O desejo de atuar do ator Osmar Silveira vem desde os tempos de criança e a música sempre fez companhia a este sonho. Nos palcos com o musical Cazuza, Osmar vive o desafio de atuar também como substituto do personagem título. De jeito leve, cheio de gana pela vida e pela profissão, esse mato grossense tem talento e persistência, tem consciência da exposição que a fama traz e sabe de suas responsabilidades como pessoa pública. Osmar conversou com a MENSCH e filosofou sobre as letras do poeta Cazuza.
De Mato Grosso para os palcos. Quando e como você se descobriu como ator? E por que ser ator? Sou de uma cidade pequena no interior do estado de Mato Grosso – Campo Verde, e como toda cidade provinciana, não se tem muito o que fazer. Então, ia pra escola e o restante do dia era dedicado as brincadeiras e peripécias pelo bairro. Em 1998 com oito anos de idade cursando a quarta serie montamos um esquete para apresentar aos nossos pais e na plateia soubemos que havia uma senhora recém chegada na cidade que era contratada pela prefeitura do município para dirigir o departamento de Cultura (ddepartamento este que eu viria a dirigir anos depois). Ela estava ali a fim de convidar alguns alunos para montar um grupo de teatro. Após a apresentação eu não fui selecionado, mas praticamente implorei para entrar no grupo e fui aceito. A partir daí nunca mais abandonei o teatro, a dança e o canto.
Fiz dezenas de cursos e oficinas e fui me especializando até conseguir tirar o DRT, Registro de ator profissional. Com 16 anos fui emancipado e passei de aluno à professor de teatro do departamento de cultura , ministrando oficina de iniciação teatral para as novas turmas. Em 2009 me mudei para Cuiabá, capital do estado, contratado por uma companhia de teatro profissional e aproveitando para dar continuidade nos estudos. Cursei dois anos do curso de psicologia, mas tranquei com a certeza de que aquilo não me faria feliz. Durante os três anos que estive em Cuiabá permaneci nesta cia. de Teatro montamos vários espetáculos e viajamos por todo o Brasil. Em janeiro de 2011 regressei a Campo Verde por convite da administração da época, para assumir a direção do departamento de cultura , onde fiquei por mais dois anos . Em 2013 vim morar no Rio. Se eu não fosse ator, certamente seria algo ligado à arte, pois é o que me impulsiona, meu combustível para seguir e lutar por minhas ideologias.
Cazuza foi e é um grande nome para a música brasileira, fazer parte de um musical sobre ele tem que tamanho de importância pra você? Cazuza é um dos grandes nomes da música brasileira, revolucionário, mudou a forma de cantar e o pensamento de muitos em seu tempo e até hoje continua a impressionar. Fazer parte de um musical como este é de extrema importância para mim, poder contar um pouco da história deste cara que foi um herói na década de 80 é motivo de muito orgulho. Fazer com que, quem conheceu recorde e sinta saudade, e quem não conheceu se apaixone e queira mais.
No musical, você é o ator substituto para o papel título na ausência do Emílio Dantas, como se preparou pra viver o Cazuza? O processo de preparação para os substitutos é um pouco diferente dos titulares. Os ensaios e preparação são feitos para os titulares e após a estreia é que começam os nossos ensaios. Durante os ensaios com o titular temos que estar sempre ligados e prestando atenção a exatamente tudo, pois quando tivermos que substituir, que saia o máximo parecido, temos então o titular como um espelho, mas claro que jamais ficará idêntico, pois cada ator tem sua forma de construir ou se encontra em um momento diferente, que traz emoções diferentes para aquele personagem, mas sempre respeitando o máximo possível de verossimilhança, com as marcas, trejeitos e falas estabelecidas pela direção. E assim me preparei, fiz algumas aulas de fono para ajustes de prosódia e também aulas de canto para trabalhar timbre e coloratura vocal.
Das músicas do Cazuza que fazem parte do espetáculo, com qual se identifica mais? E por que? A musica que eu mais me identifico no musical é a musica que fecha o espetáculo “Sorte ou azar” porque acho que é exatamente isso, tudo se dá a partir de nossas escolhas, é seguir o coração ou não, se vai doer ou vai ser bom demais é “pagar pra ver”! Me identifico muito com essa musica, pois muitas vezes quero ser racional e acertar, mas acabo me jogando e correndo risco mesmo que não saia como planejei, tento sempre tirar uma boa lição de tudo isso, ainda que doendo um pouco.
Como cuida da voz e do corpo? Algum preparo especial para o espetáculo? Temos aquecimento vocal regularmente todos os dias antes das sessões. Cada um, de acordo com sua necessidade, faz seu aquecimento corporal. Em geral todos fazem aula de canto particular para trabalhar as músicas e técnicas vocais, assim também com os cuidados com os corpo, alguns malham, outros fazem dieta, as vezes também precisamos atender a algumas solicitações da produção. Eu precisei perder alguns quilos para viver o Cazuza. Mesmo sendo substituto, tinha que estar pronto a qualquer momento para entrar em cena.
Musical foi um gênero desejado por você ou surgiu a oportunidade e você se lançou nela? Sempre tive atração por este gênero, mesmo quando criança sem ter total noção do tamanho disto tudo. Nas peças que montávamos sempre dava um jeito de colocar música ao vivo e canções costurando os textos, como sempre participei de grupos de canto, coral, a música sempre veio atrelada ao teatro, então venho trabalhando as duas coisas juntas desde pequeno, mas só tive maior entendimento depois de grande e com a grande quantidade de trabalhos que surgiram no Brasil que hoje é o terceiro país no ranking de produção musical.
A vida artística leva a uma exposição pública muito grande, está preparado para isso? Já sentiu algum efeito disso? Com certeza! Confesso que sempre desejei esta exposição, pessoas me reconhecendo na rua, admirando meu trabalho. Tenho dúvidas quanto estar preparado, pois não sei exatamente até onde isso pode chegar. Quando cheguei ao Rio tinha 300 seguidores nas minhas redes sociais, aí veio o primeiro musical, o segundo, matérias, revistas… E, hoje em apenas 8 meses estou com mais de 12 mil seguidores, fã clube e muitos admiradores do meu trabalho, acho incrível e acredito que seja só o começo.
Em tempos de redes sociais, toma cuidado com o que posta ou não se importa? Como você é como internauta? Sou muito tranquilo com o que posto, normalmente coloco e divido coisas pessoais. Tenho a consciência que toda esta exposição acaba nos tornando formadores de opinião e essas opiniões, quando mal colocadas, podem afetar ou prejudicar seriamente alguém. Por isso acabo colocando mais sobre as minhas conquistas, dividindo meus momentos de alegria e também trabalhos.
E nas horas de descanso, o que costuma fazer pra relaxar e curtir o lazer? Atualmente tenho uma rotina tranquila de trabalho, então consigo aproveitar bem o dia. Gosto muito de ir à praia com amigos ou sozinho, gosto de ir ao cinema, ver espetáculos, adoro ficar em casa não sou muito de sair pra balada, então curto meu descanso fazendo coisas simples, mas que me renovam, para voltar ao trabalho recarregado.
Cazuza era muito crítico e isso era uma constante em suas músicas, como é o cidadão Osmar? Como se posiciona diante dos problemas de nossa sociedade? Sou bastante crítico, mas comigo mesmo. Me cobro muito, busco para que as coisas aconteçam da forma mais correta possível, sou muito observador e por ser assim, acabo vendo muitas coisas das quais não sou a favor, se acho que preciso falar, digo, caso contrário guardo aquilo e faço minha própria reflexão, sou muito expansivo e quando me calo é porque algo aconteceu. Sou bastante comedido antes de emitir uma opinião, normalmente, exponho as minhas, sejam elas sobre assuntos particulares, sobre outras pessoas ou problemas sociais, o que me difere bem da personalidade do Cazuza que costumava gritar aos quatro cantos o que pensava sobre os outros e nossa sociedade.
Ideologia, você tem uma pra viver? Qual? Tenho várias! Lutar por um mundo sem desigualdade e preconceito, onde todos possam se respeitar e se ajudar independente de raça, credo , opção sexual. Ideologia é algo bom, muito bom. Viver com um ideal, acreditar, lutar por um marco. O que não deve ser defendida é a ideologia cega, a alienação que leva ao autoritarismo e endeusamento de uma das várias formas de se enxergar o mundo, por isso o respeito também torna- se essencial, respeitar a visão do outro não importando o quão contrário ela seja da sua.
Em algum momento da sua vida já desejou que o tempo parasse? Diversas vezes, tem dias que gostaríamos que o tempo parasse. Como quando recebemos uma boa noticia que o coração dispara e o sorriso se alarga, ou quando olhares se cruzam e falam mais do que cem mil palavras, um bom beijo, um abraço apertado nos pais, uma roda de violão com amigos. Que o tempo parasse em dias de temporal e famílias não fossem desabrigadas, que o tempo parasse em trocas de tiros e pessoas não fossem atingidas. Mas como não é possível, que o tempo passe e eu vou eternizando os bons momentos em minha memória.