De carreira ainda em início, mas com muita bagagem, Renato Góes encara a vida pelo hoje. Pratica a felicidade de forma simples e abraça a carreira com respeito, humildade e a certeza de que está no lugar certo, no caminho certo. Pernambucano de nascença, carioca de moradia, Renato é do tipo que gosta de tudo um pouco e veio pra vida pra viver sem restrição. No ar em Joia Rara, novela das 18h na Globo, vive mais uma personagem de época, onde tem a oportunidade de mergulhar na história e em temas como o budismo. Observador e cheio de vontade, Renato está só começando, mas já é sucesso.
A vontade de ser ator, de se descobrir ator surgiu em que momento da sua vida? Na minha infância inteira gostei de imitações, piadas e sempre participei de peças teatrais em colégio ou com a turma do prédio brincando de fazer teatro! Comecei a desfilar aos 4 anos de idade e sempre fiz trabalhos relacionados como fotos e figurações em comerciais locais. Aos 15 anos comecei a fazer mais trabalhos na área, vários comerciais de TV e fui me interessando mais. Rapidamente me vi limitado, pois entendi que enquanto eu ganhava X pra aparecer lá atrás, o cara que “tinha fala” no VT ganhava 10x. Então pensei: eu consigo fazer isso também. E procurei saber o que eu precisava pra estar no mesmo lugar daquela galera que “falava” nos comerciais. E as pessoas me disseram: “Ator, você precisa ser ator”. Foi a partir daí que procurei o teatro e me apaixonei rapidamente por ele, passando a ser meu foco. Cursei a Escola SESC de Teatro em Piedade, Jaboatão dos Guararapes.
Como chegou na Globo e como isso influenciou na sua carreira? Fiz um desfile no Recife Fashion para VR Menswear entre 2004 e 2005, que o Cauã Raymond estava presente, e com ele seu produtor, na época Ivan Neves, braço direito do empresário carioca Guilherme Abreu. Tentei de alguma forma entrar em contato com o cara e fiquei sabendo que ele era pernambucano radicado no Rio de Janeiro. Buscando um pouco mais, descobri que ele era meu primo de 3º grau. Assim ele levou fotos minhas e currículo para o Rio. Só de ter tido contato com aquela turma de atores e empresários, eu senti que estava tudo muito próximo de mim. Um ano depois, sem eles terem feito nenhum contato anterior (eu até achava que nem lembravam mais da minha existência) eles me mandaram um e-mail falando que tinham um teste pra eu realizar na Globo. Daí começou uma relação profissional com Ivan Neves, Renato Góes e Guilherme Abreu. O primeiro teste não resultou no esperado, mas alguns meses depois fiz umas fotos e as mandei para o Guilherme, ele me colocou como ator em seu site. E já nas primeiras semanas no site, Luciano Rabelo, produtor na época de Pé na Jaca me viu e me convidou pra fazer teste pra novela. E aquele seria meu primeiro trabalho na Rede Globo.
Cordel Encantando veio com uma narrativa e fotografia bem diferentes do usual e acabou por encantar o grande público. Foi um divisor de águas para sua carreira? Como se sente tendo feito parte disso? Com certeza o momento mais importante da minha, ainda curta, carreira. Um marco, divisor de águas na teledramaturgia brasileira. Mudou a vida de muita gente envolvida e mexeu com os corações do Brasil inteiro. A magia dos castelos franceses somadas ao encanto do cangaço nordestino, tudo com uma bela dose de humor e um elenco de craques afinados e que estavam nitidamente orgulhosos em fazer parte daquele trabalho. Um acerto do começo ao fim. E o Faustinho, meu personagem, vai ficar pra sempre no meu coração. Nunca me diverti tanto trabalhando!! Simplesmente um privilegiado de estar naquele lugar.
O sotaque nordestino nas novelas costuma ser criticado, as pessoas acham caricato demais. Sendo ator, nordestino e tendo participado de uma novela ambientada no Nordeste, qual a sua opinião sobre isso? Mais um acerto no Cordel, o sotaque. Ao invés de investir nas aulas de prosódia, Amora Mautner e Ricardo Waddington investiram na liberdade de composição e acreditaram na fábula como um todo, deixando os atores livres pra construírem seu sotaque, pra criarem a sua “brogodó”. Atrelado a isso, um texto bem escrito de modo que já era possível dar vida e corpo ao sotaque.
O que leva de Pernambuco dentro de você para onde for? E quando vai a Recife o que gosta de fazer? A veia artística pernambucana em todas as áreas e vertentes é muito forte, por isso, eu procuro ficar atento a ela. Sempre que estou no Recife, procuro assistir aos espetáculos que estão em cartaz, ir aos shows dos artistas locais (sempre que rola no Rio ou em Sampa também vou), bares onde sei que vou encontrar a galera do teatro e do cinema e reencontrar amigos!! O Bar Central, por exemplo, é ponto certo quando estou na cidade, Sapão também, e o agora extinto Garagem. Enfim, reconectar é a palavra-chave quando estou no Recife.
Ser ator e poder interpretar vários personagens te deixa mais versátil em se adaptar mais facilmente a diferentes situações? De certa forma os personagens te acrescentam algo? Em primeiro lugar “conhecimento”. A cada novo personagem, um novo universo a ser percorrido, vivenciado, experimentado. E mergulhar nesses universos demanda muito estudo. E estudo naturalmente traz conhecimento. Fecha o ciclo. Adaptar-se às situações, lugares e tribos é, sem dúvida, uma destreza adquirida nessa profissão e se faz cotidiana. Tanto no âmbito da convivência quanto no da pesquisa!
Como se prepara para um personagem? Cada personagem demanda um processo. Não sou apegado a rituais fixos, tenho meus caminhos para vivenciar cada personagem. Porém três coisas são essenciais: ler muito, assistir a muitos filmes e ser observador. O teu taxista de hoje pode ser teu personagem de amanhã. Esses três pontos devem ser referências para construção. Pra completar a construção do personagem mais dois pontos são importantes: instinto e inteligência cênica, ou seja, fazer sem medo, errar sem culpa, ouvir, compreender e então dar o que está sendo pedido!
Joia Rara, novela das 18h da qual faz parte, trata de vários temas, budismo e preconceitos de classes. No que acredita em termos de religião e política? Sou católico, frequento a igreja semanalmente e sou politicamente desacreditado. Gostei de Fernando Henrique e Jarbas Vasconcelos. Hoje quando procuro entender sobre política, quanto mais me aprofundo, mais me afasto. Pintei a cara e fui às ruas, mas em certo momento me perguntei; “Por quê?”. Nada mudou.
Temas como esses são mais desafiadores para o ator ou a comédia, o fazer rir, se torna mais ainda mais desafiador? O desafio é ter a sabedoria de saber embarcar na fantasia do texto. O tema é abrangente e muito bem abordado. E a trama, como característica das autoras, viaja por diversos universos, e, felizmente estou tendo a oportunidade nesse personagem de permear pelos núcleos e pelas diferentes densidades cênicas. Das pesadas e sérias cenas com o Carmo, com o Zé e o seu Reginaldo às “juridicamente corretas” cenas defendendo o filho do Thiago Lacerda e da Ana Cecília. Da minha alegria de parceria com o Caruso na comédia ao Romance atrapalhado com a Ju Lohman e o Abravanel.
E quando você está do outro lado, o que gosta de ver no teatro, no cinema e na TV? Sem hipocrisia? Gosto de tudo! Frequento tudo que é teatro, consumo tudo que é cinema! Me acabo de rir nos pastelões comerciais e não pisco o olho nos teatros da Roosevelt! Pra mim um paraíso chama-se Satyrianas, festival paulistano que acontece na Praça Roosevelt e proporciona 72 horas ininterruptas de teatro! Na televisão amo as séries brasileiras e americanas! E sempre que posso acompanho as novelas, e quando gosto, não perco nenhum capítulo!
Quem são seus ídolos nessa área? Algum já foi seu colega de cena e te deixou meio desconcertado de início? Eu gosto de interpretar, independente do gênero. Talvez eu ainda esteja descobrindo a minha linha. Mas eu tenho uma afinidade maior com o humor. Eu sempre quis entender como funciona o timing da comédia. E sempre admirei quem o domina. Um belo dia fui gravar a minha primeira cena no estúdio para a novela Cordel Encantado, e nela estavam três atores que fazem isso com os pés nas costas, os quais sempre admirei, o ator Marcos Caruso, a atriz Zezé Polessa e o ator Osmar Prado. Minhas pernas tremiam mais que vara de bambu, os caras eram demais, e eu estava ali, entre eles!! Esse dia foi marcante na minha vida, tive dificuldade no início, mas depois a ficha caiu e protagonizamos durante a novela várias cenas hilárias. Foi um grande prazer, uma realização! Fora esse fato, cito sempre alguns nomes os quais me espelho; Louis Garrel, Vladmir Brichta, Selton Mello, Matheus Nachtergaele, Wagner Moura, Lázaro Ramos, João Miguel, os conterrâneos Irandhir Santos, Aramis Trindade, André Brasileiro, Ricardo Mourão, o eterno Bobby Mergulhão e as minhas referências na comédia; Chaplin, Ankito, Buster Keaton, Mazzaropi, “O Gordo e o Magro” e “Os Trapalhões”.
O personagem na novela e seu ensaio nessa matéria tem a temática de época. Isso faz seu estilo? Você é mais para o clássico? As pessoas dizem que eu tenho cara de época. Eu gosto disso, gosto do clássico. Mas não tendo a fazer um estilo, sou mambembe, uma espécie de nômade em relação à moda e estilo.
Falando nisso… Qual seu estilo de vida? O que faz sua cabeça? Fazer minha cabeça é muito fácil, sou feliz e me divirto com pouco; um amigo ao lado, uma paisagem, um esporte, um violão, uma viagem, mar, montanha, mata, cachoeira, basquete, skate, futebol, pra qualquer lado que eu corro eu procuro a minha felicidade. Se não fosse assim, não viveria! Aprendi a focar no hoje, sempre determinado no amanhã. Mas a felicidade pra mim é o hoje.
Depois de Joia Rara, quais seus próximos passos? O que pretende aprontar esse ano ainda? Estou com três projetos no teatro. Devo viajar com minha peça “Adão Eva e mais uns Caras” do Ernesto Piccolo. E dele também devo estrear mais uma peça ainda esse ano. Além disso, assim que acabar a novela, eu começo a ensaiar uma peça infantil para estrear no Rio. No cinema, entre junho e setembro rodo um longa-metragem também aqui no Rio.
Fotos: Ricardo Penna, Direção criativa: Marco Antônio Ferraz, Beauty: Everson Rocha – Renato Góes veste: Look 1 – Blaiser Colcci, Camisa Basic, Bermuda Army, Tênis Zara Man, Look 2 – Trench Dior, Tricot H&M, Calça Reserva, Tênis All Star, Look 3 – Jeans Reserva, T-shirt Hering, Tênis All Star, Look 4 – Jeans Reserva, Camisa e colete FredPerry