ENTREVISTA: Pablo Bellini, o ator argentino que está se realizando no Brasil‏

Pablo Bellini desconstrói estereótipos. É argentino, mas não sabe jogar futebol, tem um jeito de latin lover, mas é super família e não acredita valer a pena arriscar perder algo difícil de achar, como uma mulher maravilhosa, por algo fugaz que se encontra em cada esquina. Com os filhos nascidos no Brasil, Pablo já pode ser considerado mais que um hermano, afinal, caiu no gosto do público, mesmo com papéis controversos, e nas graças no núcleo de teledramaturgia da Globo, onde tem cada vez conquistado mais espaço e personagens. Entre Brasil e Argentina, Pablo se divide entre as paixões de um país e outro. Da Argentina sente falta das caminhadas noturnas e do sorvete de doce de leite, do Brasil sente falta da simpatia e do calor dos brasileiros. De barman a modelo e agora ator, atualmente na novela “Cheias de Charme”, Pablo Bellini é uma pessoa que vale a pena conhecer mais, mesmo tendo vindo do país “rival”, afinal, ele é ator e não jogador de futebol, né?

Você veio para o Brasil para acompanhar sua esposa, na época namorada, quando ela fazia uma temporada de balé e acabou ficando e ela voltando. Não pensam em se estabelecer de vez no Brasil? A minha esposa veio primeiro do que eu contratada por uma companhia de balé de São Paulo. Depois eu larguei tudo para vir atrás dela e a gente chegou a morar em São Paulo  um tempo. Foi lá onde nasceram meus filhos e tenho grandes amigos. Durante esse tempo eu trabalhei de modelo e graças a isso consegui viajar pelo mundo. Depois comecei a estudar teatro e foi a partir daí que eu fiz três minisséries na Globo, Maysa, Dalva e Herivelto e Tudo Novo de Novo, e uma participação em Araguaia. Depois disso eu voltei para Argentina no ano passado. Nesse intervalo me convidaram para fazer um teste para a novela e acabei voltando para o Brasil. Não deu nem tempo de desfazer as malas e eu já estava aqui de volta (risos). Eu estou muito feliz, já que sempre quis fazer uma novela inteira, sobretudo na Globo, onde eu acredito, se faz as melhores novelas do mundo. Eu não pensei duas vezes e voltei, só que dessa vez direto para o Rio e estou gostando muito de estar aqui de volta, curtindo muito essa cidade maravilhosa. Penso sim em ficar por aqui, mas primeiro preciso conversar com minha esposa sobre isso (risos). 

Passando essa temporada no Brasil, você já sentiu alguma resistência por parte do público por ser argentino? Ou a “rivalidade” só existe no futebol? A única hora que sinto resistência é quando se fala de futebol (risos). Quando me perguntam quem é melhor se Pelé ou Maradona (risos), fora isso sempre fui bem tratado. Uma ou outra piadinha e nada mais (risos).
Por ser argentino e morar no Brasil, é muito cobrado em ser bom de futebol? Conversa com os brasileiros sobre futebol ou acha melhor não entrar em polêmicas? (risos) Eu gosto muito de esporte e de jogar bola, mas sou muito ruim (risos). Sempre que me convidam eles acham que por eu ser Argentino jogo que nem o Messi (risos). Outro dia fui jogar convidado pelo Lucas Ribeiro, um ator do elenco, e depois do jogo ele me falou “você me enganou Pablo, acho que você não é Argentino é Paraguaio (risos)”. Se fosse jogador ia ser um Dunga ou um Simeone e só cometeria faltas.
Fazer novela no Brasil é só mais um trabalho ou poderia ser considerado um sonho antigo? É um sonho antigo que por sorte e muito sacrifício consegui realizar. Agora me convidaram para uma peça de teatro (cartaz abaixo) depois da novela e gostaria muito fazer cinema.

 

Em recente entrevista você disse: “o olho vai, mas o coração segura“, em relação aos instintos sexuais, a distância da família e o seu casamento de 18 anos. Acredita que a traição, mesmo com tudo conspirando “a favor” pode ser evitada de fato? Lógico que se pode  evitar, a mente domina o corpo, senão seríamos animais e não seres humanos. Mas lógico que a tentação existe, mas sou muito esforçado e não colocaria em risco uma família por causa de uma tentação. Mas que é difícil é! (risos)Falando sobre assédio feminino, as brasileiras superam as argentinas ou você consegue passar despercebido por elas? (risos) Agora esta difícil. O assédio está sendo grande. Sabia que fazer novela aqui no Brasil tinha essa repercussão, mas é bem maior do que eu esperava, só vivendo mesmo para se ter a ideia real do que significa. Na rua já me falaram “Alejandro mi amor”. É algo novo para mim, estou curtindo muito. O artista gosta e precisa ser reconhecido faz bem para o ego. Acho que no Brasil as mulheres são mais simpáticas e abertas, as argentinas são um pouco mais introspectivas e os atores de novela são menos assediados do que aqui.

 

Você tem 37 anos e está nessa relação há 18 anos. Ter casado muito cedo fez você amadurecer logo? Como é o Pablo marido e pai? Casado estou há 10 anos, o resto foi de namoro, mas eu entrei na linha mesmo depois de casar. Mas já tinha aproveitado bastante, já que fui criado por meu pai e ele sempre me deu muita liberdade. Fora isso, saí de casa, comecei a trabalhar e pagar as contas com 18 anos. Lá na argentina é muito comum isso e dificilmente você recebe mesada e roupa lavada (risos). Tudo isso fez com que eu amadurecesse mais cedo.
Eu tento ser um bom marido e um bom pai, me cobro muito e tento sempre ser melhor, eu dou meu máximo e sei que não sou o melhor, mas pelo menos tento ser. Gosto muito de participar na criação dos meus filhos, gosto de levar eles pra passear, ao médico, buscar na escola, levar no parque, brincar etc. Não sou daqueles pais que só compram presente, acho que carinho, amor e presença fazem a diferença na hora de criar os filhos.Podemos dizer que você é um homem-família? Qual o valor dela pra você? Sim, com certeza. É a primeira e mais importante coisas para mim, tudo o que eu faço é por eles e pensando neles. Desde que meus filhos nasceram são o centro do mundo. Antes eu era a terra agora eles que são e eu virei apenas um satélite que gira ao redor deles. A família é simplesmente tudo e sempre falo que “o lugar mais lindo do mundo é ao lado deles”.

 

A novela “Cheias de Charme” é seu quinto trabalho na Globo (já fez participações em “Tudo Novo de Novo”, “Araguaia”, “Maysa” e “Dalva e Herivelto”). Sente que está conquistando cada vez mais espaço na teledramaturgia brasileira? Sim, acho que o Brasil e a Globo me deram muita oportunidade, coisa que ainda não tive no meu país por enquanto, por isso sou grato! Aqui consegui realizar meu sonho de ser ator e pretendo seguir ganhando mais espaço, mas eu gosto que as coisas aconteçam no seu devido tempo, não gosto de cortar caminho, nem de atropelar as coisas, gosto de ir passo a passo.

 

No início soube que você achou que seria muito difícil encontrar papel aqui no Brasil por conta do seu sotaque, mas terminou entrando para a série “Maysa” justamente por conta dele. Como foi o convite e a experiência de participar de um trabalho tão importante aqui? Sim, algo que achei que iria ser um empecilho acabou me ajudando (risos). Maysa foi maravilhosa, o Jayme Monjardim deu essa oportunidade para mim e eu agarrei com unhas e dentes. Tentei dar meu máximo e acho que valeu a pena. Foi um trabalho maravilhoso e uma responsabilidade muito grande já que era uma história real e sobre tudo a história de vida do próprio diretor da série.

O ator português Ricardo Pereira, fez sessões de fonoaudiologia para “perder” o sotaque português e assim ampliar as possibilidades de personagens. Você pensa sobre isso? Sim, já estou pensando nisso. Já conversei com uma fonoaudióloga e em breve vou começar. Só que no caso do de Ricardo é um pouco mais simples pois ele já fala português, só que com outro sotaque, eu falo já falo outro idioma.

Engraçado que você tem um casamento estável, mas vem fazendo papéis de homens conquistadores, que ou traem suas esposas ou fazem as esposas traírem seus maridos. Como lida com isso e mais, como a sua esposa lida com isso? Não rola ciúme? Engraçado (risos), acho que o sotaque remete muito a o latin lover, a essa coisa do conquistador, mas eu sou um cara tranquilo. A minha esposa lida bem com isso, ela confia em mim e é uma relação de muitos anos e muita madura. Já aprontei muito, acho que tem a hora certa para isso. Fora isso a gente conversa muito sempre. Não vou arriscar perder uma mulher maravilhosa e uma família linda por uma traição, por um ato de paixão. Acho que o amor duradouro é muito mais difícil que uma paixão passageira, seria um negócio ruim perder algo muito mais difícil de encontrar por algo que você acha em qualquer esquina.

 

Você começou a trabalhar como modelo. Como foi descoberto? Era sua meta se tornar modelo e talvez um dia virar ator? Ou a meta sempre foi ser ator, e modelo foi só mais um degrau? Eu era barman e trabalhei em hotéis com isso. O trabalho de modelo foi sem querer. Quando fui morar em São Paulo comecei, por insistência da minha esposa e das amigas dela. Logo que fiz o primeiro trabalho ganhei o que eu ganhava em um mês no hotel e não pensei duas vezes. Trabalhava como modelo, sendo que gostava mais de comercias do que foto e foi aí onde comecei a estudar teatro e decidi ser ator. Mas comecei como hobby, achando que nunca iria trabalhar no Brasil por causa do sotaque. Meu professor falava “você com esse sotaque ia ter que voltar para a Argentina para trabalhar como ator.” Mas de uns anos para cá a Globo se preocupou em dar mais veracidade nas novelas e evitar o sotaque forçado, acho que isso foi fundamental para mim.Você é ligado em moda até que ponto? Qual seu estilo de vestir?Gosto de usar algumas coisas da moda e outras mais básicas, fora isso sou um pouco careta, tem coisas que eu gosto, mas não tenho coragem de usar (risos).
Respeito muito a moda. Acho que é arte e como tal deve ser respeitada.

Do que sente mais falta da Argentina nesse tempo todo que está no Brasil? Ler um jornal enquanto tomo um café sentado na calçada, sentar numa livraria para ler, sair e caminhar à noite para tomar um sorvete de doce de leite com a família.

E do que sente falta do Brasil quando está na Argentina?As praias, a simpatia e a alegria das pessoas, o calor, o sorriso do povo.

 

Fotos: Drica Donato
Produção: Guerreiro Cavaleiro / Gabriel Daniel
Agradecimentos: Container Multimarcas – Barra
Studio fotográfico Drica Donato
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