ENTREVISTA: Sacha Bali, o Murilo de “Em Família”, mostra a que veio com muito talento

Bonito, famoso, atuando no horário nobre…Sacha Bali tinha tudo para querer fazer um ensaio que exaltasse tudo isso, mas ao contrário, se vestiu de mendigo para se despir de vaidades e excluir valores aos quais não se prende como status e artificialidade. Interpretando o personagem Murilo, no novela “Em Família”, Sacha lida com os preconceitos entre as classes sociais. Conheça um pouco mais dessa cara amante dos esportes.

 

Como surgiu o desejo de ser ator? Eu era estudante de cinema, meu sonho sempre foi escrever e dirigir filmes. Já trabalhava com fotografia e fazia assistências quando resolvi estudar teatro no intuito de aprender a dirigir atores. Acabei tomando gosto pela coisa, daí comecei a escrever peças e a atuar nelas, até que as oportunidades começaram a surgir e ficou difícil voltar atrás.

Você já fez o papel de um mutante, o metaformo, na Record… Se pudesse se transformar em uma outra pessoa quem seria e por que? E que super poder gostaria de ter? Em muita gente que eu admiro. Se pudesse escolher, me transformaria no Carlos Burle para pegar a maior onda do mundo, no Roger Waters para compor a música mais bela, no Jon Jones para lutar num octógono, no Marlon Brando para dominar completamente uma cena. Enfim, em milhares de atletas e artistas em quem me espelho para sentir o que eles sentiram ao realizar os maiores feitos da humanidade… E, se eu pudesse escolher um super poder, sem dúvida seria o da metamorfose.

Em Joia Rara o seu personagem era a ligação entre os protagonistas… Acredita em destino ou no acaso? Acredito que todos nós nascemos com sonhos e aptidões específicas, e que faz parte do mistério da vida ir em busca da sua bem-aventurança para construir algo grandioso.

 



A novela te traz mais exposição e um reconhecimento maior do grande público. Isso alguma vez te incomodou ou te fez sentir mais bem acolhido como ator? O reconhecimento é sempre bacana, já que o nosso trabalho é sempre feito para ser visto pelas pessoas. Já realizei alguns projetos e estou trabalhando em outros tanto para o teatro, quanto para o cinema e a TV. Nesse sentido, a exposição é muito positiva pois me ajuda a fazer parcerias para viabiliza-los.

Amante dos esportes radicais, que aventura gostaria de viver? Uma das minhas maiores frustrações é não saber surfar. Sempre tive vontade, mas me faltou disponibilidade e disciplina pra levar o esporte adiante. Também gostaria de lutar profissionalmente, mas é inviável conciliar com a profissão.

Como cuida do corpo? O que pratica para deixar o corpo em forma e a cabeça sã? Treino Muay Thai e Jiu Jitsu, além de jogar bola.

Entre estabilidade e desafios, o que mais te atrai na carreira? Antes de me tornar ator, já havia escolhido ser artista – se é que a gente escolhe essas coisas. A profissão veio quase que involuntariamente; nunca gostei de pensar este ofício em termos de uma construção de carreira, e sim na realização de sonhos. Neste aspecto, dedico a maior parte do meu tempo a desenvolver projetos autorais – como por exemplo o espetáculo que estreio no final do ano, “A Idade das Trevas”, que escrevi inspirado na obra do escritor norte-americano Chuck Palahniuk, com direção do João Fonseca. Meu sonho maior é conseguir realizar estes projetos, criando meu próprio discurso, minha própria estética.

 

O que faz seu coração disparar (no trabalho e vida pessoal)? Ler um livro ou assistir a um filme que parece que foi feito especialmente pra você. Se apaixonar. Assistir ao pôr-do-sol perfeito numa praia paradisíaca. Conseguir produzir uma obra que toque o coração das pessoas. Sentir um amor incondicional pela sua família e pelos seus amigos. Entrar em sintonia com a natureza.

Na novela Em Família seu personagem Murilo é um cara do morro que se apaixona por uma garota da alta sociedade. Você acha que isso está ficando cada vez mais comum e se tornando algo mais natural ou ainda existe um preconceito velado? É claro que existe muito preconceito. Vivemos em um mundo de ostentação, em que cada um vale mais pelo que tem do que pelo que é. Apesar de vivermos em uma sociedade cada vez mais liberal, o poder aquisitivo continua sendo o fator determinante no status de uma pessoa, o que torna muito raro um relacionamento entre indivíduos de camadas sociais diferentes.

 

No ensaio pra MENSCH você posou de mendigo, algum motivo especial? Nunca fui modelo, não faço parte do mundo da moda. Apesar disso, recebo alguns convites para ensaios fotográficos e costumo recusá-los, pois não fico muito à vontade posando, não é algo que faça muito sentido pra mim. A figura do mendigo sempre me atraiu pois representa uma exclusão total da sociedade; é a negação do status, da beleza criada, dos artifícios sociais. Resolvi assumir o personagem do mendigo neste ensaio como uma forma de manifestar a minha própria sensação em estar sendo fotografado.

E já que o tema é mendigo…Vivemos em um país cuja distribuição de renda ainda é fortemente desigual…Imagina alguma solução pra isso? Acho que a gente tem que partir do princípio de que não existe solução pra que possa fazer alguma coisa a respeito. Olhar com compaixão pra uma pessoa que está em condições miseráveis e fazer um gesto humano já é um bom começo.

O que não vale a pena pela arte, ou pela arte vale tudo? Acho que não vale a pena fazer algo que você não acredita só pelo fato de estar fazendo arte. Até porque acredito que a arte só se realiza quando sai do coração do artista e atinge o coração do espectador. Se não sai do coração, então não considero arte.

O que busca como ator? A possibilidade de tocar o coração do maior número de pessoas possível.

 

Direção Criativa: Marco Antônio Ferraz
Foto: Matheus Coutinho
Beauty: Guto Moraes