Há um ditado que diz: “de médico e louco todos temos um pouco”. No caso de Bruno Dubeux ele poderia ter dito assim: “de médico e artista, eu tenho muito”. Pois bem, Bruno desde criança queria ser ator, mas acabou fazendo faculdade de medicina, outra área pela qual se interessava muito. Danado que é o destino, Bruno acabou fazendo umas fotos para publicidade, incentivado pela prima e daí para o mundo artístico as portas foram se abrindo. A medicina foi acompanhando tudo isso em paralelo até que Bruno, médico formado, se mudou de vez para o Rio de Janeiro e durante uma peça, filme ou programa de TV ele atende seus pacientes em São Paulo. Sim, ele faz as duas coisas, mas nem me pergunte como ele consegue, nós tentamos, mas nem ele sabe explicar. Conheça um pouco mais desse pernambucano/americano que brilha no mundo artístico carioca, nos hospitais paulistanos e mostra suas raízes nas gírias recifenses.
Bruno, explica um pouco pra gente como foi que aconteceu tudo isso: formado em Medicina, terminou indo pro Rio de Janeiro pra se tornar apresentador e ator. Foi muito curioso porque as possibilidades foram se apresentando pra mim e a ousadia e força de vontade permitiram que elas virassem escolhas. Quando criança sempre dizia que queria ser ator, mas essa vontade ficou adormecida ao longo da adolescência. Acho que o fato de não ter contato com ninguém do meio artístico em Recife e a cidade na ocasião não ter um mercado e formação favoráveis, contribuiu pra uma falta de incentivo. Então resolvi fazer medicina, profissão pela qual também sentia afinidade. Foi a partir daí que as tais possibilidades foram surgindo.
Uma prima era modelo e certo dia minha tia não pôde acompanhá-la e me pediu pra ir. O fotógrafo, Renato Filho, me perguntou se não gostaria de trabalhar em campanhas publicitárias, que eu tinha perfil e fiz meu primeiro book com ele. Ele me passou os contatos das maiores produtoras da cidade e na semana seguinte já estava fazendo uma foto pra um outdoor. E, a partir daí, comecei a fazer também vídeos publicitários, depois surgiu teste pra uma campanha com texto como ator, fiz e passei e desde então os trabalhos como ator em publicidade foram aumentando e passei a fazer também em João Pessoa, Natal, Maceió, etc. Desde então senti vontade de entrar para um curso livre de teatro em Recife. Por isso, fazer esse ensaio fotográfico com o Renato agora está sendo bem especial. Foi a partir das fotos e apoio dele que entrei no mercado e, agora, em um momento bacana da minha trajetória tive a oportunidade de estar em Recife e poder ser clicado por alguém que tem importância no meu início de processo artístico.E fui fazendo todos esses trabalhos em paralelo a faculdade de medicina. Só não me pergunte como conseguia conciliar (risos). No ultimo ano da faculdade, a Márcia Andrade, produtora de elenco da TV Globo, esteve em Recife pra fazer pesquisa de novos atores pra oficina da Globo. Fui convidado, fiz o teste e passei pra etapa final que foi no Rio, só que essa não rolou. Mas nós ficamos muito amigos e sempre em contato. Três meses depois dessa etapa final do teste me formei em Medicina e a Márcia deve ter percebido minha vontade em tentar a carreira artística no Rio e me deu muita força pra que eu tentasse naquele momento, já que depois, se começasse a residência, seria bem mais difícil. E foi graças ao apoio dela, sugestões de cursos no Rio e de me apresentar pra classe, que comecei a dar meus primeiros passos na carreira artística profissional. Talvez, sem esse estímulo, tudo seria diferente; não teria tomado uma decisão tão radical e não estaria aqui. Por isso devo muito à Marcia. É sem dúvida minha madrinha.
Pelo que soube seu personagem é um policial que preza pela ética e se decepciona com o que encontra pela frente. E você fez laboratório em um Batalhão no RJ. Mudou sua ótica em relação à visão que você tinha da polícia nacional depois que você vivenciou esse outro lado? Definitivamente. A questão do ator de se colocar ao máximo na situação e no lugar do outro, para a partir daí atuar, proporciona uma postura diante do mundo maravilhosa. O Tenente Edilton – a quem sou muito grato – foi, digamos, o meu coach na polícia. Acompanhei a rotina no Batalhão, a supervisão na viatura, ronda na Rocinha e fiz aula de tiro. Terminamos ficando amigos. É louco que a gente quando passa por uma blitz, sabe que está com tudo certo, os documentos em dia, mas ainda sim tem medo ou frio na barriga. Isso pra mim foi muito interessante. Hoje passo por policiais e os sinto como colegas, como se fossem os colegas médicos do hospital. E outras várias vezes na rua alguns policiais cruzavam por mim e eu por um milésimo de segundo estranhava que não batiam continência (risos). Só o tempo de eu dizer: “Se liga, Bruno, você não é o tenente Cristino agora” (Risos).Mas o fato é que desmistifiquei totalmente a imagem da polícia militar que tinha. É um trabalho duro, cansativo, de muita responsabilidade e cobrança. E, infelizmente, pouco reconhecido e muito criticado. Pude sentir na pele um pouco da diferença do tratamento da população. Algumas vezes eu estava no set de filmagem, na rua ou na favela, com meu figurino e, os que não sabiam do filme, me olhavam diferente, não olham no olho. Imagina você passar todos os dias fazendo o seu trabalho com todo mundo cruzando por você, te olhando diferente, como se você não fosse desse mundo? Sofrendo por um valor de imagem que vem agregado àquela farda e que você não tem nada a ver com as atitudes de outros. Agora, por outro lado, ter essa sensação concreta foi ótimo para o meu personagem, que passa por esse mau juízo no filme.
Você saiu de Recife e se divide entre Rio e São Paulo. Do que sente saudade da terra dos altos coqueiros? Das pessoas, da autenticidade junto com a simpatia do pernambucano. É interessante que o pernambucano é ao mesmo tempo desconfiado e simpático, e também carinhoso no falar. Fala tudo no diminutivo: “Quer um cafezinho?”, “Eu vou dar um jeitinho”, “Sente aqui nesse cantinho”. Agora se bem que a gente fala no imperativo. Quem vê de fora acha que é arrogância, mas é só o jeito de falar mesmo. Ah, sinto muita falta das nossas gírias. É sempre motivo de piada aqui no Rio quando escapole uma: Arrodear, buruçu, gota serena e adoro o “pense”: Pense numa comida boa; pense num calor; pense num bicho chato… (risos).
Já pode falar mais da sua nova proposta para TV, misturando viagens? Posso falar só um pouco porque é um piloto de programa que ainda vai ser vendido. É um projeto meu juntamente com dois parceiros, a Gisele Werneck, atriz, que também apresentará o programa junto comigo e o Danilo Machado, produtor. É um programa que mistura viagem, hábitos e comportamentos em diferentes cidades do mundo. Faremos alguns pilotos agora no Oriente Médio e Ásia.
Então, com certeza, sou outro medico desde que me tornei ator. Mudou minha forma de enxergar, me comunicar e me sensibilizar com o ser humano e, consequentemente, com os pacientes. E o medico me faz um ator interessado em estudar de forma aprofundada o texto, a ter disciplina e ser metódico.Para se tornar um médico são anos de estudo, dedicação e há também investimento da família. Quando decidiu seguir a carreira de ator como sua família reagiu? Não deixou de ser um choque porque a decisão de vir pro Rio foi justamente no ano em que voltei de estágios de alguns hospitais como em Harvard, Mayo Clinic e Atlanta. Eu estava me preparando para fazer residência nos EUA. Não chegaram a fazer nenhum alarde, mas sabia que não estavam satisfeitos. Mas eu já era maior de idade, trabalhava, era formado, pagava minhas contas e dono do meu nariz. Minha mãe especialmente sempre me apoiou. Lembro que disse: “prefiro um sapateiro feliz a um infeliz ilustre médico”. E também as coisas foram surgindo aos poucos. Primeiro fui com planos de ficar no Rio só por 3 meses pra sentir, depois aumentei pra mais três meses e estou aqui até hoje. No fundo sabia que não iria mais voltar (risos).
Já que você trabalha em frente às câmeras, como você cuida da aparência? É vaidoso? Até onde você vai no campo da vaidade? Sou vaidoso, mas não com uma vaidade que me aprisione ou me prive das coisas. Acho que até certo ponto ela é saudável. Se te faz sentir bem consigo mesmo e te traz uma boa relação com o espelho, sem grandes sacrifícios, então ótimo. Não sou de ir à academia todo dia, deixar de me socializar para evitar comer calorias ou mesmo de usar muitos cremes. Mas vou à academia duas a três vezes por semana, tento balancear minha dieta e o que tento lembrar de passar no rosto sempre é protetor solar, que a minha amiga Roberta Castro, dermatologista, toda vez que me vê, pega no meu pé em relação a isso e pra garantir que vou usar, me dá várias amostras grátis (risos). E faz questão de repetir que é a medida mais comprovada pela literatura que previne o envelhecimento do rosto. Agora tenho que admitir que meus valores mudaram muito nos últimos cinco anos, em relação à época que morava em Recife. Era bem mais vaidoso. Só saía bem arrumado de casa e com o cabelo sempre no lugar, por exemplo. Hoje a minha vaidade mudou, certamente por conta do teatro. E trago essa referência pras gravações do “Alternativa Saúde”. A minha vaidade é saciada no encontro com a verdade e a autenticidade na cena. Quando assisto a um programa e sinto que estava ali conectado com o “aqui e agora” e sendo bem verdadeiro, um cabelo despenteado ou um ângulo da câmera ruim não interferem na estética toda da coisa.Com essa exposição toda o assédio termina aumentando. Como lida com isso? Já sentiu alguma diferença? Acho que não chega a ser assédio propriamente. Não chego a ser parado na rua. Às vezes sinto que me olham com a sensação de “conheço esse cara de algum lugar”. O que acontece muito são pessoas de Estados diferentes pedirem pra me adicionar nas redes sociais. E também ressurgem das cinzas aqueles conhecidos distantes que já tinha perdido contato, pra falar que me viram, dar os parabéns etc. (risos).
Sente-se realizado com todas essas conquistas? Qual sua próxima realização? O que podemos esperar do inquieto Bruno? Com certeza estou muito feliz com essas conquistas. Foi um ano de muito trabalho e é muito gratificante depois de alguns anos de estudo começar a colher os frutos, ainda mais na carreira de ator que é super incerta e subjetiva. Realmente – como você colocou – inquieta é uma palavra que está muito presente no meu vocabulário. Realizo algo, comemoro, mas logo em seguida sinto uma inquietação grande de dar início a algo novo. Pra ter ferias preciso viajar porque se ficar em casa, com certeza arrumo imediatamente algo pra me ocupar. No momento estou gravando uns pilotos de programa para TV, como falei acima, que ocupará parte do meu tempo esse ano, pois virá ainda edição, venda etc. E, além disso, estou ensaiando um espetáculo com minha companhia (Julia Mendes, Tatyane Mayer, Manuela Do Monte e Pedro Casarin) que montamos durante a faculdade, para estrear aqui no Rio de Janeiro, no segundo semestre. Um trabalho de pesquisa de um texto de um autor carioca relacionado ao cineasta Alfred Hitchcock. Estamos pesquisando textos e pensando sobre nossa estética há dois anos. Então será uma realização muito importante em minha trajetória. Espero ter a oportunidade de levar o espetáculo a Recife e, finalmente, estrear num palco profissional em minha cidade natal.
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