Enquanto os outros meninos brincavam no play ele aprontava no palco do Tablado. Criado no teatro Miguel Thiré é hoje um artista versátil que vai do ator ao diretor desempenhando com maestria a função que lhe couber. Protagonista da nova série da GNT Copa Hotel que estreou em 22 de abril, Miguel acredita que a força pode estar na maleabilidade e que respirar pode ser a chave contra intolerância. Conheça um pouco mais desse jovem e já veterano ator de teatro, TV, cinema e o que vier.
Aos 10 anos você já estava no Tablado iniciando a sua carreira. Como se encantou pela arte já tão criança? Venho de família de atores, diretores e produtores, cresci nas coxias dos teatros e bastidores da televisão. No entanto, quando me perguntavam o que eu queria ser quando crescer, nunca respondi que queria ser ator. Na verdade, não tinha a mais vaga ideia. O Tablado tem a propriedade de encantar a alma de quem lá pisa. Parece forçado dizer, mas é. Lá você tem o primeiro contato com todas as funções do teatro, de uma forma muito solta e envolvente. O ator do Tablado sai com muito respeito e amor pelo palco. Juntado tudo isso com a bagagem da minha família… deu nisso!
O palco é sua casa? Sim. Mas posso dizer que me sinto em casa atuando independente do veículo. É comum dizer que o teatro é a casa do ator, que lá estamos mais em contato direto com o espectador, fazendo uma apresentação única e (se Deus quiser) viva e pulsante. Mas também vivo grandes momentos fazendo cinema e televisão. É de um enorme prazer fazer parte da grande máquina, que é um set de filmagem. Existe ainda uma vantagem de quando se atua para uma câmera: poder assistir dias ou anos depois, distanciadamente.
Você participou de “Sansão e Dalila”, umas das séries bíblicas da Record. Na história, Sansão é um homem de força física descomunal que por fim é traído pela delicada Dalila. O que pra você, torna uma pessoa forte? Não sei bem dizer sobre o termo “força”, pois acredito que uma pessoa pode ser forte muitas vezes aceitando suas fraquezas, sendo maleável. Só sei que admiro mesmo as pessoas que tem mais vontade de acertar do que medo de errar! Para mim, são essas as pessoas que vão mais longe.
O que seria pra você uma paixão proibida? Uma novela que fiz em 2006 na Band! (risos). Acho que não existem proibições para a paixão. Para realizá-la talvez!
Como lida com a beleza, a vaidade, o olhar dos outros sobre você? Não sou muito vaidoso. Não no lugar comum. Não tenho nenhum cuidado diário com o visual, não me preocupo com roupa, cabelo e etc. Cheguei a ser solto demais, agora estou um pouquinho melhor. Percebo minha vaidade na imagem que eu passo como artista, como ator. Quero que todos gostem de mim, como pessoa e como artista, o que é impossível! Isso por vezes pode ser uma prisão.
Você já foi dirigido pela grande Bibi Ferreira. Como foi a relação durante as peças? Foi uma das pessoas com quem mais aprendi até hoje. Foram três peças e inúmeros ensinamentos. Um deles repito sempre: “O ator tem que dormir”. Com isso ela não se referia somente ao descanso, mas ao tempo que se leva para assimilar as coisas. Como em qualquer oficio, o ator precisa de tempo para absorver o que se aprende. Você discute sobre uma passagem do personagem e acha que entendeu, mas muitas vezes só vai entender mesmo indo pra casa, dormindo, voltando no dia seguinte.
“O Homem travesseiro”, peça de 2012 , que recebeu o Prêmio APTR 2013 em 3 categorias, incluindo melhor direção e melhor espetáculo, trata entre outros assuntos sobre a intolerância. Será esse o mal da atualidade? Um deles com certeza. Não acredito que as coisas possam se resumir assim, mas acredito no sábio que disse: um grande percentual dos problemas de convivência entre humanos, se resolveria com respiração. Se respirássemos melhor, seríamos muito mais tolerantes e melhores na arte de viver.
Depois de muito atuar no teatro você também passou a dirigir. Qual a diferença entre esses dois papéis: diretor e ator? São papéis, profissões muito diferentes. Um é o maestro, que rege a orquestra, e o outro é o músico, que de fato põe a mão na massa, é a linha de frente. Costumo dizer que os dois existem dentro de mim, e o difícil é um não atrapalhar o trabalho do outro. Quando ator, uma das piores coisas é deixar o diretor que existe dentro de mim tagarelar na minha cabeça.
Pegando carona no nome de dois trabalhos de destaque seu, “O Cara” e “O que você gostaria que ficasse”, me diz, o que você faz para que uma mulher te ache O Cara, e de tudo o que você já viveu, o que gostaria que ficasse? Essas são duas peças de criação e direção minha, títulos cheios de símbolos, mas responder sobre isso é bem difícil! Não sei o que fazer para alguém me achar “o cara”, mas espero que esse dia nunca chegue, porque não será uma verdade. Quanto as coisas que eu gostaria que ficassem, são muitas é claro, mas escolhendo uma agora seria todos os quadros de Van Gogh.
Fala um pouco pra gente sobre a série Copa Hotel onde você é o protagonista. Copa Hotel conta a história de Fred, um carioca que retorna a cidade depois de 15 anos fora do país, para a missa de sétimo dia do pai. De herança ele recebe o COPA HOTEL. Se trata de um hotel decadente em Copacabana, que já teve seus tempos áureos nas décadas de 70 e 80. Fred, para a surpresa de todos e de si próprio, decide ficar e cuidar desse hotel. A série fala de como se pode ser estrangeiro na sua própria cidade natal, e de como um olhar inglês revela as características especificas de convivência nesse Rio de Janeiro pré-olímpico, o jeitinho brasileiro. Uma cidade de calor humano, incomum para um inglês. A enorme decadência e péssima frequência do hotel, o calor comportamental das mulheres que o abordam ao longo da série, são os temperos da trama.
E nas horas de lazer, o que costuma fazer pra se divertir e relaxar? Gosto de aproveitar o Rio com minha namorada e amigos, uma pedalada, ir à praia (agora por vezes em Copacabana, redescobri Copa!!) e coisas do gênero.
Algum arrependimento? O de não ter ficado por mais tempo estudando quando morei na Inglaterra. Durei um ano lá por achar que esse era o tempo máximo sem que as pessoas me esquecessem profissionalmente por aqui. Deveria ter estudado mais minha profissão por lá.
O que mais te dá satisfação? Estar em cena.