Quem vê Eli Ferreira na TV ou acompanha nas redes sociais se encanta, e quando se conhece um pouco mais dessa mulher “arretada” quer tê-la do lado para um bom papo. Atualmente interpretando uma executiva de punho firme na novela Mar do Sertão, Eli tem mostrado aos poucos as várias camadas da sua personagem. Carioca da Baixada Fluminense, Eli sempre foi destemida e não é à toa que já soma 12 anos de carreira. Como somos fãs dessa bela mulher, a convidamos para mais uma bela matéria de capa, e o resultado ficou incrível.
Eli, olhando para trás já se vão 12 anos de carreira, novelas, séries e muitas conquistas. Imaginava chegar onde chegou? Ainda falta muito? Primeiro, eu quero dizer que estou super contente de estar em mais uma capa da MENSCH. É sempre uma delícia estar nesse espaço e preparar um ensaio especialmente para a revista. Olha, se eu disser que não sonhei com essas conquistas, estarei mentindo! Sonhei, desejei, estudei, abdiquei de várias coisas… e ainda desejo, sonho e abdico. Sou grata por tudo que conquistei e tenho conquistado. E, sim, ainda almejo muita coisa, muitas conquistas e lugares que quero alcançar.
Hoje, 12 anos depois de começar a estudar, obviamente estou mais madura, diversas coisas ainda me desmotivam, esse meio tem muitas “ciladas”, é difícil sim. São diversas crises existenciais, mas venho superando todas elas, e o que me ajuda é olhar lá atrás, lembrar da menina Eli, ou melhor, “Didi”, como era chamada, lembrar daquele brilho no olho e a esperança de conquistar algo muito maior do que o que determinaram que eu conquistaria.
Você começou como modelo, foi Miss… o quanto a beleza ajudou e atrapalhou nesse percurso? As oportunidades que o mundo Miss me deram e os trabalhos que fiz como modelo me possibilitaram pagar meus estudos de teatro, dança, custear os investimentos com passagem, alimentação, material e tudo o mais para tentar nos inserir no meio artístico. Books fotográficos são caros, assim como os cursos, e eu paguei tudo isso com meu trabalho.
Você está numa novela atualmente que tem dado oportunidade a muita gente que ficaria à margem de uma obra dessa importância por não se enquadrar aos padrões estéticos e regionais de tempos atrás. Enxerga isso como uma ação pontual ou uma real mudança de visão? Precisa ser uma real mudança, né?! O Brasil é tão plural, diverso, é gostoso ver uma obra num canal aberto com rostos, sotaques e culturas diferentes. Sai da mesmice que insistiram em nos dizer que era o que “vendia”. Falta muita coisa, mas estamos no caminho.
Estamos no mês da Consciência Negra. Você vê evolução e mudanças de posturas em relação ao preconceito? Como cada um pode agir para combater isso? Existe, sim, um esforço, um movimento de fazer esse debate acontecer e que, com muito custo, vem se estabelecendo. Mas precisa ser feito em todos os espaços, fora da bolha. Precisa ser debatido na Baixada Fluminense, nas comunidades, nas escolas… Precisa estar nos espaços todos e ser abordado com crianças, jovens e adultos. Quando vou a alguns bairros da Baixada, ouço coisas no vocabulário do dia a dia daquelas pessoas e penso “Será que esses discursos que eu tenho, que meu amigo tem, se comunicam com essas pessoas?”. Precisamos falar para fora de nossas bolhas!
Ao longo da sua carreira, quais os maiores obstáculos e barreiras que você superou? Faria algo diferente? A distância. Eu vinha de Belford Roxo ou Nova Iguaçu, municípios da Baixada Fluminense para os compromissos de trabalho, estudo, testes… Era extremamente cansativo e, na maioria das vezes, o sol nem tinha saído e eu já estava na segunda condução. Olho pra trás e penso “Gente, era perigoso… Cansativo”. Tudo muito caro, passagem dos transportes, alimentação… E me vestir relativamente bem para estar nesses lugares – e ainda ajudar em casa. Não teria feito nada diferente porque, ou era isso, ou eu não estaria aqui, conquistando meu espaço, contracenando com pessoas que eu cresci assistindo… Não tinha perspectiva de algo muito distante da minha realidade ali. Então, esses “sacrifícios” tinham que ser feitos. Só Deus, eu e mais meia dúzia de pessoas acreditavam em mim.
O quanto o trabalho na igreja ajudou na sua realização profissional? A igreja possibilitou meu primeiro contato com a arte. Cantei, fiz parte dos grupos de teatro e coreografia – e o principal, foi minha primeira experiência de fé.
Sua atual personagem, a Laura de Mar do Sertão, é uma mulher forte, decidida e que ama o que faz. Algo se assemelha com você? Demais. O “tesão” pelo que estou fazendo me move absurdamente. Eu preciso estar apaixonada para realizar. O morno nunca mexeu comigo. Laura ama o que faz e isso a faz até viver coisas que ela jamais viveria, mas que, pelo trabalho, ela “engole”. A dedicação com uma pitada de paixão, tanto pelo trabalho quanto pelo chefe, é o que move Laura.
Por sinal, a personagem tem se desdobrado e mostrado aos poucos a que veio. Será que veremos Laura virar a chave e passar “pro lado negro da força” (clássica frase usada em Star Wars)? (risos) Aquele papo que tivemos uns minutos atrás, na pergunta 4 “… como cada um pode evoluir e contribuir no combate ao racismo” ?! Esse termo “lado negro da força”, é extremamente racista e precisa ser extinguido de todo vocabulário possível. Mas se eu fosse responder ao pé da letra, diria que Laura está virando a chave pro lado “branco” da força, já que o estímulo a essa virada se dá a partir do momento que ela se envolve com Tertulinho e Deodora, pessoas brancas (assim como os protagonistas) e vilões da trama (risos). Porém, eu defendo Laura nessa “escorregada” que começa a acontecer, uma vez que é uma mulher que está se sentindo subutilizada, menosprezada. Uma jovem mulher extremamente competente, que se vê numa realidade que nunca imaginou, carregando uma empresa nas costas e apaixonada pelo chefe que só a “explora” e sequer a nota de outra forma, mesmo com anos e anos de trabalho e amizade. E deve ser muito difícil viver isso. Ela quer reconhecimento. Justo. E, de alguma forma, ele virá.
Você diria que a Laura é sua personagem mais poderosa e contemporânea até agora? Difícil, é uma das (risos)! Júlia, em Sentença, é super inteligente e contemporânea. Jomara, em Santo, apesar de ainda ser uma personagem que aparece pouco, tem muita força e sagacidade. Elas também são poderosas e contemporâneas, cada uma à sua medida e dentro de sua realidade.
No streaming você está presente em dois trabalhos bem distintos e bem fortes. Como a policial federal na série Santo (Netflix) e uma advogada super honesta na série Sentença (Amazon Prime). Duas mulheres bem empoderadas. Que importância e desafios as duas personagens te trouxeram? As duas são compenetradas. Eu trouxe força pra elas, força em vários sentidos, acho que as personagens pediam isso. Agora, um diferencial foi que pra Jomara intensifiquei os treinos físicos. Quando a preparadora disse que faríamos muitas cenas de ação, eu, que já estava treinando pensando nisso, foquei ainda mais! Fuzil é pesado, e subir escadas e correr com ele é difícil. Fiquei muito forte, treinei para isso e não me arrependi porque faria aquelas cenas de novo e de novo. O que vai ao ar não é nem 1/3 do que a gente faz na hora. Cansa! Mas é delicioso. Ação! Eu amo esse gênero.
Falando nisso, onde está seu empoderamento? Como o enxerga? No meu dia a dia. Na forma como me coloco, como verbalizo o que sinto, o que me atravessa. E até quando não verbalizo. Quando estou no meu silêncio. No olhar, no respirar. Acredito que empoderamento não é “parecer”, é “ser”! E minha existência e ações tem o poder de construir isso a cada dia.
No cinema você interpretou Tina no filme Eduardo e Mônica. Você já tinha alguma referência sobre a história ou apenas o que o grande público sabia por conta da música? Como foi participar? Não. só conhecia a música e a banda. Mas foi ótimo! Viver aquela experiência de quase dois meses em Brasília, um céu lindo demais, mas com o ar seco… Era uma batalha. Agradava os olhos, mas para respirar… Era muita nebulização! E trabalhar com Alice Braga, sem dúvida, foi uma das melhores coisas. Eu já era fã, e me tornei ainda mais.
O quanto você é vaidosa? Do que não abre mão? De 0 a 10… acho que sou 6,05… Às vezes 7. Depende da lua (risos)! Não abro mão de rímel e sobrancelhas. O olhar é tudo pra mim!
E para conquistar Eli basta… Não ficar me cobrando atenção. Mas isso vale para toda relação. Mas, no campo amoroso, estou bem servida, obrigada (risos)!
Fotos Márcio Farias – @marciofariasfotos
Make e Hair Paulo Lima – @paullohenriquej
Stylist Paulo Zelenka – @paulozelenka
Assistentes de stylist Aline Zelenka – @alinezelenka / Gabriel Reis – @gabrielreis.g
Agradecimento Hotel Vila Galé – @vilagale