Pra começo de conversa
Hugo Bonemer não é do tipo que planeja, é do tipo que vive. Daí já dá pra concluir que esse artista vive intensamente o hoje e não tendo medo dos desafios não deixa boas oportunidades passarem. Multidisciplinar Hugo atua, dança e estar pro que vier, porque talento não lhe falta, e vontade também não. Experiência de vida ele tem bastante, mesmo com pouca idade. Natural de Maringá, interior do Paraná, saiu cedo pra cursar faculdade na capital e de lá morou na Alemanha, enriquecendo sua bagagem cultural e artística. Se você ainda não ouviu falar de Hugo, prepare-se, esse menino vai ganhar o mundo e representar bem a classe artística brasileira. Estimado público, abram alas para Hugo Bonemer.
Seu pai é engenheiro e sua mãe bailarina. Seria ela então sua maior influência? Meus pais nunca restringiram meu interesse pelo teatro, mas nunca o incentivaram diretamente. As influencias foram muitas. Claro que minha mãe foi uma grande influência, mas uma professora de português do colégio foi outra influencia gigantesca. Através dela conheci os livros de textos teatrais (os que tem diálogos ao invés de narrativa) e me interessei pela leitura.
Você saiu de Maringá aos 18 anos para cursar faculdade de Comércio Exterior em São Paulo e até arrumou emprego em uma multinacional. Ainda assim você não seguiu carreira nessa área. O que aconteceu? A veia artística falou mais alto ou você já tinha ideia de ir pra São Paulo pensando nas possibilidades para ator em uma cidade maior? Eu já fui para São Paulo pensando que viveria uma vida dupla: Tentaria carreiras paralelas na empresa e no teatro. Claro que uma hora tudo conspirou para que eu tivesse que tomar uma decisão. Passei em um teste para uma peça em SP e comecei a não ir à empresa pela tarde. Meu chefe me chamou para conversar e perguntou: “você quer continuar trabalhando aqui, nos moldes que a empresa exige?” Eu disse: “Não. Quero trabalhar da minha casa e ser cobrado pelo resultado, não pelo tempo marcado no ponto eletrônico” Ele foi meu amigo e lutou por mim, mas dois meses depois (e eu continuava indo a empresa apenas no período matutino) eles me demitiram. Foram quatro anos trabalhando na indústria gráfica. (Heidelberg)
Você praticou algumas artes marciais, como karatê e também capoeira. Essas escolhas eram pelo esporte em si ou por você acreditar que ajudariam na consciência e trabalho corporal no palco? Eu não tinha noção de como essas lutas me ajudariam no palco. Eu fui aprender porque demorei pra crescer e apanhava na escola dos garotos maiores. Uma coisa que me ocorre sempre que falam do meu trabalho de corpo, é que minha mãe sempre disse, que cada pequeno curso que eu fizesse, podia ser de caligrafia ou de eletrônica – de qualquer coisa – Cada um deles, um dia, teria uma importância gigante na minha vida.Como foi seu início de carreira até chegar aos musicais? Comecei em participações nas peças da escola dos meus pais. Acabei o colégio no Paraná e fui fazer o quarto colegial na Alemanha. Enquanto morei em Bremen o colégio todo se movimentava para encenar o musical Gypsy. Toda aquela animação me contagiou. Quando voltei fiz cursos livres de teatro e entrei em um coral. Do curso entrei para o grupo de estudos do TAPA em São Paulo e fui fazer aula de canto particular. Participei de peças em São Paulo. A mais incrível delas com certeza foi “Cardiff” dirigida por André Garolli, que é do TAPA mas dirige a Cia. Triptal. Soube dentro do TAPA que o José Possi Neto procurava atores para um musical (BARK!) e fiz o teste. Passei. Uma garota do elenco me deu o DVD de HAIR e disse: “você é a cara do protagonista”. Dito e feito: Passei. Morei no Rio e emendei as gravações de PREAMAR na HBO. Então fui para São Paulo na temporada de HAIR e na sequencia comecei a fazer aula com Ronnie Knoblevsky, tido hoje como o melhor professor de canto do Brasil. (As aulas são caríssimas mas valem cada centavo!) Ronnie tirou de mim o suprassumo para o teste do “Rock in Rio”. Foi um investimento. Eu saí de todas as aulas com a sensação de que tinha aprendido ou percebido algo novo. No meio desta narração de sucesso há oito mil quinhentos e vinte e sete testes que eu fiz e não passei.
Para atuar nos seus primeiros musicais e peças foram precisos testes de elenco. Como se preparou pra eles? Como se concentrar em um papel sabendo que ali está sendo testado? É uma exposição gigante. Na hora a gente tenta se esconder atrás do personagem, mas não da pra mentir. A banca quer ver transparência do começo ao fim. Querem ver o ator que chegou para o teste e a transição em personagem. O teste vale para os dois. Como em qualquer profissão, o empregado é avaliado pelo trabalho executado e por como ele se comporta. E para isso não há regras. O empregador pode se identificar ou não com o candidato, independente do que o senso comum diria.
Você atuou no espetáculo “Hair” e atualmente está no “Rock in Rio”. O que esses grandes musicais, tipo de espetáculo que está ficando cada vez mais popular no Brasil, tem te acrescentando como artista? Trabalhar com muitas pessoas exige que o sujeito goste de gente e que saia de casa com o objetivo de ser feliz. Com um pensamento nessa linha, muitas coisas que a principio parecem ser pesadas passam a ter menos importância. Esta sendo bastante complicado. Há altos e baixos, mas com o apoio de amigos e familiares tudo sempre fica mais simples e leve. Eu pedi isso que estou vivendo, com os prós e os contras. Sou muito grato por essas conquistas e estou lutando para que se cumpra o melhor. Estou aprendendo a exigir menos das pessoas e encontrando novas responsabilidades pra mim, abandonando padrões de comportamento que me levam a resultados ruins e aceitando a não-unanimidade. E estou fazendo um monte de coisas erradas que só vou descobrir daqui um tempo.
Falando no “Rock in Rio”, fala um pouco pra gente como é esse musical… Alef é um garoto que não fala há quinze anos e só se expressa através da música. Sofia é uma garota que odeia música e fala mais que uma tia italiana embriagada. O encontro dos dois obviamente resulta em uma paixão agressiva. Para se encontrarem no outro, ambos terão que abdicar das leis que criaram. O maior festival de música é cenário para a resolução desta e de outras histórias paralelas que narram perdas, mas também amores.
Até bem pouco tempo ninguém sabia do seu parentesco com o jornalista e apresentador do Jornal Nacional, William Bonner. Isso foi natural ou algo que você realmente fez questão de preservar para que as pessoas não achassem que portas se poderiam se abrir pelo laço familiar e não pelo talento? Foi natural. Não paro para pensar muito sobre isso.
Como você é no trabalho? Dedicado? Questionador? Curioso? Esforçado…? E na vida? Sou dedicado, curioso, esforçado e focado no meu trabalho, é realmente a minha prioridade no momento. Vida? Existe vida além do trabalho?
É mais difícil atuar, dançar e cantar ao mesmo tempo? Sim. É mais fácil fazer uma coisa de cada vez.
Como tem lidado com o assédio feminino e a fama? O que tem aprendido com isso? Nunca recebi nenhuma abordagem que fosse agressiva ou realmente incômoda. Tenho aprendido que tem gente muito carinhosa nesse mundo. Tenho recebido mensagens de mulheres.
Falando no universo feminino… Como conquistar a mulher moderna? Algo mudou na hora da conquista? Bom… Não sou um especialista na conquista através da história. Mas acredito que a mulher de hoje goste do cara que aceite que o mundo é dominado por elas, e ponto final. E essa foi a “última palavra”.
Considera a série Preamar seu grande “teste” para atuar na TV? Preamar passou em quarenta países e recebeu indicação ao FIPA, uma das maiores premiações da TV européia. É maravilhoso para um ator hoje poder trabalhar internacionalmente sem sair do Brasil. Hoje todos os canais de TV a cabo produzem conteúdo nacional e muita coisa boa deve acontecer nos próximos anos.
O que você planeja para seus próximos passo? Não sou uma pessoa que planeja quase nada.
Fotos:
Sérgio Santoian
Assistente de fotografia:
David Soega
Produção
Lucas MagnoHugo Bonemer usou:
Look 1: Blazer Puma na Avec, Camiseta com capuz Johnny Size, Calça jeans encerada Emporio Armani, Tênis Fred Perry na Avec
Look2: Camiseta, colete e calça Emporio Armani, Sapato Mr. Cat
Look3: Camisa e calça, ambos Gant na Avec, Jaqueta com detalhes em couro Armani Exchange, Tênis Mr. Cat
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