Texto: André Porto e Nadezhda Bezerra / Fotos: Divulgação
Para algumas pessoas ter na genética a vêia artística de pais como Elis Regina e César Camargo Mariano pode ser uma carga muito grande que talvez resulte no comodismo, já que tudo isso seria o suficiente para se lançar ao sucesso. Mas para o cantor Pedro Mariano, a música é muito mais que algo genético ou de sobrenome, a música é a filosofia de vida dele. A música é o talento dele. A genética não garante o sucesso, mas o talento sim. E ao longo de sua carreira de sucessos Pedro foi se descobrindo cada vez mais capaz do seu potencial e fazendo parcerias (e amigos) de sucesso que resultaram em indicações ao Grammy, reconhecimento musical que o leva ao o sucesso incondicional. Aliás, Incondicional é o nome do seu mais recente cd, o 7o de sua carreira, agora com selo próprio. Conheça um pouco mais desse grande artista e vire fã!
A música sempre esteve presente em sua vida, chegou a pensar em ser outra coisa que não fosse ligado à música? Existiu essa possibilidade? Tirando a fase de criança, nunca pensei em outra coisa. Na fase de adolescente sempre me perguntava qual faculdade eu faria e na época não existia (como hoje) faculdades de música no Brasil, então como ninguém ficava satisfeito com a opção em ser músico, acabava dizendo que faria Arquitetura, mas esse plano nunca saiu do papel. Essa história rendeu o boato que dura até hoje de que eu queria ser arquiteto… Nunca passou pela minha cabeça! Não deu tempo!
Em 1995 você participou do cd do seu irmão “João Marcello Boscoli & Cia.” ao lado de amigos como Wilson Simoninha e Claudio Zoli. Aquele foi um ensaio para sua carreira solo? Como foi participar daquele projeto? Na verdade eu já estava em processo de consolidação do formato de carreira solo, porque já havia um tempo eu saíra da minha banda, a Confraria, e fazia shows em pequenos bares da Vila Madalena como artista solo. Depois desta fase veio a homenagem que eu e o João fizemos para minha mãe. Isso foi o que realmente possibilitou a entrada em uma gravadora, criando a chance de fazer parte deste projeto junto com todos estes nomes. Esse disco foi muito importante para aliviar a pressão que existia para que eu gravasse logo o meu disco, o que depois de toda a repercussão da homenagem à minha mãe, era o que eu menos queria. Era importante que a poeira assentasse, e aí sim decidir qual melhor caminho.
O que os “Artistas Reunidos” (Max de Castro, Wilson Simoninha, Jairzinho Oliveira, Luciana Mello, Daniel Carlomagno e João Marcelo) tem mais em comum fora a música e a herança musical genética? Acho que muitas coisas, além do universo musical. Tenho muita afinidade pessoal com a família do Jair. Vivo na casa dele, nossas filhas vivem brincando, assim como com a Luciana também. Mas todos nos relacionamos com muita freqüência e amizade, mas a grande verdade é que a música nos rodeia e nos norteia.
Quem é Elis Regina pra você?
A maior cantora que eu já vi em ação.
Fora o gosto pela música o que você herdou da sua mãe e do seu pai? Meu pai sempre me disse que minha forma de me relacionar com as canções que escolho é muito parecida com a da minha mãe. Que meu temperamento por muitas vezes também lembra o dela, apesar de me achar bem mais manso que ela! Sou muito organizado no trabalho, gosto de palco e de me preparar para meus compromissos com relativa antecedência, o que é mais parecido com meu pai. Mas sou bem menos preocupado que ele, passo pelos preparativos relativamente relaxado. Talvez porque confie muito na minha equipe. Sou mais de observar do que falar, o que é bem mais meu pai. Talvez seja isso… ou não!!
Em 2003 você fez uma parceria com seu pai César Camargo Mariano no CD “Piano e Voz”, e no CD “Voz no Ouvido” o César participou como produtor juntamente com Otávio de Moraes. Esses trabalhos em conjunto refletem uma afinidade musical entre pai e filho ou é apenas resultado de uma parceria comercial? Muito mais que isso, é uma parceria profissional entre dois colegas de trabalho que têm muita admiração um pelo outro. Sou fã do trabalho dele, e o fato de conhecê-lo muito bem me deixa honrado saber que fiz por merecer a parceria dele, que é muito criterioso e junta seu nome com qualquer um. Além de não ser paternalista nem nepotista.
Que comparação você faria entre “Intuição”, “Piano e Voz” e o mais recente “Incondicional”? É muito difícil pra eu fazer esse tipo de comparação, são momentos diferentes com propostas diferentes. Mas todos eles têm um papel muito grande na minha formação, e quando os ouço sinto nitidamente a transformação que o cantor sofreu ao longo do processo. Sou muito auto-crítico e gosto de sentar e fazer esse tipo de exercício. Sabendo como cada disco foi feito, suas circunstâncias e tudo mais que envolve uma produção, consigo ver como me saí em cada um deles. Isso me traz a bagagem que preciso para uma nova empreitada.
“Incondicional”. Por que este nome para a sua turnê? O nome é o mesmo do disco, e o nome do disco veio quando buscava um nome que me desse uma sensação de eternidade, mas não no sentido soberbo da palavra, mas sim de algo que fosse como o amor, que como disse o Vinícius de Moraes: “Que seja eterno enquanto dure.” Partindo desse raciocínio cheguei à palavra “incondicional” que reflete o meu relacionamento em particular com esse disco. Depois de toda a novela que foi para conseguir liberar esse disco, cinco anos aguardando o momento de poder ir para a estrada com ele, acabei desenvolvendo uma relação diferente com essas músicas. Daí meus sentimentos incondicionais por ele.
Em uma das suas músicas você fala “simplesmente posso esquecer”…o que você não consegue esquecer ou perdoar? Falta de respeito, acho que não dá mesmo!
Cantar, ouvir aplausos no final, você consegue descrever a emoção do artista diante de sua platéia? Só que passa por isso sabe o que é essa sensação. Não existe nada paralelo que se possa comparar!
Você chegou a ser indicado várias vezes ao Grammy, inclusive como “Melhor Disco Pop Brasileiro”. Você esperava por essas indicações? O mercado latino é uma boa saída para músicos brasileiros que desejam divulgar seus trabalhos?
Não esperava as indicações, e foi muito gostoso. Hoje com a internet é possível afirmar que as fronteira foram derrubadas, porque é comum eu receber notícias de que meu disco foi parar em algum canto da Europa pelas mãos de algum fã e de repente aquele país pode ser um mercado em potencial, sem que você tenha feito quase nada! Tudo isso é muito louco!!
Com “Incondicional” você lança seu próprio selo, Nau. Era algo desejado há muito tempo? Esse cd tem um gostinho especial por conta disso? Era algo que inevitavelmente aconteceria. Dentro de uma gravadora as coisas mudaram muito e, talvez para que esteja começando agora, tudo seja normal, mas para que é da minha geração, as coisas estavam um pouco desconfortáveis. Não me via mais dentro deste cenário, e além do mais sempre tive minha equipe trabalhando minha imagem, mesmo quando estava em gravadora, e acho que aquele espaço dentro da companhia deveria ser ocupado por algum artista novo, que precise de todo aquele aporte. Minha carreira fluindo como ela vem fluindo, é bem plausível seguir a vida em um selo próprio. E sim, o gosto é especial.
Você começou o ano abrindo a temporada no Tom Jazz cantando além de outras coisas, músicas de outros artistas, dá nervosismo cantar música de amigos, ainda mais com eles assistindo? Confesso que cantar músicas inéditas para o público é bem mais difícil, mas totalmente confortável não é!
Você se sente realizado como artista? O que você espera do futuro? Sim, sem dúvida! Agora o futuro só depende de minhas ações, e procuro ser muito honesto comigo e com meu público. O próximo passo é sempre difícil, mas o fato de conhecer bem os que me acompanham, me dá uma certa dose de confiança. Mas o que eu sei, com certeza é que sempre buscarei novidades, não quero ficar vivendo de conquistas já feitas, quero sempre conquistar mais.
O que a maturidade está te trazendo de bom?
A calma! Um bem precioso na minha profissão!
O que você gosta de ouvir para relaxar?
Nada!! Se colocar música, começo a trabalhar!! O silêncio é maravilhoso!!
Agradecimento: Patrícia Fano
Agradecimento especial a Pedro Mariano