Nascido em Minas Gerais, Ian Braga sempre teve muita intimidade com a arte e o fato de ouvir muitas histórias na época do colégio foi fazendo crescer um desejo de fazer parte disso tudo. E aos 17 resolveu correr atrás do seu desejo e mudou-se para o Rio de Janeiro para fazer faculdade de Artes Cênicas. E as oportunidades foram surgindo de diferentes formas, de uma série toda feita com smartphone até chegar ao prêmio de melhor ator em um festival de cinema. Algo que contamos aqui nessa entrevista exclusiva para a MENSCH.
Ian, como decidiu se tornar ator? Tem algum artista na família ou foi por acaso? Não acredito em acaso, mas apesar de não ter nenhum ator na família tive uma infância repleta de arte. O primeiro colégio que estudei era muito lúdico. Me lembro que as professoras liam e contavam historias de um jeito muito cativante e isso me marcou. Fez eu me apaixonar por ouvir e contar histórias! Com uns cinco anos meus pais me levaram ao Teatro e eu fui arrebatado pelo energia e a alegria daqueles adultos “brincando” no palco. Imaginava que crescer era se tornar uma pessoa “séria e preocupada” e ali eu vi alegria e pulsão de vida! Quando terminou a peça perguntei pra minha mãe quem eram aquelas pessoas e ela me disse que eram atores. O resto você já imaginou, né? Mas não é um filme da Disney, (risos). Me mudei para um colégio que a direção não apoiava nem um pouco arte. Teve um professor que chegou a me falar que eu morreria de fome se tentasse seguir carreira para a sala toda ouvir. Como nunca fui de dar ouvidos para quem não me entende segui meu objetivo. Aos 15 fui fazer bicos para juntar dinheiro e poder estudar na escola de Teatro do Grupo Galpão, em Belo Horizonte, onde nasci. Estudei dois anos lá onde descobri minha base e minha força e depois me mudei para o Rio de Janeiro, onde fiz faculdade de Artes Cênicas. E ai as coisas foram acontecendo.
Esse ano você poderá ser visto em pelo menos 3 grandes projetos no audiovisual. Como está sendo esse momento pra você? Bem pé no chão, como acredito que tem que ser. Me dedico aos estudos de atuação e a construção da minha carreira a muitos anos. Me formei e fui fazer Teatro, fiquei quase dois anos viajando com uma peça, cheguei a apresentar em dois teatros ao mesmo tempo. Depois comecei a pegar algumas participações e aos poucos conquistei personagens mais complexos no cinema independente. Ver algumas sementes que plantei germinando é bonito. Agora estou aprendendo a celebrar as conquistas. Mas sei tenho muito a aprender e a conquistar.
Como foi protagonizar o filme “Vivo ou Morto” da TV Globo? Se acha parecido com seu personagem? Quando li roteiro para fazer o teste me lembro de a cada cena rir e me apaixonar mais pela historia do filme. Quando cheguei ao fim eu chorei de emoção. Pensei: “Meus Deus eu preciso ajudar a contar essa história! Tem muito de mim nela!” Me preparei muito para os testes. Fiz uma porção deles e fui aprovado. Meu personagem se chama Chico Santo. Ele é um artesão que faz santos em madeira, mas não sabe vender sua arte e por isso acaba devendo dinheiro a um perigoso homem. Para fugir das dívidas ele finge a própria morte. O que ele não imaginava é que sua falsa morte acabaria fazendo ele se tornar um artista famoso e respeitado mundo afora! De um jeito leve o filme questiona essa coisa de muitos artistas serem valorizados apenas depois de morrer. Tenho alguns pontos em comum com o Chico e outros nem tanto. A história se passa no interior de MG, então de certa forma foi um resgate das minhas origens. Mas acredite se quiser, tive que caprichar nos estudos pro sotaque, acredita? Porque apesar de eu ser de mineiro, o Chico vem do interior do centro oeste, então eu precisei trabalhar esse sotaque bem específico, honrando sem ser caricato.
Nós dois somos artistas, mas o Chico trabalha com madeira, é outra área! Então fiz preparação para aprender a trabalhar com as ferramentas entalhando vários tipos de madeira. Fui sentir como meu corpo se comportava durante um dia de trabalho para poder levar isso pro jeito dele caminhar, falar e se comportar. O que temos de mais diferente é o tempo interno. O Chico é um artista que vive em um ritmo diferente do que estamos acostumados. Ele é do presente, não fica pensando muito no passado ou no futuro, ele não tem nem celular! Não sabe mexer em rede social. Não preocupa muito em como vai fazer pra pagar as contas, ele se preocupa com fazer arte e pronto! Então precisei desacelerar, me colocar num estado de maior presença e contemplação para dar verdade a visão de mundo do Chico. Esse filme me presenteou com o privilégio trabalhar com atores mineiros que admiro, como Rejane Faria, Juan Queiroz e Peninha.
Você protagoniza uma série para TV que foi filmada em Smartphone. Sentiu alguma diferença por ser gravada no celular? Pode contar alguma coisa do seu personagem? Foi muito diferente de tudo que já fiz! Tanto pela produção ter escolhido ousar e gravar uma série inteira de 10 episódios em smartphones, quanto pela personalidade bem peculiar do Fabrício, meu personagem! Não posso revelar muita coisa pra não dar spoilers, mas o Fabrício trabalha no Açougue da Família; e ele tem visões sobre o futuro! O que faz ele ser esquisito e pouco compreendido. A série aborda o período político das mudanças de moeda no Brasil durante a hiperinflação, por isso o nome “1986”, ano que a série se passa. O roteiro é ousado, mostra fatos reais que ocorreram naquele ano de um jeito cômico, inteligente e questionador. Parece até absurdo aquilo ter acontecido, sabe? Por isso acredito ser muito importante relembrar a história, porque quando esquecemos, caímos nos mesmos erros.
Trazer o celular para captar as imagens pode aproximar o público jovem que desse período da historia que merece ser revisitado. Mas claro, filmar com smartphone foi bem diferente do que estou habituado! O audiovisual trabalha com equipamentos pesados, câmeras enormes, o que faz com que os atores fiquem mais limitados as marcações e conscientes de onde a câmera está. Diferente do celular que possibilita uma mobilidade muito maior para que o operador de câmera estar em qualquer ângulo com muita rapidez. Como ator isso me deu mais liberdade para propor movimentações do meu personagem que não estavam previstas em cena, me senti mais criativo e disposto a propor!Mas nem tudo são flores, né? Estávamos fazendo algo que não tínhamos total domínio e como sempre tiveram perrengues! Hahaha. Mas fiquei bem surpreso com a qualidade das imagens. Esses celulares novos tem câmeras espetaculares e acredito que vão estar cada vez mais presentes em produções grandes. Mas sigo apaixonado pelo desafio de trabalhar com as grandes lentes e câmeras de cinema, acho um tesão único.
Vi que recebeu o prêmio de “Melhor Ator em Drama” em um festival de cinema pelo filme “A Voz Dele”. Qual a sensação dessa conquista? É bacana ser reconhecido por um trabalho, eu comemoro. Fiquei feliz em ser indicado e premiado. Mas não faço disso algo mais importante do que o trabalho em si. O meu foco é poder exercer meu ofício em prol da história que estamos contando coletivamente. Fui indicado em alguns festivais pelo curta “A Voz Dele”, um filme de drama e recebi o prêmio em um festival. Na época ainda era pandemia e foi tudo online, então fiquei feliz; mas naquela época não pude ter o que mais aprecio: sentir como o público recebeu aquela história. Eu trabalho com contação de historias, então adoro saber como a narrativa atravessa as pessoas. Foi mais marcante para mim, por exemplo quando o filme foi exibido em outro festival e eu pude estar presente e sentir o termômetro da plateia e ouvir as impressões dos espectadores depois da sessão. É ai que existe a troca e você descobre o poder da arte. Isso pra mim não tem preço!
O que podemos esperar do filme “Saideira”? ”Saideira” é um filme que vai surpreender e emocionar. Tive a oportunidade de estar na pré estreia no festival de Tiradentes e não tem nada melhor que poder falar com orgulho de um projeto que faço parte. O elenco é maravilhoso! Interpreto o Honório na fase jovem, mas quem leva o filme com o personagem é o incrível Tonico Pereira. As protagonistas Thati Lopes e Luciana Paes estão incríveis em papeis emocionantes e cômicos. Não é um filme de comédia de piada pronta. É um filme sobre relação de família e o tempo. O tempo da vida, o que a gente faz com esse tempo e o que esse tempo faz com a gente. Tudo recheado de situações engraçadas e muita cachaça mineira! Pra melhorar rodamos o filme viajando por lugares lindos com cachoeiras e montanhas. Quem assistir vai se sentir viajando pelas paisagens mais bonitas de Minas Gerais! Só não me pergunte quando estréia, mas dizem que é este ano.
Você tem feito personagens de destaque. Tem o sonho de interpretar algum personagem especial? Me interessa fazer um remake dessas novelas que marcaram gerações, porque é uma oportunidade de recontar uma história que marcou uma geração com uma visão atualizada, que dialoga com as questões de hoje, sem perder a conexão com o passado. Acho que o Brasil precisa muito disso, essa conversa que une gerações. Não atoa temos dois sucessos recentes em novelas das 21. Não sei te dizer um personagem especifico, porque gosto de muitos. A teledramaturgia brasileira é um prato cheio de personagens iconicos. Mas outro dia uma jornalista me fez essa perguntar e vou repetir a resposta: Amaria fazer ”O Alquimista” do Paulo Coelho. Tem muito de mim naquela história, seria mágico me encontrar com esse personagem.
Você tem feito mais cinema. Tem preferencia entre Teatro, Cinema e TV? Sou apaixonado por cinema e no ultimo ano foi a arte que mais me dediquei e consumi. Mas gosto de trabalhar nas três áreas, até porque cada uma me realiza de uma maneira. Cada uma tem seus desafios e suas delícias. O Teatro possibilita uma pesquisa mais profunda em cima do texto e suas possibilidades. Tem o contato direto com a plateia que torna esse encontro um momento único e sagrado. O repetir de cada apresentação possibilita conhecer o texto e o personagem em outra dimensão. Na TV o tesão está exatamente no oposto. No ter que buscar a verdade na escassez de tempo de pesquisa, na pouca experiencia que tive senti como um exercício de criatividade ágil. Cinema é o equilíbrio disso tudo. No cinema o roteiro costuma chegar mais fechado, os tempos são dilatados; é o trabalho de criar um mundo interno vivo. O mais curioso: do roteiro que você lê até o filme ser lançado tudo pode se transformar a ponto de virar um filme que você nem imaginou! O olhar da direção e da montagem comandam como essa história será contada ao público, o que torna o trabalho do ator ainda mais refinado em estar muito bem alinhado aos outros profissionais envolvidos. É uma criação que tem seu lado individual mas é muito coletiva e amo isso!
Quais os planos para 2024? Algum desafio que gostaria de encarar? Estar em projetos que contem boas histórias e divulgar as produções que serão lançados este ano! O que mais me interessa é ter uma boa história pra contar. Um desafio que gostaria de encarar é experimentar fazer uma novela inteira. Em 2023 protagonizei “Vivo ou Morto” e na sequencia gravei a série. A novela pode ser um desafio instigante, por ser uma obra aberta em que tudo pode acontecer e ter esse retorno imediato do público que vai moldando essa história. Um personagem cômico também é algo que desejo explorar mais. Mas o que importa mesmo é uma história boa pra contar! No teatro, TV ou cinema. O que me interessa é conectar pessoas e histórias. Fazer a gente enxergar a gente na gente, e a gente no outro.
Como cuida da saúde, pratica algum esporte? Eu aprendi a meditar a alguns anos, então medito quase todos os dias. É uma ferramenta essencial para me ajudar no dia a dia. Estar presente, me perceber e conseguir levar meu dia tomando decisões conscientes. Acredito que a saúde começa na mente, nas escolhas diárias que a gente faz. Também tenho o costume de rezar, para mim é uma prática de saúde igual escovar os dentes! Porque me conecta comigo, com o que eu desejo e com o que quero atrair para a minha vida. Pro corpo faço o básico bem feito: busco me alimentar bem, bebo bastante água, faço academia durante a semana, e sou apaixonado por andar de bicicleta pela cidade ouvindo uma boa música. Quando tenho folga, adoro tomar um sol, fazer trilha, ver a cidade de cima e tomar um banho de cachoeira. Natureza é remédio pro corpo, pra mente e pra alma.
Está namorando? Para conquistar o seu coração é preciso… Estou solteiro. Admiração, senso de humor, paixão pela vida, curiosidade por arte e uma dose de autenticidade são coisas que me atraem. Mas se cozinhar bem, talvez eu até esqueça do resto. (risos).
Fotos Fernanda Garcia (@fegarcias_)
Styling Alex Dario (@alexdario)
Assessoria @fistpress_Comunicacao