Ele veio da terra do pão de queijo, da fala gostosa, do jeito manso e ganhou todo o Brasil com sua qualidade artística. Na mala trazia Pessoa, e talvez um verso do grande poeta português traduza bem a sua saída de Minas em busca de tornar-se ator “Viajar! Perder países! Ser outro constantemente, Por a alma não ter raízes, De viver de ver somente!” E tantos outros Petrônio Gontijo já foi (e ainda será) que a viagem valeu a pena. Discreto e sereno Petrônio não para, como os trens das ferrovias mineiras e enquanto filma uma nova série pela Record se prepara para estrear a peça Três dias de chuva. Com vocês, Petrônio Gontijo.
Do que mais sente falta das Minas Gerais? Da música, violão, fogueira, essas coisas, cresci ouvindo Milton Nascimento e Lô Borges.
Você começou a carreira aos 2 anos interpretando o menino Jesus. Como é sua relação com religião e fé? Fui criado na igreja católica e hoje entendo a religião como algo bastante particular. Acredito em não fazer ao outro o que você não quer que te façam. E também em julgar menos. Julgar nada, se possível.
Aos 17 anos você sai de Varginha para São Paulo em busca de novas oportunidades artísticas. Quais sonhos você levava na bagagem na época e quais desilusões vivenciou que de certa forma ajudaram você a ser o ator que é hoje? Eu queria mesmo ser ator, era essa minha vontade: trabalhar no palco e fazer isso com pessoas bacanas. Saí de casa levando um toca discos, uma mochila e a antologia do Fernando Pessoa, que minha mãe me deu. A coisa aconteceu. Fiz trabalhos que já me deram muita satisfação. Não consegui ter um grupo de trabalho, aquela ideia de ter um grupo de livre criação no teatro. Acreditava em um meio artístico mais coeso, político, menos individualista. Aprendi seguir carreira solo, mas sinto falta do grupo, de pensar com objetivo grupal e não apenas individual.
Você iniciou sua carreira na TV na novela Salomé, na Rede Globo, de lá pra cá tantas outras novelas e mudanças também de emissoras. O que aprendeu de melhor em cada emissora por onde passou? Que cada lugar é completamente diferente do outro e que isso é bom. Aprendi que se você fizer seu trabalho com competência, estudo, em qualquer um desses lugares, o resultado vai ser satisfatório.
Você já recebeu vários prêmios por sua atuação, isso envaidece, motiva? Qual a importância que tais prêmios têm para um ator? Motiva sim. Recebi alguns prêmios por alguns trabalhos e sempre vieram bem, não envaideceram, pontuaram um momento, apenas. O prêmio é uma consequência.
Em 2007 a Globo exibiu o filme Memórias Póstumas de Brás Cubas, onde você interpretava o personagem título quando jovem. Ao olhar sua vida daqui pra trás, quais seriam suas melhores recordações? Esse filme é uma ótima recordação. Filmamos em Salvador, Rio e Portugal, fomos itinerantes por 3 meses e eu dividi o Brás Cubas com o grande Reginaldo Faria. Aprendi muito ali. Não tinha feito quase nada de cinema e era uma turma de grandes veteranos. Me lembrei da peça Algo em Comum, do Harvey Fierstein que fiz com a Clarisse Abujamra, direção do Marcio Aurélio. Foi um bom momento pra mim. Foi quando percebi que o trabalho do ator podia ser todo autoral. Que cada ação em cena pode conter uma espécie de depoimento do ator. Tenho um carinho grande por essa peça.
Como está sendo a experiência na série “Conselho Tutelar” (série da Record)? Gravamos a primeira parte do seriado no primeiro semestre, e devemos estrear antes do fim do ano. É uma parceria da Rede Record com a Visom Digital. “Conselho Tutelar” é um seriado contundente que fala sobre a violência contra as crianças no Brasil e a luta de algumas pessoas pelo resgate da dignidade dessas crianças. O texto é do Marco Borges e a direção geral do Rudi Lagemann. Faço André Noronha, um promotor de justiça que a princípio vai contra as ideias do protagonista (Roberto Bomtempo), embora seja namorado de sua ex-mulher (Cássia Linhares).
Conta pra gente sobre o enredo de “Três Dias de Chuva” e sobre sua próxima peça. Vou estrear em agosto, em São Paulo, a peça “Caros Ouvintes”, que conta a história da apresentação do último capítulo de uma radionovela antes do encerramento da febre das novelas de rádio no Brasil. Um elenco incrível, com Amanda Acosta, Natalia Rodrigues, Agnes Zuliani, Rodrigo Lopez, Eduardo Semergian, Alex Gruli e Alexandre Slaviero. Texto e direção de Otavio Martins. Com o próprio Otávio Martins (desta vez como ator) e Carolina Ferraz, em breve seguirei com as apresentações de “Três Dias de Chuva”, texto de Richard Greenberg e direção do Jô Soares. Uma peça que conta a história de três amigos que tentam compreender as atitudes de seus pais, numa Nova York beatnik, densa, pós guerra, regada ao Jazz dos anos 60.
Qual o grande barato de ser dirigido pelo Jô Soares? O Jô sabe tudo. Ele veio do Teatro Brasileiro de Comédia, teve contato com grandes artistas mundiais de lá pra cá. Sua compreensão do gênero chamado “realismo” nos fez buscar um trabalho menos analítico e mais intuitivo, menos maneirista e mais a serviço do que a história da peça realmente quer contar. Um cara generoso, portanto inteligente, preocupado com o público. Fico orgulhoso de trabalhar com ele.
Como é a sua rotina fora dos palcos e das telas? O que gosta de fazer nos dias de lazer? Eu gosto de ir para o campo. O interior de São Paulo tem lugares muito bonitos. Gosto de cachoeira, de árvores. Saio pouco em São Paulo, saio mais pra ver teatro, shows, cinema e também pra visitar os amigos.
Em ano de eleição o que faria você estrelar no programa político de algum candidato? Teria que ser um candidato honesto e que eu enxergasse isso nos seus gestos e palavras. Um candidato que enxergasse a corrupção como uma perda para a nação e consequentemente para seu bolso, e não o contrário. Que tivesse atenção com as necessidades da população e não a enganasse, dando exemplo a seu próprio povo em como agir de forma mais madura. Não fiz nem penso em fazer campanha política.
Qual o papel da arte em uma sociedade? Um dos papéis acredito ser lembrar-nos que somos livres, que pensamos, que nos emocionamos, que tudo isso é muito particular e que as coisas sempre podem mudar.
Como lida com fama, mídia e privacidade? De forma tranquila, não sou de badalações então fico menos exposto, acho. Moro no décimo sexto andar, isso também ajuda (risos).