV chegou tarde. Cheguei com maturidade.

Você se transfigura nos personagens com maestria a ponto de não deixar rastros de um no outro, quem viu o Leleco de Avenida Brasil e o Patácio de Cordel Encantado tem a prova disso. Como você consegue, sendo uma única pessoa (risos) se despir tanto de suas próprias características a ponto de se tornar outras pessoas (personagens) completamente? Eu acho que isso é um trabalho interno e externo. Sou um ator autodidata, não estudei. Sempre construí de dentro pra fora. Talvez por ter feito muita comédia… Vou descobrindo a fala, o tom de voz, os gestos do personagem… Como é Patácio? Um cara do interior, tem um tom mais assim, um sotaque assim… Não é pior nem melhor. Meus últimos personagens foram muito marcantes. E vem mais por aí! Aguarde o próximo, vai dar o que falar (risos).

A vida é um jogo? De que tipo? Ah, do tipo perigoso. É um salto sem rede. Você tomando todos os cuidados pode ter uma doença, ser traído, ser enganado… mesmo tomando todos os cuidados. Por outro lado a vida é a coisa mais bela que existe. A vida das plantas, dos animais, do ser humano… A vida é única, não é igual a todos. Amo viver!

Que conselhos daria a um jovem ator iniciante? Se você não tem talento, faça outra profissão. Segundo, não acredite em pai, mãe… eles sempre vão te elogiar (risos). E terceiro, se tem talento por que sabe que tem, estude, estude, estude… é isso!

ENTREVISTA EROM CORDEIRO

A peça Em nome do Jogo, trata de um jogo de inteligência, perspicácia, estratégia…o que te encanta e surpreende neste texto, originalmente escrito por Anthony Shaffer? O texto tem uma carpintaria dramatúrgica brilhante. É uma trama muito bem urdida, com reviravoltas e surpresas. O autor cria uma teia, onde esses 2 personagens se enfrentam num jogo de gato e rato. Não dá pra imaginar qual será o fim. Os aspectos mais sombrios dos personagens vão se revelando aos poucos. Ter esse texto tão rico na mão é saboroso pra qualquer ator, acho.

A peça é composta de 3 personagens, mas somente 2 atores. A empatia é fundamental pra dar certo ou o profissionalismo de cada um basta? Em alguns trabalhos, acredito que basta sim. Mas estamos aqui, mexendo diariamente com elementos muito profundos e além da peça ter humor e ironia, nosso ‘jogo’ é muito rápido e preciso. Acho que a nossa empatia e alegria em fazer o espetáculo só contribui.

Sua personalidade estaria mais para o Andrew Wyke, Milo Tindolini ou para o detetive Doppler? (risos) Definitivamente mais para o Milo. Apesar de ter traços dos outros também.

Vingança é um prato que se serve frio ou um prato que não se serve?
É melhor não se preocupar com esse ‘prato’. A vida mais cedo ou mais tarde faz pagar pelos erros.

Quais as vantagens dos 60 em relação aos 30? Aos 60 já se viu e viveu muita coisa, mas com muito ainda pela frente e dependendo de como você chega lá, só vejo vantagens: maturidade, segurança e uma visão bem mais sábia perante a vida, sabe-se ao certo o que se quer ou não. Aos 30 ainda se tem uma ansiedade que te faz quebrar a cara muitas vezes (risos).

Que elogios faria a Marcos Caruso? Caruso é um ator genial e pra além do artista incrível que é, é uma pessoa sensacional. Tenho a honra de estar dividindo o palco com ele e aprendendo muito, muito mesmo. Além dele ter um humor que contagia. Sei que é um privilégio estar há mais de 8 meses semanalmente contracenando com ele. O entusiasmo que ele tem perante a profissão é inspirador.

Você é um ator que teve sua formação no teatro, mas como sempre o grande público só te conheceu através de personagens em novelas da Globo. Você percebe hoje em dia o público migrando da TV para o teatro justamente por conta dos personagens de novela. Está acontecendo um caminho inverso? Como você vê isso tudo? Minha formação foi no teatro e nunca vou deixar de pisar no palco. Não curtia muito fazer televisão no início mas hoje em dia, gosto muito. É claro que a TV proporciona ao trabalho um alcance imenso e que bom que esse grande público se interesse em ir ao teatro para te ver. Como artista acredito que temos que ter a preocupação de levar ao palco algo possa tirar, às vezes, a platéia da zona de conforto. Na peça inteira há um jogo em que o espectador tem que ficar ligado a cada segundo, que faz questionar quem está falando realmente a verdade. Não entregar tudo completamente mastigado e digerido, fazer o público pensar e tirar suas conclusões.

No seu mais recente personagem de TV, o peão Tobias em Amor Eterno Amor, você aprendeu a montar em búfalos e a dançar o lundu, o que mais faria em nome de um personagem? Cada personagem te traz um universo diferente. E ir a fundo em cada um deles é um dos grandes prazeres da profissão. Viver várias vidas em uma.

A vida é um jogo? De que tipo? Sim, pode ser um jogo com regras que podem ser reinventadas e/ou quebradas, não engessadas.

O que gostaria de ter ouvido dos mais experientes no início da sua carreira? Acho que ouvi bons conselhos. Nunca achei que seria fácil. Ralei muito nesses 20 anos de profissão e sei que ainda tenho uma estrada longa pela frente com muitos altos e baixos.

SERVIÇO
Em Nome do Jogo, com Marcos Caruso e Erom Cordeiro, no Teatro da UFPE
Sábado (02/03), às 21h; e domingo (03/03), às 19h.
Preço:R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia)
À venda na bilheteria do teatro e nas lojas Esposende dos shoppings Recife e Tacaruna.
Mais Informações: (81) 3207.5757